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    [Narração] Victorine (Krystallia)

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    [Narração]   Victorine (Krystallia)  Empty [Narração] Victorine (Krystallia)

    Mensagem por Bastet Sáb maio 27, 2017 8:45 pm



    C h r y s a l i s
    Narração - Victorine (Krystallia)

     
    [Narração]   Victorine (Krystallia)  6ZV8z7c


    Sweet dreams are made of this
    Who am I to disagree?



    Sabe aquele momento de um pesadelo, quando você tem certeza que aquilo é apenas uma noite ruim de sono, mas, ainda sim, continua temendo? Continua chorando e gritando, para tentar se livrar daquela angústia, até acabar acordando suada, com medo, com os lábios úmidos de sangue e as pernas bambas? Pois é, após todo sonho ruim, você percebe que o “mundo real” ainda está ali, assim que abre os olhos, e uma sensação de alívio lhe consome, não é mesmo? Mas o que você faria, se, como a jovem Victorine, não pudesse acordar?

    [...]

    I traveled the world and the seven seas
    Everybody's looking for something


    Antes do fatídico verão, Vic era uma adolescente comum, enfrentando os dramas comuns de uma jovem de 15 anos. Além disso, enfrentava toda pressão e maravilhas de ser uma patinadora artística. Era uma vida boa, com muitas alegrias e conquistas. Os pais dela também eram artistas, então a menina tinha todo o incentivo para seguir a carreira, além de não ter problemas quanto ao custeio de suas viagens, acessórios e professores. Enfim, tudo em sua vida estava indo muito bem, até que, em uma apresentação decisiva para a sua carreira, ela viu pernas de bode, no amigo que a segurava.

    Após isso, somente  o declínio da sanidade Banal da menina aumentou... E a tristeza e a decepção tomaram lugar da alegria e vitórias, na vida de Victorine.


    Some of them want to use you
    Some of them want to get used by you


    Os pesadelos começaram a ser frequentes e cada vez mais terríveis... Apesar disso, pareciam apenas pesadelos. A jovem Sidhe apenas descobriu o que eram, de verdade, quando um deles, o pior e mais terrível de todos, aconteceu: sua família foi morta em um atentado terrorista, sendo ela a única sobrevivente.  “Eu sabia, vovó! Eu sabia que isso ia acontecer!” confessou baixinho, no enterro da família. A avó apenas soltou a mão da jovem, pensando que ela estava tentando aparecer de um jeito mórbido demais... Mas nunca mais pegou na mão da neta, depois disso.

    [...]

    Os meses que se passaram não foram mais fáceis. A menina havia ouvido diversas vezes a avó conversando com adultos, falando que a neta estava se tornando esquizofrênica.  Mesmo que Vic tivesse parado de falar com a avó, sobre as suas visões e sobre o mundo esquisito que via cotidianamente, agora, a idosa conseguia ver a jovem chorando baixinho enquanto conversava com a parede... Ou lendo baixinho coisas estranhas que escrevia em seu diário. Certa noite, enquanto ela estava escondida no armário da cozinha, ouviu a avó no telefone, marcando uma “consulta”.


    Some of them want to abuse you
    Some of them want to be abused



    As consultas se tornaram frequentes. O psicólogo que ela ia era bem bonzinho e parecia um Hobbit, de senhor dos Anéis. Apesar de nunca terem falado sobre o que eram, ele sempre conseguia tranquilizar a menina, com conversas calmas e histórias da juventude dele. Mas, como as coisas estranhas não pararam, a avó resolveu que era hora de algo mais incisivo.

    Não aguento mais, Vic! Não aguento!” foi a última coisa que ouviu da avó, enquanto ela arrumava as malas da menina. Um pouco antes, havia rasgado todos os cadernos da menina, além de jogar o Cello no jardim, pois ela dizia que as músicas que a jovem tocava lembrava muito os falecidos pais dela.

    A ambulância chegou.
    O mundo, tão cheio de beleza colorida aos olhos dela, adquirira, muito rápido, tons de cinza assustadores.

    [...]


    Sweet dreams are made of this
    Who am I to disagree?


    Já passava da meia noite e Victorine ainda estava acordada. As luzes de todo o hospital já haviam sido apagadas e o escuro reinava no quarto pequeno e monocromático da menina. Estava frio. Caso se mexesse um pouquinho, poderia sentir as barras de ferro com a ponta dos dedos do pés e a sensação gelada, provinda delas, invadir seu corpo, tornando aquele cobertor fininho ainda mais inútil. O ar era úmido e salgado, pois o hospital ficava sobre um morro ao lado do mar, piorando ainda mais a sensação de dormir lá, nos dias frios. E o escuro era escuro. Talvez o único momento em que Vic enxergasse as coisas da mesma forma que as pessoas “sem filtro”, como ela intitulava os humanos comuns.

    [...]

    Como toda noite, o silêncio, vez ou outra, era interrompido por gritos.  Victorine estava aprendendo a identificar quando eles eram de medo ou de dor... e, naquela noite, teve a impressão de ouvir ambos, de uma só pessoa.

    Apesar de gostar de aproveitar o escuro, a jovem acabou indo dormir, apertando o travesseiro contra os ouvidos, para abafar aquele som que parecia a machucar tanto quanto a dor e o medo machucavam a pessoa que gritava.

