[As Descobertas] - Lailah

Ver o sorriso de Mayla deixou Lailah mais calma e ela sentiu-se aliviada, já que ela achava que tinha deixado uma má impressão na Cria de Fenris.

Muninn começou a rir e a garota sobressaltou-se, pois não esperava tal reação, mas o ouviu-o e depois sorriu com a explicação e com o jeito descontraído dele.

- Bom saber disso... obrigada pela explicação – também tinha leveza em sua voz – ah... bem... para nós a maternidade é cheia de cuidados, por isso me preocupei com ela... sabe... galopes e gestação às vezes não combinam – ela sorria – eu recomendaria uma charrete.

Depois observava o rapaz em cada gesto, por mais simples e comum que fosse, para a jovem era tudo fascinante. Ele era, de fato, o mais simpático da família e o mais comunicativo também. Sorriu com a brincadeira, ele tinha razão, em famílias grandes sempre era “almoço em família”.

- Verdade! Minha família é grande também, com muitos irmãos. Eu e a Lena trouxemos tortas para vocês. Eu tinha vindo para agradecer ao seu irmão pela ajuda que me deu com os meus animais e também tinha vindo te contar que eu tinha uma matilha agora. Então sua máthair nos convidou para o almoço.

A conversa prossegue e Lailah fica triste com a resposta e com a naturalidade dele frente àquela questão. De fato era a resposta que a moça não queria ouvir. Ela ouviu atentamente tudo o que dizia.

- Temos nossas tradições... não vou dizer que isso não acontece, mas não é nosso foco principal – ela suspirou – os Filhos se casam com quem bem entenderem. E você... quer se casar com... com ela? Quer dizer... ela é uma boa pessoa... simpática... bonita?

Ela não estava criticando, nem nada do tipo, a cultura dele, apenas estava preocupada com ele e também triste pelo baque que tinha levado. Sabia que jamais receberia atenção dele, que talvez fosse só um amor juvenil, mas ainda sim doía. Apenas tentou agir com dignidade e naturalidade, suprimindo tudo que sentia. Aparentemente ele não se importava com aquela situação.
Tinha Sunna, também prometida e ela achava normal da mesma forma.

- Você gostou dele, Sunna? – a loira era cobiçada por ser pura. O pai de Lailah sempre falava com orgulho dos heróis que sua linhagem possuía, e também seus instrutores falaram para ela sobre sua linhagem e da importância que isso tinha para a sociedade Garou, mas sua família nunca tinha tratado isso como um troféu e sim como uma qualidade. Ela também sabia o quanto essa pureza era raro em sua tribo nos dias de hoje – por esse lado eu entendo o que dizem. Também sou de Raça Pura, minha família é... isso é um pouco raro entre os nossos... meu pai nunca falou em nos casar por negócios... bem... eu não me sinto nem um pouco cobiçada... nesse sentido... quer dizer. No fim das contas, acho que isso não deve ser muito importante para nós ou para meu pai... não sei... nunca falamos sobre isso...

Aquela conversa era embaraçosa para a jovem ruiva e parecia não ter fim, ainda mais quando Muninn faz brincadeiras com elas.

- Não... não tenho namorado não... a Lena tem uns paqueras, mas ela é bonita, né... – ela estava um pouco desconcertada com aquela conversa, ainda mais que ela não se achava tão bonita quanto a irmã e não fazia tanto sucesso entre os rapazes quanto ela.

- Mas sabe, se é um almoço de negócios, talvez não seja de bom tom estarmos presente num assunto de família... não acha, Lena? O senhor Kuhn pode não achar certo isso. Algo tão íntimo, né... posso falar com o Máni depois – na verdade ela queria era sair correndo dali, mas conteve-se para não fazer fiasco. Ela não queria ver essa tal garota, mas ao mesmo tempo queria saber a cara que ela tinha e se era boa o suficiente para Muninn, já que, ainda sim, ela queria a felicidade dele. E porque essa garota não era prometida para o Máni? Muitas coisas passavam pela cabeça da jovem nesse período de tempo de caminhada. Era um assunto que ela não devia se envolver ou dar opiniões.

