Como sugeriu a @Askalians, estou postando o BG de uma das personagens mais queridas com quem já joguei. Isso foi alguns anos atrás em outro fórum.
Eleonora foi criada para uma mesa de Vampiro, ambientada no séc XIII
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Andava pelo corredor do segundo andar da residência quando um som vindo dos aposentos de seus pais lhe chamou a atenção. Aproximou-se parando na porta do quarto, que estava aberta. Apoiou as duas mãos no batente e recostou a cabeça, observando a mulher que, dentro do aposento, dobrava algumas peças de roupa e colocava-as em um baú. Era sua mãe.
Percebendo sua presença a senhora parou por instantes e a olhou.
- Estavas ai ha muito tempo, querida?
Eleonora apenas balançou a cabeça negativamente em resposta.
- Termine de aprontar suas coisas e as de meu neto. Já acertei tudo com Aldwin e antes do final da tarde partiremos.
Eleonora mais uma vez apenas balançou a cabeça em resposta, dessa vez afirmativamente, e tão logo sua mãe retomou sua tarefa, ela se virou indo em direção ao seu quarto.
Caminhava lentamente pelo corredor e, enquanto o fazia, pensava no quanto sua vida havia mudado nos últimos cinco anos.
***
Eleonora nasceu na região da Antuérpia, parte norte da Bélgica. Filha de nobres, ela foi a terceira criança de um total de sete filhos, porém a única que havia sobrevivido ao primeiro ano de vida. Sua mãe, Marie Louise Van Heick, era uma mulher bondosa e de saúde frágil, por isso havia sofrido alguns abortos e problemas durante os partos, o que havia levado as demais crianças ao óbito.
Seu pai, Jaiden Van Heick, era natural da Bélgica. Um homem de posses, que frequentava os meios mais influentes e era considerado tão sábio quanto bondoso.
Eleonora recebeu educação de instrutores privados, tendo aprendido não apenas o neerlandês, como também o francês, que era a língua nativa de sua mãe, e até mesmo um pouco de latim. Foi educada em retórica, teoria musical e história da igreja. Também aprendia muito quando, escondida, ficava ouvindo parte das conversas que seu pai por vezes tinha com algumas autoridades. Adorava também tocar piano e escrever poemas.
E embora não tivesse irmãos, cresceu cercada pelos primos. Dois deles filhos de Raul Van de Vrecken, um tio-avô por parte de pai, lhe eram mais queridos.
Ursula, a quem queria como a uma irmã, tinha a mesma idade que ela e brincavam juntas quando crianças. E quando Ursula, aos 13 anos, foi obrigada a se casar com Tinus Ranwez, um nobre 17 anos mais velho do que ela e já viúvo da primeira esposa, que não lhe deu nenhum filho, foi Eleonora quem esteve ao lado da prima ouvindo os lamentos desta com relação ao que o destino a havia reservado. De fato Eleonora passou a compartilhar por Tinus o mesmo desgosto que sua prima Ursula secretamente nutria por ele, principalmente quando pouco depois do casamento ficou sabendo que Tinus maltratava Ursula.
E o irmão de Ursula, seu primo Gaulthier, que embora fosse cinco anos mais velho, estava sempre próximo as duas, sendo protetor e carinhoso com a irmã e com a prima. Ele demonstrava gostar da companhia de Eleonora, sempre lhe dando atenção durante as conversas que partilhavam, principalmente sobre artes. Ele também dizia adorar ouvir Eleonora tocar piano e sempre que podia solicitava que a prima tocasse alguma melodia.
***
Seu coração apertou-se ao lembrar-se dele. Por breves segundos interrompeu seu caminho, fitando o chão antes de prosseguir até seu quarto.
- Gaulthier...
***
Eleonora contava 15 anos de idade quando seu pai informou que estava iniciando uma conversa com um possível noivo para ela. Ela ainda tentou demover seu pai desta ideia, mas ele estava irredutível, alegando que já havia esperado demais e que demorando mais acabaria passando da idade de casar-se.
