GOLLUM – OBSESSÃO
CAPITULO 1: PERDIDO NA ESCURIDÃO
CAPITULO 1: PERDIDO NA ESCURIDÃO
- Trilha Sonora:
“LADRÃAAAAO, LADRÃAAAAO, ELE ROUBOU O PRECIOSO DE NÓSSSSS...”
Os sons ecoavam no fundo de uma caverna nas profundezas das Montanhas Nevoentas. Goblins ocasionalmente ouviam as lamúrias, mas tinham medo de descer até tal lugar, onde dizem que uma criatura invisível capturava pequenos orcs desatentos, ainda mais após toda a confusão causada pelos anões e a morte do Rei Goblin.
Ainda assim, os gritos continuavam. Aquele quem os proferia não parecia tão ameaçador quanto os ecos poderiam sugerir. Pelo contrário, se alguém com uma boa visão noturna pudesse vê-lo, ele talvez até mesmo fosse digno de pena.
Uma criatura pálida, esquelética e pequena se contorcia no chão duro e frio de rocha úmida, arranhando sua própria pele com suas unhas quebradas e sujas, rasgando os trapos podres que vestia (roubados de um Goblin morto e devorado por ele), ele feria as juntas ósseas de suas mãos socando o chão e por fim, agarrava um pequeno tufo de seus ralos cabelos, puxando-o com tanta força que arrancava a maior parte deles.
Mas isso não era suficiente, seu anel, seu Precioso havia sido roubado, e o ladrão a essa altura estava longe dali, e Gollum não tinha coragem de segui-lo para fora de suas cavernas escuras, e muito menos encarar a luz que ardia na superfície, queimando em sua pele e cegando seus olhos acostumados à escuridão.
“ Gollum, gollum, é tudo culpa sua, se tivéssemos mantido o anel conosco o tempo todo, isso não teria acontecido!” – Dizia seu reflexo culpando-o por seu fracasso.
Gollum não era capaz de encarar seu interlocutor nos olhos e continuava chorando, jogava-se no chão, com o rosto escondido entre os braços finos como gravetos, mordendo seus antebraços (uma das poucas partes de seu corpo que possuía alguma carne tenra o suficiente para seus poucos dentes). Em posição fetal ele continuava chorando, gritando e esperneando, tapando os ouvidos para não ouvir as críticas que o destruíam ainda mais.
...
Com os olhos inchados e ardendo, Gollum engatinhava na escuridão. Seus músculos finos ocasionalmente moviam-se involuntariamente e calafrios o assolavam. Seu estômago roncava, ele não se lembrava de quando foi a última vez que se alimentou (ou dormiu), mas isso pouco importava, ele seguia em direção ao seu “ninho”, à procura do anel. Sim, com ele, Gollum poderia ficar invisível e caçar suas presas. Tudo estaria bem, apenas o brilho do precioso já seria o suficiente para revigorar suas forças. Tudo havia sido um sonho, um pesadelo na verdade, ninguém havia roubado o Precioso. Sim, sssssim.
Porém, Gollum procurava, procurava, e nada encontrava. Seu coração palpitava e ele começava a transpirar enquanto o desespero tomava conta dele. Era como perder novamente o anel, dia após dia, e finalmente ele começava a encarar o fato de que o anel havia sido roubado como uma realidade. Mas ele não podia aceitar isso. Não podia suportar que seu maior bem, o presente dado por sua avó (ou seria pelo seu primo?!) havia sido tirado dele por um monstro, um ladrão, um patife.
Gollum gritava a plenos pulmões enquanto arranhava as pedras com suas unhas, quebrando-as ainda mais, e gerando um som horrível que feria sua própria audição.
“Gollum, gollum, enquanto você está aqui choramingando, o ladrão está cada vez mais longe com nosso precioso. Será que não é hora de ir atrás dele?”
- Vá embora, me deixe em paz! – Soluçava Gollum.
“Patético, ao menos cace alguma coisa para nós, Preciossso! Ou nós morreremos de fome assim!”
- Não... não consigo. Não até achar meu Precioso!
“NOSSO PRECIOSO FOI ROUBADO! NÓS NÃO O TEMOS MAIS, E CONTINUAREMOS SEM ELE SE VOCÊ NÃO SE LEVANTAR E FAZER ALGUMA COISA!”
Gollum batia a cabeça contra o chão ao ouvir tais críticas, mas a dor era terrível, e tonto, ele cambaleava para trás, até tropeçar e cair dentro do rio subterrâneo.
Gollum afogava-se, e pela primeira vez em... sabe-se lá quanto tempo, ele se importava com algo além do anel. Ele se importava em respirar um pouco de ar, se preocupava com sua vida.
Saltando para fora da água, ele tossia e cuspia água. Por fim, ele vomitava (apenas um líquido espesso e semitransparente, pois há um bom tempo não se alimentava corretamente), então permanecia deitado de costas na pedra fria, com braços e pernas abertos, olhando para o vazio do escuro acima dele.
Ele não sabe quanto tempo permaneceu assim, horas? dias? mas sabia que o “outro” dizia a verdade. Aquele “banho” serviu para algo afinal, pois ele percebeu que não poderia ficar apenas chorando, ele precisaria agir se desejasse ter seu anel de volta.
Sua testa ainda doía. Tocando-a, ele podia sentir um enorme galo se formando. Apenas mais um dos tantos ferimentos auto impostos que ele colecionava desde...
- MALDITO BOLSEIRO, NÓS VAI PEGÁ-LO, NÓS VAI MORDER SEU PESCOÇO, SUGAR TODO O SEU SANGUE E FURAR SEUS OLHOS. ENTÃO NÓS VAI RECUPERAR O PRECIOSO!
Novamente seu estômago roncava alto, acompanhado por uma dor quase insuportável.
- Ungh, mas primeiro nós vai caçar um peixe, não vai, Precioso?!
“Assim que se fala!” Respondia seu reflexo.