SOSHI AYAMI
"Ao que parece existe intriga em outras casas também honrado Oto-san. E o Dragão não quis esperar... Hanbei-san é impaciente e isso pode levar a imprudência. E pelo que consta iremos investigar muitas coisas e quem sabe eu finalmente possa lançar uma luz sobre a sombra que paira sobre nosso próprio clã. - era uma afirmação antiga, pois o pai já sabia que a filha estava quebrando a cabeça sobre dita corrupção no clã, mas as outras noticias sim eram novidades.
Soshi Haruyoshi, o pai de Ayami, ouviu-a com atenção;
Enquanto Ayami falava sobre Soshi Kitaiko e os olhos e ouvidos que ela controlava, Haruyoshi inclinou-se levemente para frente, seus dedos cruzados diante do queixo. A menção de Kitsuke Hanbei o fez suspirar, um raro sinal de desconforto.
- Os Dragões nunca foram adeptos da paciência, isso é verdade. Mas cuidado com Hanbei, filha. Ele é perigoso de maneiras que ele mesmo talvez não compreenda. Sua imprudência pode ser uma espada de dois gumes, cortando tanto seus inimigos quanto seus aliados.Quando Ayami mencionou sua intenção de investigar as sombras sobre o clã, o rosto de Haruyoshi tornou-se ainda mais sério. Ele sabia que aquela determinação vinha de algo muito mais profundo que simples lealdade. Os olhos de Ayami frequentemente revelavam a presença do espírito que a assombrava, um ancestral que parecia tanto guiá-la quanto atormentá-la. Haruyoshi nunca reconhecera diretamente a presença do espírito, mas sempre parecia saber quando ela estava por perto.
- Se lançar luz sobre essas sombras for seu caminho, faça-o com cuidado. A escuridão é parte da nossa essência, Ayami. Não subestime o que pode encontrar ao buscar as raízes dessa corrupção. Nem todos os segredos estão prontos para serem desvendados.Ayami sentiu a presença do ancestral intensificar-se. Ele parecia pairar sobre seu ombro, uma figura indistinta, mas carregada de autoridade e expectativa. A voz sussurrante do espírito era clara para ela, insistindo para que continuasse, para que ousasse ir além do que qualquer outro Soshi tinha coragem de fazer.
Haruyoshi a observou por um longo momento, seus olhos buscando algo que ele não verbalizou. Então, ele acenou com a cabeça, aceitando sua determinação.
- Se este é o caminho que você escolhe, Ayami, que seja. Mas lembre-se: os Escorpiões sempre dançam na beira da lâmina. Faça o possível para garantir que essa lâmina não seja virada contra você.Com isso, ele levantou-se, indicando que a conversa estava encerrada. Ayami inclinou-se profundamente mais uma vez, sentindo o peso das palavras do pai. Quando ela saiu do aposento, o espírito ancestral permaneceu ao seu lado, silencioso por enquanto, mas claramente satisfeito com sua decisão de continuar. A noite seria longa, mas Ayami já sentia que estava um passo mais perto de desvendar o véu de mistérios que envolvia seu clã.
O amanhecer chegou lentamente para Soshi Ayami, com os primeiros raios de sol filtrando-se pelas finas janelas de papel do seu quarto. A luz dourada tingia o ambiente em tons quentes, contrastando com as sombras dos móveis simples, mas cuidadosamente organizados. O som distante de sinos carregados pelo vento e o suave farfalhar das árvores no jardim da casa Soshi marcaram o início de mais um dia nas Colônias.
Do lado de fora, as primeiras movimentações da casa começaram a fazer-se ouvir. Servos caminhavam pelos corredores, cuidando das tarefas matinais, enquanto o som abafado de passos no dojo da família indicava que algum treinamento já havia começado.
A serenidade do momento foi interrompida por um som suave de passos na direção dela. Uma das jovens servas aproximou-se e, com uma reverência discreta, informou que mensagens haviam chegado durante a noite. Ayami agradeceu com um leve inclinar de cabeça e se levantou, o chá ainda aquecendo suas mãos.
