História: Elliot Shion Nakamura

- Kon...Ni...Chiwa! Geeeeeeeeeen....ki? Desu ka?

Elliot tentava ler algumas frases do pequeno livro de bolso que seu pai havia lhe comprado. Lia em seu sotaque estrangeiro e ainda meio pesado. Ela tentou mais uma vez e o som da própria voz, com aquele jeito de falar, a irritou. Largou o livrinho.

-Acho que eu nunca vou aprender a falar essa língua! É muito difícil! – ela olhou para o retrovisor, querendo ver o rosto do motorista.

- Tanka-chan, será que um dia eu consigo falar direito? – nem se deu o trabalho de esperar a resposta. Tanka-chan nunca falava e parecia sempre estar mal-humorado, apesar de parecer sempre ser solícito com Elliot e parecia gostar da menina.

Suspirou, irritada enquanto olhava a paisagem diferente: as pessoas na rua, a cidade, tudo era estranho. Ela não sabia dizer se eles eram estranhos ou ela era.

Bem, se ela havia invadido aquele território, ela era a estranha.

-Espero que tenham preenchido tudo certo.

Viu pelo GPS que a escola estava perto. Olhou para fora e dessa vez, algo chamou sua atenção. Um cão negro estava sentado na calçada e parecia olhar diretamente para ela. Não se lembrava de ter visto cães soltos assim nas ruas do Japão.

Elliot desviou o olhar e quando olhou novamente na direção do cão, ele já não estava lá. Ela olhou em volta, mas não o encontrou. Como um cachorro grande daqueles sumia assim? Ela ia dizer alguma coisa, mas o carro parou e Tanka-chan a encarou. Ela entendeu o recado.

- T-tá bom! Eu espero você aqui na hora da saída! Qualquer coisa eu ligo!

E saiu do carro em um salto. Parou na frente do portão e olhou o prédio e as pessoas.

-Hmmm... – sentiu-se meio deslocada. Pegou um outro papel que seu pai lhe entregara e viu para onde tinha que ir.

-Sala A4.... – engoliu em seco. Suspirou e, em um ato de coragem, deu seu primeiro passos para o colégio, a procura de sua turma.

Elliot olhou o carro e Taka-chan se afastarem. Deu um suspiro ao reparar-se sozinha.

Ela andou até a entrada do colégio e leu o nome. Ela tentou ler. Os kanjis não faziam ainda muito sentido e ela deu Graças a Deus quando percebeu que o nome do colégio estava no alfabeto romano em formato pequeno, ao lado do seu correspondente Kanji.

Olhou para os lados e pareceu sentir que todos os olhares estavam sobre ela. Tomou seu caminho para o prédio principal.

Decidiu andar rápido e seguiu pelos corredores do lugar. Na primeira vista, parecia um labirinto, mas logo acostumou-se e achou sua sala de aula (Que de novo ela agradeceu a deus pelos nomes das salas serem no alfabeto que ela conhecia).

Se Elliot não gostou dos cochichos no corredor, quase teve um treco ao entrar na sala. Todos calaram-se quando ela mostrou seu rosto na entrada da porta. Ela ergueu a mão e arriscou um tchauzinho. Falou tão baixo o “Ohayou” que provavelmente ninguém ouviu.

O silêncio durou até ela sentar-se em seu lugar. As pessoas ainda a olhavam, curiosas. Elliot sentou-se mais para trás da sala, próxima da janela. Sentia os olhares dos outros e não ousou mover-se até o professor da sala chegar.

Olhou para próximo do quadro e reparou algo estranho: um líquido preto parecia cair de um dos cantos do teto. Ele escorria até o quadro, mas parecia não incomodar ninguém. Será que alguém tinha visto aquilo? Olhou em volta e não comentou nada. Pensou que era seu dia: primeiro, um cachorro preto imenso. Agora, água negra que ninguém parecia ver, assim como o cão.

Suspirou e olhou em volta. Esperou a aula começar e rezava para que nenhum professor a mandasse se apresentar na frente da classe.

Os olhos amedrontados de Elliot não saíam da estranha gosma preta que caía do teto.

Quando foi na direção das carteiras, tomou cuidado para não se aproximar muito do local. Tinha a impressão que aquilo parecia vivo. Não era uma simples goteira.

E o cheiro... Elliot levou a mão até o nariz, sem pensar muito.

Ela olhou em volta. Todos estavam tranquilos.

