Encontro (Kohaku de Kamoshika)

Ouviu batidas na porta de seu aposento. Um conjunto de três batidas com o mesmo espaço de tempo entre cada uma delas, isso deixava claro para Kohaku de quem se tratava. Ha-Jun estava em sua porta - ela sabia que esse dia chegaria, o inverno estava acabando e os próximos dias eram o sinal da primavera. Onde os Magi de Kamoshika iriam deixar as planícies, seja para cumprir novos contratos do Imperador ou então levar os Serows treinados por um ano para outras escolas, resta saber qual atividade recairia sobre Kohaku. De qualquer forma, as viagens eram duras - com ou sem missão, dependendo do local para onde fosse, o caminho podia ser bastante árduo e cuidar dos animais durante esse percurso era um problema a parte. Uma coisa era tratar deles ali na planilha, onde qualquer ferimento ou emergência poderia ser cuidado com todo o apoio do forte de Echizen.

- Kohaku.

Disse seu nome assim que abriu a porta, na mão direita tinha um pergaminho - não tinha o selo do Império, o que significava uma coisa - sua missão era levar Serows e não matar monstros.

- Você deve ir para as torres de Imabari, na escola da Raposa. Atravessar as florestas de bambu com 10 Serows para os recrutas de lá.

Ha-Jun sabia que Kohaku iria ler mais detalhes sobre a tarefa no pergaminho, então ele próprio não se alongou muito com as explicações. Junto dele estavam seus dois Serows brancos, de olhos completamente pretos e junto desses dois, estava Osho, o Serow de Kohaku e um quarto animal. De pelos escuros, preto e cinza. Esse estava mais próximo de Ha-Jun e sendo segurado por uma corda, na sua mão esquerda. Estendeu as duas mãos para Kohaku, entregando tanto o pergaminho como o Serow.

Afastou-se um pouco da porta, seus dois Serows o seguiram.

- Esse animal que te entreguei, é seu segundo Serow. Por nossa tradição, andamos com um par deles e esse será a companhia de Osho. Eu o treinei pessoalmente, cuide bem dele e ele cuidará bem de você e de Osho. Antes de ir, acredito que Isaho tem algumas palavras para dizer. Esse ano tenho uma missão para o Imperador, então você estará sozinha nessa viagem, mas confio em tudo o que aprendeu. Vamos ter algum tempo ainda para conversar, mas precisamos ir ao encontro de Isaho.

Isaho, o grão mestre de Kamoshika estava, como sempre, montado em seu Serow de pêlos castanhos em uma vasta planície, com o fim do inverno sol da primavera começava já a aparecer e fazer com que a grama ficasse ainda mais verde. O animal tinha longos chifres, olhos escuros e penetrantes. Não estava muito distante do pequeno aposento de Kohaku, ao redor dele muitos Magi chegavam com suas montarias para ouvirem as palavras de seu líder.



- Magi de Kamoshika, é uma honra mais um ano servirmos as demais escolas com nossos companheiros. Aos que foram agraciados com a missão de levar os animais através da ilha, agradeço de coração e lhes peço que cuidem dos animais durante a viagem e eles cuidarão de vocês. Aos que receberam missões do Império, peço que tenham cuidado, sejam rápidos e não assumam riscos desnecessários, cuidem do seu par de Serows e eles cuidarão de você. Boa sorte no caminho.

Diferente dos demais Magi, Isaho não tinha um par de Serows. Ele tinha a aparência de um homem de 30 anos devido as mutações do ritual, mas acredita-se que há mais de 50 anos o par de seu Serow atual foi mortalmente ferido por um dragão, a vingança nunca veio e Isaho nunca mais pegou outro animal para ser seu segundo Serow, dada a culpa.