    [...]

    Sonhou com o dia do acidente. A família feliz no carro, todos cantando uma música bem antiga, que o pai adorava. Estavam a caminho do lugar que todos eles morreriam, exceto ela. Ao seu lado, o seu irmão sorriu de forma macabra e disse “você sabia”, a mãe a observava do espelho, com o corpo todo ensanguentado “Por que não nos ajudou?”, o pai ainda cantarolava, uma canção de culpa direcionada a filha. Um de seus olhos pulavam para fora da órbita, apenas com um “fio” vermelho o segurando, enquanto ele descansava na bochecha do pai.

    As vozes não cessavam, culpando a menina por todo o acontecido.
    Um culpa que ela, realmente, sempre pensara ter.

    [...]

    Apesar de os remédios para dormir serem bem pesados, Vic não os havia tomado. Guardara para trocar pela gelatina de Jenny, no almoço, que era batizada com antidepressivos. A jovem adorava o efeito dos antidepressivos no corpo, mas não recebia nenhum, pois os medicamentos de esquizofrenia eram muito fortes.

    Sem o efeito dos remédios, conseguiu acordar daquele pesadelo, devido a angústia e o medo presente em seu corpo. Apesar de acordar, estava sem coragem de abrir os olhos. Sentia que algo estava errado.


    As vozes assustadoras e culposas ainda sussurravam no ouvido da menina, só que, ao invés das vozes de sua família, ouvia algo assustador, rouco e profundo. O quarto estava ainda mais gelado, "congelando" os membros dela. Uma gota de algo viscoso pingou em seus lábios.






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    [Narração]   Victorine (Krystallia)  Empty Re: [Narração] Victorine (Krystallia)

    Mensagem por Persephone Sáb maio 27, 2017 11:51 pm



    C h r y s a l i s
    Victorine (Krystallia)

     

    I had given up
    I didn't know who to trust
    So I designed a shell
    Kept me from heaven and hell



    Victorine se encontrava sentada no leito, com as pernas penduradas. Os pés não chegavam a tocar no chão devido à diferença de altura - e era até bom que não tocassem, afinal, ela não sentiria nada além do piso frio. As mãos estavam viradas para cima, sobre suas coxas enquanto os dedos deslizavam suavemente pelo pingente de seu colar. O quarto estava completamente escuro e quem chegasse num primeiro momento, não conseguiria dar nenhum passo no meio daquele breu. Porém, depois de se acostumar à escuridão e à solidão, a jovem conseguia distinguir perfeitamente os poucos moveis que haviam ali e, principalmente, as silhuetas das peças brancas (tanto da cama quanto de seu roupa).

    Bom, pelo menos enxergava quando sua vista não estava toda embaçada pelas lágrimas. Vez ou outra elas caíam, geladas e salgadas como o ambiente, sobre seus dedos e o cristal em suas mãos ganhava uma camada de brilho. As lágrimas nem faziam mais força para rolarem pelo delicado rosto e Victorine mal as sentia. Verdade que quando entrava naquele estado de introspecção e letargia, ela não sentia quase nada. Nem ao menos o frio do metal gelado de sua cama parecia incomodá-la. Seu corpo tremia de modo involuntário, mas ela em si, não estava ali.

    A única coisa que a despertava eram os gritos.

    Os gritos de horror, dor e medo que ecoavam pelo corredor. Victorine finalmente piscou e puxou o ar com forças quando o ouviu. Os gritos a afetavam porque desencadeavam lembranças e não porque ela estivesse preocupada com a pessoa no corredor. Quando ouvia esse tipo de som, ela se lembrava daquele fatídico dia em que seu mundo virou completamente de cabeça para baixo e de menina prodígio ela passou a ser garota esquizofrênica.

    Como se tentasse se proteger daquelas memorias, ela levou o colar até o próprio pescoço - era um objeto que ela tinha carregado em segredo para lá quando foi levada. Tinha conseguido evitar que arrancassem dela e o faria a qualquer custo, porque tinha a sensação que era uma das poucas coisas que a ligava a sua sanidade. Perde-lo seria como perder a si mesma naquele local. Se tinha alguma esperança de sair dali, precisava ficar com ele.

    Não sabia quando seria, mas sabia que um dia aconteceria.

    Numa tentativa de fugir dos gritos, Victorine se deu por vencida e deitou. O lençol não cumpria sua função e ela provavelmente ficaria tremendo a noite inteira até o próprio corpo se acostumar. Os olhos inchados e ardidos se fecharam quando não suportaram mais ficar abertos. Encolheu-se completamente, unindo as mãos como se estivesse numa oração silenciosa. Uma oração que implorava por um pouco de paz, pelo menos em seus sonhos...

    Era pedir muito?

    And I had hit a low
    Was all I let myself know
    Yeah I had locked my heart



    Aparentemente sim.

    Pedir por um sonho bom era algo inútil. Primeiro porque não tinha para quem pedir e segundo porque, no fundo, ela sabia que merecia ver e reviver cada uma daquelas imagens. Mesmo que elas não seguissem o roteiro original, mesmo que não fosse a explosão na estação de trem, ela merecia ver o que sua família se tornou em questão de segundos. O problema é que mesmo sabendo que seus sonhos lhe trariam essas imagens, Victorine sempre começava acreditando neles...

