Suhee (Lucrezia)- Classe: Nobre 5.
- Atributo: P8, H5, R7; Dano 20, PV 40/40, PM 16/16.
- Elemento: Luz.
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O Casamento Divino ou A Dança Cósmica era uma teogonia escrita por um religioso. Essencialmente, no início de tudo só havia Marzanna – uma divindade feminina, era o Vazio primordial, vista como a potencialidade de todas as coisas. Marzanna gerou a partir de si Veles, o próprio mundo. Diferente de muitos mitos da Terra, onde esta era vista como uma deidade feminina, Veles era uma entidade masculina. Veles e Marzanna geraram Zorya, a lua. Zorya sentia-se solitária, então Veles forjou a partir de espíritos de luz e fogo Daj, o sol. Eles iniciaram a Dança Cósmica e de sua união nasceram os humanos.
Dez casais foram gerados e cada um deles gerou uma das raças humanas: ânglios (brancos de cabelos pretos ou loiros, olhos castanhos ou azuis), rus (brancos de cabelos vermelhos e olhos verdes ou azuis em sua maioria), jagas (pretos de olhos castanhos ou negros, alguns possuem olhos azuis) e mugais (olhos oblíquos, cabelos e olhos negros, bem lisos, pele entre branco e pardo).
Veles abrigou os casais em si, dando-lhes um lar. Marzanna se enciumou e de seus pensamentos de ódio emergiu Berstuk, o Deus do Mal. Berstuk atacou os homens com toda sua fúria – sua forma física era uma grande pedra de fogo que caiu sobre Veles e abriu uma enorme cicatriz em Tunguska, a terra dos rus. Ele gerou os demônios e os monstros que passaram a assolar Veles: goblins, trolls, ogros. Humanos que se associaram a ele obtiveram poder por seu meio e se tornaram os Arcontes: Balor o Olho Maligno, Senhor dos Fomori, cujo olhar podia reduzir os homens a pó; Koschei o Imortal, que venceu a morte e criou os mortos-vivos; Baba Yaga a Mãe da Floresta, a primeira sacerdotisa de Veles que se corrompeu e se tornou a Rainha das Bruxas; Titânia a Dama do Crepúsculo, que vendeu sua alma pela beleza eterna e tornou seus súditos nos perversos elfos, tão belos quanto cruéis; entre outros.
Os humanos não cultuavam os deuses, entretanto – à exceção de Berstuk, eram entidades distantes, alheias aos problemas mortais. Por isso o foco era o culto aos Espíritos Elementais, aspectos de Veles. Por meio deles era possível realizar grandes feitos.
Dos Reinos dos Homens e dos Demônios era um livro de geografia política. Descrevia os reinos humanos ocidentais do continente de Volgia e também alguma coisa sobre Tunguska.
Dos reinos humanos, descrevia Lúsia, o reino mais ocidental do continente. A Lúsia era originalmente uma colônia jaga que recebeu afluxos de ânglios e rus que, em um primeiro momento, foi violento, mas acabaram por se integrar. Sua realeza, a Casa Magda, entretanto, se orgulhava de ser "puramente jaga". A Lúsia tinha um sistema de governo baseado em uma "nobreza de toga": plebeus que eram promovidos após passarem por concurso público. A terra pertencia ao monarca, que delegava a administração a alguns desses burocratas-nobres, mas ele mantinha o controle sobre o exército, desse modo garantindo o poder sobre a nobreza. Era o único reino do continente que havia claramente superado o feudalismo. Sua capital era Magdala, um porto fundamental para o comércio entre o continente e o Reino de Dongo, um vasto arquipélago à sudoeste de Volgia. Sua marinha era reputada como a mais poderosa do mundo e a única capaz de realmente enfrentar – e amedrontar – os piratas ânglios e albis.
E se a Lúsia incorporava a ideia de um Estado-Nação moderno, a sua vizinha Gália era um reino feudal estrito senso – havia três estamentos, nobreza, clero e plebe, e as chances de ascensão social eram praticamente inexistentes. A plebe trabalhava para manter as outras duas classes e a nobreza oprimia pela força qualquer rebelião. Sua capital, Lutèse, era a maior metrópole do mundo e tinha mais de um milhão de habitantes, sendo também a sede da Igreja da Luz. Suas origens étnicas eram basicamente ânglias e, politicamente, era o reino mais poderoso do mundo e seu exército era invejável. Tinha uma relação complicada com Lúsia à oeste e mais ainda com Alba.
