"E eles irão perguntar: quais as histórias dos dias de prata e ouro? Nos fale sobre os dias de ferro e seca. E os mortos responderão: Nós vimos sóis negros e dias de sangue carmesim. E o céu queimou e as montanhas nasceram das chamas."
O dia estava mais frio do que o normal quando os Mancers deixaram o velho mundo, partindo em direção a Ikor. Uma névoa densa cobria o porto, tornando difícil enxergar além de poucos metros. Talvez nunca mais vissem Eire, a terra natal que deixavam para trás. Pouco sabiam sobre Ikor, e as poucas informações que tinham não eram animadoras. A jornada seria longa, cheia de incertezas, e a possibilidade de retorno parecia distante. As notícias de Ikor eram sombrias, e como Mancers, estavam cientes de que teriam muito trabalho a fazer naquele novo mundo.
A tripulação do navio era pequena e simples, composta apenas por aqueles corajosos o suficiente para atravessar os mares e enfrentar os perigos de Ikor. Muitos temiam a companhia dos Mancers, acreditando que eles atraíam desgraças. Afinal, se existiam Mancers, era porque havia males que precisavam ser enfrentados.
O capitão falava apenas o necessário, insatisfeito com a viagem, mas os dias curtos e a necessidade imperiosa no velho mundo impulsionavam a aventura. Era arriscar-se ou sucumbir à falta de recursos.
Os Mancers vinham de diferentes regiões, e exceto por seus companheiros de treinamento, não conheciam bem uns aos outros. Mas era fácil identificá-los: todos usavam anéis de ferro, carregavam suas armas e grimórios pendurados em tiras de couro sobre os ombros.
Entre eles, uma dupla se destacava. Ambos possuíam anéis de ferro e prata, sinal de maior experiência e de terem passado por mais provações. O homem, alto, com cabelos ruivos amarrados em um coque, vestia um saiote típico do norte do velho mundo. A mulher, com uma cicatriz que cruzava o rosto e pele negra, vestia roupas coloridas – algo incomum entre os Mancers, que geralmente preferiam discrição. A igreja ainda nutria preconceitos contra pessoas de pele negra, apesar das habilidades dos Mancers serem o foco principal.
O frio penetrante e a névoa densa criavam uma atmosfera de incerteza e mistério. Essa dupla, com sua experiência e coragem, era um farol de esperança para os mais jovens. Juntos, todos se preparavam para enfrentar a ameaça desconhecida que aguardava em Ikor. A jornada estava apenas começando, e o destino de todos estava entrelaçado com o mistério e o perigo daquele novo mundo.