Ela assentiu, porém não se conformou. Sabia que precisava casar-se, mas tinha medo de acontecer a ela o mesmo que à sua prima Ursula, que casou com um homem a quem repudiava e que, mesmo após o nascimento de sua filha, ainda tratava mal a esposa.
Dias depois, em um jantar que fora oferecido em sua casa para algumas pessoas influentes da cidade, ela viu a chance de mudar um pouco as coisas a seu favor.
Ela se aproximou de um grupo de jovens senhores que conversavam sobre animosidades, cumprimentou a todos com um leve aceno de cabeça e parou ao lado de seu primo Gaulthier, permanecendo ali por alguns instantes antes de olha-lo.
- Aqui esta quente. Acompanha-me até a varanda?
Ele lhe sorriu e prontamente estendeu o braço, ao qual ela aceitou se despedindo dos demais cavalheiros e caminhando em direção à varanda do grande salão.
- Eu bem te conheço minha prima. O que queres? – O jovem sorriu.
Eleonora sorriu em resposta, antes de responder.
- Bem me conheces realmente... Creio que já deves saber dos planos de meu pai para mim... Sobre casar-me...
Ele ficou serio e cruzou os braços
- Sim, Eleonora. Meu tio já havia conversado sobre isso comigo. Sinto muito, mas desta vez não poderei lhe ajudar. Meu tio já me preveniu que não adiantará interceder por você – Depois de uma pequena pausa concluiu – Meu tio está certo. Estás com 15 anos minha prima, é filha única e muito bonita, sabes que tem muitos rapazes de desejam desposá-la. Alegre-se por ter conseguido adiar esse momento por tanto tempo.
- Sim, meu primo, eu sei. Eu quero tua ajuda sim, mas não para evitar o casamento. – Respondeu rubra pelo elogio
- Perdão. Não entendo... Estás me dizendo que queres se casar? - A voz do rapaz soou confusa e resignada neste momento.
Eleonora virou-se de lado, passando a observar o jardim de sua bela residência. Temia perder a coragem caso continuasse a encarar seu primo.
- Não irei me recusar a casar, mas bem sabes, Gaulthier, do temor que tenho de ter o mesmo destino de Ursula... A pobre é infeliz por ter sido obrigada a casar-se com aquele velho... Sei que tenho que me casar e que isso deixara meus pais felizes, mas... A escolha do meu pai pode não me ser agradável e... Estava pensando que talvez pudesse... Ter um bom casamento se eu pudesse escolher...
- O que estás dizendo? Queres que interceda junto a meu tio para que ele permita que participes da escolha de teu noivo? – A voz dele havia ficado um pouco mais seria – Não creio que será possível isto.
Eleonora começou a apertar nervosamente a parte da frente de seu vestido, na altura de seu ventre, e balançou a cabeça negativamente.
- Não, meu primo... Não é isto. – Neste momento seu coração começou a bater tão rápido que ela temeu que ele lhe saísse do peito. – Estive pensando... Queria perguntar se... Se tu aceitarias... Se poderia ser você? – Baixou a cabeça, envergonhada com o que acabara de dizer.
- Se poderia ser eu?... Estás querendo dizer sobre nós dois nos casarmos? – A voz do rapaz demonstrava espanto.
Eleonora levantou a cabeça e voltou a observar o jardim. Ainda apertava freneticamente a frente de seu vestido. Estava nervosa. Pela primeira vez, ela que sempre falara muito bem, não sabia ao certo o que dizer.
- Sim, meu primo... Eu bem sei que também já lhe cobram que desposes uma moça... Pensei e creio que o nosso casamento seria bom para nossas famílias... Somos primos de segunda geração e com a nossa união os bens não seriam dissipados por outras famílias... Tu já conheces os negócios de meu pai... E nós nos conhecemos desde crianças... Creio que nosso casamento deixaria nossos pais felizes... E eu não teria a mesma sorte que Ursula... Uma vez que... Bem somos primos e nos conhecemos, então... Tenho afeto por ti.
