23 de Eleint de 1372
A visão das Montanhas Inferiores era assombrosa.
Os Cavaleiros Celestes, guardiões imóveis que protegem a fronteira oriental de Chessenta, tem sua grandeza, mas as Inferiores iam além. De Maranheterna era possível ver apenas a silhueta da cordilheira, um vulto sombrio que se erguia da terra imponentemente capaz de vencer qualquer tolo que se aventurasse por seus caminhos. Suntzur ainda estava descobrindo as muitas belezas do Norte, tão diferente das terras dos Antigos Impérios. Além das diferenças geográficas, as culturais eram enormes. O povo do Norte é muito mais taciturno que os sulistas, que vivem cada dia ao máximo. Provavelmente a vida dura tenha tornado o povo o que é hoje, mas o sacerdote percebeu que, apesar disso, as pessoas que vivem nas Fronteiras Prateadas não são infelizes ou deixam de viver com medo do que pode acontecer. Hordas de orcs, dragões, gigantes ou simplesmente o frio... Todas estas ameaças espreitam o dia de quem se arrisca em viver no Norte, mas ao invés de escolherem o medo, as pessoas daqui preferiram a resiliência e o estoicismo.
As cidades do Norte também eram diferentes daquelas em Chessenta na arquitetura e no cotidiano. Além das cinco vias principais, Maranheterna tem ruas estreitas e casas próximas demais umas das outras. O cheiro de lenha queimando está impregnado no ar, assim como as vozes que chegam carregadas de sotaque da mistura de idiomas. Suntzur entendia bem o chontadan, passou meses estudando o idioma, mas percebeu que de pouco valeu quando vai conversar com um comerciante ou o dono de alguma estalagem e tem que pedir para que ele fale mais devagar e tudo piora quando alguém que tem illuskan como sua língua-mãe fala em chondathan com o sacerdote. Para as pessoas do sul, o Norte é apenas um grande lugar inóspito e gelado e espalhado por ele habita o mesmo povo, mas essa ideia estava muito longe de ser verdade. Os idiomas eram a menor diferença cultural e, se Suntzur estava disposto a cumprir sua missão, deveria entender todas elas.
Além disso, Suntzur tinha muito que estudar sobre os conflitos que rondavam o Norte. Logo o sacerdote se familiarizou com o nome Obould Muitas-Flechas e seu exército de orcs, que guerreiam contra os povos das Fronteiras Prateadas há anos. A própria criação das Fronteiras, pelo que compreendeu, teve como um de seus motivos o Rei Obould dos orcs. Havia também Obscura. Suntzur ainda não sabia muito sobre a cidade, mas o pouco que aprendeu já era o suficiente para ele entender a gravidade da situação. Dentre os poucos temas que havia estudado em História Antiga, um deles tinha sido sobre Karsus, um arquimago netherese, e como ele havia ascendido à divindade se utilizando de uma magia, matando Mystra e causando o colapso de Netheril no processo. Acreditava-se que todos os magos netherese haviam morrido, mas uma das cidades flutuantes escapou e retornou depois de séculos no Plano das Sombras: Obscura. As consequências da guerra dos arquimagos netherese com as Fronteiras Prateadas, Cormyr e Águas Profundas ainda é palpável. Suntzur vê nesses dois conflitos o foco principal de seu trabalho.
Suntzur caminhava com seus passos habituais pelas ruas de Maranheterna. Tinha chegado na cidade há uma dezena e meia e se hospedou na estalagem O Chapéu Maltratado. O preço era justo pelo serviço oferecido e os halflings que cuidavam do lugar propiciavam um ambiente agradável. Suntzur viu o céu cinza e ouviu os trovões quando saiu para ir até o Mercado do Sino comprar alguns produtos com um mercados chessenti e o vento trazia o cheiro de chuva, o que fez o emissário da Senhora da Estratégia tremer por antecipação. As pessoas passavam apressadas pelo clérigo, que não conseguiu evitar ser pego pela forte chuva ainda no mercado. A água gelada, trazida pelo vento frio, batia contra o rosto de Suntzur enquanto seu corpo se enrijecia e sua alma congelava.
O sacerdote entrou no Chapéu Maltratado ensopado e tremendo, desesperado por um banho quente, e atraiu breves mas intensos olhares sobre si... Ainda era o estrangeiro que poucos conheciam. O prédio em forma de 'L' tinha três andares e o primeiro era um grande salão comum decorado com cabeças de veados e antigos mapas de praticamente todos os lugares. A cozinha e o balcão ficam em um dos cantos e o calor e o cheiro de porco assando que dominavam o lugar foram o suficiente para dar algum conforto à Suntzur. Mas água gelada ainda pingava do clérigo.
