DERFEL I
Os últimos dias foram inquietos para Derfel Weaver, herdeiro de Covil da Aranha. Ele vivia a expectativa de conhecer a sua prometida, Leonetta Brune, uma garota de Antro Terrível que recém completara os quinze anos. O pouco que Derfel conhecia dela o agradava: diziam-lhe que era uma menina doce e de beleza rara, perfeita para desempenhar o papel de uma esposa. Era sabido que ela viria com alguns membros de sua família e um pequeno contingente de guardas, por isso o castelo teve que receber alguns preparativos especiais para acomodar todos eles. Darya, irmã de Derfel e a filha mais velha do Lorde Martyn, cedeu por vontade própria o seu aposento para a família Brune, e ele foi todo decorado com peles de urso marrom, símbolo da casa.
Na manhã que antecedia a chegada da noiva, o escudeiro de Derfel parecia mais nervoso do que o próprio. Philip era irmão de Leonetta, e também estava ansioso por revê-la. Talvez estivesse ansioso também para que Derfel a aceitasse. Sor Arthur Morark foi o responsável por recepcionar os Brune na Vila da Tecelagem e conduzi-los até o pátio frontal do Covil da Aranha, onde todos os Weaver os aguardavam enfileirados. Eram ao todo vinte e cinco pessoas, entre eles Ethon e Jaeda Brune, os pais de Leonetta, além de uma filha mais velha, chamada Adryana. Ethon cumprimentou Lorde Martyn com uma reverência. Ele era um homem de quase meia idade e cabelos grisalhos, e era um dos muitos filhos de Eustace, suserano da Casa Brune do Antro Terrível. Em seguida, sorridente, Ethon pediu para que sua filha Leonetta se aproximasse. As descrições que fizeram dela se mostraram verdadeiras, mas ninguém havia mencionado como ela era magra e mirrada. Talvez fosse por conta da tenra idade, ao menos, era o que Derfel esperava. O rosto dela, contudo, se assemelhava com as histórias de princesas que ele ouvira de sua ama de leite. Leonetta se apresentou timidamente para os Weaver, com as mãos segurando as pontas da saia. Quando o seu olhar se encontrou com o de Derfel, ela sorriu acanhada, e o seu sorriso a deixava mais bonita ainda. Houve um burburinho entre as irmãs de Derfel.
- E você é o pequeno príncipe - disse Ethon, se aproximando do herdeiro do Covil da Aranha. Era engraçado ele o chamar de pequeno, uma vez que aos dezenove anos, Derfel já era mais alto do que ele próprio. Ethon colocou uma mão em cada braço de Derfel, e o olhou de baixo para cima com um sorriso presunçoso no rosto, como se o medisse se ele era um bom partido para a sua filha. - Você é um guerreiro. Acertei? Não que isso importe muito, mas dizem que homens fortes trazem mais fortuito para as suas Casas. - Ele então percebeu Philip, seu filho, às costas de Derfel, ainda fazendo o seu papel de escudeiro. Ethon o abraçou e bagunçou os seus cabelos. - Aqui está você, meu garoto. Não precisa manter tanta formalidade em minha presença. Espero que você não esteja dando muito trabalho para o Lorde Weaver.
- Nenhum trabalho, Ethon - afirmou Martyn. - Philip é um bom rapaz e muito corajoso para a sua idade. Ele e Derfel se dão muito bem. Sei que todos nós temos muito a conversar, mas creio que ninguém está mais ansioso por uma conversa do que o meu filho e a sua filha. Deixemos que os dois se conheçam melhor, e será melhor que façam isso a sós. Filho - disse olhando para Derfel -, não gostaria de levar Leonetta para conhecer alguma parte do castelo ou até mesmo o nosso bosque?
Era de manhã, num dia ensolarado, e Derfel sabia que ele dispunha ainda de algum tempo até a realização do banquete que estava previsto para começar no inicio da tarde.