Ela não se atreveu a olha-lo, mas diante do silêncio dele, ela virou-se ficando novamente de frente para Gaulthier e abaixou a cabeça. Sentia o rosto quente como nunca havia sentido. Apenas podia imaginar o quanto estaria rubra. Largado o vestido, mas agora apertava as mãos nervosamente.
- Claro isso se a ideia não lhe parecer absurda... Ou se caso ainda não tenhas uma pretendente... Talvez alguma bela moça por quem tenha se interessado... Já deves ter não é mesmo? Eu e essas minhas ideias... Perdoe-me a ousadia, eu... – Eleonora se calou, estava ofegante. Muito nervosa.
Nesse momento o jovem pegou delicadamente a mão de sua prima, fazendo com que ela o olha-se. Ao encara-lo, Eleonora encontrou um sorriso e um olhar muito felizes em seu primo.
- Estás certa do que acabou de dizer? – Eleonora balançou a cabeça positivamente. – Então me permita dizer que para mim não existe moça mais bela que tu, minha prima, e que nada me faria mais feliz do que torna-la minha esposa. – Ele deu um beijo suave na mão de Eleonora. – Hoje mesmo falarei com meu tio e não ficarei satisfeito enquanto ele não aceitar minha proposta. Pretendo torna-la minha esposa o quanto antes.
Eleonora sorriu ao seu primo.
***
Parou por alguns instantes à porta de seu quarto para observar a cena. Sobre a cama havia algumas peças de roupa a espera de serem dobradas e postas em um baú, e em outro canto do quarto, no chão, uma criada brincava com seu pequeno filho, Fabian. Ela entrou no quarto, fez um gesto para que a criada continuasse e começou a por as roupas no baú.
Fabian, que já estava com quatro anos, havia nascido em um belo dia de primavera, 1 ano e 5 meses depois do casamento de Eleonora e Gauthier. E a ultima vez que o garoto havia tido contato com o pai foi ainda aos quatro meses de vida, quando este havia recebido uma mensagem de alguns parentes que residiam na França. Eleonora lembrava bem deste dia.
***
Ela estava em seus aposentos cuidando do pequeno Fabian quando seu esposo entrou e lhe comunicou que estava de partida para a França.
- Mas por que tem que ser você? Por que não solicita que outro vá em seu lugar?
- Eleonora entenda, são assuntos diretamente ligados à nossa família. São nossas terras, nossos interesses. Não podemos nos arriscar a perder estas posses. Foram seus avós que nos pediram ajuda. Seu pai pensou em atender o chamado do sogro, mas sabes que sua mãe tem estado doente esses dias.
Ela colocou o bebê sobre a cama e levantou-se.
- E sabes o que esta ocorrendo. Nunca soube que vovô precisou de nossa ajuda...
- O comunicado era breve. Não deves se preocupar. Eu ajudarei os De Neve no que for preciso
Gaulthier se aproximou de Eleonora, olhou e sorriu para seu filho recém-nascido que dormia tranquilamente sobre a cama do casal e logo em seguida abraçou a mulher.
- Eu te amo, minha esposa. Não te preocupes, voltarei tão logo seja possível.
***
Eleonora suspirou enquanto fechava o baú. Aquela havia sido a última vez que vira seu esposo.
Quase um ano e meio depois da partida de Gaulthier ela recebeu uma carta de seus avós, informando o desaparecimento dele. Eles acreditavam que ele havia sofrido alguma espécie de emboscada por parte de pessoas que estavam interessadas em lhes tomarem algumas posses de terra. E depois de semanas desaparecido, haviam perdido as esperanças de que ele pudesse aparecer vivo.
Os meses que se seguiram a este acontecimento foram muito tristes para Eleonora, que com o decorrer do pouco tempo em que conviveu com Gaulthier como esposa, viu o sentimento de afeto que já nutria por ele antes transformar-se em amor. Fora a existência do pequeno Fabian que havia lhe confortado naqueles dias.