Como Lailah não conhecia quase nada sobre seus vizinhos e suas terras, ela ouve com atenção toda a explicação que Muninn dá a ela.

- Entendo. Agradeço por me explicar. Neste caso eu a entendo, mas não deixo de me preocupar... acho que é meu jeito mesmo.

Sempre que o rapaz ria e se divertia com as perguntas dela, Lailah sentia-se um pouco boba e, talvez fosse mesmo e aquilo não deixava a moça nada feliz. Ela entendia a preocupação dele com sua tribo, mas não deixou de pensar, bem lá no fundo, que a tal moça poderia não querer casar, mas ela se sentia mal com tais pensamentos e sacudiu a cabeça para espantar tamanho traço de egoísmo.
A coisa não era diferente com Sunna, que via a situação da mesma maneira. Realmente Filhos e Crias eram bem diferentes um dos outros. Havia beleza nessa diferença, no entanto, e ela se sentia feliz por aprender sobre elas.
Mas foi durante a caminhada que ela se surpreendeu com o rapaz, depois que ela ficou pensativa sobre o que seria uma tribo tradicional – já que os Filhos de Gaia também tinham suas tradições, só eram diferentes – mesmo sem comentar nada a respeito, ela dá uma breve parada quando ouve que seu cabelo era bonito.

- V... vo... você acha... a gente... bonita? Nossos cabelos também? – ela olha para Lena, admirada – você ouviu isso, Lena? Ele falou de mim também – por ser muito tímida, a ruiva costumava andar de cabeça baixa e falar pouco com as pessoas, mesmo na escola e nas competições, e por isso nunca tinha recebido elogios e ficou admirada por ouvir um justo de Muninn, que tinha muito valor para ela – o... obrigada, Muninn – ela não se achava bonita como a irmã, mas ficou emocionada mesmo assim. Depois sorriu quando ele comentou sobre as tradições Fenris de festejarem e negociarem ao mesmo tempo, fazendo ela se sentir um pouco mais a vontade com a situação. E ficou vermelha com a piscadela inocente dele.

O passeio pela fazenda foi agradável e ela, certamente, amou conhecer todos os cavalos, já que esses animais eram a paixão da garota, e como eram de raças diferentes, tinha tanto que ela podia aprender sobre eles e não se fez de rogada ao fazer muitas perguntas sobre eles. Depois de passearem pelos pomares e pelos jardins, as meninas conversavam animadamente quando os demais chegaram. Ela se levantou, em respeito e educação, para cumprimentar Erik e Máni.

Diferente do café da manhã do dia de sua transformação, Lailah parecia um pouco mais desenvolta no almoço, sentia-se mais como uma visita mesmo. Mesmo com vários estranhos à mesa, ela conseguiu agir normalmente, já que sua irmã estava com ela. Obviamente não estava em seu natural como era em sua casa, mas parecia com uma pessoa normal, pelo menos. Eram animados, bem diferente do que ela imaginava. A comida estava maravilhosa e ficou agradecida com os elogios sobre sua torta.
A garota, Yuliya estava lá, tão calada quanto Lailah e infinitamente mais bonita que ela também. Seus cabelos tinham aquela cor peculiar de transição entre o loiro e o ruivo, definitivamente lindo. Ela era perfeita, seria impossível Muninn não se interessar por ela e ela por ele, já que ele era lindo também. De tempos em tempos ela olhava para a moça, perdida em seus pensamentos, às vezes suspirava, às vezes olhava para Lena. Foi só quando os demais saíram da mesa que ela pareceu relaxar, já que só tinham ficado os conhecidos. Máni foi direto ao indaga-la e ela prontamente o respondeu.

