Depois que o mago transcreve a profecia, Azriel a guarda, e sem ter mais o que perguntar, deixa o mago para seus colegas demônios. Mortalha questiona sobre sombras e sobre quais feitiços avançados poderia aprender em troca do trabalho que já tinha feito, o mago negro vai mostrando para ela (e potencialmente pro Nadhull) o que viam no meio daquela bagunça. Um pergaminho aqui, um tomo ali, aquilo era quase um trabalho de garimpo, a didática do mago negro era quase tão ruim quanto seu senso de organização, mas apesar disto, se os demônios conseguiam garimpar algo ali, ele ajudava esclarecer e dava detalhes sobre o que tivesse escrito, não se negava a cooperar. Como dizia um ditado vulgar: vocês que são negros que se entendam...
Os demais estavam meio deslocados. Lober gostaria que o grupo fosse logo resgatar o amigo, mas era meio consenso que seria útil esperar a janela entre o pôr de uma estrela e nascer da outra, que já seria curto, para tentar algo mais furtivo.
Como Azriel não queria atrapalhar os amigos, mas não tinha mais o que fazer ali, ela comenta do desejo de visitar as ruínas do templo Atemense, que já tinha sido comentado en passant por duas pessoas no exército. Provavelmente não haveria muita coisa útil por lá, pois eram só ruínas. Mesmo assim os simples boatos de que poderiam ter câmaras ainda ocultas já despontava um pouquinho a curiosidade dela.
- As ruínas ficam perto do portão sul. - Diz Lober - E as informações que tenho da masmorra subterrânea onde levaram Kassian fica depois do portão sul, então meio que dá pra ir antes do pôr de Helius Flava, se não demorarmos muito. Posso te levar lá perto e, se outros acharem útil dar uma olhada no campo onde está a masmorra antes, posso deixar você lá e ir com os outros, e nos reagrupamos depois pouco antes das 18:00h lá perto.
As informações que Lober tem sobre o lugar que o amigo foi levado não eram muitas, mas aparentemente o lugar era subterrâneo, (off: o resto das informações são as mesmas que coloquei alguns posts para cima), cada um pode escolher entre dar uma passada rápida no templo ou ir verificar o terreno onde irão resgatar o soldado para fazer reconhecimento.
- As ruínas ficam no alto do morro Solidão, e tem cinco torres vigiando o que sobrou de lá. Daria pra você chegar voando, mas passar direto por estas torres pode parecer uma afronta, e eles possuem arqueiros em todas elas, dispostos a matar seres alados. Os antigos Atemenses tinham respeito pelas filhas de Anĝelina... Mas isto faz muito tempo...
- Então será um problema ir lá?
- Talvez, embora não necessariamente... (pausa) Não há muito que se ver no templo, muito menos que se roubar, pois o que tinha já foi roubado. Portanto vigiar as ruínas não é algo que todos os destinados a fazê-lo ache de fato produtivo. Isto gera em nós, soldados, sentimentos antagônicos: alguns simplesmente não se importam, e por uma, duas ou talvez até três destas torres poderíamos passar sem nem gastar muita saliva. Por outro lado alguns podem achar que estão sendo obrigados a fazer um serviço indigno, e podem ficar muito irritados com isto. Quando ficam assim, não é raro descontarem suas frustrações em qualquer um que apareça na frente.
Os soldados são instruídos a não deixar arruaceiros se aproximar, mas eles podem considerar ou não que qualquer "aventureiro" encaixe nesta classe de arruaceiros. O trabalho realmente sério deles é contra bestas ou demônios. Há quem considere as ruínas algo "turístico" e quando um grupo respeitável e/ou considerável de aventureiros resolve ir lá, os soldados das torres não tem muito o que fazer senão simplesmente deixar o grupo passar. Eu mesmo, como soldado, posso ajudar passar por algumas torres, mas como eu disse: dependendo do humor de quem tiver lá, eles podem ser bem pouco colaborativos, o que pode ir de meras chateações como ter que ver uma burocracia, perdendo um tempo que não seria legal perdermos, até alguém que só nos deixaria passar se tiver de fato uma ordem de algum superior, o que poderia demorar realmente horas.
E como comentei, é uma pena que nem todos na cidade veem ainda os anjos como seres superiores, mas... São tempo de guerras, e muitos agora veem todos como inimigos.
Com isto o grupo vai calculando se é melhor se separarem momentaneamente, mas Azriel já segue em frente.
***
Lober cavalga enquanto Azriel vai voando para não perderem muito tempo, Ka e Nadhull conheciam um pouco a cidade, então mesmo que ficassem um pouco pra trás, não se perderiam. Mortalha esperava tirar um pouco mais do mago negro, mas parece que não ia mesmo conseguir tudo que queria, o que não melhora seu humor. Ela parte um tempo depois, também voando, deixando Nadhull conversando com o mago negro. É até bom que tenha deixado um pouco de espaço entre ela e Azriel, pois as duas voando juntas chamariam muito atenção. Mortalha já estava de saco cheio daquela cidade e já pensando em voltar para Ĵevurá, mas queria dar a última conferida para ver se a tal improvável (mas não totalmente impossível) biblioteca secreta das ruínas existia mesmo.
O Morro Solidão não era muito íngreme, mas era bem alto. Para ser mais preciso, haviam cinco morros em sequência para se ir da base até as ruínas do antigo Templo Atemense, e na base de cada um, tinha uma torre de observação, usada para (tentar) evitar que mais arruaceiros terminassem de depredar o que ainda sobrava das ruínas.
Apesar dos receios iniciais de Lober, os soldados não criam muitos problemas, os primeiros estavam de bom humor e veem em Azriel e seus companheiros apenas aventureiros padrões que não devem estar em busca de confusão. Na segunda torre os soldados estavam desanimados, até perguntam o que Azriel queria na ruína, estranham ainda existir algum anjo que pertença à Escola Atemense (hoje em dia quase extinta), mas não era incomum alguns buscarem as ruínas para sentir suas "vibrações antigas", então vocês passam com tranquilidade.
O visual do Morro Solidão tinha seus contrastes: de um lado a vegetação esparsa, xerófitas, mas salpicada de gantérios (uma florzinha amarela que dá em toda área de Heséd e Ĵevurá, dá até pra fazer chá). A terra vermelha escura da base do morro, rica em ferro, à medida que vão subindo fica mais alaranjara e posteriormente amarelada, rica em... Bom, Azriel não faz ideia de que mineral deixa a terra amarelada, talvez Ka saiba, mas isto não é importante.
Embora Azriel não tivesse problemas em andar, fazer isto morro acima era chato e difícil para quem tinha asas, portanto ela resolve voar sem parar pela terceira e quarta torre, um pequeno risco, mas nenhuma flecha voa para seu lado.
À medida que sobe, o clima fica bem mais frio, as penas de Azriel arrepiam e ela tem que por mais força para voar. Como anjo, este seria seu clima mais natural, portanto não é muito difícil se reaclimatar, ainda assim para de voar uns 10 minutos antes da última torre. Sua respiração teria que se adaptar também ao ar mais rarefeito.
Apesar de frio, o ar era seco, não formando portanto neve no pico. Ao finalmente chegar, Azriel vê que as ruínas eram enormes.
Dava pra imaginar como seria o lugar nos Anos Dourados. Além do templo, havia ali ruínas de um complexo de anexos, uma ou duas escolas, praças de meditação... o conjunto todo tinha pelo menos três níveis de construção, ocupando todo cume do lugar. De cima dava pra se ver boa parte de Heséd.