O pergaminho tinha um papel fino, difícil de ser confeccionado e caro. O selo do Império, em cera vermelha era bem feito - não pressionado de qualquer forma, mas com cuidado, para que o brasão da dinastia fosse apresentado de forma clara, sem defeitos. Ao abrir o pergaminho, o selo partiu-se exatamente ao meio. Relevando palavras curtas, rápidas, mas ainda assim, reverenciosas - trantando-se de onde tinham vindo. Lia-se:

(Enviado via PM - Manter em segredo dos outros jogadores)

Havia um desencontro de informações entre o que Ha-Jun havia lhe passado e o que a carta pedia. Era possível que Ha-Jun não soubesse do assunto, mas a carta citou Kitsune, então essa deveria ser a primeira informação, para manter o restante do assunto em segredo. Mas ficaria a cargo de Kohaku decidir qual seria seu próximo passo. Haviam opções, claro, mas dependendo do curso de ação que tomasse, poderia desencadear um problema, já que a ordem oficiada pedia que o assunto fosse mantido em sigilo.

Osho, assim como o novo Serow encararam Kohaku, com os olhos fundos - como se soubessem do dilema que enfrentava.

Natsu pareceu gostar do nome que recebeu, baixou a cabeça em reverência, após o carinho recebido. Ambos os animais comeram o que lhes foi oferecido e ficarem próximos de Kohalu, aguardando qual seria seu próximo caminho.

Tendo sua missão e se preparado de forma adequada para a viagem, não restava muito o que fazer na vila. Podia, talvez, buscar mais informações para como completar sua missão, já que as informações estavam um pouco desencontradas, ou então, seguir de fato para o que pedia sua missão e com isso, buscar mais informações diretamente na fonte.

Enquanto divagava a respeito, um garoto bem jovem, não devia ter mais do que 12 anos. Ainda não tinha passado pelo ritual das gramíneas, mas via-se que estava treinando para se tornar um Magi, fazia parte de Kamoshika. Ele tinha consigo dez Serows, dos tipos mais variados - mas com certeza animais prontos para serem alocados a outras pessoas. Fortes e treinados. Eram guiados pelo jovem aprendiz de Magi sem nenhum problema.

Quando estava bem a frente de Kohaku, se curvou, de forma desajeitada.

- Senhora Kohaku, vou te acompanhar por um período na viagem para ajudar com as tarefas dos Serows. Meu nome é Hiroaki.

(Pode interagir o que precisar com Hiroaki ou com qualquer outro NPC no Vilarejo - na próxima resposta, respondo tudo e inicio a viagem - se não houver nada na interação que impeça).

- Sim, senhora Kohaku.

Hiroaki respondeu, confirmando que estava pronto. Cada animal, além de sua sela - também levava mantimentos, tanto para que pudessem ser compartilhadas entre os demais e também para eles próprios, Hiroaki e Kohaku. Hirako montava um Serow. Kohaku sabia que aquele Serow não era o animal escolhido pelo jovem aprendiz, visto que a escolha do Serow e seu nome era o último passo da formação de um Magi. Mas aquilo fazia parte de seu treinamento, também. Não era necessário que fosse um Magi completo para cuidar dos animais, claro que todos os sinais, principalmente Axii, ajudam tremendamente no trato com qualquer animal.

O caminho, como dito por ele e também confirmado por Kohaku, seria longo e os preparativos já estavam alinhados para que pudessem iniciar sem mais delongas.

Tão logo, seguiram o caminho em direção a capital e levando a dezena de Serows para o Império. Não somente levariam aqueles animais, mas também ao chegar, faria parte da mesma missão em que eles seriam parte crucial, visto que cruzar o campo de gelo que se pretendia, só poderia ser feito montado em um animal como aquele. Um Serow poderia fazer a viagem de forma rápida, para que o frio não tivesse que ser suportado por tempo demais e que pudesse atravessar aquele solo com facilidade.

Depois de algumas horas de viagem Hiroaki pareceu tomar um pouco de coragem para abrir a boca e perguntar.

- Senhora Kohaku, como é ser uma Magi? Quando eu voltar dessa missão... Quando eu voltar, vou passar pelo ritual. Sei que não é fácil, mas queria saber o que esperar.

