Segunda Era de Nentur: E Era Entrópica
A Segunda Era inicia-se com mais um episódio de criação desenfreada, mas dessa vez muito diferente. Os Deuses e os Primais começam a tomar as rédeas de tudo, e há um afastamento significativo das Supra-Entidades, que passam a ser mais espectadores dos eventos que se desenrolam. Vários ascendem à posição de Divindade, e outros começam a conquistar seus postos como Primais (além dos relacionamentos entre os Primais Elementais).
Recém elevada ao posto de Primal, Christa inicia sua posição criando a segunda Lua de Nentur, Pandora (a primeira se chama Elara). Em uma de suas contemplações, ela profetiza o fim da vida Nenturiana pelas mãos de uma ameaça capaz de destruir até mesmo as Entidades. Quando ela leva isso ao conhecimento dos Primais Elementais, eles resolvem nada fazer na esperança de que tal ameaça ensine aos Deuses uma lição. Não demora para que a profecia se cumpra, e surge, praticamente do nada, Anomalus - uma força descaracterizada e irracional, permeada pelo caos absoluto feito de tudo e nada ao mesmo tempo.
Num primeiro momento, os Aspectos de Anomalus (criaturas criadas à partir da sua essência, igualmente irracionais) começam a destruir seres menores, que estavam ainda em fase de desenvolvimento. Elfos, Anões e Humanos foram o principal alvo, não tendo a menor chance de revidar. Em pouco tempo, mais da metade da população mortal Nenturiana fora dizimada, enfurecendo os criadores e fazendo com que algumas Divindades resolvessem interferir diretamente.
Apenas para serem sumariamente derrotados.
Os olhos de Eurídice se voltam para a ameaça. As proporções já eram grandes demais, e ela não teve escolha. Sabendo que mesmo as Divindades Maiores ou os Primais Elementais não seriam páreo para Anomalus, Eurídice convoca o Protetorado pela primeira vez.
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"- Chegou a hora de vocês, os primeiros, saberem das verdades de Nentur.
A face pálida de Eurídice continuava a transparecer toda a calma e paz de sempre. Os longos cabelos negros balançavam numa brisa inexistente, dentro do ambiente atemporal do Elevador de Pensamentos. A pequena ruína que simbolizava o centro de tudo comportava pouco, mas parecia uma imensidão para Vector, Leefa, Vyrdraal, Nerandir, Achiel e Eallar. Os seis formavam um semi-círculo, convocados pela Supra-Entidade horas atrás.
- Há muito o que contar, minhas crianças. Mas temo que não há tempo o suficiente para que vocês conheçam e compreendam cada particularidade e atitude pertinente a nós três. Por agora, precisamos que vocês defendam a sua casa.
Eallar parecia o mais inquieto. Não apreciava em nada a companhia de outrem, mas jamais poderia ter recusado o chamado. Como poucos, ele entendia a gravidade de uma convocação como essa, mesmo sem saber detalhes intrínsecos. Verdade seja dita - ele mal sabia que Eurídice residia ali, num espaço que nem mesmo Eallar conhecia. E pela face dos outros, ele não era o único desinformado.
Ao contrário de Eallar, Achiel parecia tão calma quando Eurídice. Nitidamente também não tinha qualquer conhecimento do Elevador de Pensamentos ou do que se seguiria, mas estar na presença da Grande Mãe por si só era algo maravilhoso. Em pouco tempo, Achiel conseguiu entender, mesmo que em parcela ínfima, a natureza do Elevador. Ela podia sentir vida ali, em cada canto. Cada nuvem. Cada rocha.
- Com tudo o que pudermos.
Era Nerandir. Mesmo sem saber qual seria a resposta de seus irmãos (ou mesmo se haveria uma), suas palavras cortaram o ar com a certeza inabalável de que, qualquer que fosse o problema, ele daria sua vida para eliminar. Resoluto, de imediado pôs-se de joelhos, atraindo o olhar depreciativo de Vector.
Este último, por sua vez, não sabia exatamente o que pensar. À exceção de Vyrdraal, Vector era o mais odiado entre eles, não entendendo muito bem o motivo de sua presença. Tudo o que ele sabia fazer era lutar, e todos sabiam disso. Seria esse o propósito? Brandir suas armas? Se sim, contra quem? O pensamento jogou um calafrio rápido e uma pequena taquicardia em seu ser, e ele subitamente sentiu seus punhos cerrados, sedentos pelo calor da batalha.
- Mesmo nós, no pico de nossas capacidades, somos falhos. Não existe perfeição senão aquela advinda de utopias. Este é o mundo real, e nele, erros acontecem... Mais do que vocês imaginam.
