Sala de Dança

Era já final de tarde quando dentro da sala de dança uma melodia podia ser escutada ao longe. Uma jovem albina usando uma camisola extremamente transparente com um par de sapatilha de pontas se observava no espelho conforme a música passava. Seus olhos violetas, jus ao nome que havia sido batizada, observavam cada movimento errado que fazia ao dançar na ponta dos pés.

Para qualquer outra pessoa, os movimentos eram delicados e precisos, sem esforço porém, extremamente belos, sedutores até, mas para a jovem que treinava após ter finalmente chegado da viagem até a escola, seus movimentos eram lentos demais, imprecisos demais, devido a letargia da viagem de avião até a escola. Tinha de treinar mais, pois o pouco tempo que havia ficado parada já havia deixado ela pensativa demais sobre um romance falho antes de sair de intercâmbio. Viktor, seu irmão gêmeo foi se apresentar ao diretor da escola, e mostrar a rotina que eles deveriam seguir para participarem do concurso internacional de ballet que iria ocorrer naquela cidade daqui alguns meses.

Seus pais não estavam preocupados com a saúde mental dela, eles falaram que ela precisava conseguir ganhar aquele internacional se ela quisesse ser uma dançarina profissional, conseguir uma vaga. Velha demais, imperfeita demais. A cada pensamento negativo, a ponta da sapatilha batia com mais força no chão de madeira, ecoando pelos corredores. Por sorte aquela parte da escola era vazia demais, escura demais para outros alunos querem se aventurar muito. Ou talvez era isso que Violet pensava...

Ao escutar as palavras de outra pessoa, toda a concentração que ela tinha durante a dança acabaram esvaindo, e com isso, também o seu equilíbrio e força no pé que a sustentava. Com uma hesitação, ela acabou virando o pé de uma forma estranha, antes de se apoiar no outro para sustentação.

Mesmo observando as roupas amarrotadas e os cabelos soltos bagunçados, ela fez uma reverência juntando ambas as mãos, antes de dar um sorriso tímido. “Perdão, não foi intenção te incomodar…” Ela comentou sentando no chão com uma leveza que parecia até ser impossível para um humano. Os olhos violetas passaram a olhar para aquele homem, e o que ele carregava. O baralho de tarot, um tocador de MP3, e o que parecia ser uma garrafa de bebida.

“Mas admito não compreender, como o som da sapatilha incomodou mais do que o som da música clássica” Violet disse, não sabendo o que poderia estar tocando no MP3 dele, mas talvez ela tenha se precipitado no julgamento vendo as cartas e a bebida. “Não conheço o senhor para se quer ter raiva” Ela põe a mão sobre a própria boca, guardando um pequeno sorriso levado “Talvez, se souber seu nome possa ser uma resposta diferente da atual”

E como se percebesse o que havia dito, ela logo soltou um pequeno desculpa, se ajustando, ainda mantendo uma distância dele. Puxando a bolsa dela, ela começa a colocar uma meia grossa por cima da sapatilha, antes de se levantar, ainda tentando decidir se continuava o treino, ou se saia da sala para deixar aquele homem em paz.

Decidindo pela primeira opção, ela massageou o próprio tornozelo, dizendo para aquele homem "Irei treinar com a meia, assim não farei tanto som ao bater a sapatilha no chão, devo deixa-lo em paz em breve" ela comentou, sem olhar para ele pois a tristeza que ele parecia carregar era similar a dela, então ela testou novamente a aderência da sapatilha ao chão para voltar nos primeiros movimentos.

Violet testava a força que tinha no tornozelo torcido, quando o professor se levantou e começou a falar, chamando a atenção dela novamente.

“Talvez estivesse estranho por não ser a mesma música que eu estava dançando” Ela comentou com um sorriso pequeno, e vendo ele fazer uma reverência tradicional, ela segurou as pontas da camisola fina, fazendo a resposta da reverência.

“Um grande prazer em conhece-lo Professor Nicolae” Ela disse, voltando a posição normal dela, tentando esconder o leve corar nas bochechas dela ao ver a piscadinha. “Meu nome é Violet Zerkalo, aluna de intercâmbio da Rússia” E assim que possível, ela se virou para o espelho, ainda observando ele, mas tentando esconder a vergonha que havia surgido com a brincadeira.

“Espíritos zanzando pela escola? Apenas se estiver dançando Giselle” Ela comenta, antes de escutar a risada dele, se virando para observar curiosa. “Não tenho problema, espero que não fique entediado com a dança e busque outra garrafa então Professor” Ela comentou.

Ela se afastou colocando a música clássica para tocar no celular e voltar a dançar, mas enquanto fazia os primeiros movimentos ela comenta baixo “Mas não sei se assistir a minha dança triste não vá te deixar mais triste do que já está” Violet então foca nos movimentos, tentando não transparecer mais ainda o que ela sentia.