    Novamente estava no carro ouvindo uma música da trilha sonora rockeira do pai. A mãe apenas revirava os olhos, rindo porque todos decidiram implicar com ela e cantar o refrão bem alto junto do pai que estava ao volante. Todos sorriam e Victorine ria ainda mais.

    Até que, antes mesmo de acontecer, ela soube o que estava por vir. Foi um calafrio que percorreu sua espinha durante o sonho até que virou para o irmão e ele disse as palavras mágicas "você sabia". Nesse instante, sonho e lembrança se misturaram. As imagens da explosão, dos gritos de horror, dos escombros e dos corpos desmembrados vinham à sua mente, como um vídeo de terror. E no sonho, aqueles espectros com as imagens finais deles, começaram a culpá-la.

    - Eu tentei...Eu avisei!

    Victorine murmurava enquanto sentia o espasmo do choro. Os labios se moviam rapidamente enquanto ela implorava por perdão e tentava se explicar.

    - Eu juro que tentei! Vocês não acreditaram em mim!!

    O nariz se mexeu um pouco enquanto o soluço a dominou. E foi graças ao soluço que ela respirou o mundo real e saiu daquele pesadelo. Os olhos continuaram fechados quando ela pulou da cama e sentou-se. Parecia uma sonâmbula à primeira vista, mas no decorrer daqueles meses, ela apenas havia se acostumado a nunca acordar abrindo os olhos de uma vez. A realidade podia ser ainda mais brutal. E seu corpo já estava avisando...que algo não estava de todo certo.

    I was imprisoned by dark.


    O coração ainda estava disparado, quase saindo da boca enquanto ela se deitava de novo, ainda de olhos fechados. Levou as duas mãos até os olhos, apenas deixando o nariz e os lábios de fora. Respirava de modo ofegante e engolia em seco várias vezes. As mãos estavam congeladas, assim como seus pés. Encolheu as pernas, procurando pelas cobertas e não fez nenhum som. Apenas sua respiração era ouvida.

    Pelo menos para os outros, porque para ela, os sussurros continuavam e estavam cada vez mais intensos. Porém, foi quando algo viscoso caiu em seus lábios que ela teve a certeza de que não estava sozinha. Tampou os dois olhos com uma mão só e dedilhou os lábios com o indicador da mão esquerda. Os dentes trincaram, o queixo tremeu, mas ela reuniu forças para dizer...

    - S-s-saia daqui.

    Engoliu em seco, puxou o ar e gritou.

    - SAAAAAAAAAAI!!!!!!!!!!!!!

    Com toda o fôlego que tinha em seus pulmões. O colar caiu para o lado, ficando visível e destacado na escuridão. Ele brilhava ainda mais diante daquela palavra de ordem.



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    [Narração]   Victorine (Krystallia)  Empty Re: [Narração] Victorine (Krystallia)

    Mensagem por Bastet Dom maio 28, 2017 11:51 pm



    C h r y s a l i s
    Narração - Victorine (Krystallia)

     

    O gosto era peculiar, quando aquela gota de líquido viscoso escorria entre os lábios da garota. Tinha gosto de medo puro, daqueles que faz sua espinha arrepiar e a mão ir, instintivamente, até o peito, na intenção de acalmar o coração que só não bate mais forte por falta de possibilidade. E esse medo era o dela. O sentira há poucos minutos, enquanto ainda estava no sonho... Apesar de, agora, ele parecer gostoso.

    A sensação era quase a mesma de quando ela era aplaudida, após uma apresentação. Mesmo que ela não sentisse essa sensação há muito tempo, afinal havia se aposentado há mais de um ano, ela se lembrava de como o corpo reagia àquilo. Era como se uma onde quente e dourada invadisse seu corpo, a cada palma dada, a preenchendo com felicidade e saciando algo que ela nunca entendera. Agora, sentia o mesmo, em uma quantidade bem menor... E ainda mais viciante. Era como se aquela gota desconhecida estivesse aflorando um lado dela que a jovem nunca conhecera, mas que estava doido para sair.

    Victorine, sem pensar muito, abriu os lábios por mais, em um transe estranho. Mas logo algo dentro de si começou a lutar contra, a fazendo gritar e mandar o que quer que fosse a fonte daquele líquido sair. O colar ajudou, dissipando a vontade sombria, transformando o quarto escuro em um ambiente azulado e aparentemente seguro. A menina podia sentir isso, mesmo com os olhos escondidos pelas mãos trêmulas.  Mas também podia sentir que a coisa ainda estava lá... Grunhindo alto, babando ainda mais sobre ela.

    “Você sabia, Krystallia... Por que não nos contou?”

    A criatura repetiu, se aproximando ainda mais. Podia sentir uma língua gelada passando cima do tecido da camisola comportada, praticamente o rasgando na direção do colo.  Logo uma língua bifurcada e gelada passava calmamente entre os seios da menina, subindo e subindo, procurando o colar. Podia sentir a língua indo em direção ao ombro e saindo de seu corpo. Logo ela sentia o calor do colar começar a se afastar.

    Só aí ela teve coragem de abrir os olhos. E se deparou com uma criatura horrenda, que pairava sobre ela. Não tinha começo, não tinha fim... Nem mesmo parecia ter olhos e boca. Era algo inimaginável para uma mente sã como a dela... Vendo aquilo, duvidou se estava mesmo sã.


