- Não, não é isso.. É que a mulher me tratou com um desdenho que jurava que ela me colocaria junto com os iniciantes.. Se ela não colocou, isso é um ponto bom, pelo menos mostrei meu potencial, mesmo estando bloqueada.. Mas não responderam uma de minhas perguntas, estão a quanto tempo aqui?
- Não fique muito pimposa! Ela não te colocou com novatos, mas também não colocou com os inteligentes. - Diz Sibrah, com igual desdém.
- Ráŝ! Fale apenas por si!- Ma'bah! Quem se garante no talento não precisa ser papa-livros! - Diz Kito se exibindo. Sibrah continua com cara de enfado.
- Eu estou por aqui desde que me entendo por gente, e sempre me garanti no fogo. Treinar com água é mais pé-no-saco, mas quando se têm talento não é preciso ouvir tudo sobre disciplina e outras bobagens que sempre dizem.- Já é meio demais você já ter se entendido por gente! Isto se deu quando? Semana passada? Ou está apenas superestimando todo este seu talento?Eles começam a se esculachar mutuamente, sem se preocupar em maiores informações.
- Que grau? Sei la eu druzu.. Eu faço pelo que me da na telha, tenho um pouco de conhecimento sim, mas o que eu faço, faço por impulsão.. Eu era uma wananko, e foi assim que bloqueei meus poderes..
- Ah, wanamko, é, isto provavelmente explica muita coisa... - Kate aproveita que o fato chamou atenção, ainda que um pouco, e comenta também que foi treinada por fréĉias.
- Wanamko, devota de Piro e treinada por fréĉias, é, com certeza não te mandariam para o grupo dos inteligentes. - Tinha uma pitada de preconceito nesta afirmação.
- Mmm, dizem que as fréĉias são mais "interessantes" que as sereias, será verdade? E será que elas realmente te ensinaram bem? Você não parece tão "divertida". - Como seria pela força bruta? e quais medicamentos são esses?
- Seria com doses cavalares de mana, infundida diretamente nos chacras. - Adrai parecia não ser do tipo de falar com muito rodeio ou detalhe.
(R.Oc. para ver o nível de conhecimento técnico/prático que Kate teria) Kate entende que seria basicamente uma transfusão de energia, de forma nada sutil. Já passara por isto treinando com fréĉias. Kevla dizia algumas vezes que "tem três formas de treinar: o jeito certo, o jeito rápido e o jeito que não dói", pelo jeito "na força bruta" é o mesmo que ela chama de "o jeito rápido", que por sinal era o que ela gostava de usar, o jeito que não era sutil, algumas vezes não muito honrado e normalmente bem doloroso.
- Spoiler:
Haviam algumas dezenas de chacras medianos e centenas menores no corpo, mas sete eram os principais (isto é o básico do básico), Kate sabia que, para ativar o primeiro (e possivelmente o segundo) na força bruta, deveria ser por meio de massagem erótica, seguida ou não de sexo selvagem. Mas havia técnica própria para isto, não era apenas questão de sacanagem (pelo menos ela deve ter lido isto em algum lugar, mas não sei se chegou por algo em prática, a ativação do "jeito certo" chegava ser de fato ritualística e até didática), certamente não faltaria ajuda desinteressada se Kate quisesse começar por ai.
Já o estômago (que Kate não lembrava se era terceiro ou quarto) era um chacra mais seguro de se ativar. "O principal ponto de reserva de energia do corpo" dizia Zaratkir, que já fez vários treinos neste ponto. Dava pra manipular o fluxo energético com mais facilidade nele, mas depois que a ressaca de poder passava, efeitos colaterais mais comuns eram cólicas e fortes problemas digestivos, além de um irritante gosto de cabo de guarda-chuva na boca, mas Kevla ainda dizia que era sorte treinar com mana azul ou vermelha (mesmo sem domínio do elemento fogo por Kevla, o corpo tem capacidade de converter qq mana externo em um que domine melhor, em partes, pelo menos), pois a magia negra deixava um gosto bem pior.
Quanto ao chacra do coração, este ela treinou um pouco com Keela, que explicou que, como a raiva é motriz primário da magia vermelha (o secundário é o desejo), não era prudente infundir mana direto neste ponto em uma wanamko. Claro que A KEELA não se importava com prudência, para ela o que a Zaratkir chamava de "jeito rápido" era "o jeito divertido". Divertido obviamente para quem ensina, não pra quem aprende, pois os efeitos colaterais eram os de um estado grave de fúria. Havia também toda uma técnica para levar Kate a um estado bem puro de raiva, que consistia numa boa dose de espancamento e humilhação, mas não era qualquer espancamento e humilhação e sim algo com técnica própria, até porque o objetivo é estimular apenas a raiva, e não o ódio (esta diferença ela aprendeu um pouco com Ŝarlu).
