Capítulo 1: Como um Homem
Ano 190 da Quarta Era;
Um menino de cabelos castanhos, nariz sangrando e olho roxo era jogado com o rosto na lama. Ao seu redor, várias outras crianças gritavam, seja a favor do menino maior e mais forte, ou incentivando Aerin a se levantar e reagir.
- Aja como homem Aerin! Aja como seu pai! – Dizia uma voz entre o meio da torcida.
- Seu pai era um soldado? Hahaha, aposto que você não tem forças nem para segurar uma espada! – Diz o menino ruivo antes de pisar na cabeça de Aerin quando este tentava se levantar, esfregando seu rosto na lama com o pé.
- Seu frouxo, aposto que minha irmã menor é mais homem que você! – Insultava o valentão.
- AERIN! – Gritava uma voz feminina e as crianças saiam correndo, deixando apenas o menino ferido e humilhado na lama.
- Aerin, o que aconteceu? Eu já lhe disse que violência só gera violência... cof cof... vamos... vamos para casa.
Enquanto era levantado e levado por sua mãe, Aerin olhava para trás e podia ver seu agressor escondido atrás de uma árvore, rindo maliciosamente ao ver o menininho da mamãe sendo levado pelo braço para casa.
...
Um Aerin pouco mais velho cuidava de sua mãe. Há alguns anos, ela havia desenvolvido uma estranha doença que nem os curandeiros de Riften foram capazes de curar. Tudo começou após a Grande Guerra, quando o pai de Aerin, um renomado soldado da cidade, foi enviado para liderar um ataque a um grupo de bandidos que estavam causando problemas na estrada. O grupo foi emboscado e o único sobrevivente morreu logo após dar a notícia. Os corpos nunca foram recuperados. Após isso, sua mãe teve de cuidar sozinha do garoto e sua saúde foi se degradando cada vez mais. O choque da perda do marido foi muito grande e ela criou Aerin de forma super protetora, sempre o incentivando a evitar conflitos, custe o que custar, provavelmente com medo de que ele seguisse os passos do pai e o perdesse da mesma forma.
A família havia recebido uma considerável quantia de dinheiro pela morte do soldado, que além de muito importante na cidade de Riften, era um amigo pessoal do atual Jarl. Por isso, a mãe de Aerin não se preocupou que o filho aprendesse nenhum ofício para ganhar a vida (e muito menos recebesse treinamento militar). Ao invés disso, Aerin aprendeu a cozinhar, cuidar dos afazeres domésticos e principalmente, tratar de sua mãe adoentada com todo o carinho e atenção que podia oferecer.
“Já vimos algo parecido antes, a mente perdeu aquilo que lhe trazia a alegria de viver, então o corpo padece. Não é uma doença causada por contaminação, ferimentos físicos ou maldições, por isso, não possui uma cura conhecida” – Diziam os clérigos e curandeiros com quem falava. Aerin até mesmo havia procurado alguns alquimistas fora da cidade em busca de alguma cura milagrosa, mas não conseguiu nada exceto perder boa parte do ouro que seu pai havia lhe deixado.
A doença piorava com os anos, e Aerin sentia-se mais sozinho do que nunca para suportar tal peso. Os cabelos louro avermelhados de sua mãe, com os quais Aerin gostava de brincar, já haviam perdido todo seu brilho, se tornado grisalhos e quebradiços, e caiam, deixando enormes brechas onde veias azuladas podiam ser vistas. Manchas escuras surgiam na ponta de seus dedos, e seus olhos pareciam não possuir mais brilho, como os olhos de um cadáver, e embora negasse isso com todas as suas forças, Aerin sabia que ela não estaria com ele por muito mais tempo.
...
O céu estava nublado, como de costume em Riften, e ele parecia refletir o que Aerin sentia agora, durante o funeral de sua amada mãe. Por sorte, durante o funeral começou a chover, então ninguém pôde ver as lágrimas que Aerin derramava.
Aerin ainda chorava ao voltar para casa e decide cortar caminho por um beco para que não o vissem. Ao entrar no beco, porém, um calafrio subiu por sua espinha ao ouvir um gemido não muito longe. Aerin se aproxima cautelosamente, apenas para ver um homem encapuzado agredindo um idoso que se encontrava no chão.
- Por favor, eu já lhe disse, eu não tenho nada!
- Maven está ficando sem paciência, nunca peça empréstimos se não puder pagar, especialmente dela!
Aerin se sentia completamente impotente diante da situação. Nos últimos anos, a Guilda dos Ladrões vinha se tornando uma praga em Riften, e muitos desconfiavam que Maven Black-Briar tinha uma relação com eles. Isso apenas confirmava tudo. Os olhos do velho ferido então encontravam os de Aerin e lhe suplicavam silenciosamente por ajuda.
Assim como a maioria dos cidadãos de Riften, Aerin carregava um punhal consigo, mas jamais o havia usado e esperava nunca precisar, pois como sua mãe dizia, evitar a violência sempre era a melhor saída.
Finalmente o ladrão percebe a presença de Aerin e o ameaça.
- Está olhando o quê, idiota?!
