Tirando o processo de Luto que Lorra passou ali naquela casa, os dois nunca haviam passado por uma situação tensa daquela forma. Apesar de lidar bastante com adolescentes e ser “legal” (pela sua personalidade ou pelo que ele vendia, talvez mais provável o segundo), Owen era um adulto e passou a cuidar e se preocupar com a menina... Mesmo que não deixasse ela perceber. Sabia que Lorra fugiria, caso percebesse. A reação dele pode ter sido um indício disso, mas a preocupação falou mais alto que a pose que sempre mantinha.
Ele deu uma risada meio nervosa quando ela comentou do cigarro caído e tirou o maço do bolso novamente, deixando ela pegar um. Acendeu, aproveitando pra dar um trago no que ele segurava entre os dedos também, indicando para ela o seguir, quando aceitou o convite.
Owen: Simples assim
Ele repetiu, dando uma risada mais relaxada agora, percebendo que a jovem era a mesma de sempre.
Owen: Você é doida, puta que pariu. Espero que tenha avisado a alguém... Não seria muito difícil seu pai associar quem é teu traficante né... Apesar de você ter usado merda que não era minha
Ele balançou a cabeça como se repreendesse aquilo, mais até que o pai bater ali. Todo mundo sabia que tinha gente vendendo droga pesada e adultarada em Spring Valley... E mais barata. Tinha alertado a menina sobre isso há um tempo.
***
Enquanto se “aquecia”, com os pulinhos perto da mesa, Lorra ouviria alguns barulhos que não vinham da cozinha, mas sim do segundo andar. Parecia que ela não era a única visita ali.
Quando entrou pela porta, viu Owen tirando a casca de alguns pães de forma, enquanto uma frigideira de ferro esquentava no fogão. Possivelmente, faria um sanduíche pra vocês. Ele olha por sobre o ombro a menina fuçando na geladeira e não parece se importar. Revira os olhos a cada coisa que ela arremessa no lixo.
Owen: Claro que tem... Senta a bunda na mesa que jajá fica pronto
Nesse momento, um “tchiiii” é ouvido na cozinha, com três bifes sendo colocados na frigideira quente. O cheiro parecia muito bom, principalmente pra quem só comia comidinha sonsa de hospital há alguns (muitos) dias.
Na geladeira, a menina realmente não veria muita coisa. O que estava na validade eram alguns danones, leite, uma coca e um pote de pasta de amendoim. Na gaveta, alguns legumes jaziam quase esquecidos. Lorra não tinha verificado o congelador ainda, mas, caso fizesse, veria que a base da alimentação dele era realmente congelados e carne.
Owen: Por que você está aqui, Lorra? Fazia tempo que não vinha... Você come mostarda?
Não perguntou num tom de quem a estava expulsando, mas a jovem precisava convir que aparecer ali do nada, no meio da noite era esquisito. Ele perguntou ainda de costas pra ela, cuidando dos bifes como bebês que devoraria dali a alguns minutos.
Antes que a menina pudesse responder, um jovenzinho entrou correndo na cozinha, farejando o ar como se tivesse sentido o cheiro da carne. Era loirinho e baixinho, com alguns curativos pelo corpo.
Ethan: Tô com fomeee! Tá fazendo pra mim também? Preciso de energia pro jog... Er, oi?!
Ele só percebeu Lorra ali quando já estava perto dela. A olhou, desconfiado e andou até Owen, que finalizava um prato pra ele. Lorra pôde ouvir um “o que ela tá fazendo aqui?”, vindo do menino e Owen só chispando ele, falando que tinha refri na geladeira, pro jovem servir pros três. O menino obedeceu, reclamando, e logo pegou a comida, provavelmente indo comer no quarto.
Enquanto saia, Lorra ouviria o barulhinho de áudio no whatsapp e o menino dizendo “Vocês não acreditam quem tá aqui...”, até a voz dele sumir pela casa. Ela não o conhecia, mas, aparentemente, ele sabia quem ela era.
Até que o cheiro não tá ruim. Em pé, ao lado de Owen, observo os sanduíches sendo preparado, em seguida espio os ingredientes... Okay, parecem estar dentro da validade, nenhum mofo ou coloração esquisita. Seria uma bosta voltar pro hospital por intoxicação alimentar, e seria uma vergonha pro meu histórico.
