[Barril Verde] - Irish Pub

Barril Verde, localizado próximo à Orla de Bray era um lugar relativamente pequeno. Não era um dos maiores ou mais frequentados Pubs da região, mas tinha lá seu charme.

Sua fachada era detalhada e charmosa a sua maneira, na simplicidade das coisas e dos detalhes. Do lado de fora, àquela hora, era possível encontrar uma placa que determinava os horários para o dia. Ele estava aberto, mas o movimento era pouco, o que talvez agradasse aos dois recém chegados. Dentro, o ambiente era uma mistura do novo com o velho, o cheiro de ervas e temperos e cerveja era forte, mas estranhamente agradável.

Eles foram atendidos assim que entraram no lugar por uma garçonete gentil de vastos cabelos vermelhos encaracolados. Ela os guiou até uma pequena varanda no fundo do Pub, um local fresco e agradável. Espaço, que segundo a moça, ficava aberto apenas naqueles horários matutinos. Ela saiu logo em seguida, dizendo que esperaria para quando estivessem prontos para fazer seus pedidos.

Uma música agradável completava o cenário.

Dimitri passava uma informação até então desconhecida por Sienna. Enquanto ele lamentava a ausência dos que tinham sumido, ele deixou passar uma notícia daquelas. A garota apenas o encarou com os olhos de vidro, ponderando e guardando as conclusões para si mesma. Interessante, para não dizer preocupante. Mas bem, ele já tinha falado demais.

Sabia bem que falara demais. Porém, ela aprendeu de um jeito muito difícil que as pessoas mais impulsivas precisavam mesmo de um choque de realidade. Só não imaginava que Dimitri fosse tão...não sabia classificar muito bem. Mas a forma como ele passou a tratá-la - ou simplesmente olhá-la - depois de receber um "não" consciente, só indicava o grau de paixão que existia dentro dele. Pessoas passionais eram difíceis mesmo de lidar. Tudo para eles se resumia a amar ou odiar e ela conhecia bem esse tipo porque convivia com uma assim.

E olha no que deu.

Porém, ela continuou agindo da mesma forma, só que em silêncio. Não respondeu mais a Dimitri e isso, para ele, podia indicar um certo grau de "obediencia" ou "respeito", mas Sienna só estava contendo a própria lingua mesmo e voltando às análises corporais. Já tinha estressado muito o ahroun e coletou as reações dele para registrar na memória.

Gostava do silêncio, ainda que ele pudesse ser ensurdecedor, de certo modo. Mas pelo menos assim, eles não se magoavam e ela só queria ter um dia normal. Foi isso o que ele sugeriu, não? E mesmo falando que queria que ela fosse uma garota normal, o principal tópico dele envolveu casamento, crise de família e matilha. Que menina de 16 anos tem esse tipo de conversa?? Apenas as anormais como Sienna. Talvez ele nem tenha percebido isso, mas bem...não era como se ela já não estivesse acostumada com aquele status.

A Fachada do Barril Verde era bastante agradável. Rustica, mas agradável. Sienna leu, como qualquer "curiosa" ou "turista" a placa com as informações de horários e afins. Assim que entraram foram atendidos por uma jovem com cabelos de fogo. Sienna sorriu para ela e agradeceu, bem educada e gentil a mesa que eles foram guiados. Agradeceu a Dimitri quando ele puxou a cadeira para ela e não esperava menos dele. Estranho seria se ele deixasse aquela caracteristica de lado agora. A jovem sentou-se e enquanto se ajeitava ouvia o comentário dele.

- Hm...Acho que fish and chips... - Estavam perto da praia, esse tipo de prato/petisco podia ser mais aprazível. - E uma limonada.

Não sabia beber muito bem. Só o fazia em festas e eventos, mesmo assim em brindes. Conhecia de vinhos e espumantes, mas assim, na rua, preferia não arriscar. Além de ser menor de idade, podia criar problemas. Disse o que queria e então pegou o próprio celular, começando a mandar uma mensagem para o tio.

"Oi, tio. Tudo bem?
Estou em Bray, no Barril Verde com Dimitri Berzukov.
Tem alguma notícia do meu pai? Sabe se Evelyn ainda está na Irlanda?"

A jovem só pegou o celular quando reconheceu um intervalo onde pudesse fazê-lo. Tinha bastante educação e etiqueta para não se deselegante para com Dimitri, fora que ele também mexeu no celular, então, não viu problemas em mandar uma mensagem para seu tio. Não era como se estivesse entretida com algum grupo de aplicativo. Não, era uma mensagem importante para alguém de sua família!