Eurídice mantinha um tom de voz baixo e linear, como um professor que conhece o respeito que impõe tentando chamar a atenção dos alunos.
- Nós fomos longe demais tentando atingir esta "utopia". Criamos o mais próximo que conseguimos chegar do perfeito, mas houve dano colateral. No processo cuidadoso de Erianna, mesmo que ela mantivesse toda a atenção em sua criação, um piscar de olhos foi suficiente para que a energia empregada gerasse uma espécie de sobrecarga. Tal energia tomou forma e vida.
Achiel sorriu levemente mediante a afirmação, mas o olhar vigilante de Leefa a repreendeu por um momento. Tratava-se de uma criatura não natural, e ela percebeu o quanto Eurídice preocupava-se com o fato. Na curta história de Nentur, não havia sequer um ser não-natural que não tivesse causado problemas de grandes proporções, e Leefa era aquela que buscava destruir cada pedaço de tais "heresias". Mesmo apesar de sua gentileza lendária e seu humor indestrutível, ela simplesmente tornava-se implacável quando o assunto era de tom similar ao abordado.
- Mais que isso - continuou Eurídice - deu frutos. É chegada a hora de lidar com este infortúnio, utilizando a Tríplice Reincarnação.
Vyrdraal revirou os olhos. Ela não entendia como tudo e todos almejavam sempre a um ciclo sem fim, eternidade e ressurreição. Desde sempre, Vyrdraal entendia que tudo deve ter um fim, como criado pelas Supra-Entidades. Nem mesmo eles, as primeira criações, eram imortais. Nada que veio depois deles era eterno. Ora... Então por que Nentur deveria ser?
- Vocês serão o Protetorado. Responsáveis por assessorar a ameaça e decidir o próximo passo a ser tomado. O fruto do erro, um erro se torna. É algo que não deveria ser. Sem a menor dúvida, vocês enfrentarão um inimigo pior do que todos os que foram um dia, e decidirão o futuro de Nentur.
Silêncio pairava no Elevador de Pensamentos. Aos poucos, um a um, eles iam entendendo sua missão, a seu próprio modo. Fora Nerandir, mais uma vez, o primeiro a falar.
- Para proteger nosso mundo, não há nada que nenhum de nós não fará - olhando nos olhos de cada um, como se intimasse seus irmãos a concordar - colocando nossas vidas na linha. No entanto, tenho um favor a pedir.
Houve uma pausa longa. Nerandir parecia buscar aprovação nos olhares dos irmãos, e consentimento no rosto de Eurídice. Somente Leefa e Achiel acenaram com um leve movimento para que continuasse, e Eurídice não o interrompeu.
- Tenho ums aprendiz. Alguém de valor que muito contribuirá para esta empreitada. Eu gostaria que ela também fizesse parte do Protetorado.
Eurídice ponderou durante longos segundos.
- É arriscado para alguém que não tem as mesmas origens que vocês. Está certo de que Shireen pode lidar com isso?
- Sem a menor dúvida. - Não havia um sinal sequer de hesitação.
Num piscar de olhos, Shireen estava presente no Elevador. Devido às características do local, ela estava subitamente ciente de tudo o que havia se passado. Encontrou-se pensando no tamanho da honra que recebera ao ser convocada e indicada por Nerandir, seu mentor, confidente e amigo. Mesmo que pessoas como Vyrdraal ou Eallar fossem ser seus companheiros, ela daria sua vida pela deles. Assim era sua natureza.
- Que vocês sete tenham a força e a sabedoria necessária para assessorar e enfrentar seu inimigo. Esta é uma batalha como jamais existiu, e tamanha é sua periculosidade, que não há outro senão Vector para liderá-los frente ao Anomalus.
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Não há relatos de como se deu o desaparecimento de Anomalus. Acredita-se que o Protetorado de Eurídice tenha tido sucesso absoluto, visto que nenhum dos membros morreu e a força irracional, erradicada. No entanto, o resultado da campanha foi a Convergência das Esferas, fenômeno que atingiu todo Multiverso, sentido até mesmo pelos Dez Primeiros - cuja existência já havia sido esquecida.
A Segunda Era termina com o surgimento dos patronos das raças - Deuses ou Primais que tornaram-se alvos de adoração por todo um povo. Caem nessa categoria Felurian, Dorin e Her'zog, elevados ao posto de Divindades quando foram enaltecidos por seus iguais. Surgem assim as grandes capitais élficas (Eldoran, para os Eladrin e Sindoran, para os Elfos da Lua) e o Forte Khadar, em Dol'Barad - grande cidade anã dedicada à Dorin.