Uma descrição de "possíveis" inimigos não soava nada bem, ainda mais quando não dava para enxergar os mesmos sinais que o centauro enxergava, pelo menos para Ka, já que nem todos ali precisavam se preocupar.
Além disto não seria possível subir com os animais, ao menos um (o guia) teria de fazer o percurso mais perigoso levando os camelos por baixo, enquanto o resto buscava segurança na parte alta. Fazia parte do trabalho de Enalæki, e além do mais ele também não iria escalar facilmente com seus cascos.
Azriel é a primeira a querer ajudar, mas pensa em alguma forma mais simples de revirar aquela areia e desenterrar o que tivesse ali de baixo. Usando o pouco de mana ainda disponível ela consegue usar aeroataque direto na areia. Acaba sendo providencial, pois consegue, mesmo que por breves momentos, revelar algumas serpentes brancas que são arrastadas junto com a areia, voltando a se enterrar assim que caem novamente no solo.
- Então é isto, agora sabemos contra o que lidar!
Kate também resolve ajudar, o ambiente estava cheio de água, então talvez tivesse mana suficiente para fazer magia, embora nem sempre fonte de água significava fonte de mana de água.
Concentrando a energia na água misturada aos grãos de areia, era interessante como a energia transmitia a sensação áspera da areia para os dedos de Kate. À medida que buscava usar a energia para empurrar a areia, a energia também mostrava resistência em seu braço, fazendo sentir o peso de areia mesmo sem tocá-la. No fim a energia era como um cabo de uma ferramenta invisível que transmitia a Kate as propriedades do ambiente que tentava modificar.
Aquilo não era fácil, dava para sentir a água ao redor, o que era fundamental para a magia, mas toda areia misturada complicava tudo, dava para sentir inclusive a água escorrendo pelos grãos, o que tornava o foco em "permanência de forma" ficar ainda mais difícil. No fim Kate conseguia mover apenas pequenas poças por vez, e isto não ia ajudar muito. Velora provavelmente conseguiria realizar o que ela pensou.
O jeito era ir morro acima. Ainda bem que Vent'Kapo tinha deixado colocar a sela.
- Então, você consegue levar nós dois lá pra cima?
- AAaaarr UUUrrrRR!!!
- Ei! Não precisa ficar ofendidinho!
Kate segura bem à sela, Vent'Kapo tem oportunidade de fazer jus ao nome, com destreza invejável ele escala sem precisar se esforçar muito.
Já Ka precisa esforçar um bocado. Não era uma elevação difícil, na verdade era mais alta do que realmente desafiadora. Juntando o peso da carga com o peso da água nas roupas e carga, ele coloca seus músculos à prova. Mas afinal, foi para isto que desenvolveu com dedicação aqueles músculos.
Enquanto isto Nadhull desfazia a ilusão em que tinha se envolvido, seria mais prático seguir voando e não poderia manter a magia no processo. Enalæki obviamente fica um pouco surpreso (só um pouco, já tinha visto Mortalha usando ilusão parecida) mas não tece maiores comentários. Faz uma expressão como se compreendesse a necessidade do demônio se envolver numa ilusão, e os dois ficam por isto mesmo.
Com os demais já no caminho, cabe a ele fazer os camelos darem a volta o mais rápido que os animais conseguissem. Graças à experiência e ao cuidado, o centauro evita a maioria das serpentes, mesmo assim dá o azar de enfiar uma das patas num dos ninhos, e acaba sendo picado. Passa a correr para se afastar do local. O veneno em poucos segundos passa fazer efeito, obrigando-o a mancar, ainda assim ele consegue manter os camelos longe dos ninhos de serpente.
Do alto o resto do grupo não percebe este momento, demoram ainda algumas horas para todos se reencontrar numa parte segura já que o caminho dele era bem maior que o de vocês, só então percebem que o centauro não tinha escapado ileso.
- Os animais não foram pegos, eu dei um pouco de azar. Mas consigo ainda terminar de levar o grupo até Heséd. - (pausa, considerações) - Qualquer um de vocês, que não chegam a 10@ fatalmente teria morrido, foi bom tê-los mandado pelo caminho alto. Não vai ser a primeira vez que eu serei obrigado andar em três patas. Bem, ainda estou com uma a mais que vocês.
Passados alguns minutos, o centauro parecia que não ia morrer nas próximas horas, pelo menos; Ka então faz algumas perguntas:
- Enalæki, o que pode falar mais sobre este local? Sabemos que há uma guerra, vimos anjos fazendo patrulha e as harpias. Será que há algum local maligno que está sendo disputado? Talvez algum ponto que devemos evitar?
- Falar sobre TUDO que as pessoas DIZEM que existe no deserto vai gastar mais tempo do que demoraremos para chegar a Heséd, quanto ao que evitar, se querem segurança, devem evitar tudo que venha do sul. Na verdade já estamos menos ao norte do que manda a prudência. Ao sul fica o Desfiladeiro Selvagem, "lar" das raças selvagens e um sabe-se-lá que número de demônios. A presença de harpias foi algo inesperado para esta época, este tipo de demônio se aventura mais para o norte normalmente no outono ou inverno. Quanto aos anjos, existe uma pequena presença deles em Heséd, bem pequena... Os anjos normalmente não chegam até Ĵevurá, mas estamos agora mais perto de Heséd do que de Ĵevurá. Aliás, daqui do alto é até capaz de já dar para ver sinais...
Ele fixa os olhos no horizonte, e aponta:
- Lá! Conseguem ver a fumaça?
Novamente com um pouco de esforço, vocês conseguem ver, bem no horizonte, alguns sinais de fumaça. Parecia bem distante ainda.
- Eu diria que mais meio-dia de caminhada. No final das contas vocês não estão mal. Talvez os deuses gostem de vocês. Ou pelo menos um deles.
Mesmo mancando, Enalæki conseguia manter um ritmo igual dos camelos, talvez até um pouco maior. Por falar neles, as máscaras negras que usavam terminam de quebrar, e os animais, que antes pareciam imparáveis, agora adquirem um passo "normal" bem mais lento que antes, reclamando algumas paradas para pastar a qualquer sinal de vegetação.
- Para um grupo sem guia, o ideal seria vocês caminharem até anoitecer. Porém eu posso sugerir que descansem AGORA e nós seguimos noite adentro, aproveitando o tempo frio para andar mais depressa, teremos que andar sob luz de tochas, mas se fizerem isto, poderão economizar três, talvez até quatro horas. Se algum dos alados quiser ir na frente, em linha reta não devem gastar mais do que duas horas, caso precisem anunciar o grupo, ou algo assim. Não vejo sinais de perigo no céu pelos próximos quilômetros.
Nota: Azriel ficou exausta depois de ter usado magia para afastar/revelar algumas das serpentes, ainda dá conta de andar/voar, mas ficará sem mana nas próximas horas.