- Okay. Sua casa, suuuuas regras.
Já sentada, apoio os cotovelos sobre a mesa e a cabeça sobre minhas mãos entrelaçadas. Olho para um lado, para o outro, reviro os olhos. Ai ai, eu odeio esperar. Fico balançando os pés, inconscientemente. E enquanto vasculho o local com os olhos, Owen pergunta a razão da minha visita. Então, acho que eu posso ser direta, né?
- Eu queria saber se tinha alguma coisa errada no que você me vendeu. Alguns minutos antes de acontecer toda essa parada comigo, eu tinha fumado um cigarro dos seus. Eu não compro nada com outra pessoa, já é chato pra cacete ter que te convencer a me vender essas paradas, não tenho paciência pra ficar me irritando com outro traficante também...
Enquanto falo, gesticulo com a mão. Consigo imaginar o rosto de um segundo traficante me enchendo a porra da paciência por ser de menor, definitivamente não teria paciência mesmo.
- É sério. Eu poderia ter morrido afogada no meu próprio vômito...
Não seria de todo ruim.
- E a sua geladeira não me passa confiança...
Se ele tem toda essa merda estragada na geladeira, muito capaz de ficar vendendo coisa vencida para os outros. Eu nem deveria estar considerando isso como justificativa, qual é, ele é traficante, eu não deveria confiar nele em hipótese nenhuma. Mas... Por quê não? Que preconceituosa você hein Lorra... Logo você! Enfim a hipocrisia... Nossa, que silêncio. Ah, esqueci de responder sobre a mostarda.
- E...
WTF!!!
O quê um pirralho faz aqui? Espantada, eu olho para o Owen como quem diz "Que porra é essa?".
Okay... Eu não sabia que o Owen tem um... Filho? Ele tem idade pra ser filho dele, né? Acho que sim... Não sei, esses pirralhos parecem que tem oito anos pra sempre, não consigo identificar algum que seja maior que isso.
Quando o pirralho olha pra mim, eu cerro os olhos... Qual é, me ignora... Finge que eu não estou aqui, por favor. Ah claro... Assim que o rapaz me diz "oi', eu viro o rosto evitando o olhar do menino e o ignoro, mirando a rua, através da janela na altura acima da pia.
"O que ela tá fazendo aqui?"... Repito na minha mente, fazendo vozinha... Tão previsível. Por isso que não dei trela, se não fosse pro Owen, não duvido que ele faria a mesma pergunta pra mim.
Observo a cena se desenrolar na minha frente e logo o guri é enxotado pelo Owen. Volto a olhar através da janela para não cruzar olhar com o garoto outra vez. E não deixo de ouvir o comentário que ele fazia no whatsapp pra alguém... Merda! Ele me conhece! Afffff... Não é possível que todo mundo nessa porra de cidade já me conhece! Deve ser o cabelo... Não, não... É porque essa cidade é um cu mesmo! Pelo menos o velhinho do ônibus não sabia quem eu era... Deus abençoe o velhinho do ônibus!
- Eu não sabia que você tem um filho!
Comento indignada. Droga... Acho que deixei minha indignação transparecer.
- E que saiu falando pra alguém que eu estou aqui!
Transtornada, agora falo um pouco mais exaltada e apontando para onde o guri tinha ído, supostamente subindo a escada.
- Amanhã todo mundo no colégio já vai estar sabendo... Ou seja, minha mãe vai ficar sabendo... Isso não é bom. Eu deveria imaginar que era uma péssima ideia ter vindo pra cá.
Fico chateada e arrependida. Pensativa... Balanço a cabeça negativamente respondendo a mim mesma algo que veio a mente muito ligeiro... Bom, Owen, agora você já sabe por que eu estou aqui e está avisado das porcarias que me vende, não tenho mais nada o quê fazer aqui... Me levanto.
Owen: O que eu te vendi é de qualidade, Lorra. E nada forte o suficiente pra te dar uma overdose... Mas mesmo assim acho que você devia dar um tempo na erva e essas coisas. Até saber o que rolou mesmo e seu pai desencanar de você. Cigarro eu ainda te vendo até lá, mas por enquanto só isso
Ele afirmou, mesmo que raramente cobrasse os cigarros dela. Lorra sabia que a dívida dela seria bem grande se o traficante cobrasse cada maço que ela comprava, principalmente naquele último ano.