Por fim havia o chacra da garganta, que era um chacra de controle, uma "ponte sensível entre os canais inferiores e superiores". As demônios viviam bloqueando Kate por este ponto, impedindo sua energia de subir aos chacras superiores, forçando o caminho até os braços, onde era forçada a manipular a mana para fora do corpo. Todos os pontos em que se usasse manipulação externa (força bruta) causava efeitos colaterais. Haviam ainda outros pontos no corpo, um que Kate não lembrava se era acima ou abaixo do estômago e também não sabia pra que servia, além dos pontos superiores, que nenhuma das demônios tinha capacidade de manipular.
- Se quiser procurar uma saída via medicamentos, procure o raizeiro. E quando for comer alguma coisa, procura o Rafan, ele deve falar o que é melhor para estimular as manas. Não esqueça de levar dinheiro, pois não somos uma instituição filantrópica.Kate viu um raizeiro quando seguia a Corrente, então não precisaria ser apresentada, tinha que guardar o nome Rafan pra depois.
Kate escreveu:Talvez, já que daqui 25 minutos vou ser cobaia da aula.. Poderíamos gastar esse tempo se conhecendo.. Vocês devem estar em meio essa guerra a muito tempo..
- Inhá! Nem tanto tempo assim! Antes a guerra pegava mesmo em Burnabad, depois foi pra Ĵevurá... Heséd estava meio que em paz por um bom tempo, e podia ter continuado assim. Estes malditos de Gaja chegaram mesmo há pouco mais de ano. Não tenho recebido muitas informações da capital, mas parece que lá estão dando um pau nestes invasores, então decerto eles vieram tentar a sorte aqui. Malditos. - Kito cospe no chão.
- A escola Izete não está muito interessada na guerra, queridinha. - Fala Sibrah
- Mas eu vim de Akvlando, e algum doido, ou fanático, se é que faz diferença, do Kan, quis afirmar que foi um membro da Izete quem matou o Rei Nigel II. Claro que isto é ridículo, mas foi o suficiente para começarem nos encher o saco.- É, este pessoal do Kan e todos seguidores de Tamuz vivem exalando hipocrisia! Eles inventam qualquer mentira para levar a guerra até outros lugares, tentando conquistar territórios.- Elis precisa expandí p'ra aumentá u comerço delis.- Sério mesmo que você ainda pensa que é tudo por causa do comércio, Solazar?- Uaai!! Mais fá parrte da'zistratégia: conciguí um pontu no mar, sufocá os produto local, fazê us inimigu pricisá das coiza deliz... pu'riço elis cortaru as maçeras daqui...- Mas isto também não passa de mais um desculpa que usam, não é a questão principal, e....Bate-bocas intermináveis começam entre eles. Agora Kate está só com mais dez minutos pra resolver ir à aula de água ou fazer outra coisa.
Mortalha e Nadhull não conseguem usar seus poderes plenos. Havia muita mana negra no local, é verdade, mas não estava dando para moldá-la com facilidade. Poderia ser um dos caprichos da Prana (para quem acreditava que a Prana pudesse ter algum tipo de "consciência própria", pois em 10% das vezes ela não dava resultados esperados mesmo com muito domínio), mas provavelmente eram muitos fatores mágicos sendo influenciados. Talvez até os magos do outro lado já estivessem começando alguma estratégia. Se tal fosse, poderia ser vital encontrá-los rápido no meio dos outros.
Mas seus poderes não estavam obliterados (para isto teria de se apostar que haveriam magos negros nas fileiras inimigas também, e a aposta principal era que teriam magos verdes, mas tudo era suposição ainda). Mortalha não consegue fazer as sombras possuírem um soldado mais fraco, mas consegue ter uma ideia geral de como é a formação dos inimigos (claro que isto seria mais útil se ela fosse uma estrategista, coisa que nunca foi); Nadhull não consegue apavorar o inimigo a ponto deles deitarem no chão em posição fetal ou abandonar as armas e saírem correndo (até porque também teriam medo de fazer isto e serem mortos pelos próprios soldados), mas consegue baixar ainda mais a moral daqueles soldados mal saídos das fraudas. No fim, quando chegasse a vez deles, muitos ali teriam o fatídico fim de marcharem apenas como gado pro matadouro.
Ele procura um ponto mais desprotegido na parte mais sul, já que ambos lados estão concentrados na rampa no norte e uma segunda leva está ocupada com não deixar grupos menores passarem pela parte mais alta do planalto ao sul, mas o flanco sul do inimigo estava desprotegido. Nadhull confirma com Mortalha o que lhe dá até um pouco mais de segurança para tentar a estratégia.