    [Narração]   Victorine (Krystallia)  Bdfd1f0216879c0cc38343ed4e249a57


    A estrutura do colar estava destruída, e a criatura passava a pedrinha azulada de um lado da língua para o outro, sussurrando coisas incompreensíveis. O instinto da menina foi de tentar pegar... Mas isso causou uma fúria enorme na criatura, que começou a gritar e a rodear o quarto feito um furacão, derrubando os móveis, quebrando a luz, jogando a menina pra fora da cama.

    “Você sabia! Você Sabia! É sua culpa HAHAHAHAHAHA”

    Era como se ela soubesse apenas as palavras que a mente da garota criara. Logo uma outra bocarra se abrira na “barriga” da criatura e se inclinou na direção na menina.  Ela podia sentir o hálito podre, nem de perto tão gostoso quanto o líquido que provara anteriormente. Tudo se transformara em pura insanidade.

    Quando a menina pensara que tudo estava perdido, ouviu um rosnado baixo, vindo da porta de seu quarto. A criatura continuou gritando, mas voltou a atenção para o rosnado, dando uma “rabada” na menina, ao se virar, e a jogando contra a parede. Ela veria, na porta, uma silhueta que não soube identificar... Além das pernas... Eram... Eram de bode? O rosto estava protegido sob as sombras e uma chicote estava enrolado em suas mãos... Por pouco tempo.

    Logo o homem fez um movimento rápido, atingindo a criatura com o chicote que estalou na parede, a rachando, após atravessar a criatura, muito perto de Vic. Ele tinha um brilho roxo que seria lindo de ver, caso não estivesse naquela situação.

    A criatura gritou e se dividiu em duas, indo na direção do homem com pernas de bode. Os dois saíram correndo pelos corredores... e a jovem Sidhe sentiu a cabeça muito pesada, como se fosse desmaiar.



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    [Narração]   Victorine (Krystallia)  Empty Re: [Narração] Victorine (Krystallia)

    Mensagem por Persephone Seg maio 29, 2017 1:01 am



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    Victorine (Krystallia)

     

    Os queixo e os lábios realizavam movimentos involuntários graças ao medo que estava sentindo. Por mais que tentasse forçar o maxilar, os dentes dela rangiam até começarem a se chocar rapidamente. O liquido foi espalhado graças ao toque de seu indicador esquerdo, porém, não foi o suficiente para retirar tudo. O liquido já tinha atingido suas papilas gustativas e o sabor a embriagou com mais pavor. Voltou a levar a mão esquerda até o olho esquerdo, trazendo a mão direita para a posição inicial e ordenou para que a criatura saísse umas duas vezes. Na terceira, já não tinha mais tanta certeza de queria que fosse embora.

    O sabor que antes trazia o pavor, transformou-se em algo...prazeroso.


    Give me a sign
    Sing the words of innocence
    And broken pride
    Make my conclusions fail




    A lingua recebeu diretamente da fonte, mais daquela viscosidade e o gosto amargo do medo, tornou-se doce como o mel. Roçou a lingua no céu da boca e engoliu lentamente, sentindo um arrepio gostoso percorrer por todo seu corpo. De seus lábios, o ar saiu misturado com o suspiro que ela deu. Era como encerrar uma apresentação e recebeu os aplausos de pé.

    No gelo, ela também era dominada pelo pavor. O medo de cair e se machucar ou coisa pior sempre estava presente, era isso que gerava a adrenalina necessária para que os movimentos sempre fossem precisos e perfeitos. A música e a parceira, obviamente, embalavam o momento, mas ela sempre sentia o peso da responsabilidade sobre aquelas duas finas laminas: ali estaria seu paraíso ou sua danação. O medo era convertido em algo bom e tudo se mostrava perfeito no fim.

    Foi uma sensação semelhante que sentiu. Não podia dizer que era igual, porque era muito mais intenso.

    E ela queria mais.

    Soltou o ar pela boca de novo e abriu mais os lábios, esperando por mais. As mãos ainda estavam sobre seus olhos, mas o fato da fonte ter cessado, a aborrecia e quase fazia com que ela se esquecesse o porquê de proteger a visão. Até que seu coração falhou uma batida e uma voz doce sussurrou algo negativamente, como se pedisse para que ela voltasse a si e parasse. Os lábios se fecharam, então, e ela sentiu vergonha por ter apreciado algo que nem ao menos sabia o que era.

    Como podia aceitar uma invasão como ela?

    O colar também pareceu ajudá-la. Sentiu a região do peito esquentar, como se estivesse recebendo iluminação. A confiança retornou, espantando aquele lado sombrio de si. Porém, a presença ainda estava ali. Dizia seu nome, ou melhor, o nome que sussurravam para ela de vez em quando através do reflexo. E parecia querer conduzi-la, novamente, por aquele caminho de tristeza e medo eterno. Sua respiração vacilou ao sentir algo molhado e gelado subindo por cima de sua camisola.

    - Solte-me! Solte-me! Deixe-me em paz!!

    Encolheu-se, tentando se desvencilhar. A invasão a chocou e humilhou, como aquela coisa se atrevia a fazer isso com ela? Por que não conseguia fazer nada?

