O verde escuro e marrom das árvores cercava os três. A respiração virava fumaça de encontro ao ar frio, gélido.
"É sempre mais frio aqui." Ele finca o machado na árvore outra vez antes de esquecé-lo. "Poderia perguntar como está indo, mas ainda é cedo." Os olhos calmos e pacientes passam de Connor para Chloe.
"Você mudou." Ele estende a mão a ela para um aperto.
"Deveria tirar você do grupo. Deveria mandar você pra casa. Mas o garoto disse que podia confiar." Ele aponta Connor com o rosto e então a face séria mostra um sorriso caloroso e animado.
"Você tem uma arma que nenhum outro de nós tem. Uma arma feita de memórias, compromissos e sentimentos. Uma arma gravada nos nossos inimigos. Fundo nos ossos deles." O olhar fixava o dela, uma corrente de gelo que não a deixava fugir. Que a fazia sentir perigosa e especial.
"Mas vocês devem se perguntar, porque Dover?" E se perguntavam mesmo. Por suas próprias razões.
Ele segura o ombro de Connor e o aperta por um momento. Seu comportamento se transforma. "Vou mostrar pra vocês." E Nestor caminha por entre as torres abandonadas do castelo com um segredo guardado e saboreando cada passo.
"Eu sei que é velho e sem muita graça. O outro é mais bonito. Maior. Mas esse tem sangue, história importância. Isso e..." Ele se vira para os dois do pátio empoeirado e coberto de folhas e rachaduras por onde ervas teimosas brotavam. "Olhem o outro lado."
O dromo era fino e carregado de energia. O outro lado não era uma versão gloriosa ou decadente das pedras e janelas e muros. O que viam do outro lado era um intrincado e afiado labirinto de cristais transparentes e translúcidos, alguns sem cor ou avermelhados, outros carregados de luz da lua se empilhando sem ordem nenhuma e sem nenhum respeito por qualquer lei da realidade.
"Não vocês não querem por a mão. Eles comem essência. Arrancam direto do seu sangue, dos seus ossos. É isso? Não. Esse era o castelo da Rainha Negra e o rumor é que ela descobriu um caminho direto para o Guardião Lunar. A Mãe Lua em pessoa." Ele respira fundo e fareja o ar.
"Não é o único lugar do mundo com sua história exagerada. Mas agora entendem porque temos que vencer. Agora entendem porque vamos usar cada vantagem e expulsar eles daqui."
As palavras parecem vidro sendo mastigado com raiva e determinação. "Todos temos nossas partes. Eu falei com os outros líderes." Ele segura uma pedra solta e a olha como se fosse uma peça difícil de encaixar em um quebra cabeças.
"Vocês dois são novos e esse pode ser o fim da sua jornada. Um fim digno e glorioso. Um fim heróico. Minha missão não é manter vocês vivos. Minha missão é ganhar." Ele devolve a pedra sem olhar. "Nossa missão é ganhar. É arriscar a nós mesmos e arrancar a vitória dos dentes deles." A voz carregada de emoção. De energia.
"Você acha que consegue?" Ele olha de um para o outro visivelmente vibrando com a emoção. ele pergunta de costas para o salão com teto alto. O lugar tinha sido limpo em algum momento do passado mais recente que o resto. Tinha mais cheiros. Tinha sido usado. "Muitas batalhas foram travadas aqui. O lugar atrai elas. Mas nós só vamos conversar. Conversar sobre o que vai soar como traição de um jeito ou de outro." Ele anda devagar para dentro e a acustica do lugar parece trazer um peso soturno para as palavras do homem. Os pés descalços marcando a poeira um depois do outro.