“Impossível esse pessoal achar que isso é normal.” Pensou que deveria ser alguma coisa cultural até. Será que japoneses não ligavam para aquele tipo de coisa?

Ela ia andando até o local onde sentaria e não deixou de reparar o rapaz, que parecia olhar fixamente para o quadro. Ela o encarou como se pedisse ajuda e pensou em falar com ele. Deu alguns passos na direção, mas... E se ele só estivesse distraído? Acharia ela maluca. A gaijin que chegou e já estava causando... Fora que ela não sabia muito bem como falar aquilo em japonês. O que diria? Acabou suspirando e sentando na carteira próxima a ele.


Elliot se encolheu ao máximo em sua carteira quando o professor chegou e rezou para não ser chamada. Quando ouviu seu nome, engoliu em seco e pensou no que deveria fazer. Todos a olhavam e esperavam ela ir até lá.

Ergueu-se da carteira e foi na direção do quadro, mas parou na ponta contrária de onde caía a água. Ela tentou falar algo olhando para a turma, mas seus olhos iam para a água escura de tempos em tempos e ela dava passos para o lado, para se afastar. O fedor era horrível.

- Bem, err.... Ohayou? Oi! Eu me chamo Elliot e.. – lembrou-se que era difícil para eles falarem o L. – Shion! Poder chamar de Shion. – Falou em seu japonês nada perfeito. Olhou a turma e ficou mais nervosa ao perceber que eles a encaravam. E a água....

Engoliu em seco e olhou para o professor e depois para a água negra, que agora caía perto do homem, que a ignorava.

Elliot tinha que continuar. Seu coração palpitava rápido, mas tinha que terminar logo aquela maldita apresentação e sair de perto de lá!

-Eu espero que sejamos amigos! – disse, finalmente, nervosa. Olhou para o professor, que já estava com os pés cheios da água negra.

-.... Po...Posso sentar?

Deveria estar ficando maluca. Era isso! Não era real, mas... O cheiro. Aquilo não era coisa da cabeça dela, era? Deveria ser jetlag. Ou algo que comeu!

Olhou o único rapaz que parecia notar. Ele estaria também horrorizado? Ele também, realmente, via aquilo?

Elliot reparou que o rapaz a olhou uma vez e pareceu interessado. Elliot sentiu um alívio repentino e o encarou, mas ele logo perdeu o interesse. A menina suspirou e continuou sua apresentação para a turma.

Tropeçava nas palavras em japonês e esforçava-se ao máximo. Seu olhar ia de rosto em rosto enquanto tentava não ligar para a gosma negra e para o cheiro, mas era quase impossível. Ela via que as pessoas estavam achando ela estranha, conseguia sentir isso. Porém, naquele momento, só queria sair de perto daquele lugar. Seus olhos azuis viam a coisa escura subir pelas pernas do professor.

Entre os olhares de reprovação e estranheza, Elliot caminhou até sua carteira. Sabia que seu jeito e aparência não eram muito bem quistos naquela sociedade e que teria alguns problemas para se enturmar.

Em um misto de medo e vergonha, Elliot foi até sua carteira mas viu uma vaga mais ao fundo da sala. Ao invés de ir para a primeira que havia sentado, ela deu mais alguns passos e sentou-se na carteira logo à frente do rapaz. Tinha o rosto vermelho. Não sabia muito bem o que fazer. Ela não entendia o que era aquilo. E se fizesse algum mal àquelas pessoas? Elliot ergueu os olhos de novo e viu que a gosma começava a avançar, lentamente, pela sala, quase tocando os pés dos estudantes, que sequer ligavam.

-...!!

Além do nojo, Elliot começou a sentir uma sensação estranha, um medo quase incontrolável. Ela tentou olhar o rapaz atrás dela, sem chamar atenção. Mexeu apenas um pouco a cabeça na direção traseira e sussurrou, quase inaudível, em um misto de japonês com inglês:

-Você... see, right? Quer dizer, você vê, não..?

O medo havia superado sua vergonha. Agora, Elliot virou o rosto para o rapaz. Os olhos azuis encarando-o:

- O que é... that thing?

Elliot pensou em perguntar se aquilo era algo normal em escolas japonesas, algum tipo de pegadinha. Porém, ficou com medo de soar mal. Engoliu em seco e agora esperava a resposta do rapaz.

Elliot caminhava com certo nervosismo. Sentia que quase cairia se não prestasse atenção onde pisava, mas o cheiro era demais. E o sentimento de urgência era pior. Sequer pensou no que fazia e sentou-se na frente do rapaz.