Ao desfazer-se da ilusão, alguns soldados mais próximos se assustam, dando conta que estavam trabalhando com um íncubo o tempo todo, mas no calor da batalha ninguém liga muito para aquilo. Ele busca voar relativamente baixo, e como a parte sul é mais mal iluminada, sua visão demoníaca lhe dá vantagem sobre o inimigo.
Nadhull aproxima de uma área mais descampada (o inimigo montou as barracas ali justamente por isto, deveria ser mais fácil de avistar grupos inimigos chegando. Porém deixava brechas para ataques individuais, caso alguém conseguisse passar furtivamente pela parte sul, como ele e os meio-demônios fizeram. Nadhull consegue inclusive ver alguns corpos escondidos pouco atrás das barracas, parte do sucesso da infiltração ainda não descoberta. Um inimigo abatido tinha sido despido, portanto pelo menos um dos meio-demônios deveria estar disfarçado com uniforme de Gaja.
Enquanto isto Ka resolve jogar pedras antes de chegar até a passagem mais estreita. Uma solução rústica, mas eficiente. Ele não consegue enxergar muita coisa na escuridão e na altura, mas depois dos primeiros ataques percebe os inimigos se afastando mais do paredão, portanto deve ter acertado pelo menos um.
Daquela altura, até uma pedra pequena seria o bastante para quebrar um crânio, os inimigos deveriam esperar algo assim e se proteger com escudos, mesmo assim, se uma das pedras que Ka jogou, que não eram das menores, acertou em cheio, a possibilidade de ter feito pelo menos uma vítima fatal é alta.
Ele vai vendo o que dá para continuar jogando com uma boa balística. As pessoas tinham empilhado algumas pedras chatas para improvisar um altar, e imolado um bode em cima, se tivessem sucesso na defesa da base, poderiam comer os restos do bode em comemoração, se fracassassem, seria porque não foram dignos, e o sacrifício serviria pra expiar um pouco os pecados dos soldados mortos. Ka pensa que aquilo poderia fazer um estrago... Quem sabe até tivesse impregnado com um pouco de energia mágica ou espiritual que fizesse ainda mais estrago? Se funcionasse poderia até dizer que foi com ajuda de deus. O problema é que
possivelmente algumas pessoas considerariam desmanchar o altar e jogá-lo em cima dos inimigos um tipo de heresia.
- Segurem a linha. Vocês são a proteção de seus colegas e eles a sua proteção. Segurem a linha.
Um ou outro soldado olhava para trás, como a se perguntar
"quem é este cara?" mas como Ka falava com convicção, a maioria simplesmente obedecia. Mais na linha de frente um tenente gritava:
- Voltem! Voltem! Voltem! - Esperava um tempo, depois mudava:
- Avancem! Avançar! (...) Voltem! Voltem! Voltem! (...) Avancem!Assim os soldados iam se movendo em forma de ondas, avançando quando o inimigo dava brecha, e voltando depois de causar algum dano, fazendo com que o inimigo tivesse que continuar naquela faixa de terra. Além disto, alguns soldados feridos ou cansados se revezavam nestas ondas, tendo alguns momentos breves para se recuperar antes de atacar novamente.
O tenente vê Ka também instruindo os soldados mais atrás, mas ambos só trocam olhares e Ka percebe que ele não se incomoda, provavelmente até apoia as palavras de estímulos àqueles que não chegaram à linha de frente ainda.
Azriel também tinha reparado o repugnante altar, coberto de sangue do animal morto.
"Que absurdo!" - Pensava -
"Anĝelina ficou milênios ensinando a não fazerem sacrifícios de sangue, e os humanos fazem sacrifícios ao filho dela!"Talvez fosse interessante fazer um altar limpo, longe daquela coisa, para evocar as bênçãos da deusa! Inclusive, enquanto pensava isto, uma soldada rasa se dirige a ela:
- Filha de Anĝelina! Poderias me dar sua bênção?Imediatamente uma pequena fila se formava com soldados que iam pedir o mesmo. A requinha ainda pergunta timidamente:
- Seria possível abençoar minha espada também?Azriel tenta se concentrar em tudo que havia de bom no mundo, apesar da situação nada boa, e sua aura chegava a brilhar levemente. Pensando na luz ela divaga levemente:
"Se eu fosse uma deusa, poderia criar mais uma lua, com propriedades curativas... Algo assim..."Bem, talvez uma lua fosse meio demais, mas poderia infundir energia curativa, seja diretamente, através de bênçãos e magias, ou até infundir algum objeto com aura (menor que uma lua, mas que irradiaria pra quem tivesse perto), quem sabe até usar a luz da própria aura pra imprecionar... por enquanto ela preferia se manter longe da luta, e se ficasse de suporte certamente os primeiros estropiados não tardariam aparecer.