[!ON!] Takahashi Shinji

Elevador, de uma outra era. Olhar aquilo era uma das coisas que fazia Shinji sonhar em encontrar lugares há muito tempo intocados, Austrália, Américas, Cairo ali do lado? Não importava o nome ele só queria ir pra ver em primeira mão, coisas que podiam mudar a humanidade.

O Breve sonho acaba quando ele sai da caixa de metal e olha o caminhão crivado de balas, ele enfia o dedo em um dos buracos, era visível que haviam usado calibres diferentes, os menores não tinham atravessado, já os maiores...

- Ow! Ow ow ow!!! – Ele se aproxima rápido de Nagase puxando uma banqueta próxima – Tem certeza que devia estar já de pé? – ele ajuda o amigo a se sentar com calma e delicadeza, não iria ter aquela conversa enquanto ele não se sentasse naquela porcaria.

Conforme as palavras saiam da boca de Nagase, Shinji ficava parado sem mover um músculo, ficava pensativo. – Os caras usaram antiaérea, quase certeza, os tiros de fuzil nem relaram. – olhou pra um dos mecânicos como se esperasse algum deles dizer se sua suposição a olho nu estaria correta ou não.

- É eu imaginei ao ver esse tanto de bala que não tinha sido por acaso – ele caminhou pra perto do caminhão de novo, sendo cuidadoso pra não atrapalhar o pessoal dos reparos ali e analisava o outro lado só pra ver se não estava alvejado também – Se o que você levava era um pagamento, não duvido nada que o dono tava querendo reembolso e ainda iam tacar a culpa na gente. – A aquela altura não ia ajudar muito ficar apontando dedos pra tentar procurar culpados, mas com certeza ia olhar mais de perto os negócios do Boudiaf.

- Zuri já tava quase se descabelando de preocupada contigo. Tá precisando de alguma coisa? – perguntava como se já soubesse da resposta, mas não se importaria em ajudar caso ele realmente precisasse.

Se Nagase não tivesse algo mais a acrescentar se encaminharia ao seu veículo, já imaginava que Zuri a aquela altura estaria a caminho.

Shinji fica levemente pensativo olhando pro caminhão e mordiscando uma das unhas do dedão, parecia mais aliviado do camarada não ter se ferido – Ô porra! – diz aquilo pela dor enquanto Nagase aperta seu ombro, ele respira fundo mas não fala nada, via que ele tava nervoso, preocupado com aquela situação. – Uma camada de uma polegada de cerâmica protegendo a parte interna da carroceria, vai pesar, mas deve dar jeito nas ponto cinquenta, quando voltar pros Cinco Picos pede pro pessoal fazer uns testes. – Não era uma ordem afinal Nagase era mais velho, era apenas uma sugestão, tanto pra ele quanto pros mecânicos.

Shinji meneia em positivo quando Nagase pede pra agradecer a Zuri por ele. – Se cuida. – se despedia fazendo a reverência clássica de seu povo se curvando levemente e logo indo em direção a seu próprio caminhão.

Parou a uma certa distância de Zuri a olhando mexer no caminhão, o cheiro de diesel, óleo de motor e graxa, olhava pro corpo voluptuoso dela e lembrava ainda assim das mãos delicadas, a mente viajou, não sabia se ali nascia um novo fetiche a ser praticado mais tarde, quando se deu conta ela já estava perto lhe fazendo perguntas. – Ah! Falei sim, ele tá bem, parece que a distância enganou nossas vistas, ele não foi atingido, mas o caminhão tá bem avariado. – se aproximou mais lhe enlaçou os ombros e deu um beijo carinhoso na testa.

Logo ele tava certificando o caminhão, tendo certeza de que não tinha nada de errado e se Zuri havia aprendido a fazer aquelas coisas corretamente, entrava na cabine no banco do carona tinha um rifle estirado, um rifle que lembrava de onde Zuri havia vindo, colocou o trambolho entre o banco do carona e do motorista, perto do câmbio, checou seu próprio revólver e colocou sobre o painel do carona. – Primeiro turno é seu. – Bateu uma das portas e esperou ela entrar. – Vamo pra Fez, prometo que a gente não pega nenhum carregamento pro interior ok? – Aquilo meio que revelava de onde Nagase havia vindo.

Riu e afagou os cabelos dela, foram poucos meses desde a festa, mas parecia que a conhecia fazia anos, tava feliz de verdade e cada momento que passava junto dela ficava mais admirado com a figura da esposa. Jamais quebraria uma promessa, não quebrava com estranhos, nem sequer imaginava quebrar com a esposa, tava decidido, nada de ir pro interior nos próximos dias, então a resposta era Hibrispânia?

Ficou sentado no carona, calado um tempo, tava pensando nos sucateiros que conhecia e por final em Mu-Za, o sonho do helicóptero era distante, mas precisava de um sucateiro competente pra fazê-lo andar. Sabia que o clã era capaz de construir com as peças certas, reformar era moleza, alguma coisa era fabricável, o foda era convencer o velho doido de ir pra cima e não pra baixo. Se desligou daquele pensamento por hora, a coisa o deixava excitado e frustrado ao mesmo tempo.