Ouviu alguém sussurrar o nome do menino. Em um segundo, pensou que Megumi era um nome feminino, mas não teve muito tempo para remoer aquele pensamento. O cheiro piorava e ela olhou de volta para frente. A gosma começava a avançar mais ainda enquanto ela trocara as palavras com o rapaz quieto e aparentemente irritado.

Realmente Elliot não tirava os olhos da gosma e seu comportamento era claramente o de alguém incomodado e assustado. A menina segurava firme sua cadeira e tinha os ombros tensos. Era quase como se fosse sair correndo e lá, ou que não conseguia assimilar o que era aquilo.

- O que...? – Ela tinha entendido direito?

Sua voz quase não saía e ela olhava para frente, sem ter coragem de tirar os olhos do que o rapaz tinha chamado de Maldição.

- Maldição..? – Elliot repetiu. Era isso mesmo? Repetiu porque não conseguia acreditar no que via. Era alguma piada?

Elliot engoliu em seco:

- E como vai resolver? Com um rodo? - falou um pouco irritada pelo tom dele e pela situação completamente louca na sua frente.

Antes que ela pudesse terminar de falar qualquer coisa, ela pareceu sentir que algo mais estava na sala. De repente, dois imensos lobos passam por ela e parecem caminhar até a gosma.

Elliot fez um esforço imenso para não gritar, mas permanecer sentada era demais. A menina levantou-se em um pulo, chamando a atenção da classe toda. Tampou a própria boca para não gritar enquanto os olhos acompanhavam os dois animais que iam na direção da gosma.

Elliot passou os olhos pela sala, sentindo medo e vergonha. Observava os dois lobos, confusa. Ela levantou a mão e falou em voz alta algo como “Banheiro”, em um japonês horrível. Ela olhou Megumi e voltou a olhar para o professor.

- Can he take.... Não!

"Em japonês, Elliot!!"

- Ele pode mostrar onde banheiro? – disse entre respirações desreguladas por conta do medo.

Olhou para a porta. Conseguiria sair sem pisar naquela gosma? Precisava sair de lá e entender o que estava acontecendo. Teria em outros lugares? Precisava sair de lá.

Elliot não tinha muita cabeça para pensar no que poderiam estar cochichando. Não conseguia focar e sequer entender muito bem o que diziam, de qualquer forma.

Ela esperou Megumi sair e foi logo atrás dele. Esforçou-se para não encarar os lobos indo até a gosma estranha e começarem a comê-la, mas era quase impossível. Elliot via o tamanho dos animais. Ninguém mais os via?? Não viam que eles devoravam aquela coisa? Não ouviam os sons daquela coisa sendo esmagada pelos dentes dos dois?

Elliot engoliu em seco e quando fechou a porta da sala, respirou aliviada. Achou que estariam seguros agora. Ela controlou sua respiração. E com certa dificuldade, começou a tentar elaborar as perguntas. Olhou Megumi de relance, a  expressão séria e nada amigável. Não deixou de acha-lo metido.

- Você ser Megumi, não? – disse, sem fazer as conjugações certas e sem qualquer tipo de respeito, como um san ou senpai depois do nome.

Elliot continuou com seu japonês esquisito.

- O que era aquilo? Maldição? O que quer dizer isso?

Elliot olhou na direção da porta fechada.

-Ser algum tipo de brincadeira?

Encarava Megumi, um tanto irritada. Como ele poderia estar tão calmo e parecer não ligar muito para o que estava acontecendo?

-E cachorros? How did you... Não! Como você trouxe...

Elliot não conseguiu terminar. Ela olhou em volta e depois voltou a a encarar Megumi.

- E se ter mais por aí?

Olhou em volta. Ainda sentia o cheiro podre. Teriam que verificar a fonte daquilo, não?

Elliot torceu um pouco o nariz. Justamente aquele garoto sem graça e metido que podia também ver aquela gosma? De todas as pessoas...

Ela tentava cerca-lo para conseguir algumas respostas, mas ele era sempre evasivo ou até mesmo sem a menor vontade de responder e, quando o fazia, falava de uma maneira como se ela já soubesse do que se tratava aquilo.

- Es..Espera aí!

O menino começou a andar até o banheiro e Elliot foi atrás.

- Mas como assim maldição? Como aquilo apareceu? E as pessoas normalmente não veem aquilo? É como....Fantasmas?