O dia transcorreu rapidamente e quando deu por si, já estavam no inicio da tarde. Suas bagagens já haviam sido acomodadas por Aldwin, um fiel empregado da família, na carruagem e ela esperava pacientemente de mãos dadas com Fabian que sua mãe se juntasse a eles para que finalmente iniciassem a viagem até o beguinário de Mechelen.
Ainda se perguntava se teria tomado a melhor decisão quando permitiu, a cerca de duas semanas atrás, que sua mãe lhe convencesse a fazer esta viagem.
***
- Um beguinário, mamãe? – A voz de Eleonora soava descrente.
As duas estavam na sala da residência conversando sobre os últimos acontecimentos, enquanto tomavam um chá.
- Sim, minha querida. Um beguinário. Com essa partida inesperada de seu pai para as cruzadas, creio que não seja adequado permanecermos sozinhas na propriedade, mesmo tendo os criados conosco. Ainda mais quando não sabemos o quanto ele irá se demorar por lá. – Ela tomou um gole do chá antes de prosseguir – E não entendo porque da sua estranheza. Bem sabes que somos muito religiosos.
- Sim, minha mãe, eu sei. Apenas estranhei a escolha. Existem tantos outros lugares para onde poderíamos ir, inclusive em nossa própria família...
- Concordo minha querida. Mas bem sabes também que tua mãe não é uma pessoa muito saudável. Eu acabaria me sentindo um estorvo ou inútil na casa de outrem. Já com as beguinas estaremos cercadas por Deus e protegidas de pessoas com más intenções. Elas são religiosas, praticam caridade sem, no entanto nos obrigar a abandonar nossas vidas, bens ou manter clausura. Quando seu pai retornar voltaremos para cá junto com ele.
- Sim, já ouvi falar sobre elas e que se dedicam aos cuidados dos doentes e dos pobres. Se crés que esta é a melhor solução... Mas e as nossas propriedades? Como faremos para administra-las de lá?
- Isso já esta acertado. Aldwin irá cuidar disso para nós, claro com a ajuda e supervisão de alguns de seus primos que não foram para as cruzadas. – A senhora tomou mais um gole do seu chá – Mas a família dele serve a nossa há muitos anos. Ele é de confiança, bem sabes. Ele está bem instruído e sabe o que fazer. Além do mais, qualquer problema mais sério que possa surgir, poderemos voltar.
- E já sabes para onde vamos ou quando partiremos?
- Mechelen. Ouvi falar muito bem de um beguinario que fica nesta cidade o que é perfeito por não ser longe daqui. Parece que a grande senhora desta comunidade, de nome Hadewijch, se bem me lembro, é tida como uma mulher muito culta e bondosa... Creio que duas semanas sejam tempo mais que suficiente para acertarmos os últimos detalhes e partirmos.
- Muito bem então, minha mãe. Vou começar a providenciar minhas coisas. Em duas semanas partiremos para Mechelen e nos juntaremos as beguinárias dessa comunidade... Sabe mamãe, muito me agrada a ideia de podermos ser caridosas... Ajudar a alguns doentes e necessitados.
Marie Louise sorriu para a filha.
***
Aconchegou o pequeno Fabian em seu colo, ele dormia tranquilamente, alheio ao balançar da carruagem. Estavam já há algum tempo na estrada a caminho de Mechelen. Em breve chegariam ao seu destino.
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Sobre o jogo...
Ainda no beguinário a mãe de Eleonora faleceu, doente.
Foi transformada por miss Hadewijch, se tornando uma gangrel.
Junto com sua mestra, descobriu que seu marido ainda estava na França, "vivo"... Ele também havia se tornado um Gangrel.
Obteve permissão para pegar um navio e partir para tentar encontra-lo.