    - Não... - Grunhiu, encolhendo-se o máximo que pôde. A reação de fato só veio quando sentiu que sua única fonte de esperança e proteção a abandonara. - NÃO!

    Finalmente tirou as mãos dos olhos e esticou-se para pegar o colar, na sorte, pois não abriu os olhos logo de cara. Apenas no segundo seguinte, ela o fez e deu de cara com aquela criatura. Os olhos meio violetas, meio azulados, se arregalaram com aquela imagem horrenda. Meneou negativamente e deu dois pesados tapas na cara, como se quisesse despertar. O que via não podia ser real! Se ela ainda carregava um resquício de sanidade, aquilo só podia ser um pesadelo!

    Sim, um pesadelo dentro de outro

    - Não.Não.Não.Não...

    Murmurava, mas seu colar estava com aquela criatura. Victorine conseguiu se focar, olhando para a estrutura destruída e foi tomada por uma coragem para pegá-lo de volta. Deu um pulo como um gato, mas aquilo pareceu aborrecer a criatura que começou a correr por todo o quarto, parecendo uma sombra. Uma sombra que destruía tudo e criava um furacão escuro ali. Vickie estava no meio da cama, sentada e, mesmo assim, foi derrubada ao tentar pegar o colar de novo. Caiu para o lado oposto da cama - e não foi uma queda bonita. O leito era alto e ela já estava perturbada demais. Caiu de lado, sobre seu braço e perna esquerda. Gemeu de dor e tapou os ouvidos para os impropérios que ele dizia.

    - NÃO FUI EU!!!!

    Berrou de volta enquanto tentava se levantar. No meio do processo, uma bocarra começou a se abrir com um cheiro podre e nojento. Não teve duvidas de que morreria ali - engolida ou em colapso com toda aquela insanidade. As lágrimas ja escorriam pelos olhos dela de novo até que ouviu o rosnado que chamou a atenção da criatura. Não sabia o que poderia ser, mas sabia que vinha da porta. Os labios rachados, voltaram a tremer, mas antes que conseguisse fazer ou dizer qualquer coisa, tomou um golpe potente na altura da cara - estava de joelhos, se levantando - e voou contra a parede. Ficou completamente atordoada antes de cair no chão.

    Através dos pés da cama, via uma perna de...bode?

    Lembrou-se das pernas de bode que vira em seu amigo, quando tudo começou.

    Os olhos começaram a vacilar, fechando enquanto ouvia o chicote colidindo na parede. Tudo começou a ficar lento de novo, os passos ecoavam mais devagar...E a consciência a abandonava.

    - Meu...colar...

    Mexeu a mão na direção da porta, mas não conseguiu fazer mais nada.

    Filetes de sangue escorriam da testa e dos lábios. O lado esquerdo do rosto parecia arroxeado e um pouco inchado. Fora tudo isos, ainda passaria um tempo no frio gelado do quarto.

    Sem seu colar, Victorine achou que realmente tinha encontrado seu fim.


    Send me a sign
    Heal this broken melody
    'Cause each night
    I die in Hell





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    [Narração]   Victorine (Krystallia)  Empty Re: [Narração] Victorine (Krystallia)

    Mensagem por Bastet Qua maio 31, 2017 4:58 pm



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    Narração - Victorine (Krystallia)

     

    Ao abrir os olhos, tudo parecia estranhamente quieto e normal. Assim como todas as manhãs, a janela estava fechada, mantendo o quarto escuro e com cheiro de mofo; o cobertor fininho estava sobre as pernas dela e o travesseiro embolorado cutucava sua cabeça nos pontos mais desconfortáveis, parecendo ser feito justamente para incomodar. Do lado de fora, podia ouvir os saltos das enfermeiras indo para lá e para cá, em uma rotina comum, de levar e trazer medicamentos aos seus pacientes. Falando nisso, em breve seria a vez dela. Victorine havia criado uma rotina, desde que chegara ali: seu corpo sempre despertava às 6:55 da manhã, cinco minutos antes de receber seus remédios e 20 minutos antes de ter de descer para tomar café. Apesar de não ter um relógio no quarto, a menina sabia que ainda estava dentro da sua rotina, mesmo com os acontecimentos da noite passada...

    Mas o que havia acontecido de fato?

    Victorine se lembrava de tudo, apesar de as lembranças estarem bem confusas e fora de ordem. Se lembrava do sonho, da criatura, do homem-cabra, da dor, do medo e do gosto perturbadoramente delicioso que ele tinha em seus lábios. Só de relembrar do gosto a boca da menina salivou, desejando, mesmo que sem perceber, que pudesse sentir aquilo novamente. Instintivamente levou a mão até os lábios, ainda os sentindo úmido... Mas não sentia dor em lugar nenhum, nem mesmo na cabeça que batera forte antes de desmaiar. Será que tudo havia sido um sonho esquisito?

    [...]