Elliot se esforçava para falar no idioma do rapaz, mas tinha um sotaque horrível. E sim, ela realmente fazia perguntas demais.

Imaginou que problemas aquelas coisas poderiam fazer, já que ninguém parecia nota-los.

- Hmmm...Comer pessoas? – ela lembrou-se de algumas lendas que seu pai lhe contava sobre Youkais.

E ainda tinha os cachorros! Elliot entrou na frente de Megumi, impedindo que ele continuasse a caminhar.

-E aqueles cachorros? Eram seus?

Ela balançou a cabeça em negativo, olhando em volta por um segundo e depois olhando Megumi.

- Eu não ir em banheiro! Eu querer algumas respostas!

Elliot ficou na frente do rapaz, esperando pelo menos alguma reação dele. Não se importava muito se houvesse mais gente nos corredores. Inclusive, ela ainda sentia o cheiro horrível.

- E sim, eu sinto o cheiro daquela coisa! Tem mais por aí!

Elliot realmente não parava de fazer perguntas. Porém, achava-se no direito de fazer, já que ela nunca tinha visto qualquer tipo das tais maldições até aquele dia fatídico. Elliot andava atrás de Megumi e tentava cercá-lo, mas ele era rápido em desviar-se dela.

- Você sabe que o que você falou não fez sentido nenhum, não sabe?

Elliot achou que ela não tinha entendido direito. Deveria ter que estudar mais o japonês.

- Eu... Nunca ter visto nada daquele tipo até hoje!!

E Elliot falava e falava com seu japonês difícil de entender. Ela e Megumi andavam pelo corredor e alguns outros alunos passavam por eles, tentando entender o que estava acontecendo. Nunca tinham visto aquela menina por lá e ainda estava falando em um tom um pouco alto. Será que estavam em algum tipo de briga de casal?

- E como você fazer cachorros?

Absolutamente NADA fazia sentido naquela conversa. Achava que, além daquele cara ser um metido, ainda estava brincando com ela. Ela já não sabia muito bem no que acreditar. Como assim aqueles cachorros iriam limpar a sala de aula? Ele iam mesmo comer aquela coisa nojenta?

-Mas..!!

Elliot tentou fazer Megumi responder mais, mas ele cortou a menina de uma maneira fria e aind apegou o celular e a ignorou. Elliot arregalou os olhos e depois franziu a testa, em desaprovação. Não havia gostado nada daquele tipo de atitude.

Ela ia abrir a boca para falar mais alguma coisa, mas Megumi atendeu o telefone e passou por ela. Elliot o acompanhou com o olhar e foi virando o corpo na direção que ele ia. Ela respirou fundo, irritada e o xingou baixinho em inglês.

-Babaca!

Tinha ouvido bem o que ele dissera: depois da aula. Ela iria descobrir o que era aquilo, nem que tivesse que segui-lo por aí. Não tinha muito mais o que fazer mesmo.

Os outros que passavam pelos corredores pareciam sentir vergonha alheia vendo aquela cena. Alguns riam baixinho. Elliot suspirou e olhou para a janela, como por instinto. Viu a gosma começar a escorrer de lá, descendo pelo vidro.

-Eeerght! – saiu andando rápido atrás de Megumi, parando a poucos passos dele.

Olhou as costas do rapaz e o seguiu, a contragosto e irritada, até o banheiro. Olhava em volta, vendo que aos poucos as gosminhas iam aparecendo. Os outros alunos andavam normalmente nos corredores, curiosos com ambos.

Elliot arregalou os olhos e corou um pouco. Tinha falado baixo e tinha certeza que ele não entenderia inglês. Porém, pensando bem, ele conseguia acompanhar o japonês estranho dela. Ela engoliu em seco e pensou em pedir desculpas, mas não queria de jeito nenhum pedir desculpas aquele rapaz antipático:

- En..Então não age feito um! – ele retrucou em inglês

E Foi andando atrás de Megumi, com medo da gosma preta.

-E eu já disse que não quero ir ao banheiro... – resmungou, mas seguiu o rapaz. Talvez saber onde era o banheiro fosse útil. Nunca se sabe de alguma emergência.

Já Megumi caminhava com sua cara amarrada e irritado com as perguntas e perguntas que Elliot não se cansava de fazer. Ele percebia as gosmas pelo local e pensava o que poderia ser aquilo. Talvez, realmente nada de muito difícil. Seus cães comeriam toda aquela sujeira e logo depois ele daria um jeito de fazer aquela menina desgrudar dele.

