por Wordspinner Qua Fev 10, 2021 11:34 pm
Skye carregava o time das meninas nas costas. Clara era horrível. Ela torcia e comemorava cada movimento. Ela gritava e curtia. Mas não conseguia fazer nada certo e ainda tinha a total e absoluta alegria em cada mancada. Mesmo assim estavam a um ponto da vitória, ela pelo menos distraia o outro time. No momento final e decisivo. A última tacada se ela acertasse. Nessa hora a mãe chegou. Mãe que estava arrastando ela a força, mãe que respondeu a mordida com um tapa forte. Um silêncio enorme seguiu o tapa e então ela ouviu o choro, mas nem tinha percebido que estava chorando. Porque? Não era Skye, era Clara que dos braços da mãe tentava alcançar Skye.
A mãe agora segurava ela pescoço. Skye sentia o gosto de sangue na boca, dela, da mãe.
Em casa, dessa vez ela trancou Skye no quarto e arrastou o armário para frente da janela.
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Dessa vez Skye teve que sair pelo telhado. Sua mãe já tinha passado a prender ela em cada lugar que podia da casa, agora ela ficava no sótão. Ela ficou semanas pensando em como sair, amaldiçoando o maldito passarinho bicando o telhado. Até que uma das telhas caiu. Um fresta de luz deixava as cruzes mais visíveis. As garrafas de água que a mãe rezava todos os dias. A mãe definitivamente tentava, todas as coisas erradas, mas tentava.
Skye olha a luz entrando e outra telha cai para dentro da sua prisão. A menina testa as outras e consegue soltá-las. Uma, duas, três, quatro e pronto ela consegue sair. Passo a passo pelo telhado até a borda. Ela vai até a beira e olha lá para baixo. Muito alto. Muito, muito alto. Skye senta na beirada por um tempo até que vê o seu caminho para descer, a calha.
Ela desce bem devagar, o coração na boca o tempo todo. Suor nas mãos faz tudo ainda pior. O medo faz ela ficar toda suada. Olhar pra baixo faz o mundo girar um pouco. As batidas nas costelas, por dentro, são quentes. Ele desce mais um pouco. Mais um pouco. A mãe aparece subitamente na janela e ela quase cai. Escorrega e sente a mão arder ralada e cortada. Ela quase grita e quase cai. Mas a mãe não a vê. ela passa sem perceber nada pela janela. No chão ela tinha que procurar uma de suas rotas alternativas, a mãe mandou cortar a árvore quando descobriu que era ela que ajudava.
Subir pela grade nova machucava as mãos. Mas a dor durava pouco. Bem pouco.
Assim que la chega do lado de fora vê um garoto correndo para longe. Ela tinha machucado ele. Machucado tanto que ninguém acreditou que foi ela.
A rua era larga, duas vias. Casas dos dois lados e nas duas direções. Um subúrbio confortável. Finalmente livre, mas para onde ir?