Era tão legal estar cercada de gente que entendia, de beijar o carinha no escurinho, ele saber e não estar nem aí, ter o apoio dos fãs, ajuda de gente que nem conhecia, Beatrice contra a parede, lábios nos dele, respirações se entrelaçando, ela até viu os três caras se aproximando, mas jurou que eles iam passar direto, até ver o porrete na mão de um deles.
- Bichinha filha da puta! - é o grito que vem de um deles segundos depois dela ouvir a cabeça de Josh rachar, o corpo dele cai de lado no chão com um baque surdo e ele começa a convulsionar. - Caralho cê matou ele! - o segundo sujeito grita como se o primeiro tivesse passado da conta.
No olho de um ódio implacável, o segundo assustado e o terceiro indiferente, mas todos eles parecem acordar quando olham pra Beatrice. Não dá pra lutar, não contra três e eles não queriam uma testemunha, ela corre e é com certeza mais rápida do que eles, mas não o bastante pra despistar, ela segue o cheiro da gasolina por instinto como se fosse achar ajuda no posto, sempre achava, mas tudo que ela consegue é ficar encurralada no beco atrás da borracharia anexa ao posto de gasolina.
Por um segundo as aulas de boxe se pagaram o soco em cheio na fuça de um e ele cambaleia pra trás, mas a alegria não dura tanto quando o segundo a agarra por trás e a paulada acerta em cheio no rosto, ela respira fundo olhando pra cima, engasgando no próprio sangue e dentes, a minguante gibosa no céu sorrindo pra ela, por um segundo ela se lembrava que já tinha sonhado com aquele lugar e de como ele era perigoso… O Beco atrás da borracharia…
O mundo gira, tudo parece virar adrenalina, felicidade e gosto de pudim, os dois desarmados já estão destroçados um em cada canto do beco, o último paralisado o lobo divide com ela, dá pra sentir o cheiro do mijo, as pernas tentando correr mas nem obedecem, ele tenta gritar mas na garganta só um nó, o pescoço entre as presas se separa do corpo igual uma coxa de frango assado sendo puxada, o sabor é doce e depois escuridão.
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Tudo parece em câmera lenta quando ela acorda, algemada, sendo arrastada, ensopada em sangue já meio seco, a distância outro policial perguntando ao senhor da lojinha, um homem já de idade, cabelos brancos, barrigudinho.
Dava pra ver outras viaturas chegando conforme ela saia em outra, algemada e na parte de trás, alguma coisa sopra no ouvido - Fica calma, vai dar tudo certo. - sem sentimento, palavras inumanas, mas que traziam tanta paz, o caminho era curto logo ela tava na delegacia detrás das barras, dois caras bêbados falando enrolado entre eles rindo como se não houvesse amanhã, em um outro banco um cara deitado sobre o banco duro de madeira.
- Vinte anos nessa indústria vital e eu nunca vi essa merda acontecer. - Um dos policiais comenta com o parceiro logo assim que ela é posta na cela, mas finalmente quando ela é deixada em paz o mundo parece fazer sentido de novo, mas dessa vez com cores, sons e cheiros muito mais vivos, ela sabia que era diferente, sabia desde sempre, mas agora era diferente do que era antes, e mais igual do que deveria, o pau no lugar, o silicone não tá mais lá, o maldito pau no lugar…
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- O que?! Você acha que um cara teria forças pra fazer aquilo? Tá achando que ele é quem o Hulk?! - alguma mulher vociferando salas a distância, nem era pra dar pra escutar ela, mas ela escuta mesmo assim…
- Jesus! Que diabos aconteceu com você? - outro policial chama atenção, dá pra ver a surpresa e espanto no rosto dele. - Thompson certo? Vem comigo. - ele diz se recompondo e abrindo a cela, e a leva pro banheiro dos fundos sem tirar as algemas, o lugar azulejado branco e limpo e uma mangueira - Pode tirar a roupa. - ele diz se apossando da mangueira - Colado na parede. - ele tira do bolso um sabonete pequeno e novo, parecia sabonete de hotel, mas não tinha marca nenhuma e joga em direção de Beatrice. |