    Logo ela ouviria a porta ser destrancada, em um barulho alto e pesado, como toda manhã. Uma enfermeira entrou e sorriu gentil. Não era a que gostava, o que era um pouco estranho. – Tome seus remédios, querida – deu o copinho para ela, certificando-se, por fim, se ela de fato havia tomado.  – O Dr. Felipe não poderá atender por um tempo, então sua consulta hoje será com nosso novo psiquiatra, Dr. Francesco, às 18h. Antes disso, você terá o dia livre para as atividades que preferir, mas não se esqueça de comer às 11h e tomar o remédio às 15h. Tudo bem? – era protocolo as enfermeiras repassarem o dia do paciente, ao levar os remédios matinais.  – Está frio lá fora – a mulher disse, abrindo a janela, fazendo Vic fechar os olhos pela luz intensa – Coloque um casaco, caso saia do prédio – recomendou e logo deixou uma toalha limpa e frasquinhos de sabonete e shampoo pra ela tomar banho. Caso quisesse se depilar, tinha de avisar uma enfermeira, para ter o banho acompanhado... O que não era de fato agradável.

    [...]

    Após ela sair, a Sidhe se viu sozinha, muito confusa. Observar o quarto sob a luz do dia era perturbador: tudo estava normal, no mesmo lugar, sem nenhum arranhão. Inclusive ela. A cama estava um pouquinho torta e ela podia ver uma leve rachadura se iniciar na parede... Indo em direção ao lugar onde o chicote estalara. Aquilo já estava ali antes?

    Ela se levantou, em um pulo, não conseguindo lidar com a confusão em sua mente. Parou na frente do pequeno móvel com o espelho e molhou um paninho na bacia com água, para refrescar sua pele. Mas logo olhou para o espelho e reparou que o colar não estava em seu pescoço. A aparência “com filtro” dela parecia perder um pouco do brilho, sem ele, na mesma intensidade que sua alma se enchia de medo. Ela sentiu vontade de chorar. E gritou, quando, ao olhar novamente para o seu reflexo, viu sua querida enfermeira degolada, com o sangue escorrendo pela roupa branca. “Foi sua culpa...” A voz da noite anterior sussurrou, até ser abafada pelo sinal que tocavam quando era hora do café da manhã.

    Victorine levou um susto ainda maior com o barulho, devido estar tensa e com medo... Mas, ao olhar novamente o espelho, só via o seu reflexo e o quarto monótono.




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    [Narração]   Victorine (Krystallia)  Empty Re: [Narração] Victorine (Krystallia)

    Mensagem por Persephone Qui Jun 01, 2017 5:42 pm



    C h r y s a l i s
    Victorine (Krystallia)

     

    O despertar veio de repente, sem muita delicadeza, um verdadeiro rompante. Era cmo se seu espírito precisasse ter voltado rapidamente, depois de sua fuga noturna, fazendo com que seu corpo afundasse contra a cama. Os olhos se abriram rapidamente, sem hesitação, bem diferente da noite anterior. Diferente, também, era o cenário que Victorine encontrava. Quando seus profundos olhos azuis-violeta se abriram, não havia nada além de teto sobre sua cabeça. Não havia monstros infinitos, nem objetos danificados. Não havia ferimentos, muito menos dores.

    Aparentemente tudo tinha sido um sonho. Um sonho que ficou muito bem registrado em sua memória.

    Ainda deitada, ela conseguia se lembrar de cada detalhe, cada sensação. O pânico que sentira e o medo que a dominara. Seu coração chegava a palpitar só de lembrar e fechar os olhos não adiantava, pois sua mente projetava as imagens do pesadelo. Os corpos despedaçados, os olhos saltantes do pai. Também se lembrava do monstro e chegou a engolir em seco. O problema foi que isso também lembrou do sabor até então desconhecido, mas que atiçava sua fome. Sentiu um arrepio percorrendo por seu corpo e sentou-se na cama antes que realmente achasse que estava louca. Abraçou o proprio corpo, balaçando para frente e para trás, voltando a si. O salto alto das enfermeiras ajudavam nesse sentido.

    - Vão vir com os remédios...Eu finjo que engulo e troco com a Jenny na hora do almoço. Depois que ela me passar a programação do dia, tenho o tempo de me lavar e pentear para o café. Depois, consulta com o Dr. Felipe.

    Repetiu isso três vezes, como se estivesse listando seus proximos passos. Conseguiu se acalmar dessa forma e, quando a enfermeira entrou, estava com uma expressão mais calma. Victorine não parecia pertencer aquele lugar quando ficava calma. Apesar dos olhos que pareciam constantemente vermelhos por conta do choro, ela tinha uma aparência saudável, bela, além de saber conversar bem e ser muito educada. Naquela manhã, a surpresa ficou estampada em seu doce semblante quando viu a enfermeira que entrou.

    - Oh...Bom dia. - Disse um pouquinho confusa depois de se levantar para receber a enfermeira.

    Aquilo acabou comprometendo sua ordem natural das coisas. Sabia como esconder o remédio da enfermeira que gostava, mas dessa ainda não. Precisava ver como ela analisaria sua boca, por isso pegou o copinho e engoliu os comprimidos, mas os mantendo na garganta. Era uma sensação bastante incômoda, como se arranhasse sua garganta. Qualquer pessoa acharia horrível, uma dor desnecessária. Mas Victorine mantinha sua expressão normal, quase como se gostasse de deixar desse modo. Não foi apenas seu remédio que mudou de rotina. A enfermeira nova também informava que seu médico não a atenderia naquele dia.