Após se envolver em alguns acontecimentos e intrigas, já na França, o jogo parou antes de Eleonora conseguir reencontrar o marido.
Eleonora foi criada para uma mesa de Vampiro, ambientada no séc XIII
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Eleonora Van Der Vrecken
Andava pelo corredor do segundo andar da residência quando um som vindo dos aposentos de seus pais lhe chamou a atenção. Aproximou-se parando na porta do quarto, que estava aberta. Apoiou as duas mãos no batente e recostou a cabeça, observando a mulher que, dentro do aposento, dobrava algumas peças de roupa e colocava-as em um baú. Era sua mãe.
Percebendo sua presença a senhora parou por instantes e a olhou.
- Estavas ai ha muito tempo, querida?
Eleonora apenas balançou a cabeça negativamente em resposta.
- Termine de aprontar suas coisas e as de meu neto. Já acertei tudo com Aldwin e antes do final da tarde partiremos.
Eleonora mais uma vez apenas balançou a cabeça em resposta, dessa vez afirmativamente, e tão logo sua mãe retomou sua tarefa, ela se virou indo em direção ao seu quarto.
Caminhava lentamente pelo corredor e, enquanto o fazia, pensava no quanto sua vida havia mudado nos últimos cinco anos.
***
Eleonora nasceu na região da Antuérpia, parte norte da Bélgica. Filha de nobres, ela foi a terceira criança de um total de sete filhos, porém a única que havia sobrevivido ao primeiro ano de vida. Sua mãe, Marie Louise Van Heick, era uma mulher bondosa e de saúde frágil, por isso havia sofrido alguns abortos e problemas durante os partos, o que havia levado as demais crianças ao óbito.
Seu pai, Jaiden Van Heick, era natural da Bélgica. Um homem de posses, que frequentava os meios mais influentes e era considerado tão sábio quanto bondoso.
Eleonora recebeu educação de instrutores privados, tendo aprendido não apenas o neerlandês, como também o francês, que era a língua nativa de sua mãe, e até mesmo um pouco de latim. Foi educada em retórica, teoria musical e história da igreja. Também aprendia muito quando, escondida, ficava ouvindo parte das conversas que seu pai por vezes tinha com algumas autoridades. Adorava também tocar piano e escrever poemas.
E embora não tivesse irmãos, cresceu cercada pelos primos. Dois deles filhos de Raul Van de Vrecken, um tio-avô por parte de pai, lhe eram mais queridos.
Ursula, a quem queria como a uma irmã, tinha a mesma idade que ela e brincavam juntas quando crianças. E quando Ursula, aos 13 anos, foi obrigada a se casar com Tinus Ranwez, um nobre 17 anos mais velho do que ela e já viúvo da primeira esposa, que não lhe deu nenhum filho, foi Eleonora quem esteve ao lado da prima ouvindo os lamentos desta com relação ao que o destino a havia reservado. De fato Eleonora passou a compartilhar por Tinus o mesmo desgosto que sua prima Ursula secretamente nutria por ele, principalmente quando pouco depois do casamento ficou sabendo que Tinus maltratava Ursula.
E o irmão de Ursula, seu primo Gaulthier, que embora fosse cinco anos mais velho, estava sempre próximo as duas, sendo protetor e carinhoso com a irmã e com a prima. Ele demonstrava gostar da companhia de Eleonora, sempre lhe dando atenção durante as conversas que partilhavam, principalmente sobre artes. Ele também dizia adorar ouvir Eleonora tocar piano e sempre que podia solicitava que a prima tocasse alguma melodia.
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Seu coração apertou-se ao lembrar-se dele. Por breves segundos interrompeu seu caminho, fitando o chão antes de prosseguir até seu quarto.
- Gaulthier...
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Eleonora contava 15 anos de idade quando seu pai informou que estava iniciando uma conversa com um possível noivo para ela. Ela ainda tentou demover seu pai desta ideia, mas ele estava irredutível, alegando que já havia esperado demais e que demorando mais acabaria passando da idade de casar-se.
