Capítulo 1: Reboot

Eram como crianças com crédito infinito em uma loja de brinquedos High-Tech. Eles estavam dispersos; cada um vendo o que mais interessava. Xafic pegou o ground car mais chamativo que tinha ali, além de um fuzil com lança granadas, mira infravermelha, muita munição, granadas e kevlar. Ninguém estava ali para ser modesto – e nem deveriam. A missão era arriscada, perigosa e todo equipamento era mais do que bem-vindo.

Michiko não estava nem um pouco preocupada. Na verdade todos sabiam que ela estava preocupada e ansiosa pra caralho, mas não com aquilo. Eles poderiam literalmente colocar todo aquele hardware nas costas e sair que ela não daria a mínima. Um dos pau-mandados dela computou rapidamente tudo o que cada membro da equipe havia pego em uma espécie de PDA.

– Bem, acredito que é isso – ela disse, por fim. – Vamos voltar ao hotel agora, para vocês fazerem os últimos preparativos. Meu pessoal vai deixar os veículos prontos no estacionamento, assim vocês poderão sair facilmente, quando estiverem prontos.

OFF:

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Essas foram as últimas palavras de Michiko para eles naquela noite.

Eles estavam na entrada Little China, um dos três locais onde Michiko havia enviado seus capangas para recuperar um dos artefatos – e falharam miseravelmente. Teoricamente era o mais fácil do três – pelo menos não havia radiação nesse.

– Não parece muito ameaçador – disse Xafic entredentes, com um cigarro na boca. – Claro, é uma porra de uma zona de combate hostil pra caralho por causa das gangues, mas não parece algo que uma equipe altamente armada e treinada da Arasaka não possa dar conta.

Algumas horas haviam passado entre a coleta de equipamento e o planejamento final da ação. A noite havia avançado. Um vento forte soprava e uma pequena garoa começava a cair. O cheiro de combustível empesteava o ar, junto com outros odores desagradáveis. Bares, restaurantes e prostíbulos podiam ser vistos ao longe, brilhando em luzes neon intensas de cores variadas.

– Bem, segundo as coordenadas da Senhorita Arasaka – continuou Xafic –, a coisa tá bem no centro do distrito. E claro, assim que entrarmos vamos começar a chamar a atenção. Como não sou líder e nem quero ser, eu pergunto a vocês: como querem fazer isso? Discrição ou vamos tocar o terror na porra toda?

Jean concentrava-se no que pegar. Catou mais um monte de coisas além do que estava já levando. Seguiu o exemplod e Lucy, que parecia saber o que estava fazendo.

Loot e info:

Jean pegou os equipamentos que a Arasaka emprestou e colocou-os dispostos no veículo de Xafic.Colocou uma mão no queixo e ficou analisando a tralha toda. Aquilo parecia bom demais pra ser verdade.

"Caralho de asa. Espero que nada quebre, porque tem que devolver pra corpe e não quero descontar do meu rico dinheirinho."

Depois, pareceu encolher um pouco. Sua mente divagava.

"Será que eu vou conseguir curtir esses edinhos? Enfim..."

Jean pegou o cyberdeck e os componentes. Resolveu escaneá-los. Escaneou também os aparelhos para comunicação. Queria descobrir se havia algum malware espião ou qualquer outra coisa parecida. Caso houvesse, não os deletaria, mas alteraria seu código para que a conversa fosse "filtrada".

"Nada da japa saber o que estamos realmente falando."

Olhou em volta. O carro teria algum tipo de dispositivo também? Por via das dúvidas, deu uma olhada também, dentro de seu parco conhecimento mecânico.

Off:

Depois dos devidos cuidados, Jean descansava dentro do carro. Seu rosto, virado para frente e um tanto abaixado, em uma posição um tanto tímida, não observava nada nem ninguém especificamente. Para os outros, Jean parecia sentir certo nervosismo. Ouvia a conversa e quando Xafic falou "radiação, Jean levantou o rosto e deixou escapar um:

- Peraí, como é que é? Tem lugar com radiação?

Porra, o meatspace era foda.

- E onde exatamente é esse meio do distrito?

Agora, Jean levantou o rosto e olhou para fora. Procurava algum ponto de acesso ou alguma câmera que pudesse invadir para verificar as ruas.

- Saquei, Lulu. - disse à Lucy. - Vou conectar nossos links pessoais e vamos saber a loicalização real de cada um. Isso... Serve?