- O que cê acha da gente visitar seu primo Heb? Ver como tão as coisas. – era só uma sugestão, tava querendo agradar Zuri, ele melhor que ninguém sabia como era difícil ficar longe do povo, da língua e em como aquela vida nova por vezes era desconfortável, não a ponto de ser insuportável, mas Shinji conhecia a estrada e felizmente não era mais solitária por que eles tinham um ao outro.

Fez... Era uma visão esplendorosa, pelo menos na cabeça do japinha, ou de qualquer comerciante que se prezasse e gostasse de ver um mercadão daqueles, não que fosse o maior que já tinha visto, mas havia algo em Fez que fazia Shinji gostar de lá, talvez fossem as tapeçarias, ou só o ar mesmo? Só sabia que gostava.

Ele se voltou a esposa e lhe beijou a testa carinhosamente – Pode deixar senhora Takahashi, se a gente conseguir um carregamento vai ser pro norte. – Havia um orgulho na voz em chamar ela daquele jeito. O mercado pra cima era sempre bom, não tinha muito erro, começou a ver com os comerciantes do mercadão, talvez ele conseguisse fretar o caminhão inteiro negociando com vários deles, não se importava de fazer que fosse dez entregas ao mesmo tempo e servir de “correio” se precisasse, desde que a conta batesse e os dinares entrassem e fosse tudo na mesma rota, era uma troca simples de tempo e diesel, por mais diesel e comida. Era feliz naquela vida, mas queria mais, sempre queria mais...

Sorriu com o elogio e coçou a boca, como se tivesse barba que era invisível, pensava em Heb, era de fato uma boa ideia, o negão era tão grande que uma paulada dele tava capaz de matar mais que um tiro do revólver que carregava na cintura, meneou em positivo aceitando bem a proposta – É por que não? Se ele quiser vir pode falar com ele que é bem-vindo. – mas tinha uma segunda intenção, Shinji não era especialmente fã do norte, sabia que lá tinha mais mutantes que na África, e se tinha alguém que sabia como descer o cacete neles era Heb.

Se despediu dela com um selinho em seus lábios carnudos e a deixou seguir seu caminho em direção a casa do primo, enquanto isso ele se focaria no mercado.

- Peraí, seguro mais ou menos, além de que tu tá enforcado com essa rota pra Córdoba, e eu sei que encher um caminhão de tapeçaria, seda e joias pra lá é um monte de dinheiro, além de que tu sabe que quanto mais perto do norte mais chance de eu topar com mutante e gente doida. – Pigarreou – O preço é padrão, isso é política da empresa, mil dinares e um tanque de diesel, mas cá entre nós, esse anel ali é bem bonito – apontava pra um anel grosso de ouro com uma pedra vermelha que não tinha certeza se era uma Ágata de Fogo ou um Ruby, um adereço com pouco valor pra um mundo em pleno a um apocalipse que nunca terminava, mas ainda assim bonito de olhar – E uma tapeçaria nova pra patroa não ia fazer mal, ela fica brava quando eu não levo presente. E cá entre nós, a gente sabe que você vai lucrar dez vezes o que eu tô pedindo.– Dava uma piscadela e deixava um sorriso agradável tomar conta do rosto, mas a verdade que nem pedia muito, o cara tinha razão, Córdoba era relativamente perto, era capaz de ser uma viagem com menos dor de cabeça do que estava acostumado.

Ele estende a mão pro neolíbio safado com cara de quem já tinha ganhado a parada, só esperava ele apertar pra começarem a carregar o caminhão com todas as traquitanas que ele quisesse, lhe desse o dinheiro e o endereço ou nome pra quem entregar a carga.

Quem ria agora era Shinji – Igual que eles vão se mexer pra defender minha bunda “Shingling” como vocês gostam de chamar a gente. Não me viro não pra eu ver o que é bom pra mim... – dava dois tapinhas no revólver na cintura, não dava pra ver a maioria dele, mas o cabo de madrepérola era lindo, uma relíquia de um tempo muito distante.

Ficou levemente insatisfeito de o sujeito não ter aberto a mão da tapeçaria e tomou o anel das mãos dele com uma certa ganância. – Espero que a tapeçaria então lhe renda um bom café da manhã por que pão seco é sacanagem. – era irônico. Logo ele estende a mão pedindo a metade do pagamento – O usual, pode deixar sua carga vai chegar lá bonitinha, já pode mandar seu pessoal carregar o caminhão, tá no portão logo ali. – Dizia apontando a direção, e logo gesticulando e chamando os caras com uma das mãos, queria aquela porcaria logo carregada, pelos cálculos mentais que fazia, queria sair depois do almoço e chegar lá de noite caso tudo corresse bem.