As movimentações, embora não passassem despercebidas por Eyvon, eram ignoradas pelo dornês, que encontrava-se de semblante sério, em pé e com os braços cruzados, em uma falha tentativa de esquentar-se. O grande homem loiro, que viera com ele até a Muralha, parecia sentir ainda mais os efeitos do frio, praticamente implorando por mais um casaco.
“Não seria má idéia”, pensou Eyvon, mas logo em seguida um desconhecido, este trajando uma proteção em couro negro no peito e também um casaco, igualmente escuro, chegou dando ordens. Aparentemente, era um dos responsáveis por receber os “recrutas”.
***
Não havia muito o que tivessem para conhecer, na verdade. Embora o lugar fosse grande, tudo ali era muito igual e assemelhava-se em termos de estruturas físicas decadentes, embora de aparência forte.
“Estruturas rústicas, diria Lady Yessenya”. Precisava cortar essas divagações ou ficaria louco em dez dias. Sua vida não era mais a que tivera até então...
Alexyus escreveu:
- Como Primeiro Intendente do Castelo Negro, é meu dever orientá-los sobre o que esperar e como devem agir enquanto membros desta venerável instituição. Aqui na Patrulha da Noite, todos são iguais perante a Muralha, independentemente de suas origens ou circunstâncias que os trouxeram até aqui. No entanto, isso não significa que todos sejam tratados com condescendência. Aqui, a disciplina é primordial e o respeito pelas tradições da Patrulha é essencial.
Não importava onde fosse, seria tratado sempre como resto, a ralé de Westeros. Ali não seria diferente.
Alexyus escreveu:
- Sua missão como patrulheiro é simples, mas de extrema importância: proteger os Sete Reinos de todas as ameaças que se escondem além da Muralha. Isso inclui enfrentar todos os selvagens além da Muralha, e quaisquer outras criaturas lendárias que apareçam. Vocês são os guardiões do reino, os escudos que mantêm a escuridão à distância.
Eyvon não estava tão enganado em relação às raras histórias que ouvia da Patrulha da Noite: homens condenados pagando com o próprio suor e vida para manter Westeros livre de invasores do outro lado da Muralha.
Alexyus escreveu:
- Para se tornarem bons patrulheiros, devem dedicar-se à prática, disciplina e aperfeiçoamento contínuo. Serão treinados em combate, sobrevivência, escalada na Muralha e todas as habilidades necessárias para sobreviverem neste ambiente hostil. Mas lembrem-se sempre: a Patrulha da Noite é uma irmandade. Devem confiar uns nos outros e estar dispostos a sacrificar tudo pela segurança dos Sete Reinos.
O Corvo realmente não havia mentido, treinariam ali e só então, depois de um determinado tempo, seriam considerados “Patrulheiros”. A penitência que todos julgavam já estar pagando, nem mesmo havia começado.
Alexyus escreveu:
- Uma vez que tenham feito seus votos, não há retorno. A deserção é um crime grave, e aqueles que tentam fugir enfrentam as mais severas consequências. Portanto, reflitam bem antes de jurarem suas vidas à Patrulha da Noite.
Eyvon franziu o cenho. O Corvo falava como se tivessem escolha ao não jurarem suas vidas à Patrulha. Como se tivessem chegado ali por livre e espontânea vontade, e não por condenação, culpa, fuga ou o que quer que cada um ali carregasse como carma consigo.
Alexyus escreveu:
- Preparem-se para uma vida de desafios, perigos, quer seja longa ou curta. Bem-vindos à Muralha.
Era isso. Pelos próximos dias…meses…talvez, com certo azar, anos, estaria ali, vestindo negro até que o dia de seu último suspiro.
- O Corvo que nos trouxe aqui falou em treinamento. Quando começa e quais armas teremos acesso? O treino afastaria o frio, com certeza, mas, principalmente, deixaria a mente de Eyvon longe de suas próprias armadilhas e auto-sabotagens, além de ir acostumando-o àquela que seria sua rotina dali por diante.