Hiroaki assentiu em silêncio após as palavras de Kohaku. Kohaku tinha uma visão nobre a respeito da posição dos Magi, não somente da posição, mas também da vida que se levava como Magi. Apesar de terem uma grande comunidade em nas planícies Echizen e serem uma das escolas que tinham uma rotina mais próxima do que se podia esperar da normalidade, ainda assim o ritual era doloroso, as consequência desse ritual eram eternas, não tinham como deixar próle e em muitas ocasiões eram vistos com medo e receio pela população em geral. E talvez fosse exatamente essa a visão que Hiroaki possuía, isso talvez mudasse após o ritual, com suas emoções suprimidas, mas no momento Kohaku podia sentir que o que estava mais presente naquele jovem, era o medo. Medo de se tornar algo do qual ele próprio tinha medo.

Disse então, após algum tempo.

- Entendo.

No geral, era um garoto bastante silencioso - apesar de suas feições deixarem bem claro o que estava se passando em sua cabeça, de uma forma ou outra.

Os Serows eram bem treinados e seguiam o caminho conforme orientado pela passagem de Kohaku e Hiroaki. O caminho era conhecido e por ser conhecido, se aproximaram de uma ponte que cruzava para o outro lado de um rio e continuava a estrada, mas havia algo de diferente. Duas torres e alguns homens faziam a guarda dessa ponte. Havia um portão de madeira a frente que impedia a passagem. Seria difícil passar ali sozinho, que dirá com 10 Serows.

Os homens usavam trajes comuns e estavam armados com espadas de fio apagado. Um deles, mais a frente, avançou alguns passos e colocou uma mão a frente, deixando a palma de frente para Kohaku e sua comitiva de Serows, ao mesmo tempo que a outra mão repousava sobre a bainha da espada.

- Alto! A estrada está fechada!

Hiroaki parou imediatamente, invadido por medo, talvez. De certo era bastante jovem e mesmo que fosse muito corajoso, essa coragem não faria muita diferença dado sua habilidade em manejar uma espada. Prestando mais atenção agora, ele realmente estava armado. Não era uma espada de meteorita feita para um Magi, mas uma espada comum.

Hiroaki estava prestes a virar seu Serow e fugir dali o mais rápido possível. Ele podia não ter os sentidos de um Magi ainda, mas sabia bem que aqueles homens representavam ameaça. Haviam alguns pontos para serem considerados e que eram de conhecimento de Kohaku; aquela estrada não deveria estar fechada, se tivesse - por qualquer motivo que fosse, seria sob ordem do império e Kohaku, em uma missão para os mesmos, teria passagem livre. Além disso, esse mesmo portão não estava ali no ano anterior, o que significa que deve ter sido construído no inverno por aqueles homens.

- Para usar a ponta são 10 moedas.

Fez uma pequena pausa e retornou a falar.

- Por cabeça. Considerando tudo, são 140 moedas - mas vou fazer um desconto nos que vocês estão montados, então por 120 vocês conseguem passar sem nenhum problema.

120 moedas era um valor alto, dependendo era quase o valor de um contrato que um Magi recebia. Certamente aqueles homens eram aproveitadores e tinham a intenção de conseguir qualquer dinheiro dessa empreitada. Era claro que ninguém pagaria esse dinheiro para passar, mas assim se fazia o golpe. Imaginando que alguém fosse barganhar e conseguir um valor menor. Já um pouco mais longe das planícies de Kamoshika, Kohaku podia ver que a vegetação também estava um pouco modificada, mais flora morta e de aparência avermelhada com um cheiro doce. Mas forte. Enjoativo. Não parecia ter relação com a situação e a1queles homens, mas só conseguiu perceber e se concentrar nisso quando parou e seus sentidos assentaram em uma única região.

Algumas pessoas não compreendiam as palavras como deviam ser, precisavam de uma situação muito específica para que ouvissem o que outros tinham à dizer, independente do que fosse o assunto. Aqueles homens, por exemplo - inicialmente, não pareciam entender a complexidade da situação. É claro que poderiam derrotar Kohaku dependendo da estratégia de ambos os lados, mas não sairiam ilesos. Se havia uma certeza em tudo aquilo, é de que no resultado final, eles não sairiam ilesos - o caminho para o final poderia ter diversas estradas, mas essa certeza era absoluta, ao lidar com um Magi - você nunca sai ileso. Mas estavam tão acostumados a explorar outras pessoas que se acostumaram - e até mesmo para pequenos golpes é preciso manter a mente afiada, o que não parecia ser o caso ali.



