Nestes dois dias não deu para fazer muita coisa ali, mas as aulas de cura da Corrente (com Kate de cobaia) tinham a ajudado re-armonizar suas energias internas, e, mesmo que talvez não tivesse 100% ainda, já poderia ser útil em algum lugar. Ali na sede Caoilain já tinha ido ver outras coisas, e aproveitou e levou o mago da Corte com ela. Kate se surpreende ao descobrir que um garoto que estava ajudando Caoilain era na verdade filho dela (seu nome era Naotalin, Kate até tinha o visto de relance antes de saírem de manhã, mas não sabia que era filho dela). Bom, ela estava ali a menos de 3 dias, embora tenha falado um pouquinho a mais com Calin, ainda sabia pouco sobre ela e os demais.
Fiona (que era mais uma que Kate quase não conversou, mas parecia gente boa) não se opõe a levar a novata. Vocês descem até um templo de Piro no sul (não era um templo muito grande), lá, encontram uma maga branca.
- Spoiler:
- Se Kate entendeu bem, a maga branca se chamava Chava, era esposa do mago verde, que era amigo do diabo, que era membro de Escola Izete.
- Qual situação aqui? - Diz o mago para a esposa.
- Não estão vendo? A cidade está sendo invadida por insetos!
- Mm, que inconveniente! Mas pensei que poderia ser pior! Como quer que ajude?
- Você é mais útil lá dentro. Não é nada pior aqui, mas esqueceu que o portão sul fica ainda há vários quarteirões? Lá está pior, se estes bichos estão chegando aqui! E além de insetos, dizem que vários diabretes estão passando pelos primeiros homens...
Insetos e diabretes, duas verdadeiras pragas.
Kate, enquanto vivia na maldita Cidade Prisão, conheceu vários tipos de diabretes, uns bem piores que outros: eles e os chamados mequetrefes faziam parta do mais baixo degrau da hierarquia demoníaca, sendo usados principalmente como mini-escravos (em especial mini-espiões), às vezes como "bichinhos domésticos" e eventualmente como comida.
Eram fisicamente muito fracos, mas o perigo deles não era em batalhas, e sim em atitudes furtivas e maliciosas. Depois que saiu da Cidade Prisão, Kate quase não viu mais este tipo de demônio. Keela, Velora e Kevlla eram poderosas demais pra usar trabalhos de demônios tão fracos, a quem elas consideravam simplesmente "incômodos".
Já Andrias vira poucos destes demônios e normalmente já abatidos: era muito raro um diabrete passar do portão de Heséd. Vez ou outra um era caçado em alguma parte isolada ou no deserto em volta da cidade. Algumas crianças, vez ou outra tinham a ideia de brincar com um diabrete capturado (por sinal uma ideia estúpida que podia dar merda), e, embora seja improvável, como antigamente tinha muito contato com o porto, TALVEZ Andrias até tenha visto uma vez algum diabrete "empoleirado" no ombro de algum demônio marinheiro como se fosse um macaco ou papagaio.
Os insetos tinham o dobro ou triplo do tamanho de insetos comuns, cada grupo seguindo uma rainha, formando uma "nuvem"; No meio deles ainda tinha alguns chamados de "insetos primais", que eram o dobro ou triplo dos demais, pareciam até mini-máquinas-de-guerra armaduradas.
- O que devo fazer para ajudar, Mestre Chava? - Fala Andrias para a maga.
- Você agora é um Izete, certo? Então fique a vontade: pode fritar ou afogar, a forma não importa.
Civis apareciam com mata-moscas ou pedaços de paus, soldados tinham que deixar os arcos e espadas (praticamente inúteis contra insetos) para usar seus porretes, e qualquer um que tinha dom acertava-os como dava. Por serem insetos a magia de fogo era muito mais efetiva que as demais, ainda assim Fiona preferia usar chicotes d'água, o que manipulava muito bem, finalmente usando algo que sabia fazer, já que em magias de cura ela não tinha tanto jeito.
Até Vent'Kapo ajudava, comendo qualquer inseto que passava perto. Lagartos do porte dele não costumam ir atrás de insetos, mas ali tinha fartura e eram dos grandes, então dava pra tirar um lanche.
Vocês iam se "divertido" com este exercício, quando mais ao norte, subitamente veem um clarão bem forte.
- Ráááspta! Que tipo de dominador fez aquilo! - Parecia mesmo algum efeito de magia de luz, a surpresa da maga não deixa dúvida.
- Se é magia branca, deve ser coisa boa! Vamos verificar? - Diz Kate. Ela já tinha experiência para saber que (de seu ponto pelo menos) magia branca não era necessariamente boa, assim como negra não era necessariamente ruim, mas neste momento ela tinha uma boa intuição.
Andrias ainda olha pra sua antiga mestre, antes de decidir se era prudente ou não, ela incentiva com gestos de cabeça.
- Deve ser um dominador poderoso! Eu seguro aqui.
- Será que não é outro ataque decorrente da guerra?
Ka comenta: - Para ir para nosso destino, teremos que passar mesmo pelo portão sul, embora seja possível pular o muro, caso queiram evitar problemas...