    Já não sabia de mais nada. Será que o café seria bom? Já que tudo estava diferente naquele dia...pelo menos isso podia ser uma mudança positiva.

    - Tudo bem, obrigada. Seguirei suas instruções.

    Fez uma gentil mesura à mulher e esperou que ela se retirasse. O quarto tinha clareado e começava a entrar um pouco de ar fresco, mas a menina continuava confusa. Logo começou a listar, novamente.

    - Almoço às 11h. Remédio às 15h. Dr. Francesco às 18h. Dr Francesco tarde... - Franziu as sobrancelhas. - Casaco. Frio. Cello.

    As capsulas dos remedios continuavam em sua garganta. Parou no meio do quarto, vendo como ele estava diferente até que seus olhos pararam na direção da parede. Uma rachadura que logo ganhou uma imagem da noite anterior. Conseguia visualizar o chicote batendo ali e criando aquele rombo. Ela recuou, com a mão na boca e seguiu até o banheiro. Forçou o vômito no vaso, vendo os comprimidos caindo na água. Cuspiu e tossiu enquanto ainda pensava.

    Finalmente percebeu a prova final do que estava errado.

    Seu colar...

    Onde estava sem colar? Por que não estava pendurado em seu pescoço?! Começou a ficar nervosa, arrependida por não ter engolido os remédios. Levou a mão até o pescoço, tateando pelo corpo inteiro, sem nenhum resultado. Os olhos já estavam marejados. Precisava se acalmar, mas precisava de seu colar!!! Pegou o paninho com água, passando pelo rosto diante de um espelho. As lágrimas escorreram e, no instante seguinte, ela viu uma imagem que despertou seu horror.

    - AAAHNÃ-ÃO!!

    Recuou, levando as mãos até a boca. Fechou os olhos com forças e começou a soluçar enquanto as pernas falhavam. Não aguentava mais aquilo! Não aguentava mais ver gente querida morrendo! E tudo por culpa dela! Pegou o espelho e tacou com violência contra a parede, rachando-o em mil pedaços. Os pedaços podiam ser tentadores, como uma vez já foram. Seus pulsos tinham marcas recentes da última tentativa, mas não funcionava. Eles sempre chegavam antes que ela conseguisse terminar.

    Foi então que olhou para a janela.

    E se...?

    Piscou lentamente, exausta já no inicio do dia. Realizou toda a assepsia matinal e penteou os longos cabelos ondulados, sem olhar para o espelho. Eles caíam como uma cascata até sua cintura e, mesmo que não tivessem mais o brilho de outrora, ainda eram belos. Desceria para o café da manhã, carregando um casaco de lã, mas mal tocou na comida. Tinha muitas horas livres, mas estava cansada...

    Quando foram liberados, ela saiu para o jardim. Estava frio e ela realmente não teve notícias de sua enfermeira favorita. Estava acreditando no que o espelho tinha revelado, não tinha outra explicação para sua mente. Por isso, ela aproveitou de uma tipica confusão entre internos, um deslize dos enfermeiros e tomou um caminho que era proibido. Fazia muito frio, mas ainda era um lugar belo. Sabia que existia uma piscina ali, para aulas de natação e hidroginastica, mas que estava fechada por não ser aquecida. Queria mesmo era ir até o mar, mas podia senti-lo proximo dali. Não conseguiria se afastar mais do que isso.

    Victorine aproximou-se da beirada, mesmo com as sapatilhas do hospital. Um vento balançou suavemente seu cabelo, quase como se desse forças para o que ela planejava fazer. A piscina estava coberta por um toldo azul, seria lento e doloroso para seus pulmões. Mas Vickie fechou os olhos e deu um passo adiante. Afundou em menos de um segundo naquela água congelante e suja, mas também tendo a dificuldade do toldo para prende-la ainda mais ali. E ela forçava mesmo o corpo para baixo, puxando o ultimo fôlego antes que ficasse submersa. Olhava para cima, mas já estava tudo escuro graças ao toldo. Mesmo que quisesse - o que não era o caso - sair dali, não conseguiria.

    Pelo menos pagaria pela morte de sua familia e da enfermeira.

    E sua avó finalmente se veria livre.

    Mas, acima de tudo, ela também o seria.


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    [Narração]   Victorine (Krystallia)  Empty Re: [Narração] Victorine (Krystallia)

    Mensagem por Bastet Dom Jun 04, 2017 5:01 am



    C h r y s a l i s
    Narração - Victorine (Krystallia)

     


    And the arms of the ocean are carrying me
    And all this devotion was rushing out of me
    And the crushes are heaven for a sinner like me
    But the arms of the ocean delivered me


    Victorine sentia seu corpo ficando cada vez mais entorpecido enquanto andava. Os remédios que lhe davam eram realmente fortes: não acalmavam apenas a mente da jovem Sidhe, mas também o corpo, seus reflexos, seu vigor... Tudo parecia apenas favorecer as suas ideias, afinal, com tudo entorpecido, seria difícil escapar por instinto... e a dor viria aos poucos, mas seria prolongada.

    [...]