Alba estava a leste dos Reinos Centrais e tinha como fronteira oriental o Mar Interior. Como a Gália, os albis eram compostos basicamente por ânglios e uma minoria étnica que habitava uma região à margem sudoeste do Mar Interior, chamada Acaia Ocidental. Era uma confederação de cidades-estado de forte cultura mercantil – sua aristocracia era composta por príncipes mercantes e as regiões agrárias eram compostas principalmente por pequenos produtores rurais que possuíam suas próprias terras. A diferença entre plebe e nobreza era difusa e por isso os gálios os desprezavam. Seus exércitos eram uma combinação de forças particulares dos grandes mercadores e guildas com forças mercenárias. As cidades às vezes lutavam entre si, mas na maior parte do tempo as disputas se limitavam à diplomacia e comercia. Se a situação escalava muito um conselho composto pelas cidades mais poderosas podia impor a paz – pela força, se necessário.
Os Reinos Centrais tinham lugar entre a Gália e Alba, formando uma faixa entre os dois países, cortando o continente de norte a sul. Era formado por pequenos reinos, principados, repúblicas mercantis e cidades-estado. Não havia um número permanente – conflitos e casamentos causavam a ascensão e queda destes países em poucas gerações e era difícil passar mais de algumas décadas sem que houvesse dois ou mais deles lutando uns contras os outros por questões fronteiriças mesquinhas. Alguns reinos se destacavam pela perenidade: Miramare era descrito como o mais rico e o segundo em tamanho, Verdi, terra natal de Lucrezia, não era tão próspero, mas era o maior e seu exército era respeitado e temido, sendo que seu rei oferecia suas forças como mercenários para os outros países.
Miramare era um reino mercantil, fortemente dependente de seu grande porto que conectava o país com os demais – sua frota viajava para terras ainda mais distantes, podendo chegar até Dongo ou os Cinco Reinos além de Tunguska.
Mas nem mesmo esses dois países juntos poderia desafiar as grandes potências ao redor. Isso era intencional: no passado a região dos Reinos Centrais foi ferozmente disputada por Gália e Alba e a Igreja na época interviu e criou os países como um "cinturão", uma miríade de "estados-tampão" para prevenir o conflito direto. Assim que muitas das guerras locais eram na verdade "guerras por procuração" entre as duas potências.
Ainda acordada, Suhee teve uma lembrança súbita...
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Eles estavam sentados em uma varanda do palácio real de Verdi: Lucrezia, sua mãe Mara e seu pai, Gian.
Gian DonatiFinalmente consegui convencer aquele cabeça dura do Cesar. Aliás, foi bem grande parte graças a nossos amigos em Miramare, principalmente Alberto, o Conde de Costarossa, que é amigo do rei e meu afilhado. Você se casará com ele na primavera do próximo ano, logo após completar dezessete anos. Lucrezia acenou em concordância. Estava curiosa, sabia que Cesar era um homem bonito.
Gian DonatiÉ importante que você providencie um herdeiro. Cesar tem uma filha, mas a lei de Miramare dá preferência aos homens na sucessão, então se você tiver um menino nós poderemos unir os países. Isso não apenas garantirá nosso acesso permanente ao mar, como também nos dará a força necessária para unificar os Reinos Centrais em uma Grande Verdi. Eu não poderei concretizar esse sonho em vida, mas meu neto poderá. Lucrezia GrimaldiEle se chamará Gian em sua homenagem, meu pai. Gian pareceu emocionado. Ele segurou a cabeça de Lucrezia entre as mãos e beijou-a na testa.
Gian DonatiÉ a melhor filha que eu poderia ter. Se acreditasse na doutrina da Igreja, agradeceria aos Espíritos por tê-la colocado na minha vida. Talvez eu até agradeça mesmo assim! Todos riram, inclusive Sabrina, que estava parada perto.
