Medo... Terror... Ahhh, eu me alimento de seus desejos mais íntimos, humano... Venha, venha... Chegue mais perto, eu estou com fome... Espero você pacientemente, pois esta caverna será o seu túmulo...
A lenda, o misterioso...
Aquela era a noite mais fria e silenciosa do ano, para não dizer congelante. O céu estrelado era tão claro e não havia nada que atrapalhasse a beleza das estrelas a milhares de quilômetros acima. O vento assobiava de uma maneira tão misteriosa e assustadora que ninguém provavelmente teria coragem de abrir as portas pesadas de madeira que protegiam suas famílias do frio. As estradas de pedra estavam completamente cobertas por uma grossa camada de neve branca. As árvores pareciam mortas, cobertas pelo gelo e provavelmente não voltariam a vida quando o primeiro raio solar quebrar o inverno.
As casas como um todo estavam com as luzes apagadas, era quase uma lei, exceto os mais ousados que ainda mantinham lampiões acesos, já que a magia era extremamente proibida, após certa hora da noite, assim como muita iluminação. Os tempos atuais que relato era difíceis, eram tempos sombrios, tempos de superação, guerras e busca pela liberdade.
Um aroma invadiu aquela velha e conhecida vila bruxa, um cheiro tão forte e prazeroso que até o mais dorminhoco acordara com aquela sensação prazerosa invadindo suas narinas, mas o cheiro era estranho, não era cheiro de rosas ou de alguma comida, era um aroma diferente, algo novo que ninguém ali jamais sentira antes, nem crianças, nem adultos e nem anciões. Ninguém poderia explicar, só ouvir de dentro de suas casas...
O vento ficava cada minuto mais agressivo, levantando uma quantidade enorme de neve, dificultando a visão de viajantes e, naquele momento, só havia um único viajante que se atrevia a perambular pelas estradas, mesmo que isso fosse proibido, talvez ele fosse ingênuo o bastante para não conhecer as regras daquele mundo, ou talvez tolo o bastante para por sua vida a prova. Quem poderia dizer?
O cavalgar do cavalo era amortecido pela neve e por isso ninguém notou a presença de um equino que avançava com certa dificuldade. Carregava em seu lombo um homem coberto por um manto grosso e velho que escondia até sua cabeças no interior de um breu escuro formado pelo seu capuz. O homem trazia consigo um pequeno embrulho que o guardava próximo a região da cintura. Forçou o animal a avançar mais alguns metros até aproximar-se de um grande portão enferrujado, um portão que pelo seu estado indicava que havia muito tempo ele não era aberto. Um lampejo, alguns movimentos com a mão que segurava uma varinha e o portão estava arrancado com força, criando um barulho característico de metal sendo violado, o que provavelmente assustaria os desacordados.
O caminho revelado levava até um cemitério muito bem organizado. O trajeto era largo e levava até o centro do cemitério, distanciando o viajante da cidade e invadindo um lugar ainda mais escuro e silencioso, aonde o vento assobiava com mais força. O cavalo finalmente parou ao comando do homem que puxou suas rédeas e saltou do animal, dando-lhe leves tapinhas no dorso. Caminhou alguns metros em direção a uma fonte congelada, que o seu destino. Munido de seu instrumento mágico e o embrulho misterioso, ele ficou diante da fonte imóvel, como se fosse uma sombra na escuridão e realmente se camuflava bem com as vestes negras que usava.
Minutos que pareceram horas se passaram, o vento estava mais calmo, mas não por muito tempo, o silêncio finalmente fora substituído por um vulto rápido e uma aterrisagem perfeita sobre a neve que cobria quase toda a extensão do cemitério. O homem virou-se em direção aonde notara o movimento e pode ver com clareza outro ser completamente coberto por vestes grossas e negras, porém uma áurea prateada lhe cobria todo o corpo agitando o vento que percorria a sua volta, era uma energia, um poder incrível, indescritível. O ser misterioso aproximou-se alguns metros do homem que há pouco viajava com seu cavalo, estendendo o braço que era coberto por uma espécie de armadura até os dedos. Ele murmurou algo, mas era tão baixo que quase não se podia ouvir.
Temendo, receoso pela vida, pela primeira vez na vida, o homem segurou forte o embrulho dentro de suas vestes, pois tinha a absoluta certeza de que aquele ser misterioso era a lenda, uma lenda que todos preferiram ignorar e até esquecer com o passar do tempo. Ele jamais viu a lenda e provavelmente deve ter desejado jamais ver, pena que já era tarde para mudar o futuro. O misterioso imóvel, moveu apenas a mão e os dedos, criando um forte “golpe” de vento em direção ao homem a sua frente. Em um piscar de olhos, o viajante estava preso, sentindo seu corpo se comprimir, como se algo o apertasse dos dois lados, não podia mover os braços, mal conseguia mover os pés. Seu corpo foi elevado a uma altura de quase cinco metros do chão, deixando cair seus pertences um a um sobre a neve. Primeiro a varinha, depois o embrulho tão importante e finalmente uma foto.
O misterioso abaixou o capuz, e o que o homem pudera presenciar que antes estava protegido pelo capuz, fora a última coisa que ele pudera ver, era algo surreal, em realidade, ninguém nunca pode saber o que realmente o homem viu. Finalmente, por um golpe de misericórdia, a lenda fechou a mão como se agarrasse alguma coisa, e o mesmo aconteceu com o corpo do viajante que fora quebrado em pedaços como se estivesse dentro da mão no exato momento em que ela se fechara. O homem desabou silenciosamente no chão congelado, sem vida, apenas um corpo em pedaços.
O grito que ele pode dar, o grito de socorro pela vida ecoou tão alto pelos quatro cantos do vilarejo que jamais fora esquecido.
O assassino recolheu a única coisa que o importava, o embrulho. Desembrulhou o objeto misterioso revelando um pequeno prisma de cristal que cabia na palma de sua mão. Com algumas palavras num idioma desconhecido e uma energia sombria, ele conseguira ativar o objeto misterioso. Uma única luz surgiu do interior do prisma e avançou quase tão rápido quanto a velocidade da própria luz em direção ao céu, criando um brilho tão intenso capaz de clarear os céus, tornando-o “dia”, por quase dois minutos até se apagar novamente e o cristal perder seu valor. O assassino desapareceu no exato seguinte, deixando o cadáver e seus pertences...