    A jovem caminhou até a piscina sem ter muita perturbação. Como era uma paciente bem tranquila, tendo casos de crises muito raros, a vigilância em cima dela era branda. Tinha acesso aos jardins, onde gostava de pintar, e que seguiam pelo mesmo caminho da piscina... Por isso ninguém estranhou quando a jovem passou por ali. Ainda estava longe do horário de tomar os seus remédios novamente, o que significava que tinha tempo para realizar o seu plano, que era muito simples: se jogar na água até a morte invadir seu corpo, fosse por frio ou por falta de oxigênio no pulmão.  

    Apesar de ela gostar da dor que sofria diariamente, a pressão psicológica parecia ter aumentado demais, desde a noite anterior. Não era uma dor boa... Era confusão, uma confusão que machucava e sussurrava... E matava as pessoas que ela gostava. Era terrível a sensação e a jovem só queria terminar com tudo aquilo.

    [...]



    Though the pressure's hard to take
    It's the only way I can escape
    It seems a heavy choice to make
    But now I am under all


    Em um momento, estava na beira da piscina... No outro, estava dentro dela. A água estava suja e turva, algumas folhas e sujeiras se misturando a ela e ao toldo que a prendia. Não podia ver muito e seu corpo não afundava tão rápido como o esperado... Era como se, apesar de estar há algum tempo descendo, ainda estivesse na beirada. O ar começava a acabar, antes de chegar ao fundo. O desespero do primeiro jato de água entrando em seu pulmão tomou o corpo da menina, que se debatia, em um instinto primitivo de sobreviver... Mas apenas conseguia se enrolar mais no toldo. Estava perto do fim. A necessidade de ar fazia a menina engolir mais e mais água, por fim, respirando pelo nariz... E sentindo a água suja tomar seu corpo.

    Enquanto perdia a consciência, viu algo começando a brilhar, no fundo da piscina...Que ainda parecia distante. Uma onda de calor atravessava o seu corpo, como se mudasse da água super gelada para uma banheira em temperatura agradável... E, quanto mais descia, mais límpida a água ficava. Será que estava entrando no céu?

    O ponto que brilhava começou a tomar forma e a ficar maior, se movimentando com toda a graça de uma valsa. Era uma enorme água viva, com quase o tamanho de um humano adulto e tentáculos que tomavam o fundo da piscina. Com a movimentação na água, ela parecia ter acordado e começava a se mover na direção do corpo quase inerte da menina.  Alguns tentáculos envolveram o corpo dela, causando uma sensação de queimadura, mas não forte o suficiente para machucar, outros, trabalhavam no toldo, retirando do corpo dela e a deixando livre dele.


    And it's breaking over me
    A thousand miles onto the sea bed
    I found the place to rest my head



    [Narração]   Victorine (Krystallia)  Tumblr_oke9x7fqEd1r1d4seo1_500


    Victorine pensou, naquele momento, que já estava realmente morta. Sentia uma paz tremenda ali, inerte na água morna, sendo abraçada por um ser magnífico. Logo os tentáculos que a abraçavam se transformariam em braços femininos muito gentis. A visão da jovem estava turva demais para ver qualquer coisa... Mas soube, naquele momento, que parara de descer. Estava emergindo... Sentiu novamente a mudança da água e o gelo tomando o seu corpo. Sentiu a água “mundana” entrando novamente em seus pulmões e voltou a se afogar, como se antes tivesse dado uma pausa. Foram longos segundos, dos quais ela perdeu a metade, praticamente morta. Até que a água-viva-mulher colocou a cabeça dela para fora da água e espalmou a mão no peito dela, dando um choque mais intenso, duas vezes. Na segunda, ela voltou à vida.

    Olhou assustada para a mulher que a abraçava e estava a sua frente. Sabia que, assim como ela, a mulher era “especial”. Tinha os cabelos cor de rosa, espalhados sobre a água como tentáculos, brilhando em suas extremidades. Os olhos eram muito gentis e inocentes, como se não tivesse contato com aquele mundo feio onde viviam. A beleza era inquestionável, só não mais que a jovem Sidhe... porém, bem mais exótica. Estava nua, mas a água turva cobria boa parte das vergonhas da mulher. Os olhos preocupados dela olhavam Vic, esperando alguma reação.


    And it's over
    And I'm goin' under
    But I'm not givin' up
    I'm just givin' in



    Forma parcialmente animalesca:
    Forma humanoide:


    A mulher tentou levar a Sidhe até a beirada da piscina, mas algo as fez imergir novamente. Em um momento, Victorine veria uma corrente brilhante presa aos pés da menina, que a impedia de ir até a beirada. Rapidamente esta voltou para o meio, para que pudesse manter a cabeça da loira fora d’água. A olhava, sem dizer nada. Até que ouviram alguém se aproximar.


    -Victorine?!
    – a voz da sua enfermeira preferida chamou, de longe. A mulher-água-viva a olhou por um último instante, antes de imergir e sumir na água turva.  A enfermeira não demorou a achar a menina na água. Apesar de reconhecer ser Evelyn, a mulher com quem fizera amizade naqueles meses, ela parecia diferente. Antes a via baixinha, com uma expressão gentil e sábia... Agora parecia uma pessoa "sem filtro", normal. – O que você está fazendo aí? Vamos, você está atrasada para a consulta! – disse brava, estendendo a mão para ajudar a jovem sair da água. Fazia poucos minutos que ela acordara... Mas, de fato, o céu já estava escurecendo, quando voltou. O que estava acontecendo?


    Never let me go, never let me go
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