O sábado de primavera não começou colorido e iluminado como de costume. Havia algo de diferente na atmosfera que deixava o dia um tanto quanto cinzento. Até mesmo os cães podiam sentir que não era o melhor dia para fazerem bagunça e isso deixou o café da manhã particularmente silencioso. Tia Yu-Mi servia os sobrinhos e o cunhado com uma expressão séria e quase triste. O Sr. Kim lia o jornal, mas dava para perceber que não saía da primeira coluna.
Os irmãos estavam quietos e silenciosos. Yi-Hoo repousou o talher sobre a mesa, chamando alguma atenção ainda que não houvesse violência em seu ato e disse.
- Eu não vou. Desculpe, mas eu não consigo. - O irmão mais velho meneou negativamente.
Tia Yu-Mi o encarava com um certo ar de reprovação, mas havia entendimento ali. Até que o Sr. Kim disse.
- É seu direito. Você já é maior de idade, sabe o que faz. - Disse desgrudando os olhos do jornal e encarando os familiares.
- Alguém mais gostaria de ficar? Jun? Sunny? Ninguém é obrigado a ir.O Sr. Kim tinha um modo muito irritante de lidar com essas situações. Fosse o tom de voz ou o olhar que ele transmitia, as pessoas acabavam se sentindo moralmente erradas por não seguirem os próprios instintos. Yi-Hoo não mudou de postura, mas agora carregava uma expressão infeliz no rosto. Não demorou para que ele se retirasse da mesa e fosse levar os cães para passear. Yu-Mi já tinha dito que não iria, pelo menos não naquele dia, porque sábado o restaurante ficava bem cheio e ela podia cumprir com sua tarefa moral ao longo da semana.
Portanto, restaram apenas Jun-Pyo, Sunny e o Sr. Kim. O trio logo entrou no carro da família e tomou rumo ao destino final. O modesto carro da família facilmente destoava daquele edifício. Eles podiam sentir que até mesmo o manobrista olhou de modo estranho quando pegou as chaves do carro e o direcionou para o estacionamento.
O Sr. Kim e os filhos não tinham condições de iniciarem qualquer tipo de tratamento naquele hospital. Tratava-se do hospital mais moderno e equipado de toda Coreia do Sul. Possuía as mais diversas áreas de atendimento e era o sonho de qualquer jovem estudante de medicina. Isso porque os jovens geralmente só pensam no lado bonito da profissão e não exatamente no quão desgastante ela pode ser.
Apesar de tenso, o Sr. Kim fez um afago no ombro da filha. Conhecia o sonho dela e foi meio que um incentivo para que ela continuasse acreditando.
- Quem sabe daqui a 10 anos, hm? - O tempo médio que levaria para que ela terminasse a escola e a faculdade. Talvez o mínimo para a residência.
Os três seguiram até a entrada e pediram o cartão de visitas da área psiquiátrica. Iriam visitar Kim Nam-Ryu, a ex esposa de Jung-Hwa e mãe de seus filhos. A atendente entregou os adesivos e os três caminharam. Jun-Pyo tinha uma expressão um tanto quanto perdida. Não entendia, sinceramente, porque eles continuavam fazendo visitas a ela em datas importantes. Ela provavelmente nem queria vê-los, ainda que fosse seu aniversário. Mas ele não conseguia ser firme e decidido como o irmão, por isso se viu arrastado até lá. Já o Sr. Kim prezava pela tentativa.
Cada um tinha seus próprios conceitos e deveriam agir de acordo com eles e do próprio coração. Ainda que nenhum dos filhos fossem, ainda que ela não quisesse vê-lo, ele iria levar o buquê de flores que levava todos os anos. Só esperava que ela estivesse melhor.
Para a enorme tristeza do trio, o médico plantonista os encontrou na área e informou que a paciente não estava nas melhores condições. Não era como se o médico os estivesse expulsando, só queria deixar claro que, talvez, não fosse o melhor momento para um encontro. O Sr. Kim esperaria a postura dos filhos, mas pediria para que vissem, pelo menos a janela do quarto.
A cortina foi erguida e eles podiam vê-la deitada na cama. Nam-Ryu estava amarrada pelos pulsos e pernas, com os olhos fechados e uma expressão nada tranquila. Apesar de ser irmã gêmea de Yu-Mi, ela parecia quinze anos mais velha. A pele estava chupada, envelhecida e o cabelo tinha mechas brancas oriundas de constantes surtos e medicações. Respirava de modo pesado e uma enfermeira a ajeitava do melhor modo possível.
O Sr. Kim começou a perder a vista por conta dos olhos marejados e passou os dedos por baixo dos óculos de modo discreto enquanto abaixava o buquê. Respirou fundo e foi a vez de Jun-Pyo demonstrar seu apoio. O filho do meio bateu a mão em seu ombro e o incentivou a encará-lo, por um instante.
- Você faz o seu melhor, pai…Jun olhou para Sunny, preocupado com a irmã também.