Colocou o celular para baixo e voltou à postura de antes, encarando Dimitri por alguns instantes. Não era uma encarada intensa porque não queria causar desconforto, apenas observava algumas coisas do modo dele se portar - lendo, novamente, a expressão corporal dele. Imaginava que tipo de coisas se passava pela mente dele agora. Sabia que tinha sido dura demais com o seu choque de realidade, principalmente porque ele tinha acabado de retornar de uma missão importante e que resultou em perdas para si.

Suspirou.

Foi o momento em que ele perguntou sobre seu conhecimento.

Achou aquilo interessante. Ele perguntava para uma "mera Parente" o que ela conhecia sobre eles? Sienna mordeu o lábio internamente e disse.

- Bom...Para ser sincera, eu sei muito pouco. Desde que foi de conhecimento de meus pais que eu não era...bom, uma Garou, eu fui afastada dos conhecimentos mais aprofundados sobre essa vida. É típico de nossa Tribo fazer isso. - Disse com certa resignação. - Mas é claro que eu sou curiosa o suficiente para saber algumas coisas. Porém, mesmo que eu soubesse muito, ainda seria pouco. Eu não estou na sua pele para sentir...isso que vocês tem, sabe? Os dilemas...Bom, a linha tênue entre a vida e a morte creio que saiba, porque...Quando vocês entram naquele estado de cegueira - O frenesi, ela se referia - todos são inimigos. Então...Eu entendo um pouco sobre isso.

Respondeu e se calaria quando a garçonete retornasse com as bebidas. Fez um discreto brinde e deu um gole e ouviu a parte dele. Dimitri parecia querer desabafar e ela apenas escutava. Diferente do que ele imaginava, Sienna olhava para ele e percebia como ele evitava encará-la. A garota cerrou um pouco os olhos e esboçou um micro sorriso no canto dos lábios que desfez quando ele a encarou de novo - caos encarasse.

Meneava positivamente, principalmente quando ouviu que ela achava que ele fosse frágil por não guardar os sentimentos para si. Mas não interrompeu o discurso dele por nenhum minuto, deixando para olhar o presente que ele trouxe para ela, no fim.

- Obrigada, Dimitri, você é sempre muito atencioso.- Respondeu, aceitando o presente.

Não negaria, seria mal educado fazer isso. Mas agora que encontrou uma brecha, falou.

- Creio que não é uma questão entre ocidente ou oriente, é uma questão pessoal. Eu não sou otimista porque sou realista. Você foi criado para ser um guerreiro, um líder, eu fui criada para ser uma dama, alguém com trato para a política. Desde cedo eu soube que estava fadada a casar com um de vocês, ainda que não o conhecesse. E tratei o casamento como ele realmente é, para a minha realidade: um contrato, uma aliança. No fim das contas é isso mesmo.

Deu de ombros, como se realmente não fosse nada para ela.

- Acho que você se expõe muito por ser passional assim. Para alguém que foi criado num regime tão sério e militar, você deixa muitas brechas para que te magoem ou descubram seus segredos. Esse é o problema de ser passional. E também existe diferença entre ser passional, otimista e ingênuo. No fim, eu acho que seu pouco trato social lidando com "gente como eu"  faz de você uma presa fácil.

Pegou o celular, agora sim demonstrando pouco interesse na conversa com ele. Dimitri fez tanto descaso com ela só porque tinha recebido um "não" que agora ela se preocupava com coisas mais importantes.


Digitou rapidamente e desligou a tela, olhando ao redor.  

Como Sienna havia dito, ela foi criada para ser uma dama, para saber lidar com diplomacia ao invés de iniciar uma guerra. Porém, ela só tinha 16 anos, como Dimitri bem sabia e, bom, ainda era uma adolescente, no fim das contas. E, às vezes, apenas às vezes...sua paciência era colocada em jogo e ela quase perdia. Para a sorte de Dimitri, ela tinha sido criada com Aeron e Aimee, de modo que ela sabia lidar com pessoas mimadas. O problema era que ela nunca imaginou que fosse encontrar um que fosse mais imaturo do que seus irmãos.