Gian DonatiSabrina, você é como uma segunda filha para mim. Espero que cuide bem de Lucrezia e garanta que ela tenha um menino. SabrinaVocê sempre pode contar comigo, meu senhor. E minha vó já me ensinou como fazer Lucrezia dar a luz um varão. Então Gian ficou sério.
Gian DonatiNão se apegue a seu marido, Lucrezia, ele é um meio para um fim. Depois que tiver um filho dele, é bastante provável que o removamos do jogo. De modo permanente. Deste modo, como mãe do herdeiro, você se tornará a regente. Eu a confirmarei como minha herdeira e assim a união dos tronos estará assegurada. Lucrezia GrimaldiCom sua influência na corte de Miramare, não será difícil mudar o sobrenome de meu garoto para Donati. Então nossa família se perpetuará como a família real da Grande Verdi. Gian DonatiDurante os últimos duzentos anos os Reinos Centrais estiveram à mercê dos interesses de Alba e Gália, sendo usados como peões nos jogos de poder deles, enquanto os reinos do norte sofrem com as incursões dos saqueadores ânglios. Todos eles nos vêm como caipiras, estúpidos e fracos, nosso povo sofre com guerras que não atendem aos nossos interesses. Mas uma vez que unifiquemos este território, haverá paz e, com ela, prosperidade. O Exército de Verdi será a base para uma força militar superior e a potência mercantil de Miramare se expandirá para o norte, onde poremos medo aos selvagens ânglios. Somente como uma nação unificada podemos garantir nosso futuro. Gian era tido como um homem duro, até mesmo cruel, mas sua filha sabia que ardia nele um profundo amor por sua terra e uma preocupação legítima com seu povo. Ele nunca havia obrigado aos servos e camponeses o serviço militar em tempos de guerra, preferindo formar um exército profissional que tornava Verdi famosa como uma pequena potência militar. Sob seu comando, o país havia se ampliado quase ao dobro do seu tamanho original, absorvendo países vizinhos menores. Embora não fosse um reino tão rico, sua produção agropastorial era digna de nota e ele podia se dar ao luxo de alimentar toda sua população – não havia fome em Verdi.
Por mais pragmático que atuasse, Lucrezia sabia que seu pai era no fundo um idealista.
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A lembrança terminou e Suhee se viu novamente lendo o livro. O texto continuava, descrevendo Minsk, o reino que fazia fronteira com a terra maldita de Tunguska. Os minskianos eram uma combinação de rus e ânglios (chamados assim russânglios), sendo que ao sul havia uma ramificação étnico-cultural chamados acaios.
Minsk era uma monarquia centrada na figura de um monarca, homem ou mulher, que se casava (simbolicamente) com a terra, representada por um sumo-sacerdote ou sumo-sacerdotisa. Eram seguidores da Igreja da Luz, mas desde o Grande Cisma que a Igreja de Minsk era independente da ocidental, sediada em Lutèse. A religião era uma mistura da Fé Iluminada com o paganismo russânglio. A capital era Odessa.
A Acaia era um região que compreendia o sul de Minsk, uma estreita faixa litorânea de Alba no Mar Interior e um vasto arquipélago ao sul da costa minskiana, sendo assim chamadas de Acaia Oriental (ou Magna Acaia), Acaia Ocidental e Acaia Insular ou Ilhas Acaias. Era outro povo, a despeito das raízes russânglias, embora a Acaia Oriental e as ilhas estivessem sob o domínio do trono em Odessa. A Acaia Ocidental era parte de Alba.
Ânglia Oriental era o nome dado a uma longa faixa de terra que cobria boa parte do litoral norte do continente, fazendo fronteira com Gália, as Marcas (uma série de cidades-estado fortificadas ao norte dos Reinos Centrais, consideradas parte da região), Alba e Minsk. Os ânglios eram descritos como um povo pagão que vivia de pirataria e saques, constantemente forçando as fronteiras destes países para saquear e pilhar seu povo, levando consigo ao voltar para sua terra comida, ouro, prata, animais e pessoas. Governavam-se por meio de assembleias formadas por todos os homens e mulheres adultos aptos a pegar em armas. Estas assembleias elegiam um Jarl, um tipo de rei, que na guerra liderava os exércitos compostos por soldados-cidadãos e na paz atuava como juiz e mantenedor da lei (embora o autor do livro tivesse uma péssima impressão dos ânglios e tenha escrito que a "única lei que eles respeitam é a do machado"). Assembleia e Jarl eram fiscalizado por um conselho permanente de anciões, homens e mulheres com mais de sessenta anos. Era curiosamente... democrático.