- Ah... não aconteceu nada. Eu só vim te agradecer pessoalmente pelos conselhos que me deu. Eu e meus animais estamos nos aproximando aos poucos. Está difícil, mas estou evoluindo. Isso é muito importante para mim. Obrigada! Fizemos as tortas para agradecer – ela sorriu – e também queria te fazer uma pergunta: se um dia que eu vier aqui e não tiver nenhum Garou para me autorizar a entrar, como eu devo proceder?

Lailah tentou ser breve em suas palavras para não incomodar, já que percebeu que Máni era mais calado e distante que o irmão, como a maioria ali, por que eles parecessem muito animados em família. Ficou tranquila ao menos, ao ver que ele não a rechaçou nem nada do tipo.
Ouviu a resposta à sua pergunta e concordou.

- Está certo!

Não era bem ao Caern que se referia, mas se a fazenda fazia parte do Caern, então assim deveria ser. Essa era a deixa para ela deixar os Kuhn em paz e voltar a ser boa vizinha como tinha sido até agora e na seita, a Garou que deveria ser.

- Agradeço pelo esclarecimento, Máni. Será que sua mãe precisa de ajuda? Demos trabalho demais – ela perguntou para Sunna – senão acho que já está na hora de voltarmos – depois olha para Lena – hora de partir e deixa-los à vontade em sua casa. Agradecemos muito a hospitalidade.

Ela queria ver Muninn e viu; queria agradecer Máni e agradeceu e teve sua resposta; foi surpreendida com a história do casamento entre primos ou arranjado; conheceu uma possível noiva e de quebra ainda ganhou um elogio. Era o suficiente para ela, tinha que esquecer Muninn e se concentrar em seus afazeres.

Sorridente, ela acenou com a cabeça em agradecimento às palavras de Máni. No fim das contas ele era uma cara legal também, só era diferente do irmão, o que era perfeitamente natural.
Lailah, por uma série de motivos, achou que era mesmo a hora das irmãs partirem e agradeceu muito às irmãs loiras pelos pratos dados à elas e reforçou o convite para que as irmãs as visitassem em sua propriedade, nem que elas fossem acompanhadas pelos irmãos.
Despediu-se normalmente dos irmãos, mesmo que ela quisesse se despedir de Muninn a sós, ela não teve coragem de pedir isso. Mas também, o que ela diria a ele? De fato, foi melhor assim e apenas desejou felicidades.

Tentou conversar normalmente com Lena até chegarem à charrete e concordou com ela.

- É estranho mesmo. Vejo nossos primos quase como irmãos, ainda mais os mais próximos. Acho que até um primo distante e desconhecido eu acharia estranho. E casamentos inter parentais aumentam o surgimento de doenças, né?

O caminho entre as duas fazendas era longo e a ruivinha passou boa parte do caminho calada e de cabeça baixa ou olhando a paisagem, suspirando algumas vezes.
Achou bonito como Muninn defendia e se entregava às suas tradições e ela sabia que não tinha como lutar contra isso. Também tinha a sua insegurança adolescente de achar que o rapaz jamais olharia para ela, ainda mais tendo uma noiva tão bonita. Lailah sabia que jamais teria coragem de se confessar e começou a achar que o melhor a fazer era esquecer i irmão Kuhn.
Sempre ouviu as histórias de como seus se conheceram e depois se casaram e sempre achou uma linda história e sonhava que algo assim acontecesse com ela. A essas alturas do campeonato, foi impossível de não derrubar algumas lágrimas, que ela tentava esconder da irmã. Ela ainda teria alguma distração para tira-la desses pensamentos, como qualquer garota de fazenda, ela tinha tarefas diárias a cumprir e se dedicaria ao máximo a elas. Mesmo jovem, ela também tinha suas responsabilidades e algumas mais importantes e nobres que outras, tipo como ser uma boa Garou e isso ela sentiu no olhar de Máni.