Logo o pequeno furacão entra na cozinha, uma criança agitada e cheia de perguntas. Owen se livrou dele rápido e colocou o prato na frente de Lorra, mesmo que ela tivesse pedido pra ele a levar pra casa.
Owen: Primeiro come. Depois eu te levo
Ele também começou a comer, era um sanduíche simples, com carne e alguns molhos... Mas cheirava bastante bem. O homem suspirou com o olhar inquisidor e teimoso da menina.
Owen:Ele não é meu filho. É meu sobrinho, tá morando aqui há pouco tempo. Ele vivia com os meus pais... Avós dele. Mas, bem, eles tão ficando velhos. Precisamos internar meu pai e eles perderam a guarda do neto. Advinha quem foi escolhido como adulto exemplar pra tomar conta?
Era quase irônico que o traficante tivesse sido o único escolhido. Tudo bem que fora a última opção, mas ainda sim o conselho tutelar achou ele mais responsável que os avós.
Owen:Ele é uma criança, Lorra. Deve tá falando só com os amigos... Acho difícil isso chegar na sua mãe. Manda uma mensagem pra sua irmã pra avisar que logo tá em casa. Ela sempre te dá cobertura
Ele não parecia realmente preocupado com a notícia chegar nos pais de Lorra. A menina não sabia daquilo, mas Ethan, apesar de estar no time reserva de futebol da escola primária, não tinha tantos amigos assim. Era um garoto meio difícil.
Owen: Mas sua fama deve tá interessante na escola dos pirralhos... Anda assustando eles, é?
Owen provocou, dando uma risada. Deu mais uma mordida no sanduíche... Era um milagre que ainda estivesse com a barba limpa naquele momento.
Owen: Falando sério agora. Amanhã vai ter uma festa lá no celeiro. Você deve tá por fora por que tava no hospital, mas se quiser vir. Deve tá cansada de ficar deitada numa cama...
De pé, e com o prato servindo o sanduíche na minha frente, sobre a mesa, fico refletindo sobre a condição imposta por Owen para minhas próximas aquisições com ele. Bobagem né, vai durar uma semana essa restrição, ele sempre subestima minha teimosia. É impressionante como gosta de se iludir, tadinho... E ele não vai levantar para me levar pra casa mesmo? Okay, eu não to afim de fazer drama. Vou comer então, já to fodida mesmo. Meia hora a mais, meia hora a menos, vai mudar porra nenhuma no sermão que vou ouvir.
Me sento novamente e começo a devorar o sanduíche. Fazia tempo que não comia algo de verdade. Não tenho certeza se o sanduíche está bom mesmo, ou se é só abistinência alimentar, o fato é que essa porcaria está boa pra cacete. Owen então decide a falar sobre o garoto... E não é filho dele. Hmmmm... Legal, não consigo imaginar o Owen sendo pai, embora ele pudesse ser, enfim, não quero julgar... Afff, deixa pra lá, não sei porquê to tentando me justificar para mim mesma. Enquanto isso o Owen continua a falar do sobrinho dele.
- É só uma criança... Que bom, ainda dá tempo de você afogar ele no lago então.
Oh shit! Eu falei isso em voz alta? Puts... Drew, foi sem querer. Me perdoe amigo. Só escapou... Ah, crianças, sempre me deixam nervosa... Bom, agora ficou bem claro que eu odeio crianças né?.. Dou um sorriso sem graça para o Owen, desvio o olhar e volto a comer o sanduíche. Pra fingir que nada aconteceu, mudo minha expressão e respondo o Owen em prontidão quanto a minha irmã e a pirralhada.
- Minha irmã já está sabendo que vou chegar tarde. Mas ela não é milagreira... E eu não sei muito bem qual é a minha fama com eles. Eles que tem medo de qualquer coisa, eu só sei me impor... Eu pareço assustadora pra você?
Termino o sanduíche e fico olhando pra ele, esperando uma resposta. E enquanto espero, observo que a barba do Owen continuava limpa, uau... Isso é um fenômeno, a maioria dos ogros não conseguem comer sem sujar a barba, sempre me pergunto se é tão difícil assim.
Então o Owen resolve comentar sobre a festa. Como excelente atriz que sou, finjo surpresa, como quem nunca tivesse visto os planfletos jogados sobre a mesa. Por favor, levem essa interpretação para o Oscar, sério!