Ela assentiu, porém não se conformou. Sabia que precisava casar-se, mas tinha medo de acontecer a ela o mesmo que à sua prima Ursula, que casou com um homem a quem repudiava e que, mesmo após o nascimento de sua filha, ainda tratava mal a esposa.
Dias depois, em um jantar que fora oferecido em sua casa para algumas pessoas influentes da cidade, ela viu a chance de mudar um pouco as coisas a seu favor.
Ela se aproximou de um grupo de jovens senhores que conversavam sobre animosidades, cumprimentou a todos com um leve aceno de cabeça e parou ao lado de seu primo Gaulthier, permanecendo ali por alguns instantes antes de olha-lo.
- Aqui esta quente. Acompanha-me até a varanda?
Ele lhe sorriu e prontamente estendeu o braço, ao qual ela aceitou se despedindo dos demais cavalheiros e caminhando em direção à varanda do grande salão.
- Eu bem te conheço minha prima. O que queres? – O jovem sorriu.
Eleonora sorriu em resposta, antes de responder.
- Bem me conheces realmente... Creio que já deves saber dos planos de meu pai para mim... Sobre casar-me...
Ele ficou serio e cruzou os braços
- Sim, Eleonora. Meu tio já havia conversado sobre isso comigo. Sinto muito, mas desta vez não poderei lhe ajudar. Meu tio já me preveniu que não adiantará interceder por você – Depois de uma pequena pausa concluiu – Meu tio está certo. Estás com 15 anos minha prima, é filha única e muito bonita, sabes que tem muitos rapazes de desejam desposá-la. Alegre-se por ter conseguido adiar esse momento por tanto tempo.
- Sim, meu primo, eu sei. Eu quero tua ajuda sim, mas não para evitar o casamento. – Respondeu rubra pelo elogio
- Perdão. Não entendo... Estás me dizendo que queres se casar? - A voz do rapaz soou confusa e resignada neste momento.
Eleonora virou-se de lado, passando a observar o jardim de sua bela residência. Temia perder a coragem caso continuasse a encarar seu primo.
- Não irei me recusar a casar, mas bem sabes, Gaulthier, do temor que tenho de ter o mesmo destino de Ursula... A pobre é infeliz por ter sido obrigada a casar-se com aquele velho... Sei que tenho que me casar e que isso deixara meus pais felizes, mas... A escolha do meu pai pode não me ser agradável e... Estava pensando que talvez pudesse... Ter um bom casamento se eu pudesse escolher...
- O que estás dizendo? Queres que interceda junto a meu tio para que ele permita que participes da escolha de teu noivo? – A voz dele havia ficado um pouco mais seria – Não creio que será possível isto.
Eleonora começou a apertar nervosamente a parte da frente de seu vestido, na altura de seu ventre, e balançou a cabeça negativamente.
- Não, meu primo... Não é isto. – Neste momento seu coração começou a bater tão rápido que ela temeu que ele lhe saísse do peito. – Estive pensando... Queria perguntar se... Se tu aceitarias... Se poderia ser você? – Baixou a cabeça, envergonhada com o que acabara de dizer.
- Se poderia ser eu?... Estás querendo dizer sobre nós dois nos casarmos? – A voz do rapaz demonstrava espanto.
Eleonora levantou a cabeça e voltou a observar o jardim. Ainda apertava freneticamente a frente de seu vestido. Estava nervosa. Pela primeira vez, ela que sempre falara muito bem, não sabia ao certo o que dizer.
- Sim, meu primo... Eu bem sei que também já lhe cobram que desposes uma moça... Pensei e creio que o nosso casamento seria bom para nossas famílias... Somos primos de segunda geração e com a nossa união os bens não seriam dissipados por outras famílias... Tu já conheces os negócios de meu pai... E nós nos conhecemos desde crianças... Creio que nosso casamento deixaria nossos pais felizes... E eu não teria a mesma sorte que Ursula... Uma vez que... Bem somos primos e nos conhecemos, então... Tenho afeto por ti.