- P... por favor, senhor, deixe o homem em paz! Quanto ele lhe deve? Eu possuo algumas posses, posso pagar a dívida dele, apenas o deixe em paz!
- Quanto você tem aí?
Aerin retirava a sacola de moedas carregava na cintura e a abria para contar, mas antes mesmo que o fizesse, era golpeado na cabeça, e tonto, caia no chão. O ladrão roubava sua bolsa de moedas, e não satisfeito, arrancava seu casaco de luxo.
- Não, por favor. Isso pertencia a meu pai, é a última lembrança que tenho dele! – Implorava Aerin.
A única resposta que Aerin recebia era um chute em seu rosto que quebrava seu nariz.
- Ainda deve a Maven, velho caquético! Têm até o pôr do sol para pagar! – Então cuspia no velho e em Aerin, antes de desaparecer pelos becos.
Mais tarde, naquele mesmo dia, Aerin procurava a Jarl para dar queixa do ocorrido, mas ao seu aproximar dos guardas, um deles se aproxima de seu ouvido e cochicha:
- Muita calma, frangote. Sei que você está indo ver a Jarl, mas saiba que se falar sobre algo que tenha ouvido no beco, uma bolsa de moedas e um casaco serão as menores de suas preocupações!
Naquele momento, Aerin percebia que a corrupção havia tomado conta da cidade. Maven era a verdadeira dona de Riften e não havia nada que ele ou qualquer um pudessem fazer para impedir isso. Se ao menos seu pai estivesse vivo. Se ao menos Aerin tivesse sua coragem ou sua habilidade com a espada. “Você apenas acabaria tendo o mesmo destino que ele” dizia a voz de sua mãe em sua mente.
...
Cansado das injustiças de sua cidade natal, Aerin decide fazer uma pequena viagem a seus parentes distantes em Windhelm. As notícias não eram boas. A guerra civil de Skyrim havia partido a terra ao meio, os partidários de Ulfric que aos olhos do pacifista Aerin pareciam um bando de bárbaros sedentos pelo sangue de seus rivais, brigas e ofensas nas ruas em plena luz do dia. Aerin vê um Dunmer sendo expulso e humilhado por três trabalhadores Nórdicos que o enxotam para o Bairro Cinzento, então, sensibilizado com o elfo negro, lhe dá um Séptim. O elfo lhe agradece e aperta sua mão por não ser um Nórdico preconceituoso como os moradores de Windhelm, e lhe dá tapinhas no ombro antes de ir embora. Após isso, Aerin percebe que sua bolsa de moedas havia sido roubada, por sorte, no quarto da estalagem onde havia dormido na última noite ele ainda tinha uma quantia suficiente para voltar para casa de carruagem.
Ao caminhar até a estalagem Candleheart Hall, Aerin é abordado pelos trabalhadores que viu mais cedo ofendendo o Dunmer. Agora completamente bêbados.
- Ora, o que temos aqui, um defensor dos Dunmer. Aposto que o idiota nem percebeu quando o elfo cor de sujeira roubou a bolsa de moedas dele bem debaixo do seu nariz, hahahahahaha.
- É isso que a escória defensora dos ratos de Windhelm merece, pena não ter sido esfaqueado pelas costas. Assim teríamos uma boa desculpa para mandar os guardas fazerem uma limpa naquele beco fétido que os elfos negros chamam de lar.
Então os três cuspiam aos pés de Aerin quando ele passava. Com medo de ser agredido, Aerin baixava a cabeça e passava por eles sem dizer nada.
...
Não era apenas Riften – pensava Aerin enquanto viajava em uma carruagem de volta para casa – toda Skyrim, e talvez toda Tamriel estejam podres. O mundo é um local hostil, no qual você é uma presa se demonstrar fraqueza. A sociedade em si está apodrecida, corrupta, injusta, insensível. Se ao menos houvesse alguém virtuoso com a coragem e força necessária para...
Subitamente, enquanto filosofava silenciosamente, algo no horizonte chamava sua atenção. Um vulto alaranjado. Olhando melhor, parecia um animal... não, se movia mais como um ser humano. Um ser humano rastejando? Apenas era possível distinguir os longos cabelos louro avermelhados. Por um instante delirante, Aerin acreditava que fossem os cabelos de sua mãe, então saltava da carruagem para desespero do condutor e corria em direção de sua visão.
Realmente, era um ser humano rastejando e ferido. Não, não era sua mãe, mas de fato era uma mulher. Uma bela e jovem mulher ferida e sangrando.
- Grimsever... onde...?!
Então ela desmaiava.
O coração de Aerin acelerava. Ele não poderia deixa-la aqui. Ferida como estava, ela certamente morreria. Isso se não fosse avistada por bandoleiros que fariam sabe-se lá que atrocidades com ela antes de matarem-na.
Não, Aerin não poderia deixa-la aqui para morrer. Com toda a sua força ele ergue a jovem (o peso de sua armadura era insuportável, mas ele dizia para si mesmo “que tipo de homem deixaria ela aqui? Seja forte, Aerin, SEJA HOMEM!”) e com muito esforço, a trazia até a carruagem.
- Precisamos correr, ela não tem muito tempo!