- Uma festa?.. Hmmmm...
Demoro um pouco para continuar, preciso fingir que estou pensando sobre o assunto... Hmmmm, mais um pouco... Mordo o canto do lábio... Cerro os olhos... Okay, já posso responder.
- Não sei... Se eu não tiver nada pra fazer, quem sabe eu dê um pulo por aqui...
Nossa, essa é sua melhor frase, Lorra? É óbvio que você não vai ter nada pra fazer, porque nunca tem nada pra fazer nesse cu de mundo, certamente ele deve estar imaginando que você é super ocupada agora, certeza! Só que não. Okay, mas a real é o seguinte...
- Provavelmente vão trancar a porta e janela do meu quarto com corrente pra terem certeza que não vou sair de casa. É óbvio que vão me colocar de castigo quando chegar em casa... Inclusive, quanto mais tarde eu chegar, pior deve ser o castigo... Então...
Me levanto, indicando que estava na hora de me levar pra casa, afinal de contas o sanduíche já havia sido devorado.
Owen já tinha dado algumas mordidas no sanduíche quando Lorra fez aquele comentário. Precisou colocar a mão na frente da boca, pra nada voar dali enquanto dava uma risada alta. Apesar do histórico nada legal de Lorra com o lago da cidade, ele não fez a associação no momento, apenas achando engraçado que ela tivesse dito algo que ele pensava quase sempre, quando Ethan começava com as gracinhas dele.
Owen: Acha que nunca pensei nisso? Ele me dá mais trabalho que você aos seus pais... Imagina quando tiver na sua idade, cruz credo
Parecia ser exagero, visto que o menino nem tinha perturbado muito os dois ali... Mas Lorra sabia muito bem o que era conviver com uma criança da idade de Ethan. Ele e Nick eram da mesma sala... E possivelmente tinham as mesmas manias chatas e chiliques típicos da idade.
O traficante fica mais tranquilo ao ver te comer, dando de ombros quando você perguntou se parecia assustadora pra ele.
Owen: Você pode ser, quando quer. Se tivéssemos a mesma idade, eu certamente teria medo de você...
Ele riu, tomando um pouco da coca e assentindo sobre ela ir se “tivesse tempo”. Essa era a resposta padrão de Lorra, então tomava como um sim.
Owen: Bem, se você tiver tempo e se conseguir escapar pela janela, já sabe como chegar aqui. Vai ser a fantasia...
Falou, enquanto terminava a coca, a olhando, esperando uma reação exagerada da menina sobre aquilo. Caso acontecesse, ele daria uma risada e ergueria as mãos, como se não fosse a culpa dele.
Owen: Não posso fazer nada se as meninas da sua idade e da faculdade gostam de se fantasiar de coelhinhas pra mostrar a bunda, Lorra. São negócios...
Riu, precisando disfarçar a imagem de Lorra de coelhinha que lhe veio à mente. Quando ela se levantou, ele fez o mesmo, pegando os pratos e colocando na pia, pra lavar quando voltassem.
Ele gritou algo pro sobrinho, sobre ele estar pronto em 15 minutos, e seguiu com Lorra para o carro. Ele dirigia uma caminhonete preta, grande, de cabine dupla. Talvez fosse pelo seu tamanho (era difícil imaginar ele cabendo em um carrinho pequeno) ou por gostar de se mostrar mesmo.
Dentro do carro, ele colocou o cinto e começou a dirigir. A estrada parecia bem menos assustadora sob os faróis do carro.
Owen: Seu pai já tá te ensinando a dirigir?
Perguntou de forma aleatória, já que em breve ela teria idade pra dirigir.
É, okay, festa a fantasia, eu já deveria esperar isso de uma festa de Halloween. Talvez eu venha fantasiada de Lorra, já que teoricamente eu causo medo nas pessoas. Enfim... Tanto faz. Fico um pouco incomodada sobre o comentário a seguir do Drew. Cruzo os braços, cerro os olhos, e desconfiada eu comento.
- Negócios... Okay.