Ela não se atreveu a olha-lo, mas diante do silêncio dele, ela virou-se ficando novamente de frente para Gaulthier e abaixou a cabeça. Sentia o rosto quente como nunca havia sentido. Apenas podia imaginar o quanto estaria rubra. Largado o vestido, mas agora apertava as mãos nervosamente.
- Claro isso se a ideia não lhe parecer absurda... Ou se caso ainda não tenhas uma pretendente... Talvez alguma bela moça por quem tenha se interessado... Já deves ter não é mesmo? Eu e essas minhas ideias... Perdoe-me a ousadia, eu... – Eleonora se calou, estava ofegante. Muito nervosa.
Nesse momento o jovem pegou delicadamente a mão de sua prima, fazendo com que ela o olha-se. Ao encara-lo, Eleonora encontrou um sorriso e um olhar muito felizes em seu primo.
- Estás certa do que acabou de dizer? – Eleonora balançou a cabeça positivamente. – Então me permita dizer que para mim não existe moça mais bela que tu, minha prima, e que nada me faria mais feliz do que torna-la minha esposa. – Ele deu um beijo suave na mão de Eleonora. – Hoje mesmo falarei com meu tio e não ficarei satisfeito enquanto ele não aceitar minha proposta. Pretendo torna-la minha esposa o quanto antes.
Eleonora sorriu ao seu primo.
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Parou por alguns instantes à porta de seu quarto para observar a cena. Sobre a cama havia algumas peças de roupa a espera de serem dobradas e postas em um baú, e em outro canto do quarto, no chão, uma criada brincava com seu pequeno filho, Fabian. Ela entrou no quarto, fez um gesto para que a criada continuasse e começou a por as roupas no baú.
Fabian, que já estava com quatro anos, havia nascido em um belo dia de primavera, 1 ano e 5 meses depois do casamento de Eleonora e Gauthier. E a ultima vez que o garoto havia tido contato com o pai foi ainda aos quatro meses de vida, quando este havia recebido uma mensagem de alguns parentes que residiam na França. Eleonora lembrava bem deste dia.
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Ela estava em seus aposentos cuidando do pequeno Fabian quando seu esposo entrou e lhe comunicou que estava de partida para a França.
- Mas por que tem que ser você? Por que não solicita que outro vá em seu lugar?
- Eleonora entenda, são assuntos diretamente ligados à nossa família. São nossas terras, nossos interesses. Não podemos nos arriscar a perder estas posses. Foram seus avós que nos pediram ajuda. Seu pai pensou em atender o chamado do sogro, mas sabes que sua mãe tem estado doente esses dias.
Ela colocou o bebê sobre a cama e levantou-se.
- E sabes o que esta ocorrendo. Nunca soube que vovô precisou de nossa ajuda...
- O comunicado era breve. Não deves se preocupar. Eu ajudarei os De Neve no que for preciso
Gaulthier se aproximou de Eleonora, olhou e sorriu para seu filho recém-nascido que dormia tranquilamente sobre a cama do casal e logo em seguida abraçou a mulher.
- Eu te amo, minha esposa. Não te preocupes, voltarei tão logo seja possível.
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Eleonora suspirou enquanto fechava o baú. Aquela havia sido a última vez que vira seu esposo.
Quase um ano e meio depois da partida de Gaulthier ela recebeu uma carta de seus avós, informando o desaparecimento dele. Eles acreditavam que ele havia sofrido alguma espécie de emboscada por parte de pessoas que estavam interessadas em lhes tomarem algumas posses de terra. E depois de semanas desaparecido, haviam perdido as esperanças de que ele pudesse aparecer vivo.
Os meses que se seguiram a este acontecimento foram muito tristes para Eleonora, que com o decorrer do pouco tempo em que conviveu com Gaulthier como esposa, viu o sentimento de afeto que já nutria por ele antes transformar-se em amor. Fora a existência do pequeno Fabian que havia lhe confortado naqueles dias.