No entanto, ela nada disse. Mantinha aquela expressão tranquila que sempre tinha - e a criatura era linda, encantadora, tanto que o Garou tinha caído de graças por ela. Infelizmente, Dimitri só tinha se interessado pela cascas e não conhecia a opinião firme, forte e determinada que habitava aquela garota, aparentemente, frágil. Receber um "não" dela pareceu difícil demais para o ego dele, demonstrando que mesmo que ele fosse capaz de se tornar um "monstro" de quase 3 metros, uma Parente, dizendo um "não" conseguiu ser mais forte.

Engraçado.

Sienna o encarava e a irritação pela petulância dele, se transformou em...pena.

E desesperança.

Porque o Destino - ou os espíritos ou Gaia ou a Wyld - parecia muito injusto por fazer de homens como Dimitri e Aeron Garou ao invés dela, por exemplo. Sabia qual era o seu papel e a importância que tinha, mas no fim do dia, não era ela que ia para a guerra física. Eram garotos chorões como seu irmão e seu antigo pretendente. Será que as outras Tribos também tinha que lidar com criaturas assim? Quase lamentava por ter nascido ali.

Fechou os olhos, dando um leve suspiro. Dimitri poderia perceber o desconforto dela, mas não entenderia o real motivo. Ela também nem ao menos mexeu na comida, como se não tivesse apetite - até teve antes, mas então ele começou com os discursos que terminaram de aborrecê-la. Mesmo assim, ela se mantinha polida e limpou os lábios com o guardanapo antes de dizer.

- Compreendo, tovarish. Na verdade, compreendi desde a primeira vez que comentou. Acontece que eu não tenho nenhuma página para virar, porque eu já terminei de ler o livro. - Esboçou um sorriso meigo. - Talvez você que deva virar a página até compreender o que eu quis dizer. Não tenho a intenção de conquistar esse "algo" que me foi ofertado, porque esse "algo além", não me interessa. - Fez uma pausa. - Ah, perdão, você disse que já tinha compreendido isso, mas como reforçou, eu só estou reafirmando.

Colocou o guardanapo na mesa e mexeu na bolsa, retirando uma nota para pegar pelo que consumiu - e o que deixou no prato.

- Sinto muito por fazê-lo perder seu tempo e decepcioná-lo com minha postura, tovarish. Não precisa se incomodar em me levar de volta. A verdade é que eu poderia vir até aqui sozinha, desde o início, mas, por um instante, imaginei que fosse ser interessante para você conhecer esse lado de Bray. Estava enganada, o que é uma pena.

Levantou-se, mas pegou a caixa que tinha sido um presente. Não ia fazer uma desfeita com aquele mimo - ainda que ficasse na dúvida se ela comeria ou não.

- Vou me encontrar com meu tio agora. Até mais ver, Dimitri.

Era mentira, mas não importava também. Só queria uma desculpa para deixá-lo em paz e ficar em paz também. Ajeitou a alça da bolsa no ombro e suspirou enquanto virava-se para se retirar do PUB. Interessante, contudo, seria notar o modo como Sienna falava. Não era agressivo - apesar do teor ser denso. Na verdade, era envolvente e muito educado, quase como se fosse difícil desviar a atenção dela. Ela era, definitivamente, perigosa.

E, no fim das contas, quem saía perdendo mais era Dimitri. Ela não precisava virar um Garou para ganhar suas batalhas.

Rolagem:
7 , 2 , 7 , 8 , 4 , 5 , 8 , 7 , 9 , 7

Ao sair do Pub, Sienna talvez se surpreendesse com o que encontraria lá fora, afinal mal tivera tempo de responder o tio. Ela já os tinha visto antes, então não era tão difícil assim reconhecê-los. Evelyn, agora vista num ambiente mais iluminado e aberto do que uma sala na Garda parecia... Diferente ao seu modo. Ela era alta, cerca de 1.75 de altura, e ainda usava saltos que provavelmente lhe elevava para mais alguns bons centímetros. Seus cabelos vermelhos vividos tinham um brilho de cuidado e apesar de parecer sim, um pouco mais madura, ela não envelhecerá mal. Talvez, Sienna achasse, fosse os genes Garou.

A ruiva estava recostada a uma motocicleta e parecia ter sua atenção no celular em suas mãos. Ao seu lado, o jovem que Sienna tinha visto junto dela na Garda estava lá também. Diferente da mulher, o jovem ainda estava 'sentado' na moto, com o capacete no colo observando o nada. Quando Sienna surgiu, ele sorriu de leve - o mesmo sorriso bonito e cativante da delegacia - para ela. Um terceiro sujeito estava com eles, mas esse ainda usava o capacete, estava vestido com uma jaqueta de couro marrom e calças jeans velhas e rasgadas e não parecia muito interessado nela.

