Brazen escreveu:
Portas para a Escuridão
- FLORENCE BYRNE:
O quarto exalava uma aura enigmática e misteriosa, uma espécie de portal entre o mundo dos vivos e o reino das incertezas sobrenaturais. Além do incenso, cujo aroma doce e sufocante envolvia tudo, a própria decoração do ambiente contribuía para o clima sinistro e intrigante. Cortinas pesadas, de um veludo roxo profundo, bloqueavam a luz externa, mergulhando o espaço em um crepúsculo constante.
O aroma espesso de incenso impregnava o quarto, envolvendo-o em uma doçura quase sufocante. A iluminação, por sua vez, era cortesia apenas das velas, cuidadosamente dispostas para criar um ambiente carregado de suspense, mistério e ansiedade. Florence tinha aperfeiçoado essa atmosfera ao longo de muitas tentativas e erros, até alcançar o tom ideal para impressionar as almas inquietas que a procuravam.
Uma dessas almas inquietas estava sentada do outro lado da mesa redonda de plástico, coberta por uma toalha roxa ricamente bordada com estrelas cintilantes. Entre Florence e sua cliente, repousava um baralho de tarô de tamanho considerável e uma bola de cristal, cuja fumaça interna dançava preguiçosamente, acompanhando as sombras projetadas no recinto pela fraca luminosidade das velas.
Tudo estava cuidadosamente preparado, cada detalhe meticulosamente orquestrado.
-Então... - a jovem do outro lado da mesa começou a falar, a voz tremendo levemente. - Como exatamente fazemos isso? Eu tenho que te entregar algo que pertencia ao meu namora...ex. Ex-namorado. E você... consegue... falar com ele?
A jovem parecia ter a mesma idade de Florence, talvez até mais jovem, e sua expressão denotava um claro nervosismo. Florence notou isso com satisfação. Ela sabia que presas fáceis como essa eram as mais gratificantes de todas.
...
PRÓLOGO - FLORENCE BYRNE
- Brazen
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Re: PRÓLOGO - FLORENCE BYRNE
Florence ByrneIt's hard to dance with a devil on your back, so shake him off
Existia certas peculiaridades nesse campo de trabalho que Florence tinha aprendido ao longo do tempo. A crença e a descrença das pessoas que entravam ali vinham colocadas lado a lado nas suas mentes. Algumas delas com mais propensão a acreditar... Outras querendo muito saber, mas incrédulas o suficiente para questionar. Por isso, o ambiente era tão importante.
As cortinas e toalha na cor roxa traziam um conforto em meio à escuridão e penumbra das velas. O incenso tinha um cheiro familiar... Mas era desconfortável o suficiente em intensidade para aflorar aquilo que deixava as pessoas mais angustiadas. A bola de cristal era um item de dúvida, enquanto o tarot era um de curiosidade. Todos queriam respostas... E esse desejo ficava mais intenso quando precisavam focar essa crença em um objeto e não em outro.
Naquela noite não ia atender. Estava pronta para uma festa quando a pobre alma veio lhe procurar. Se dispôs a pagar mais pela urgência e pelo inconveniente, é claro. Florence pediu para ela aguardar e foi preparar a energia espiritual da sua sala de atendimento (deixar o ar condicionado pronto pra ser ligado em momento oportuno e acender as velas e os incensos, é claro). Vestiu também seu roupão de seda preto e os óculos que ocultavam seus olhos. E finalmente levou a jovem lá.
Demorou um pouco para que respondesse a pergunta dela, mexendo no baralho enquanto provavelmente a encarava (o óculos não permitia saber, de fato). Então, por fim, pousou o bolo de cartas no centro da mesa, estendendo uma das mãos.
- Os espíritos só aparecem quando precisam, Darling. Mas objetos pessoais, principalmente aqueles que o falecido carregava todos os dias, costumam ajudar a ancorar eles aqui. – isso geralmente induzia a uma carteira ou documento, o que facilitava bastante a vida da trambiqueira. Aguardou o objeto.
- Corte o deck em três, por favor. Chame ele a cada corte... E Dê um motivo para ele reagir nessas cartas. Você parece tão inquieta, os espíritos também, você tá sentindo? – acionou o botão do controle sob a coxa, começando a esfriar o quarto, mas não gelando ainda. Ela parecia tão ingênua... Aquele dinheiro seria fácil.