A delegacia de polícia daquela cidade parecia ter parado no tempo. Fosse pelas paredes descascadas, cortinas amareladas ou mesas num verde muito, muito feio. Três mesas ficavam no salão: a dos dois detetives e a do sargento, que ficava isolada por um tipo de biombo/quadro de investigação. Tinha também uma sala de interrogatório ao lado da sala do capitão. Duas celas ficavam nos fundos e uma pequena recepção dava entrada ao prédio.
“Onde eu vim me meter”, pensou Hana, enquanto desligava o computador velho. Estava tarde, todos já tinham saído, menos ela, encarregada dos trabalhos administrativos, além de tudo, por ser “novata”. Em Tokyo, ela estava prestes a ser promovida, com menos de um ano de casa... Apesar da carreira ter se iniciado há pouco tempo, ela era muito boa em ler pessoas e seguir pistas... E, aparentemente, isso amedrontou o sargento de sua unidade. Ele fez a cabeça do capitão, indicando ela para ser transferida... Sem uma promoção.
A detetive já tinha trocado de roupa e colocado uma roupa de ginástica: calça preta, top e um moletom branco com algumas faixas reluzentes nas costas, para a segurança durante a corrida. Estava enfiando as últimas coisas na bolsa quando seu celular tocou.
“Não é possível”, praguejou em sua mente. Já devia passar da meia noite e ela tinha de estar ali pela manhã... Mas, claro, ela que teria de atender o chamado. Um dos policiais passou os detalhes de um possível assassinato e disseram que o corpo já havia sido removido.
- Vocês removeram o corpo do local do crime? Vocês são idiotas?! – se exaltou, massageando as têmporas
– Me desculpe... eu vou checar. Me passa o endereço por favor.... Não, eu não sei onde fica, eu tô aqui há menos de uma semana... Tá, obrigada. Ela suspirou, levando a bolsa até o carro e aguardando o endereço. Pelo menos o Waze pegava naquele local.
Dirigiu até o IML, ouvindo qualquer coisa no rádio. Quando parou na frente do prédio, pensou que deveria ter trocado de roupa... Mas agora já não tinha como. Pegou o distintivo, prendeu melhor o cabelo e foi falar com os policiais que estavam na frente do prédio. Eles passaram mais alguns detalhes , que não eram muitos, e indicaram para ela ir ver o corpo.
Hana entrou no prédio gelado e macabro, indo até a sala que a recepcionista indicou.
Bateu na porta, antes de entrar.
- Boa noite. Sou a detetive Hana Noguchi. Me informaram que esse corpo pode ter sido vítima de um assassinato. – mostrou o distintivo.