Olhou para a mesma janela que Elliot viu a gosma, mas... Além da gosma, Megumi pôde reparar uma figura de um enorme cão negro no pátio, olhando diretamente para ele. Não era um dos seus cães. Ele não parecia um lobo, mas um Tosa Inu. Megumi não sentiu nenhuma energia maligna vindo dele. Em um lapso, sentiu como se houvesse um pedido de ajuda.

Enquanto ele pensava, de novo Elliot o atrapalhou:

-Ah, eu vi aquele cachorro também! Quando eu vim pro colégio! - Elliot falava em inglês e alto. Os alunos que passavam levaram um susto.

Elliot o distraiu e, quando Megumi olhou de volta para o campo, o cão havia sumido.

Elliot ainda não sabia quais surpresas teria no fim da aula, mas o cão e a gosma já era o suficiente. Ela parou próxima de Megumi e novamente, mais perguntas enquanto ele observava a janela.

- Você também viu, né? – ela falava agora em inglês com ele. Era demais pra pensar em japonês.

Elliot tampou a própria boca quando Megumi reclamou que ela havia falado muito alto.

-Ai, desculpa....

Falou mais baixo, em japonês, enquanto olhava em volta, reparando que as pessoas a olhavam esquisito. Baixou a cabeça por um tempinho, sem graça.

Elliot ergueu os olhos junto com Megumi quando ele disse que também vira o cão.

-Hum? – ela disse, estreitando os olhos e curiosa.

-Mas ele.... Sumiu?

Quando deu por si, Megumi já não estava mais do seu lado.

-???

Elliot ergueu os olhos e viu Megumi correndo pelo corredor. Ele quase atropelou alguns outros estudantes, que viravam, curiosos, na direção dele fazendo comentários como “Mas o que deu nele?” “Aquele não é o cara bonito da A4”?

-Megumi!! – Elliot gritou enquanto disparava atrás dele, também quase atropelando as mesmas pessoas que Megumi quase atropelara.

Os estudantes olhavam feio para a gaijin que corria atrás de um estudante japonês. O que ela queria, afinal?





De qualquer forma, Megumi corria pelos corredores e ele começou a perceber um estranho padrão: na medida em que ele ia na direção de uma das portas da saída, a gosma ficava cada vez mais pegajosa e mais densa. O que antes parecia apenas uma água extremamente suja, foi ficando mais negra a cada passo. Até que, perto da porta, Megumi viu que agora, ela se assemelhava a um piche.

- Eca!! – ele podia ouvir Elliot atrás dele. Se olhasse para trás, veria a menina tentando correr e se desviando daquela gosma que agora era densa como petróleo. Ela esbarrou em uma menina que caiu sobre a gosma preta. A mesma levantou-se, irritada. Aparentemente, os outros estudantes não conseguiam perceber.

Ele continuou seguindo pelo caminho e atravessou a porta. Quando o fez, sentiu certa dificuldade em empurrá-la, como se a gosma estivesse começando a atrapalhar o mundo físico. Elliot parou logo ao lado dele. Ela ergueu os olhos para cima e, no batente da mesma, a gosma estava presa, formando gotas imensas que estavam prestes a cair.

-Credo!!! – Elliot puxou Megumi para que ambos saíssem de debaixo do batente.

Megumi e a tagarela olharam para o corredor que dividia os dois prédios e o mesmo estava cheio do líquido. Ele ouviu um “Urght!” de Elliot, que o cutucou e apontou algo no chão.

- Isso... Isso é a mesma maldição? – Ele sentiu o tremor na voz de Elliot. Quando olhou para baixo, viu um olho surgir no meio da gosma. Parecia que a coisa não era tão simples quanto ele pensava.

Elliot estava horrorizada. Segurava com força a manga da blusa do rapaz, com os olhos arregalados. As pessoas que passavam por lá não entendiam o que estava acontecendo. Ela engoliu em seco:

-Agora seria ótimo chamar seus cachorros. - ela dizia em inglês.

Megumi olhou em volta e pôde ver o caminho para onde ele tinha visto o cão. Ele teve a impressão de ouvir um uivo alto. Era na direção de uma imensa caixa de água, próximo a um campo que parecia meio malcuidado.  Elliot ouviu o uivo também e de novo, falou alto, assustada:

- Ah, deve ser o cachorro que vimos!!