Evelyn olhou para a Parente Presa, respirando fundo. Eve passou a perna para o outro lado, sentando-se normalmente na moto em que estava e ligou o motor. Donovan pegou o capacete que estava no colo e estendeu a mão na direção de Sienna, oferecendo para ela.

- Vamos a um lugar para conversar. - Falou finalmente a ruiva, começando a manobrar a própria moto e saindo dali, o outro sujeito a seguiu, enquanto Donovan aguardava.



A jovem garçonete se aproximou, perguntando se poderia retirar os pratos, após Sienna ter partido, o faria caso Dimitri lhe desse a permissão e então traria a conta. Seu telefonema foi atendido no segundo toque e o homem do outro lado concordou, dizendo que aguardaria por ele. Dimitri pode ouvir o som de algumas motocicletas deixando o lugar logo em seguida.

Não houve nenhum tipo de resposta por parte de Sienna diante daquele desejo de Dimitri. O máximo que fez foi virar um pouco a cabeça, olhando de banda para ele, mas logo continuou sua caminhada. Os passos ainda calculados, perfeitos, a postura de uma nobre...E o peso maior nos ombros. Carregava a caixa numa mão e com a outra, pegava os óculos escuros para colocar de novo antes de pegar o celular.

Antes de sair do PUB, tinha os aparelhos em mãos. Deu uma olhada na mensagem do tio, mas a resposta nem foi necessária.

Sienna não precisou ir até Evelyn porque a Garou estava ali esperando por ela. Parou de andar por um instante, hesitando para não cometer uma gafe. À primeira vista achou que estivessem esperando, mas e se não? Ela teve a confirmação diante da leitura corporal deles. Dessa vez, mãe e filho vinham acompanhado de um terceiro elemento que ela não conseguiu identificar quem era. Felizmente, ela usava uma roupa apropriada para subir numa moto, apesar de nunca ter andando em uma.

Mas bem, quais as opções, hm?

Donovan oferecia o capacete e ela se aproximava, pegando o mesmo. Colocou na cabeça, ajeitando o rabo de cavalo com trança que tinha feito. Meneou positivamente concordando com a mulher e olhou para o espaço que havia ali. Ainda tinha a caixa de chocolate em mãos e não jogou fora porque, bom, ainda tinha um pouco de pena e ele poderia ver a caixa quando saisse do Pub. Por isso, ela enfiou na bolsa, mesmo que amassasse e subiu na garupa de Donovan.

O Garou sentiria que ela não tinha muito jeito para toques e pareceu um pouco constrangida por "abraçá-lo" daquele jeito. Mesmo assim, ela se apoiou do melhor modo possível, para que ele tivesse segurança de guiar a moto e ela não acabasse caindo.

Sienna tinha sido uma verdadeira dama ao lidar com Dimitri, não deixando qualquer rastro ou questionamento sobre sua índole ou suas pretensões. Não havia razões ou motivos para que Dimitri tivesse qualquer outra impressão que não a de que Sienna tinha sido criada e moldada aos modos Presas de Prata. Seria sim, ela para um Garou, uma ótima companheira. Dimitri havia relevado mais do que deveria sobre a sociedade Garou, contrariando os ensinamentos e costumes da sua Tribo e isso era algo do qual precisaria pensar a respeito. Em verdade, parando para pensar a respeito agora, quem tinha sido descortês havia sido ele próprio, já que o convite partirá de sua própria iniciativa e prometerá um dia normal à jovem, mas o primeiro assunto em que tocou fora sobre casamento, além do mais, tinha levado a jovem até ali de motorista, mas permitiu que saísse sozinha e sem qualquer proteção, mesmo sabendo que Bray era território dos Senhores das Sombras.

Aqueles pensamentos lhe invadiam a cabeça com certo tom de culpa, durante o caminho, não apenas a matilha tomaria seus pensamentos, mas o que tinha acontecido no Pub também.

Chegar ao restaurante não foi difícil, o lugar estava parcialmente vazio graças ao horário em que se encontravam. Seu tio já estava em uma das mesas, observando a carta de vinhos do lugar.