O homem mais a frente puxou uma katana simples da bainha e apontou a lâmina curvada para Kohaku, manteve os olhos baixos e ameaçadores. Deu um passo curto para a frente, mas não mais do que isso, manteve-se ali e com a espada em meio riste, apontada na direção da Magi.

- Cai fora! E leva seus sarnentos com você. E esse moleque medroso, também.

E então virou as costas e voltou para sua posição original. Haviam mais quatro homens, cinco no total. Estavam próximos, mas não colados um no outro. Mesmo para um Magi, uma briga contra cinco pessoas poderia ser um problema - não era algo para se descuidar, ou poderia acabar ali mesmo sua viagem.

Hiroaki fez como solicitado, girou seu próprio Serow e com um assovio curto, todos os outros 10 Serows o seguiram. Não partiu tão rápido, mas a média velocidade e manteve sua cabeça virada para trás, sempre olhando Kohaku - parecia preocupado. Sabia das habilidades dos Magi, mas ao mesmo tempo, sabia como as coisas poderiam sair do controle, ainda mais em uma luta onde ela estaria em desvantagem e ele, apenas uma criança, talvez não pudesse fazer muito para ajudar.

- Podem matar ela, depois decidimos o que fazer com o corpo e pegamos o que tiver de ouro.

Disse o homem que havia lhe apontado a espada anteriormente, mas disse sem nem mesmo virar-se para falar com ela. E assim que ele terminou sua fala, Kohaku ouviu um silvo fino e viu uma flecha vindo em sua direção - devido às mutações que seu corpo havia sofrido no ritual das gramíneas, conseguiu ver o rastro que o disparo fazia e tinha tempo para decidir o que fazer para proteger-se. Não só isso, mas viu também de onde veio - um dos cinco homens, um pouco mais afastado, na direita. Outros dois dos cinco sacavam suas espadas, também e mais um colocar mais uma flecha em seu arco.

Embora os reflexos dos Magi fossem superiores, a velocidade de uma flecha ainda os ultrapassava. Talvez se tivesse sob o efeito de alguma poção pudesse ter ainda mais velocidade, mas de qualquer forma, a estratégia de esquivar-se pareceu não ter sido a mais acertada. Quando tentou saltar para o lado e sair do caminho da flecha, a mesma atingiu a ponta de seu ombro. Contudo, o manto da escola de Kamoshika absorveu boa parte do impacto e sentiu apenas a ponta da flecha perfurar-lhe a carne, mas não se alojou, por sorte.

Ao completar seu movimento com o sinal de Aard, o arco telecinético foi lançado à sua frente e empurrou o ar, folhas secas do chão e pequenas poças de água em velocidade impressionante, por fim - atingindo dois dos homens a sua frnete, que foram ao chão imediatamente.

Dois deles, mais afastados - aproveitaram essa distância e começaram a correr dali. Assustados com a demonstração de magia. Embora feiticeiros tivessem habilidades mágicas muito superiores, os sinais mais simples dos Magi eram surpreendentes para aqueles que eram facilmente estupefatos.

Não notou de início, mas viu duas flechas vindo em sequência de trás de Kohaku. Era Hiroaki, atirou as flechas em apenas uma puxada de arco = não acertaram seus alvos, mas chegaram bem próximos dos dois outros homens que já tinham caído por conta do Aard. Estes, ainda afetados pelo sinal mágico, se arrastaram no chão e tentaram seguir o caminho dos dois primeiros que haviam fugido. No final das contas, a grande maioria dos bandidos de estrada eram apenas covardes, mas era importante se manter atento e tomar cuidado. A ação de Hiroaki foi decisiva para que saíssem dali completamente e restasse, no final das contas, apenas aquele que havia falado e ofendido Kohaku e Hiroaki inicialmente, o que parecia ser o líder do pequeno grupo.

- Vermes covardes!

Apontou a katana e correu na direção de Kohaku, deu um pequeno salto na direção da Magi e trouxe sua lâmina junto - a mesma, vinha em um arco de cima para baixo. Não havia muita técnica, estava dependendo apenas da força e da velocidade que o impacto causaria.