Recomendações de leituras

O que dizer das crônicas de Artur?

Bernard Cornwell foi fantástico na narrativa, intenso nas emoções e marcante em cada frase de efeito e guerras vibrantes.
Nunca mais vou descrever/ler/ver uma batalha igual antes, depois de ler esse livro... Me lembrarei do fervor e desespero de uma parede de escudos.
De todas as versões de Artur que já li e vi, essa é a melhor de todas.

O Merlim é simplesmente fantástico, ele brinca com a crendice de todos, é tão inteligente quanto esperamos que ele seja, tão velho quanto rabugento e tão fantástico quanto humano.

Derfel é absurdo. É um guerreiro que pensa muito pouco além da espada, da lealdade e do amor. E justamente por ser simples, ele é sensacional. Ele conta o quanto viveu e participou da história de Artur, sendo inicialmente um filho de uma escrava saxã e crescendo com sua lança e espada até se tornar um grande comandante. Sua lealdade e amor é emocionante.
Sem falar na sua devoção absurda pela Estrela de Powys.

Guinevere é uma mulher diferente dos outros contos, histórias e séries. Ela é genuinamente gananciosa, audaciosa, bela, inteligente e...bem, sabia disso. E por saber demais isso e ter ambições demais errou, e com o erro foi o que nenhuma mulher naquela época poderia ter sido.

Lancelot.....o grande Lancelot das histórias arturianas, o grande e leal amigo de Artur em tantas versões da lenda.... Aqui é um traidor covarde e imundo que não soube agradecer e ser feliz com o que Artur lhe dava. Tramou e traiu, tentou usurpar o trono, abandonou a antiga fé, não lutou as guerras, mas mandou marchar contra Artur após a traição imperdoável nos lençóis negros de Isis.
Cornwell oferece uma versão muito mais realista e dolorosa de Lancelot que me agradou, surpreendentemente.

Morgana...
Morgana irmã de Artur, uma mulher castigada e amarga em inúmeras versões da lenda e que, em várias, é ditada como a grande inimiga de Artur, nessa trilogia é uma mulher sofrida, despedaçada e desfigurada. Que foi substituída como aprendiz de Merlim por Nimue e casou-se com uma figura cristã.
Ajudou em alguns momentos o governante.

Nimue, como citada, é uma das aprendizes de Merlim que simplesmente enlouqueceu. Foi estuprada, perdeu um olho, e realmente alcançou a demência... Mas era obstinada e tao bem construída que fazia todo o sentido que fosse exatamente....ela.
Ela foi uma inimiga, um empecilho, uma amiga, uma protetora, uma amante...
Louca, mas fantástica.

Mordred, aclamado rei criança e, depois, aclamado novamente como o homem que assumiria o trono.
Nasceu com o pé torto, um péssimo preságio perante os pagãos. Certamente no final da leitura, desejamos que ele tivesse sido morto assim que nasceu aleijado, porque ele é um verdadeiro patife, fraco, traidor e ganancioso.
Um rei deve ter em mente primeiro o seu povo, mas ele via em primeiro lugar a si próprio e a sua ganancia não tinha fim. Era desprezível, odiado e temido pelas mulheres virgens aos arredores de todos os que foram designados a educá-lo... Mas mesmo depois de uma infância sendo surrado por guerreiros, ele não melhorou.
Era mais teimoso que o aço e o ferro.

Não houve um personagem sequer mau construído. Galahad, Cuneglas, Sagramor...e outros inúmeros comandantes, guerreiros e conselheiros fantásticos! Cristãos, pagãos, leais, gananciosos, inimigos, aliados, heróis, soldados...
Absolutamente todos incríveis dentro de uma história incrível, bem narrada, fácil, dinâmica...FODA.

E claro, havia Artur.

Artur, o rei que nunca foi coroado. O único que tinha o apoio de todos para reinar e nunca reinou. Artur que tinha o sonho de ser ferreiro e criar gados em um pequeno espaço de terra. Artur, o inimigo de deus, o destemido herói que salvou a Britânia de todos, menos dos próprios britânicos.
Artur, que teve seu coração destruído pelo amor e seus ombros amassados pelo peso de juramentos. Um amigo, um lorde, un guerreiro, um herói bastardo...

Artur, Odi at amo, excrucior


Bernard Cornwell foi absurdo.
Mas absurdo mesmo é o Destino ser Inexorável.
Grande obra. Super recomendo.