O dia transcorreu rapidamente e quando deu por si, já estavam no inicio da tarde. Suas bagagens já haviam sido acomodadas por Aldwin, um fiel empregado da família, na carruagem e ela esperava pacientemente de mãos dadas com Fabian que sua mãe se juntasse a eles para que finalmente iniciassem a viagem até o beguinário de Mechelen.
Ainda se perguntava se teria tomado a melhor decisão quando permitiu, a cerca de duas semanas atrás, que sua mãe lhe convencesse a fazer esta viagem.
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- Um beguinário, mamãe? – A voz de Eleonora soava descrente.
As duas estavam na sala da residência conversando sobre os últimos acontecimentos, enquanto tomavam um chá.
- Sim, minha querida. Um beguinário. Com essa partida inesperada de seu pai para as cruzadas, creio que não seja adequado permanecermos sozinhas na propriedade, mesmo tendo os criados conosco. Ainda mais quando não sabemos o quanto ele irá se demorar por lá. – Ela tomou um gole do chá antes de prosseguir – E não entendo porque da sua estranheza. Bem sabes que somos muito religiosos.
- Sim, minha mãe, eu sei. Apenas estranhei a escolha. Existem tantos outros lugares para onde poderíamos ir, inclusive em nossa própria família...
- Concordo minha querida. Mas bem sabes também que tua mãe não é uma pessoa muito saudável. Eu acabaria me sentindo um estorvo ou inútil na casa de outrem. Já com as beguinas estaremos cercadas por Deus e protegidas de pessoas com más intenções. Elas são religiosas, praticam caridade sem, no entanto nos obrigar a abandonar nossas vidas, bens ou manter clausura. Quando seu pai retornar voltaremos para cá junto com ele.
- Sim, já ouvi falar sobre elas e que se dedicam aos cuidados dos doentes e dos pobres. Se crés que esta é a melhor solução... Mas e as nossas propriedades? Como faremos para administra-las de lá?
- Isso já esta acertado. Aldwin irá cuidar disso para nós, claro com a ajuda e supervisão de alguns de seus primos que não foram para as cruzadas. – A senhora tomou mais um gole do seu chá – Mas a família dele serve a nossa há muitos anos. Ele é de confiança, bem sabes. Ele está bem instruído e sabe o que fazer. Além do mais, qualquer problema mais sério que possa surgir, poderemos voltar.
- E já sabes para onde vamos ou quando partiremos?
- Mechelen. Ouvi falar muito bem de um beguinario que fica nesta cidade o que é perfeito por não ser longe daqui. Parece que a grande senhora desta comunidade, de nome Hadewijch, se bem me lembro, é tida como uma mulher muito culta e bondosa... Creio que duas semanas sejam tempo mais que suficiente para acertarmos os últimos detalhes e partirmos.
- Muito bem então, minha mãe. Vou começar a providenciar minhas coisas. Em duas semanas partiremos para Mechelen e nos juntaremos as beguinárias dessa comunidade... Sabe mamãe, muito me agrada a ideia de podermos ser caridosas... Ajudar a alguns doentes e necessitados.
Marie Louise sorriu para a filha.
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Aconchegou o pequeno Fabian em seu colo, ele dormia tranquilamente, alheio ao balançar da carruagem. Estavam já há algum tempo na estrada a caminho de Mechelen. Em breve chegariam ao seu destino.
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Sobre o jogo...
Ainda no beguinário a mãe de Eleonora faleceu, doente.
Foi transformada por miss Hadewijch, se tornando uma gangrel.
Junto com sua mestra, descobriu que seu marido ainda estava na França, "vivo"... Ele também havia se tornado um Gangrel.
Obteve permissão para pegar um navio e partir para tentar encontra-lo.
Após se envolver em alguns acontecimentos e intrigas, já na França, o jogo parou antes de Eleonora conseguir reencontrar o marido.