A visão das Montanhas Inferiores era assombrosa.
Os Cavaleiros Celestes, guardiões imóveis que protegem a fronteira oriental de Chessenta, tem sua grandeza, mas as Inferiores iam além. De Maranheterna era possível ver apenas a silhueta da cordilheira, um vulto sombrio que se erguia da terra imponentemente capaz de vencer qualquer tolo que se aventurasse por seus caminhos. Suntzur ainda estava descobrindo as muitas belezas do Norte, tão diferente das terras dos Antigos Impérios. Além das diferenças geográficas, as culturais eram enormes. O povo do Norte é muito mais taciturno que os sulistas, que vivem cada dia ao máximo. Provavelmente a vida dura tenha tornado o povo o que é hoje, mas o sacerdote percebeu que, apesar disso, as pessoas que vivem nas Fronteiras Prateadas não são infelizes ou deixam de viver com medo do que pode acontecer. Hordas de orcs, dragões, gigantes ou simplesmente o frio... Todas estas ameaças espreitam o dia de quem se arrisca em viver no Norte, mas ao invés de escolherem o medo, as pessoas daqui preferiram a resiliência e o estoicismo.
As cidades do Norte também eram diferentes daquelas em Chessenta na arquitetura e no cotidiano. Além das cinco vias principais, Maranheterna tem ruas estreitas e casas próximas demais umas das outras. O cheiro de lenha queimando está impregnado no ar, assim como as vozes que chegam carregadas de sotaque da mistura de idiomas. Suntzur entendia bem o chontadan, passou meses estudando o idioma, mas percebeu que de pouco valeu quando vai conversar com um comerciante ou o dono de alguma estalagem e tem que pedir para que ele fale mais devagar e tudo piora quando alguém que tem illuskan como sua língua-mãe fala em chondathan com o sacerdote. Para as pessoas do sul, o Norte é apenas um grande lugar inóspito e gelado e espalhado por ele habita o mesmo povo, mas essa ideia estava muito longe de ser verdade. Os idiomas eram a menor diferença cultural e, se Suntzur estava disposto a cumprir sua missão, deveria entender todas elas.
Além disso, Suntzur tinha muito que estudar sobre os conflitos que rondavam o Norte. Logo o sacerdote se familiarizou com o nome Obould Muitas-Flechas e seu exército de orcs, que guerreiam contra os povos das Fronteiras Prateadas há anos. A própria criação das Fronteiras, pelo que compreendeu, teve como um de seus motivos o Rei Obould dos orcs. Havia também Obscura. Suntzur ainda não sabia muito sobre a cidade, mas o pouco que aprendeu já era o suficiente para ele entender a gravidade da situação. Dentre os poucos temas que havia estudado em História Antiga, um deles tinha sido sobre Karsus, um arquimago netherese, e como ele havia ascendido à divindade se utilizando de uma magia, matando Mystra e causando o colapso de Netheril no processo. Acreditava-se que todos os magos netherese haviam morrido, mas uma das cidades flutuantes escapou e retornou depois de séculos no Plano das Sombras: Obscura. As consequências da guerra dos arquimagos netherese com as Fronteiras Prateadas, Cormyr e Águas Profundas ainda é palpável. Suntzur vê nesses dois conflitos o foco principal de seu trabalho.
Suntzur caminhava com seus passos habituais pelas ruas de Maranheterna. Tinha chegado na cidade há uma dezena e meia e se hospedou na estalagem O Chapéu Maltratado. O preço era justo pelo serviço oferecido e os halflings que cuidavam do lugar propiciavam um ambiente agradável. Suntzur viu o céu cinza e ouviu os trovões quando saiu para ir até o Mercado do Sino comprar alguns produtos com um mercados chessenti e o vento trazia o cheiro de chuva, o que fez o emissário da Senhora da Estratégia tremer por antecipação. As pessoas passavam apressadas pelo clérigo, que não conseguiu evitar ser pego pela forte chuva ainda no mercado. A água gelada, trazida pelo vento frio, batia contra o rosto de Suntzur enquanto seu corpo se enrijecia e sua alma congelava.
O sacerdote entrou no Chapéu Maltratado ensopado e tremendo, desesperado por um banho quente, e atraiu breves mas intensos olhares sobre si... Ainda era o estrangeiro que poucos conheciam. O prédio em forma de 'L' tinha três andares e o primeiro era um grande salão comum decorado com cabeças de veados e antigos mapas de praticamente todos os lugares. A cozinha e o balcão ficam em um dos cantos e o calor e o cheiro de porco assando que dominavam o lugar foram o suficiente para dar algum conforto à Suntzur. Mas água gelada ainda pingava do clérigo.