No dia do meu nascimento parecia que a minha vida seria uma grande chatice. O tempo não era nem quente e nem frio, o céu? Meio aberto e fechado, nos arredores absolutamente nada de interessante tinha acontecido.
Para quem gosta de auspícios e acredita neles também. Parecia que a minha vida ia ser marcada pela mediocridade. Não me entenda errado, eu também devo o meu respeito a esse tipo de adivinhação, mas de vez em quando nós temos que encarar algumas incomodas verdades, nem tudo é o que parece, ou, como diz um amigo menos refinado meu, nem sempre o cu combina com as calças.
Era esse o meu caso: filha de um casal de classe media citadina que vivia confortavelmente atrás dos muros de uma cidade no sul de Gaia. Parecia que eu seguiria o destino de alguma mulher urbana, mas não, o que aconteceu foi algo bem diferente. Foi nos meus dias de adolescência que o grande divisor de águas ocorreu. Era época dos últimos dias junho, ali no fim do outono e comecinho do verão. A grande feira do ano acontecia, como sempre com muito gente vindo de fora seja para vender os seus produtos ou para comprar.
Eu menina atrevida como era e sempre fui. Sai de casa escondida dos meus pais para bisbilhotar a feira e se desse sorte presenciar a apresentação de um bardo. Era sempre bom ouvir as historias de um, mas meus pais não gostavam muito que as escutasse. Foi assim que encontrei o meu mestre nos caminhos do druidismo. A primeira vez que eu o vi achei que fosse um bardo, apesar de achar as roupas esquisitas. Uma túnica da cor kaki com um cajado de madeira com uns galhos saído pelos lados, não se encaixava na descrição de calças apertadas, jaquetas e um bandolim nas costas, mas era tão esquisito para mim que só podia ser um bardo. Veja só como eu era ignorante, toda a esquisitice do mundo se resumia aos bardos, para mim. Sempre dou boas gargalhadas quando lembro disso.
Boba como só eu poderia ser, me aproximei perguntando se ele era um bardo e se ele podia me contar historias sobre o mundo afora. O meu futuro mestre sorriu e disse que não era bardo mais sim um druida. Lamentei e fui indo embora, mas ele veio atrás de mim. Parou na minha frente dizendo:
- Um druida talvez não tenha historias tão boas quanto um bardo para contar, mas certamente guarda muitos mais segredos que um menestrel. Os que eu conheço ofereço a você.
Eu arregalei os olhos e pensei no mesmo momento: "o que uma pessoa esquisita “a la um bardo” teria para me ensinar? Não sabia, mas definitivamente eu queria saber". A partir daquele momento que a minha vida de druida começou.
De inicio meus pais nem sabiam o que estavam acontecendo, só foram tomar noção do que ocorria quando eu desapareci por dois meses para concluir os meus ensinamentos e terminar de fazer os ritos de iniciação do circulo druídico. Quando voltei para casa achavam que eu tinha morrido, mas a surpresa deles quando me viram não foi boa, pois como vieram a dizer, tinha me tornado uma “bruxa” e que eu não era verdadeira filha deles, essa tinha falecido. Eu era segundo eles: um engendro dos demônios para zombar da filha perdida e engana-los. Depois de ter ouvido tais afirmações nunca mais voltei a botar os pés na casa dos meus progenitores.
Segui o meu caminho para o sul e me enfiei nas matas das colinas verdes. Encontrei uma pequena vila de meio-elfos e humanos com a necessidade dos talentos de uma druida. Passei a ajuda-los e ali passou a ser o meu novo lar. Mesmo sendo jovem passei a fazer parte do conselho de sábios do vilarejo. Ali durante anos permaneci, enquanto me tornava mais sabia e ganhava mais poder.
Logo depois do meu aniversario de 27 anos é que vieram me procurar na minha casa. Ela ficava na base de um grande tronco. Nesse dia, melhor dizendo, nesse começo de dia eu estava dormindo de bruços na cama. Era uma manhã fria do caramba e ficar toda encolhida de baixo de vários cobertores, com a lareira acesa não estava adiantando muito. No momento veio a batida na porta xinguei quem tinha feito tal ato com todos os nomes feios,chulos, humilhantes e degradantes conhecidos por mim. Levantei, me vesti da melhor forma que pude e abri a porta para me deparar com um petit comitê na frente da minha casa.
Eram aldeões, eles não dorme,não? O ditado sobre eles devia estar estar certo, “dormem com o por do sol e acordam com o nascer”. Suspirei e esperei dizerem o que desejavam.
***
Em frente da casa de Ennen estavam alguns moradores do vilarejo de Wolford, incluindo os outros membros do conselho de sábios do qual a druida fazia parte. Eram o grandalhão Brian MacGumaraid, forte e valente, e o velho Gordan Lutair, sábio e safado. Gordan fazia questão de sempre aparecer nas reuniões, para apreciar as belas formas de Ennen.
Gordan acena e se aproxima. Ele flexiona os músculos e estala o pescoço, como se fosse para entrar numa briga. “Desculpe atrapalhar seu sono, senhorita Ennen, mas os casos de desaparecimento continuam acontecendo, e o povo esta preocupado. Ontem foi a filha do seu Walton, de 18 anos.” O fortão aponta para um dos moradores, Walton, que estava desesperado.
Walton vem ate onde estavam Ennen, Brian e Gordan, e cai de joelhos diante dos pés deles. “Mestres, vocês precisam ajudar a encontrar a minha filha! Ela estava em casa, dormindo, eu dei boa noite para ela, mas hoje de manhã escutei um barulho no quarto, e quando cheguei não estava mais la!”
Gordan acena com a cabeça, coçando a barba. “Mesma coisa com as outras mulheres desaparecidas... Tem a Jane, de 24, a Luvia de 19, Mona de 23. Todas muito bonitas e jeitosas, com belas curvas e rostos lindos, todas muito gost... aham... é isso aí...”