Evitar problemas é algo que soava muito bem nos ouvidos de Azriel. Mas ela estava ainda sobre o efeito do Sangue de Piro, e não parecia certo ignorar um toque vindo de um templo de Piro exatamente agora que ela estava sobre este efeito, mesmo que o toque fosse típico de algo que não deveria ser urgente.
- Não foi um toque usado para um grande perigo, mas, se não é grave, então não seria ainda mais obrigação nossa ver o que aconteceu? Tipo: ainda temos muito tempo pra esperar, e pode ser algo que resolvemos rapidinho... E se não for, podemos dar um olhada e deixar pra lá depois...
Na verdade, como Azriel tinha passado muito tempo foleando e lendo, não estavam com tanto tempo sobrando assim, e Ka não compartilhava do mesmo entusiasmo da amiga de grupo, e tenta contra-argumentar:
- Não vejo nenhuma "obrigação"... Ninguém nos convocou, e pode ser algo que a população mesmo resolva...
- Aahh! Vamos! Por favorzinhooo.
Nadhull, embora talvez concordasse com Ka, já tinha certa dificuldade de discordar de Azriel, ainda mais com ela fazendo charminho. Será que tinha ficado mole como íncubo desde que passara dominar magia branca? Ou era só porque era a anjo? Ou talvez porque ela estava com efeito do Sangue de Deus em seu corpo, talvez até duas das três...
Então vocês vão até perto do portão. Não havia nenhum grande monstro ou invasão de inimigos rolando, mas alguns enxames de insetos rondavam como uma nuvem ali. Soldados e civis desesperados saíam tentando matar o que dava, quem tinha dom, usava o elemento que tinha, quem era quieto ia com paus e tábuas. A situação estava mais para inconveniente que para perigosa (mesmo que um enxames tivessem insetos muito maiores que os normais), ainda assim Azriel não titubeia e começa produzir chamas para combater esta nuvem de bichos.
Fogo é o melhor elemento para se lidar com insetos, e Azriel consegue dispersar vários grupos. Dispersados, depois a população, lagartos, aranhas e pássaros dariam um jeito. Já magia negra não ajudaria muito (dá pra matar insetos, mas é menos eficiente contra enxames que qualquer outra) e se usasse magia branca, Nadhull não conseguiria usar disfarce mágico. Se vissem um demônio usando magia branca, aquilo daria problema (como sempre), mas não tinha muito jeito, ficando perto de Azriel ele poderia usar sua magia e dizer que na verdade era ela quem estava evocando.
Os dois até conseguem trabalhar suas aeromanipulações em conjunto, embolando os bichos para serem queimados. Embora estivesse divertido [leia com sarcasmo], aquilo ainda demorava demais. Azriel ora por mais poder.
- Meu Deus e Minha Deusa! Transformem meu poder em Luz!
Nadhull ainda buscava juntar os animais com seu vento, quando Azriel começa emitir forte aura. Em poucos segundos todos em volta tem que fechar os olhos para não serem ofuscados.
Azriel consegue irradiar uma forte onda de mana branco, deixando um tapete de insetos fritos no chão.
Quando sua aura diminui, as pessoas estão impressionadas com a imagem do anjo em sua frente, que até as penas emitem brilho, e logo puxam coros de graças:
- Oh, bendita filha da Virgem! Glória à mensageira de Anĝelina! Deem vivas à nossa Salvadora! (e por aí vai!)
Nadhull se impreciona: "Este é o poder de uma gota do Sangue dos Deuses?"
A quantidade de insetos começa reduzir significativamente, o pessoal perto do portão deve ter dado um jeito em várias rainhas ou primais (embora muitos insetos ainda entrem na cidade).
Uma multidão começa se juntar, vocês ouvem gritos. Começa ficar ruim de andar nas ruas. O que estava acontecendo?
Andrias vai abrindo caminho, até ver uma imagem brilhando, algo que ele acreditava não veria na vida:
- OOH!! Maha Ýar! Ameno! (nos idiomas do oeste equivale a algo como "Valha-me, Jara, A Maior") É-É-É um celeste!
Apesar das penas negras, Andrias percebe que era um anjo que pairava alguns centímetros no ar. Pouquíssimos anjos viviam em Heséd, talvez umas meia-dúzia, mesmo assim a "existência" deles por ali era tipo uma lenda envolta em boatos. Talvez, alguém que procurasse com afinco, até acharia um anjo na cidade, mas a maioria poderia facilmente passar toda a vida sem nunca ver um celeste (assim como "demônio" pode significar várias raças diferentes, "celeste" também é usada pra mais de um raça, mas no plano material os anjos são praticamente a única raça celeste que pode existir). Há boatos de que a população de híbridos celestes é um pouco maior que os puro-sangue, há também outros boatos que, nos últimos meses, alguns anjos começaram aparecer na cidade, associados porém aos homens de Gaja... mas tudo isto são boatos.
Andrias sabia que, em cidades bem distantes, anjos viviam entre humanos, assim como demônios viviam em Fajr-Regno, mas a anjo não impressionava apenas por ser um anjo, mas por sua aura brilhante, que impressionava muito mais. Até Kate estava impressionada, pois até as penas de Azriel brilhavam.
- Ah, não tenham medo! Ela é minha amiga!
- O QUEEEEE? Você CONHECE um celeste? E você diz que é AMIGA de um celeste?