Dou um suspiro, me viro e começo a sair da casa enquanto Owen gritava qualquer coisa para o seu sobrinho. Outra vez passo os olhos sobre a arma disposta em um dos móveis da casa. Quanto tempo para esse moleque levar essa arma pra escola e mostrar para os amigos como ele é o fodão? Puta que pariu Owen, esconde essa merda! Ao lado da arma, vejo um maço de cigarro dando sopa. Olho para o Owen, e ele está muito entretido sendo babá de criança. Pego o maço de cigarro e coloco no bolso. Qualé, o Owen nem vai sentir falta, ele deve ter cigarros infinitos.
Eu entro na caminhonete antes do Owen, não coloco o cinto, e coloco na boca um dos cigarros do maço que eu peguei emprestado momentos atrás. Enquanto ele dá partida na caminhonete, eu abro o vidro do passageiro e fico tateando procurando por um isqueiro, afim de acender o cigarro que já está na minha boca. Até que eu encontro... *Tchk* *Tchk* *Tchk*... E o fogo surgiu. Traguei e o cigarro acendeu. Eu adoro a cor da brasa na ponta do cigarro, sério. É lindo, não? Solto a fumaça para fora do veículo e dou um sorriso para o Owen, e volto a olhar para fora da caminhonete. Eu adoro isso. Me sinto tão poderosa!
- Nah, meu pai nunca ensinaria... - Dou mais um trago no cigarro, e volto a comentar. - E eu nunca me interessei... Sei lá, não vejo muita graça. E eu sou muito influente entre os cobradores dos ônibus... E outra coisa, a cidade não é grande, e eu gosto de andar... Então, nunca fiz questão de dirigir.
Volto a olhar para o Owen, fazendo charme e brincando.
- Por quê? Não curte ser meu chofer?
Para provocar o Owen, levanto os pés e os colocos em cima do painel do carro, com as pernas esticadas e cruzadas, bem relaxada. E volto a fumar.
Owen estava dando partida na caminhonete quando Lorra começou a acender o cigarro. Não teria dificuldade em achar um isqueiro no porta luvas... Ou na parte onde deveriam ficar as garrafas perto do câmbio da caminhonete. Talvez em outras partes do carro também, mas apenas um bastava.
O traficante começa a manobrar pra sair do rancho, a olhando e estreitando os olhos.
Owen: Onde você arrumou esse cigarro, Lorra?
Pela cara dele, ele sabia onde. Revirou os olhos e continuou dirigindo até o posto, onde parou para abastecer rapidamente. Quando voltou, estendeu uma sacola com algumas halls pretas e chocolates, indicando para você pegar algum deles.
Owen: Põe o cinto, por favor. E come isso antes de chegar em casa. Não quero confusão pro meu lado
Normalmente, você teria contigo um kit de balinhas pra esconder o cheiro do seu pai... Hoje não. O homem parecia adivinhar isso.
Enquanto voltavam ao caminho em direção à Spring Valley, o assunto de aprender a dirigir surgiu.
Owen: Não é como se eu tivesse escolha né.
Ele respondeu, quando Lorra perguntou sobre não gostar de ser chofer dela. O homem deu uma risada, continuando o assunto.
Owen: É bom você saber, Lorra. Ainda mais se vai vir pra cá de noite. A estrada até a casa não é muito segura, você viu. Sem iluminação, sem movimento... Pra mim, isso é vantajoso. Pra uma jovem bonitinha assim, não
Apesar da frase final, que claramente era pra perturbar ela, Owen parecia sério sobre aquilo. Tinha pego um cigarro do próprio maço e um isqueiro em algum lugar do carro, acendendo com uma das mãos, enquanto segurava o volante com a outra.
Owen: Ou você podia aprender a me mandar uma mensagem né.
O assunto ia ficando desconfortável pros dois. Owen parou de falar ali, ligando o rádio e se ocupando apenas com a estrada e com o cigarro. Não se incomodava com ela toda jogada no carro, se tivesse obedecido ao pedido de por o cinto.
Quando foram chegando, ele parou umas casas antes, só pra evitar perguntas desnecessárias sobre o carro dele, visto que Daniel andava na cola do traficante.
Owen: Hey, garota. Tô te esperando amanhã
E estendeu um dos convites pra ela, sem a “balinha” que tava pregada nos demais. Quando ela saísse, vigiaria até chegar perto da casa e logo partiria com a caminhonete.
***
A casa parecia calma. Estranhamente calma.
O carro de Daniel tava na frente da casa, a bicicleta de Nick tava perto na grama e a luz da cozinha tava ligada.
por 
