CHINA

A longa viagem a China foi algo totalmente diferente do que a pequena raposa esperava. Não houve medo, nem pesadelos de seu clã aparecer do nada tirando ela do seu direito de viver ou ser feliz.

Ela caminhava usando roupas tradicionais chinesas que havia costurado com muito carinho durante o ano letivo, apenas para tentar agradar o homem que a convidou para a viagem.

Kat caminhava um pouco a frente dele, observando cada banquinhas de vendas, e o que havia de interessante, antes de se virar para conferir se o professor ainda estava próximo. Longe dos olhares alheios que havia na escola, a jovem parecia extremamente feliz, com sorrisos iluminando o rosto marcado por cicatrizes, ela conseguia conquistar os vendedores, que faziam questão de mostrar todos os produtos para ela.

“Lan Zhan! Olha” Ela disse mostrando uma máscara de coelho branco, e colocando em seu próprio rosto, ela riu livremente antes de devolver a máscara para o vendedor que parecia confuso, não apenas pela jovem garota estar falando com o grande Hanguang-Jun como se não houvesse alguma preocupação, e também por ela estar devolvendo a máscara.

Apesar dela querer comprar as coisas, o bem da verdade é que a garota vivia com o mínimo, já que sua riqueza foi tomada pelo clã. Isso só a fazia pensar que quando se formasse ela teria de encontrar algum emprego para conseguir continuar a vida, uma vez que ela mesma não iria poder morar na escola.

Voltando a andar do lado dele, segurando a mão do homem por quem ela era apaixonada, Kat sorriu “Prometo parar de ficar zanzando por aí, assim conseguimos chegar em breve, certo?” A raposa perguntou animada, tentando imaginar como seria o grande Gusu Lan. Ela havia passado o tempo todo tentado decorar todas as regras do clã, mas era complicado lembrar de todas elas, mas estava se esforçando.

Apesar da preocupação de Lan, Kat não comprava nada das bancas pelas quais eles passavam, mas oferecia a todos um sorriso gentil e sincero. Enquanto caminhava de mãos dadas ao professor, ela começou a reparar o como os demais tratavam o homem que ela amava, e rindo ela perguntou a ele “Teria algum título importante Lan Zhan? Todos parecem tão felizes de te ver, como se você fosse o príncipe da região voltando ao lar” Ela disse, mas logo sua mente flutuou para outro lugar, já que ela foi pega de surpresa com o presente dele.

Colocando a máscara ela ficou na ponta dos pés, dando um beijo na bochecha dele agradecendo. “Não precisava, mas muito obrigada, eu gostei muito” A jovem raposa comentou, e continuou a caminhar ao lado dele, observando as bancas agora de longe. Seus olhos dourados brilhavam, até observar algo que lhe era familiar, mas não sabia o por que. Soltando da mão de Lan Zhan, ela caminhou até uma banca que vendia algumas bebidas. Segurando um dos vidros ela leu ’Sorriso do imperador’. Ela sorriu para o vendedor, e entregou uma moeda para pagar a bebida, escondendo em seu vestido a garrafa comprada antes de voltar ao lado do professor.

Kat sorria como se não tivesse feito nada, e provavelmente iria ignorar ou fazer pouca cerimônia sobre o item comprado. Foi apenas nesse momento que os buchichos começaram a fazer com que ela começasse a se indagar se havia algo de errado.

Com o subir da montanha, mesmo Kat não estando acostumada, ela não parecia ter perdido a determinação. Conforme subiam e a canseira da jovem aumentava, a ilusão das orelhas e das caudas desapareciam, Kat realmente parecia um filhote de raposa vermelha tentando escalar a montanha.

“Algum motivo pelo clã Lan estar tão alto na montanha Lan Zhan?” Ela perguntou enquanto subia pelas escadas, pulando alguns degraus até reparar em um coelho branco.

Ao ver os coelhos, a jovem raposa sorriu e foi atrás de um para fazer carinho, percebendo que suas ilusões estavam se desfazendo. A montanha era definitivamente maior do que ela estava acostumada, e por mais que praticasse esportes, e estivesse acostumada com os templos do seu clã, nada era comparado aquela subida.

“Imagino, a montanha é um bom lar para as criaturas locais, mas ainda assim, é um desafio por si só subir a montanha” Ela disse sorrindo pra Lan Zhan, tentando recuperar a respiração, e tirando o cantil de água para tomar.

Ao escutar a oferta de ser carregada pelo professor, Kat sentiu as bochechas queimarem e fazendo não com a cabeça ela reforçou a magia. “Não precisa, eu sou pesada, e me carregar vai te deixar cansado” Ela desandou a falar, antes de se calar do nada. Era claro que ela estava cansada, mas não queria dar trabalho para o professor, e por mais que ela amava sentir o calor dele envolvendo ela, sabia que poderia trazer problemas nessa subida.

“Se não se importar em parar por alguns instantes, apenas para eu conseguir recuperar um pouco fôlego” Ela disse timidamente, mas o sorriso ainda era sincero.

Ao sentir o professor colocando-a nas costas dele, ela esconde a cara na nuca dele, sentindo as bochechas queimarem ainda mais. “Você não precisava fazer isso, mas obrigada...” Ela disse com as mãos delicadas sobre os ombros dele. A respiração dela fazia cócegas, por tão delicada que era, enquanto ela observava a paisagem.
Havia algo de mágico naquele local, naquela natureza, e a cada degrau que subiam, Kat tinha certeza que algo naquele local a chamava, como uma lembrança antiga, como se pudesse escutar uma música antiga, e fechando os olhos ligeiramente, para escutar ela, ela começou o cantar gentil, mesmo que baixo, da música.



Uma lágrima solitária escorreu pelos seus olhos ao final da música, quando ela finalmente havia adormecido. Não sabia que música era aquela, mas parecia tão familiar, ao mesmo tempo tão distante, pela dor que carregava. Em seus sonhos ela murmurava “Lan Zhan... me desculpe... pela dor”, mas ainda assim eram apenas sonhos, palavras ditas que nunca se lembraria.

Apenas quando estivesse próximos os suficiente, quando Lan a acordasse, Kat iria despertar, agora mais descansada, e com a vergonha agraciando até as orelhas de ilusão que ela voltava a fazer. Tentando alisar a roupa que vestia, e tentando parecer graciosa no andar, ela olhava para Lan Zhan, fazendo sentido de pegar a mão dele, ainda sentido ansiosa por conhecer finalmente a família e o clã dele.