Havia cartas a ler, decisões a tomar e, possivelmente, uma nova trama para desatar no intrincado tecido das Colônias.
DOJI RURI
Doji Ruri permaneceu à janela, sentindo o frescor da noite acariciar seu rosto. O brilho prateado da lua refletia-se em seus olhos enquanto ela observava o céu estrelado, um mosaico infinito que a fazia sentir-se pequena, mas parte de algo grandioso. Era nesses momentos de quietude que sua mente se acalmava, as inquietações do dia escoando como tinta diluída em água.
A tensão com seu avô era algo que sempre a acompanhava; ele queria moldá-la como uma espadachim impecável, mas seu espírito ansiava por telas, pincéis e palavras.
No entanto, sua mãe, Yukina, a tranquilizava de uma forma que nem mil palavras poderiam alcançar. O chá ainda deixava um calor confortável em suas mãos, e ela se permitiu mais um gole antes de colocá-lo de lado. A pergunta que fizera à mãe ecoava em sua mente.
- O vovô foi assim com você também?A resposta silenciosa no olhar de Yukina fora clara: sim, e talvez até mais rigoroso. Mas sua mãe era uma mulher de força incomensurável, e Ruri sabia que o mesmo sangue corria em suas veias.
Quando finalmente se afastou da janela, Ruri deitou-se para dormir.
O primeiro som que Doji Ruri ouviu ao despertar foi o canto de um pássaro no jardim. Era uma melodia suave e repetitiva, como se a natureza a estivesse saudando com delicadeza. O calor do sol nascente começava a infiltrar-se pelas janelas de papel do quarto, banhando o ambiente em um dourado suave.
No corredor, ouviu os passos leves de uma serva que trazia seu café da manhã em uma bandeja. Quando a porta deslizou, a jovem inclinou-se em respeito e colocou o serviço no tatame próximo. Ruri agradeceu com um sorriso gentil antes de se servir. O chá estava quente e aromático, e a refeição simples – arroz, peixe grelhado e picles – era suficiente para energizá-la sem pesar.
Após a refeição, dirigiu-se ao jardim, onde o som de água corrente e o aroma das flores ajudavam a clarear sua mente. Lá, ela praticou seu kata matinal, os movimentos precisos e elegantes refletindo a harmonia que buscava em sua vida. O vento brincava com as pétalas das cerejeiras e seus cabelos soltos, enquanto sua katana cortava o ar com precisão silenciosa.
KITSUNE MIO
Quando Byako Kaioh se retirou, deixando a luz bruxuleante da lanterna iluminar seu caminho até os aposentos, Kitsune Mio permaneceu sentada, envolta em reflexões profundas. O vapor do chá subia em espirais delicadas, dançando na brisa leve que atravessava o pátio. Ela tomou um gole da bebida, o sabor terroso e levemente adocicado se espalhando em sua boca, como uma âncora que a conectava ao momento presente.
A luz das estrelas era suficiente para iluminar os caminhos de terra e as pontes de madeira que atravessavam os riachos. Cada passo era um lembrete de tudo o que havia aprendido na companhia dos Kitsune: a conexão com o Chikushudo, a importância de ouvir não apenas os sons do mundo, mas o silêncio entre eles.
Quando finalmente fechou os olhos, o som do vento e da água a embalaram em um sono tranquilo, mas seu coração ainda estava repleto de perguntas. O dia seguinte prometia mudanças, e Mio sabia que deveria estar pronta para enfrentá-las, guiada pelas lições de sua mãe, pela sabedoria dos Kitsune e pela força silenciosa que vinha cultivando ao longo dos anos.
O amanhecer chegou lentamente, derramando seus primeiros raios dourados sobre o vilarejo dos Kitsune. Kitsune Mio despertou com a suavidade de um canto distante de pássaros, um som melodioso que parecia ecoar entre as árvores. O frescor da manhã invadiu o aposento através da janela aberta, carregando o aroma doce das flores que começavam a se abrir com o calor do sol.
