Na primeira noite de sono no navio, dormindo em uma rede, Souei tem um sonho curioso – na verdade uma memória:
Ele se lembrava da morte por ataque cardíaco enquanto assistia a um jogo. A dor no peito, a paralisia, a incapacidade de resistir. Então vagava pelo espaço, flutuando no vazio. Viu um ponto de luz que foi aumentando. Então uma pequena chama surgiu ao seu lado e, ao se aproximar, revelou-se ser um tipo de iguana em chamas que volteou ao seu redor e subiu em seus ombros. Juntos, atraídos por uma força poderosa, seguiram em direção à luz que agora ampliava-se em um enorme túnel.
Caía do céu e percebeu que encarava a ilha de onde havia partido. Caía mais e mais.
Lutava. Uma estranha criatura, com uns três metros de altura, disforme, golpeou-o com força usando um cajado de metal. Enquanto agonizava, a criatura arrancou sua armadura, tomou suas armas e terminou com ele com um último golpe na cabeça.
Acordou suando frio.
Nos dias seguintes aprendeu alguma coisa sobre o mundo onde estava. Os marujos o chamavam Obatalá, mas também havia que o chamasse Veles no continente mais ao norte ou Nuwa no oriente.
Aqueles marinheiros, de pele preta, eram de Dongo, um reino que ocupava um grande arquipélago, com vasta extensão territorial. Navegavam pelo Mar de Janga, como chamavam o mar entre as ilhas. A origem era curiosa: "janga" eram pequenas embarcações a remo que os antigos nativos usavam para se locomover entre as ilhas, algo possível porque o mar era calmo na maior parte do tempo, bastante acessível à locomoção marítima mesmo em condições rudimentares. Além das ilhas estava o Mar Exterior ou Grande Mar, que seria o oceano. Os dongoleses eram navegadores e mercadores experientes, segundo os próprios sua marinha tanto militar quanto mercante era a maior e mais poderosa do mundo. As maiores ilhas produziam minérios e gemas que eles vendiam para os habitantes do continente ao norte – o único conhecido –, que era conhecido como Volgia. Volgia e Dongo compunham o mundo conhecido, sendo que expedições enviadas para explorar o resto do mundo nunca haviam retornado.
Não tinham deuses, ao invés disso cultuavam os espíritos elementais e reverenciavam a memória de seus ancestrais, mantendo contato com eles por meio de sacerdotes especiais (médiuns). Tinham uma conexão especial com a Luz e rejeitavam os espíritos das Trevas como malignos. Sua religião é organizada ao redor de uma igreja com hierarquia bem definida e eles são muito devotos.
Kassandra não era dongolesa, havia vindo de um país chamado Minsk, em Volgia – sua nação era muito longe dali. Era uma mercenária que há anos trabalhava na segurança de navios mercantes do reino, protegendo-os contra os piratas que assolavam as ilhas, se aproveitando do governo descentralizado. Embora Dongo tivesse um rei e seguisse basicamente as mesmas leis, costumes e idioma, cada ilha era sede de uma murinda (província) e tinha seu próprio governo, com alto grau de autonomia, e isso permitia que criminosos marítimos pudessem escapar de uma caçada mais organizada. Claro, quando eram capturados, costumavam ser presos e, em muitos casos, condenados ao julgamento da água: eram presos nus em gaiolas e mergulhados no mar por um dia – se sobrevivessem recebiam o perdão, mas ninguém contava que isso fosse acontecer algum dia. Mas era visto como um ordálio divino (se os espíritos quisessem salvá-lo, assim seria).
Subupira, a origem do Adrasteia (o nome do navio havia sido dado por Kassandra, que era proprietária do mesmo, e era o nome de sua avó), era a capital de Matamba, uma das maiores ilhas. Macaco, o destino, era a capital do reino e ficava em uma ilha central chamada N'gola.
Havia alguns brancos nativos em Dongo, isso Kassandra ressaltou. Souei conseguia falar dongolês muito bem, mas também falava Minsk, inclusive no koiné, o dialeto falado ao sul daquele país. Mas ele tinha sotaque e a minskiana apontou que ele era provavelmente de Alba, onde também se falava koiné, assim como o próprio idioma albi.
Alba era uma confederação de cidades-estados que também existiam em Volgia, assim como os reinos de Lúsia, Gália e treze países menores chamados de Reinos Centrais, assim como uma região setentrional chamada Ânglia Oriental e uma grande ilha ao norte do continente, denominada Ânglia Ocidental. As Ânglias eram divididas em reinos menores e eram um povo agressivo e, segundo os dongoleses, pagão (ou seja, cultuava todos os espíritos, incluindo os das trevas).
- Off:
Um monte de informação sobre o mundo. Descobrir os aspectos gerais do planeta não é desafio aqui.
Fiz uma conexão com o novo cenário através do sonho, que é uma lembrança pré-reencarnação – Souei herdou a memória de morte do dono anterior do corpo.
Rondas: quartas e sábados.
- Protagonista:
| Souei, Assassino 5 Dano: 30; PV(40): 40; PM(12): 12. |