Olhou Lucy, Ho Lyn e Xafic, esperando a resposta como uma criança que queria agradar.

"Lulu". O comportamento de Jean parecia um tanto abusado. Mas na verdade, o que sentia era que Jean não sabia muito bem como lidar com aquela situação e pessoas. Parecia que Jean não sabia fazer amigos.

De qualquer forma, Jean agora fazia seu serviço: iria, primeiro, tentar invadir as câmeras e procurar onde havia mais movimentação "suspeita". iria tentar saltar para o local mais próximo que Xafic indicasse.

Isso além, claro, de fazer uma comunicação como Lucy havia pedido: para que todos soubessem onde cada um estaria e, se possível, o status.

Off:

Jean analisou todo o hardware que tinha obtido da Arasaka. Não havia detectado nada que pudesse categorizar como “filhadaputagem típica”. Todos os dispositivos estavam limpos. Não havia nenhum malware – nem nos níveis mais baixos e subjacentes do sistema – nem nenhuma pré-configuração conveniente que pudesse espioná-los de alguma forma.

Ele analisava o lugar, ainda atordoado com Xafic confirmando a radiação com “Pode apostar teu cu que tem muita”. Encontrava algumas câmeras posicionadas na rodovia, mas nada além disso. Hô Ly ao lado dele preparava uma espécie de espaço para cirurgia, no caso da merda feder ao extremo. Lucy avançava pelas ruas adiante, preparando-se para fazer um reconhecimento e uma varredura mais cara a cara enquanto Jean cuidava da rede.

Xafic, por sua vez, saia do furgão e acendia um cigarro, ficando de bobeira por perto, analisando as estradas. Nesse momento uma moto passa em velocidade baixa, como se estivesse fazendo uma espécie de ronda. O motoqueiro passa analisando os veículos, encarando Xafic e Lucy por um momento, e então desaparece em alta velocidade cortando o asfalto.
Jean concentrava-se em encontrar um ponto de acesso, sem reparar muito o que acontecia ao redor dele. Ele encontra um ponto distante, no quarteirão seguinte; não muito discreto e não muito fácil.

Nesse instante, uma garota se aproxima deles…


– E aí, galera? Tudo em cima? O que trás vocês por essas bandas?

Tanto Lucy quanto Xafic notam que, apesar da natureza silenciosa e dos passos suaves, três figuras se aproximavam por trás dos veículos. A garota, embora quisesse dar essa impressão, não estava sozinha.

(minha ação vai ser mais rápida PQ AGORA VOU DEIXAR O GABS RESOLVER!!!!)

Com um sorriso de satisfação, Jean começou a realmente equipar as coisas que a Saka Girl havia disponibilizado. Não sabia que corpes poderiam ser tão mão abertas assim.
Mas aí, perdeu o sorriso. Sabia muito bem que quando a esmola era demais, o santo desconfiava. E era assim que os corpes agiam.

Enquanto observava o lugar sem se conectar na rede, tinha os olhos bem arregalados debaixo de seu capacete. pensava que seu cu valia muito, então deveria ser MUITA radiação.

"Puta que pariu! Por que me meti nessa merda?!", pensava enquanto as luzes brilhantes de Night City refletiam no visor de seu elmo.

De qualquer forma, agora que estava de trabalho até o pescoço, Jean concentrava-se em fazer, de fato, seu trabalho. Observou as câmeras próximas, ao longo da rodovia. Como estava com Xafic e Ho Lyn mais próximos, Jean passava as informações a eles, sem notar muito as pessoas ao entorno (embora tomasse cuidado para passar tudo de forma discreta).

- Câmeras ao longo da rodovia.

E o motoqueiro passou, mas Jean estava em seu mundo mágico.

- Chumbas, o ponto...

Calou-se no exato momento que reparou a aproximação de uma pessoa. Aproximações nunca eram boas! Fosse no meatspace ou na rede! Jean não se mexeu.

Esperou um tempo e, discretamente, saía da linha de visão da garota que acabara de chegar. Porém, estava de olho nela e sua ação estava preparada.