Mio se sentou, ajustando o quimono leve que havia usado para dormir, e respirou profundamente. O ar da manhã era como um elixir, revigorante e cheio de promessas. Levantou-se e foi até a janela, onde a vista do jardim a recebeu com sua habitual tranquilidade. Os pequenos lagos refletiam o céu claro, enquanto uma leve névoa ainda pairava sobre a grama, dissipando-se aos poucos sob a luz crescente.
Ela saiu para o jardim, descalça, sentindo a terra úmida e fresca sob os pés. Cada passo era como um lembrete da conexão que tinha com aquele lugar, com a natureza que sempre fora seu refúgio. Uma leve brisa agitava as folhas das árvores, como se sussurrassem segredos antigos, e Mio parou por um momento, fechando os olhos para ouvir melhor.
No centro do jardim, próximo a uma pedra lisa onde costumava meditar, Mio se ajoelhou, erguendo o rosto para o céu. Sua mente voltou aos ensinamentos de sua mãe, Kakita Harumi, que sempre dizia:
"Cada manhã é um novo começo. Não importa o que aconteceu ontem, o amanhecer traz uma nova chance de encontrar equilíbrio."O aroma de arroz cozido e chá fresco preenchia o ar, e os sorrisos calorosos daqueles que ela considerava sua segunda família a saudaram. Byako Kaioh estava lá também, já desperto, acariciando um pequeno pardal que parecia ter pousado em seu ombro como um mensageiro de outro mundo. Ele não disse nada, apenas deu um leve aceno de cabeça para Mio, um gesto que parecia dizer:
"O dia começou, e ele trará suas respostas."Enquanto tomava seu chá, Mio olhou para o horizonte, onde as montanhas distantes se erguiam como sentinelas silenciosas. Hoje, sabia que sua jornada daria um novo passo, impulsionada pela convocação da princesa. Mas naquele momento, envolta pela serenidade do amanhecer, ela se permitiu uma última pausa, um momento de paz antes de encarar o destino que a aguardava.
KITSUKI HANBEI
O samurai Aranha deu um passo à frente, seu sorriso debochado se ampliando enquanto os outros dois mantinham as mãos próximas às empunhaduras de suas armas. Ele inclinou ligeiramente a cabeça, como um predador analisando sua presa.
- Buscar respostas? - repetiu ele com sarcasmo
- Parece que o Magistrado Dragão é ousado... ou apenas tolo. Caminhar sozinho pelas estradas à noite pode ser perigoso, Kitsuki-san. Especialmente com tantos... "incidentes" ocorrendo ultimamente.Os outros samurais riram baixinho, seus olhos fixos em Hanbei como lobos cercando uma presa.
Mas o sorriso do líder desapareceu por um momento, substituído por um brilho calculista em seus olhos. Era evidente que ele não estava acostumado a ser desafiado, ainda mais de forma tão sutil. Ele inclinou a cabeça para um lado, como se considerasse suas opções, antes de dar um sinal quase imperceptível para os outros dois.
- O Kitsuki é esperto - disse ele, recuando um passo
- Mas a estrada ainda é longa, e você está sozinho. Lembre-se de que não somos inimigos, magistrado... por enquanto. Que o destino o leve para onde deve estar.Com isso, ele fez um gesto para que os outros recuassem, mas não sem antes lançar um último olhar ameaçador para Hanbei. Os três samurais desapareceram nas sombras tão rapidamente quanto haviam surgido, deixando o magistrado sozinho na estrada novamente.
Hanbei não relaxou imediatamente. Seus olhos varreram a área, os sentidos ainda aguçados. Ele sabia que o encontro não era coincidência. Talvez o Clã Aranha estivesse envolvido nos eventos que ele investigava, ou talvez fosse apenas uma tentativa de mostrar poder. De qualquer forma, sua presença claramente incomodava.
Mais perguntas do que respostas. Mas cada passo me aproxima da verdade.
A brisa noturna continuava a soprar, mas agora parecia mais fria, como se antecipasse os perigos que ainda estavam por vir.