Em algum lugar na imundice badalada dos Subúrbios de Heywood. Três da manhã, de uma madrugada de sábado…
O verão era particularmente complicado em Night City. O ar era abafado, mesmo nas horas em que o sol não dominava o céu escarlate que, graças a cor tóxica e artificial, parecia ainda mais opressor com aquela temperatura. Era como se a cidade toda fosse envolta em uma espécie de redoma transparente, e depois fosse enfiada no cu de uma criatura demoníaca, chapada de êxtase, que dançava no nono círculo do inferno. Claro que isso não impedia que a maioria da ralé, seja por necessidade ou falta do que fazer, cruzasse as ruas através de uma massa suada, meio orgânica e meio cibernética, acotovelando-se uns nos outros em busca de um hotspot; um ponto onde pudessem ficar chapados, dançar, dar uns amassos e, através das pessoas certas, conseguir informação útil, oportunidade de grana fácil e trabalhos escusos. Um desses lugares era a “A Dama Fornicadora”. Era uma boate movimentada, apesar do nome de mau gosto e da péssima reputação. Isso não importava, já que o lugar funcionava, afinal você conseguia tudo o que pudesse desejar ali: bebida, dança, sexo, drogas, armas, contatos e, se não tomasse cuidado, uma bala no meio dos cornos também era uma possibilidade bem realista.
Nem todo mundo sabia, mas havia uma entrada dos fundos – uma entrada muito mais fácil, principalmente se você tiver as habilidades certas. Era necessário descer uma escada vertical por de trás de uma lanchonete, passando por um beco estreito e escuro que lembrava muito as vielas da velha Hong Kong. Depois de alguns metros há uma portinha verde à direita, que leva a uma espécie de pátio cheio de lixo, e atrás da coluna à esquerda, uma porta que já fica normalmente aberta dá no depósito da cozinha. Essa porra de caminho alternativo já foi usado tantas vezes para coisas ilícitas que todos aprenderam a não fazer perguntas quando alguém entra ou sai por ali,e para aqueles com um pouco de lábia e habilidade de representação, sabendo passar aquela vibe de mademan, a entrada acaba saindo de graça.
A iluminação baixa e etérea em tons de verde, azul e roxo da boate dava a impressão que a boate era um portal para uma dimensão alternativa. A música estava boa e a pista de dança estava cheia, como era o costume – desnecessário dizer que estava ainda mais quente lá dentro. Tinha tanta gente pulando e se esfregando que nem o sistema de refrigeração estava dando conta. Para um olhar mais afiado, era fácil ver quem queria o que ali. A pista de dança era propriedade dos chapados e dos desesperados por sexo. As mesinhas normalmente eram onde os acordos escusos ocorriam – normalmente drogas, armas, software ou cromo – e o balcão era o lugar certo para quem quisesse ouvir uma boa fofoca ou informação útil, e quando eu digo ouvir, eu obviamente quero dizer “subornar a pessoa certa”. E lá no fundo, quase totalmente ocultos nas sombras, estavam o tipo de gente que todos estavam ciente da presença, mas que evitavam olhar muito. Era ali onde os capangas dos figurões – e às vezes os próprios figurões – ficavam de olho no movimento, talvez avaliando pessoas interessantes para tarefas incomuns.
– Você parece muito feliz, hoje – disse uma moça, com um tom entediado, para Dave, o barman. Dave era uma coisa bruta; gordo, careca e alta, com dois braços cibernéticos que não condiziam com o resto do físico cheio de banha, que conseguia suar mais do que todo mundo junto ali.
– Ah, e de fato estou – diz ele, sorrindo exageradamente para mostrar sua arcada dentária totalmente feita de cromo. – Tenho informações boas aqui, se quiser saber. Boas, porém caras, é claro. Mas valem a pena, pode crer. Se estiver interessada, a propósito, posso te vender uma boa oportunidade por um preço justo.
– Vou passar essa, obrigada. Vim aqui para me divertir e esfriar a cabeça. Além disso, depois do último serviço, estou precisando mesmo ficar de boa.
– Tem certeza? É coisa grande. Vem lá do alto escalão da…
– Não quero saber – ela interrompe, bruscamente. – Nesse momento eu estou com grana e estou viva. Estou feliz por isso. Vou dançar um pouco e, quando eu voltar, quero beber em paz, sem você me enchendo o saco e me aliciando, beleza?
– Humpf… Como quiser, meu bem.
- OFF:
- Essa é a postagem inicial, e portanto ela é mais livre. Aproveitem para refletir melhor sobre os backgrounds dos personagens e apresentá-los aqui. Por que estão nessa boate? O que levou vocês até aqui? Aconteceu algo ruim? Ou é apenas uma parada casual? Justifiquem a presença de vocês, da forma mais apropriada, conveniente ou interessante. Isso vai ser o gancho do motivo da formação de um novo grupo de Edgerunners.