Segui em direção à moto de motocross de Rudá, que estava estacionada em frente ao bangalô. A moto, preta e vermelha, parecia pronta para enfrentar qualquer desafio.
Montei na moto e liguei o motor, acelerando em direção à estrada de terra que levava à cidade. A estrada estava cheia de buracos e bastante acidentada, mas consegui manter a moto sob controle, sentindo a adrenalina correr em minhas veias.
Após alguns minutos, cheguei à parte asfaltada da estrada e acelerei ainda mais, sentindo a velocidade da moto aumentar. Passei por algumas casas e comércios, recebendo olhares curiosos de alguns moradores que estavam acordando e começando suas atividades do dia.
Finalmente, cheguei ao centro da cidade e estacionei a moto em frente ao prédio comercial que funcionava como sede de uma das empresas de consultoria de propriedade de César. Como se fosse combinado, o parente atravessava a calçada, indo em direção ao prédio e, consequentemente, a mim.
"Bom dia, seu lindo", disse, tirando o capacete e arrumando o cabelo. Meu pai teria um infarto se soubesse que eu tinha usado uma moto. De certa maneira, era bonito pensar que, mesmo ele e minha mãe sabendo quem eu realmente sou, eles temiam que eu pudesse me machucar. Era como se, de alguma forma, eles ainda vissem a sua filhinha pequena.
Ao avistar meu primo se aproximando, uma onda de lembranças da infância invadiu minha mente. Recordações de momentos passados pendurada na mangueira, explorando as trilhas da fazenda e testemunhando os mistérios da natureza.
O sertão e o agreste eram partes intrínsecas de minha identidade, e mesmo estando distante de casa, as memórias se entrelaçavam com as maravilhas de Japi.
"Gostou?", perguntei, desmontando da moto e me sentindo um pouco rebelde. Aquela máquina fazia barulho, me lembrou que vez ou outra os trilheiros passavam pela minha cidade, despertando olhares atravessados e jovens animados com sua presença. Quando César estava perto o bastante, o abracei como costumava fazer com as pessoas que eu gosto, embora se eu não fosse com a cara de alguém, minha expressão seria um enigma indecifrável, uma característica que herdei de minha mãe.
"Vamos tomar café juntos?", era mais uma confirmação do que uma pergunta, acompanhada de um sorriso travesso.
"Precisamos conversar sobre as últimas notícias", acrescentei, sussurrando como se fosse um segredo, embora meu sorriso ainda estivesse presente.
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