( @Count Zero , existe o conceito de deixar a ação preparada no Cyberpunk? Eu dei uma olhada também nos hacks e posso atacar outro netrunner ou programas. Eu não consigo atacar alguém como essa garota, por exemplo, mesmo que ela esteja conectada no wi-fi da cidade, por exemplo. hehehe)

OFF:

A tensão naquele momento se espalhou como algum tipo de gás venenoso. Ninguém respirava. A garota que saudou o grupo parecia despreocupada e até mesmo simpática, como uma garçonete que atende alguém que acaba de pegar uma mesa de lanchonete. Os outros, por outro lado, estavam sérios. Seus rostos simulavam gelo esculpido. Não precisava ser muito observador para saber que eles não hesitariam em tomar ações mais drásticas, se a situação assim exigisse.

– E aí! – Lucy se aproxima calmamente, reconhecendo os padrões de tatuagem dos Tiger Claws na carne da garota. – Beleza? Eu sou a Lucy. Esses são meus amigos. Estamos a trabalho aqui. Talvez vocês possam nos ajudar?

Lucy conhecia o lugar. Ela sabia como a banda tocava naquela birosca e sabiam como os criminosos agiam. Estavam sendo precavidos. Não estavam querendo aprontar. Se quisessem roubar ou matar o grupo, já teriam atacado. Ela estava entrando no jogo.

– Pedindo favores? – a Tiger Claw cruzou os braços. – Que tal me apresentar seus amigos primeiro? Sabe, a coisa tá feia por aqui; mais do que de costume, digo. Os manda-chuvas estão exigindo que a gente passe pente fino em quem entra e quem sai do distrito.

– Claro, sem problemas – Lucy abriu seu sorriso maroto. – O grandão perto de você é o Xafic. Ele é o cara dos veículos. Um excelente piloto.  Dentro do veículo temos Hô Ly, nossa médica. Por fim, aquele sujeito bem ali é o Jean. Ele é o nosso netrunner.

Naquele momento Jean parou de vez com o que tentava fazer. Ter olhos sobre ele era incômodo e não dava para se concentrar naquela situação.

– E você?
– Cuido da segurança. Nada mais.
– Grupo interessante esse. Sou Wang Shu, a propósito.

Ela fez um sinal para os seus homens. Eles flanquearam o veículo e se prostraram atrás dela.  Pareciam mais relaxados, mas ainda assim demonstravam presença.

– Agora – ela continuou, acendendo um cigarro e oferecendo para cada um – você falou em ajuda. Claro, acho que podemos nos ajudar. Que tal contar o seu drama primeiro, Lucy?

Lucy olhou para os companheiros receosa, sabendo que precisaria falar alguma coisa, mas ao mesmo tempo não poderia falar demais.

– Nosso cliente nos enviou para essas coordenadas. Ele não nos deu muitas explicações, apenas disse que há algo de valor que precisamos recuperar para ele.
– Aham… – Wang Shu olha para as coordenadas curiosa no agent de Lucy, soltando uma baforada. – E quem é esse cliente de vocês?
– Sinto muito. Ele deixou bem claro que não devemos revelar a identidade dele a ninguém.
– Humm… deve ser alguém bem poderoso então, hein?

Wan Shu sorria. Não era bom sinal. Ela deveria saber de algo – algo que poderia usar ao seu favor, e assim o fez.

– É o seguinte, galera – ela jogou o cigarro no chão e apagou com um pisão. – Essas coordenadas apontam para um restaurante chamado A Serpente Carmesim. Fachada das tríades. Não sei que porra o cliente de vocês quer de lá, mas o dono não é amistoso, para dizer o mínimo. Causar encrenca lá é uma péssima ideia, sabe?

Ela foi até Jean, rodeou ele/ela com certa cobiça, e então se virou para Lucy novamente.

– Eu poderia facilitar a entrada de vocês, é claro. Até garantir que sejam tratados com cordialidade, mas não vou fazer isso de graça. Não vou exigir grana porque também tenho o meu drama para resolver, sabe? Estou pensando mais em uma troca de favores. Se quiser saber mais a respeito, você pode me encontrar no The Forlon Hope, beleza? Vou deixar vocês pensar. Por agora, é melhor ficar com isso.

Ela jogou uma pequena peça metálica para Lucy, que a pegou no ar. Era uma peça de mahjong em cromo, que lembrava uma peça de dominó. Nela havia a cabeça de um dragão gravada em tinta vermelha.

– Se alguém encher o saco de vocês, digam que a Shu deixou passar. Se não acreditarem, mostre isso a eles.