A luz externa brilhava pela janela, como se criasse um spotlight para a garota que dançava no mesmo ritmo que a música, e agora pelas meias, não fazendo mais qualquer som se quer. Era quase etéreo a dança, como se convidasse o professor a se juntar.

O comentário dele fez com que as bochechas pálidas da bailarina ganhassem uma cor rosada, mas preferindo voltar a dança ela continuou, até ele falar, e seus olhos se encontrarem na pirueta fazendo ela virar o tornozelo de uma forma dolorida novamente.

Sentando, ela escutava as duras palavras do professor, e os olhos violetas pareciam marejar. Não foi a crítica mais dura que ela havia escutado, mas talvez a verdade por trás das palavras dela fossem o que haviam machucado ela. Na maior leveza do mundo, ela voltou a se levantar e encarar ele nos olhos, se aproximando o suficiente dele antes de responder, não com ódio, mas também não tão suave como ela foi a alguns segundos atrás. “Não estou no palco para vestir uma máscara, mas se é isso que você quer ver, é isso que posso mostrar”

E com isso, a tristeza parecia realmente ser escondida por uma máscara de porcelana, pois o erotismo dos movimentos da dança agora era mais condizente com a música. O movimento era mais agressivo, mas ao mesmo tempo cativante por aquela energia.

Dança de Violet:

Ela terminou toda a dança de frente para ele, com a máscara caindo novamente, e olhando para baixo. “Não é fácil carregar uma máscara o tempo todo, se você também foi traído, deveria saber melhor do que qualquer um que um coração quebrado também deve chorar” Ela disse, encostando a mão dela por cima do peito onde estaria um coração batendo.

O rodopio que o professor deu a pegou de surpresa, e como se em uma prova de confiança, ela se largou nos braços do professor, passando apenas um braço em volta do pescoço dele, enquanto o outro acariciava o rosto dele.

Com o selinho roubado, ela observava os olhos dele, as bochechas pálidas coradas mostravam a vergonha escutando as palavras do professor, e antes que ele pudesse se afastar, Violet sussurrou antes de beijar ele novamente.

“Como não temer o futuro quando outro poderia quebrar meu coração…”

Era um beijo viciantemente doce, pela leveza e delicadeza que ela possuía. A pele dela era como um veludo que se aquecia ao toque dele, e o coração batendo era uma melodia única, que trazia uma sensação estranha para ambos. “Quero poder esquecer a dor que carrego, quero me embebedar em um carinho que me faça esquecer de quem sou por uma noite, mas temo o próximo momento em que estarei sóbria e ver que nada passou de um distante sonho para dois corações partidos” Ela sussurrou por entre os lábios deles, apenas para ambos escutarem e ninguém mais.

Violet temia se entregar e ser descartada, mas por uma noite, ela queria poder esquecer tudo o que sentia, e se sentir amada, desejada por ser mulher, e não por ser apenas um troféu a ser mostrado, mas iria o professor também querer?

Com cada palavra, outro beijo doce e suave, ansiando por carinho de ambos era algo que Violet não conseguia compreender, mas não queria largar. Algo no homem de toques tão gélidos a atraia loucamente para aceitar qualquer coisa que ele falasse.

“Seria possível então? Não acordar nunca mais desse doce sonho?” Ela indaga, desejando que não tivesse escutado as palavras dele. O sabor da bebida forte a intoxicava, e sentindo a pilastra atrás de si, ela envolveu o pescoço dele com seus braços tão pálidos quanto o dele.

“Eu quero…” Ela disse, suspirando entre os beijos, era erótico o momento, o como ela se mexia se encaixando em cima do volume de Nicolae, com as pernas dela cruzando ao redor da cintura do professor. As roupas finas que a cobriam pareciam nem existir, pois a transparência e a delicadeza do tecido revelavam o desejo da garota, que estava totalmente entregue a ele “Quero que você tire toda essa dor de mim, me consuma”

“Quero me esquecer, independente de onde seja” Violet sussurrou de volta, sentindo-o a abraçar mais forte. A voz dela não passava de uma brisa gentil aos ouvidos de Nicolae, e naquele pequeno corpo quente enrolado no dele, parecia que as dores que ela sentia também entraram em sincronia com as dele, ainda mais o desejo de ajuda mútua. Para Violet, um pensamento rápido passou por sua mente ‘Não precisa se apegar, apenas curtir’, mas ao mesmo tempo que isto passou em sua mente, sua alma parecia latejar de dor, com o medo de se apegar a algo que ela não iria poder ter.

A bailarina o abraçava mais forte, seu corpo implorando pelo toque dele, para que ele apagasse aquele calor infernal que a queimava. “Por favor, apenas me tenha, tire essa dor” Ela murmurava entre os beijos que dava ao professor, os lábios doces, queimando nos lábios de Nicolae, assim como as mãos que subiam pela nuca do homem acariciando os cabelos.