A Ânglia Ocidental era uma grande ilha a noroeste da Ânglia Oriental e ao norte da Gália, mais ou menos do tamanho da Austrália. Sua porção norte era tomada por um inverno eterno, o que tornava somente metade da ilha apta a receber agricultura. "Os ânglios ocidentais do norte conseguem ser ainda mais primitivos que seus parentes sulistas, vivendo de caça e pesca, com um estilo de vida seminômade. Trocam peles, marfim e outras partes de animais com os nativos do sul da ilha, enquanto dividem seu território com gigantes, dragões e outras bestas. Pelo menos é dito que mesmo Balor evita atacar aquela terra esquecida pelos Espíritos da Luz."
Por fim, uma faixa costeira ao sul do Mar Interior, separando-o do Oceano Austral, era chamado de Pantanal – uma zona de pântanos e charcos, cortado por diversos rios e habitado por uma população ribeirinha de pescadores cujas origens não eram claras, embora suspeite-se de uma ligação com os acaios.
Os "reinos dos demônios" era uma referência à Tunguska, mas o texto aqui era muito rápido e curto, pois o autor lamentava não haver muita informação sobre "aquela terra amaldiçoada". Eram citados o Reino do Crepúsculo, governado por Titânia e habitada por elfos e seus servos goblins; a Floresta das Trevas era o lar de Baba Yaga e suas bruxas, entre outros monstros. Koschei o Imortal governava o Vale das Cinzas, assolado por mortos-vivos. Balor o Imortal tinha seus domínios no Mar do Norte e atacava as costas das Ânglias. Havia a suspeita de que havia humanos vivendo em Tunguska, escravizados pelos cruéis demônios que a governavam.
Suhee terminou o livro. Então arrumou-se e deixou o quarto.
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Quando esbarra contra o guarda, este se curva e pede desculpas. Ele parece confuso com a gentileza da rainha, mas dá de ombros.
Suhee (Lucrezia) escreveu:"Você sente falta do passado?" SabrinaUm pouco. Tudo era mais fácil, né? Vendo em perspectiva, não tínhamos preocupações, isso era coisa dos adultos. Mas é bobagem se perder em sonhos, devemos viver no mundo concreto. Como diria o poeta: "quem espera que a vida seja feita de ilusão pode até ficar maluco ou morrer na solidão".
Temo que sua tia tenha passado por isso. Minha vó sempre disse que o amor é uma maldição, um veneno para a alma. Ela é um pouco amarga, teve muitos dissabores na vida, mas acho que... bem, não está inteiramente desprovida de razão. . . .
Suhee (Lucrezia) escreveu:"Olá, Blanche. Estou faminta, e você?" Blanche parece bem mais à vontade agora e sorri empolgada quando a reencarnada pega em sua mão.
Blanche GrimaldiSim, também estou. Tenho certeza de que o jantar estará delicioso! E está. Os pratos são dispostos à mesa, empilhados com um prato raso de base, um mediano e um pequeno e fundo no topo. Havia três garfos à esquerda, duas facas e uma colher à esquerda. À frente quatro taças de cristal – uma delas continha água, as outras estavam vazias. Um guardanapo bordado e cuidadosamente dobrado estava à esquerda dos garfos. Sentada em frente à Suhee, Blanche pegou o dela e abriu-o delicadamente, posicionando-o sobre as pernas.
Um delicado arranjo floral de orquídeas verdes, crisântemos amarelos e hibiscos vermelhos decoravam o centro da mesa redonda – as cores Grimaldi, novamente, mas verde e vermelho eram as cores dos Donati, então a família materna de Lucrezia também estava representada, principalmente porque havia mais hibiscos do que do que crisântemos.
Inicialmente foi servida uma espécie de panqueca com salmão por cima. Era a entrada.
Blanche GrimaldiHm... blinis de salmão... é muito bom. Então, é... como foi seu dia, Majestade? - Spoiler:
Desculpe a demora – como dizem, mucho texto. Rondas: quartas e sábados. |