O Justiceiro

Era uma um dia tranquilo na pacata cidade de Lumia, o Sol raiara cedo por conta da época do ano, os fazendeiros começavam a colher os frutos de suas plantações. Leonard se via em uma colina, sob a sombra de uma árvore observando tudo de um plano mais alto. Tudo estava bem, até que uma sombra encobriu o céu vindo do Oeste, em um impulso o paladino de Heironeous ergueu-se e sacou sua espada.

A tenebrosidade envolvida na cena era gigantesca, o céu ficou escuro e um vento quente como o do deserto vinha da mesma direção, queimando de leve a pele do paladino. Milhares de olhos vermelhos se abriam no céu agora completamente negro, nem a luz do sol penetrava tanta escuridão. Finalmente uma voz maligna, que parecia sussurrar algo em sua orelha dizendo palavras em uma língua que desconhecia:

Voz: -- Siknar balaur sepnatrix revan'ghar! --

Neste momento, toda cidade de Lumia era engolida pela escuridão, e como fosse uma massa escura que cobria todo o horizonte preenchida por um amontoado de olhos vermelhos e insanos, vieram na direção do paladino que não teve reação.

Escuro. Tudo se tornou escuro quando fora engolido, até que finalmente... Acordou.

Leonard despertara em sua cama, na residência que morava desde pequeno e onde permanecera mas agora sozinho. Estava completamente suado e ofegante, sentado sobre a cama. Voltou-se para a janela e viu o céu azul e o sol brilhando intensamente, tudo não passara de um pesadelo.

Leonard levantou-se, vestiu sua armadura e pegou suas armas, partindo quase que diretamente para templo de Lumia. No pequeno templo, próximo ao centro da cidade algumas divindades eram cultuadas, inclusive Heironeous, deus o qual o paladino seguia veemente.

Após correr um pouco pelas ruas de terra batida da cidade, sendo avistado por vários moradores dali. Boa parte da cidade conhecia o paladino de Heironeous que um dia já fora o órfão da tragédia, envolvido em um ritual de demonologia e salvo pelo paladino local de Heironeous, Sir Rhodart.

Leonard corria rapidamente até o templo, algo incomum de se ver o rapaz fazendo, o que deixava algumas pessoas apreensivas sem entender o motivo de tamanha pressa. Quando finalmente chegou de frente pra o templo de mármore acinzentado. Passou rapidamente por entre algumas pessoas que ali cultuavam, indo até uma sala aos fundos, onde ficava um velho conhecido como Clérigo Ivar e normalmente seu salvador, Sir Rhodart.

Ambos costumavam ficar falando sobre os deuses ou jogando jogos de tabuleiro, conversando sobre histórias que ouviram em suas épocas de andanças pelo mundo e aventuras que eles mesmos viveram. Porém, aquando chega até o quarto recluso do clérigo, Leonard encontra o homem sozinho, ajoelhado de frente para uma pequena estatueta de Heironeous aparentemente rezando.

Clérigo Ivar: -- Senhor, o guarde, dei-lhe forças nesta última jornada... -- Rezava o clérigo sem se quer notar a proximação nada discreta do paladino.

Quando Leonard o tocava no ombro, Ivar rapidamente se virava para o jovem parecendo aflito. O paladino rapidamente questiona o senhor que se ergue enquanto o mesmo fala, caminhando cambaleante até se sentar, permanecendo em silêncio até que Leonard finalmente terminava. O clérigo levava uma das mãos a testa e cobria parcialmente seu rosto, respirava fundo e então dizia:

Clérigo Ivar: -- Rhodart também teve um sonho, ele falou sobre uma escuridão e uma presença maligna poderosa... Ele... Ele resolveu partir antes que você tentasse empedi-lo, ou quisesse segui-lo... Rhodart falou que você ainda é muito jovem para enfrentar o mal que se aproxima, e que esse era um dever que ele deveria seguir já que recebeu o presságio em seu sonho... Mas... Você também o recebeu... Mas você é jovem de mais! -- Dizia o clérigo com a voz trêmula e indecisa.

Clérigo Ivar cobria os olhos com as mãos por um tempo, esfregando a face e depois continuando:

Clérigo Ivar: -- A face de Rhodart, aquilo não era normal... Ele estava apavorado. O mal que ele deve ter visto com certeza é algo muito além do que vira durante toda sua vida... -- O padre parava por um instante e então voltando-se para Leonard completava. -- Por favor Leonard, respeite o desejo de Rhodart e não vá... --

Leonard desabava em lágrimas afirmando para Ivar que não partiria atrás de seu pai de criação. Devia treinar e se tornar mais forte antes de enfrentar tal jornada. O clérigo consentia com a cabeça e se levantava envolvendo o rapaz com os braços. O abraço durava pouco tempo, Ivar voltava-se para Leonard e dizia:

Clérigo Ivar: -- Treine meu caro, mas já é chegada a hora de você peregrinar como Rhodart o fez. Lumia não guarda mais nada para você além de um passado triste e sofrido, conheça o mundo, cresça e se fortaleça. Ficar brandindo sua espada contra tocos de madeira e bonecos de feno não o tornarão um guerreiro, apenas o mundo pode fazer isso. -- O clérigo dava uma pausa enquanto olhava para o chão, mantendo uma das mãos no ombro do rapaz e logo em seguida olhando-o dos pés a cabeça com um sorriso bobo no rosto. -- Olhe pra você, é um homem agora. Um legítimo paladino de Heironeous... Sir Rhodart não era de se expressar mas eu podia ver em seu olhar o quão orgulhoso de você ele estava... Vá, minha criança, mas tome cuidado... O mundo é um lugar perigoso, porém quando a hora chegar seus caminhos se cruzarão com o de seu pai. --

O clérigo respirava fundo e então voltava a falar:

Clérigo Ivar: -- Mas você não deveria ir sozinho. Vá até o Caneco Furado... A taverna local, em uma cidade pequena e muito calma sempre existirão pessoas que também sentem vontade de conhecer o mundo. Procure-os, meu filho, pessoas de coração bom e de coragem para acompanha-lo numa viagem sem destino certo com o objetivo de engrandecer a alma, apenas escolham vocês mesmos seus caminhos. Visitem Argos, ou a grandiosa cidade dos anões ao norte, explorem florestas e desertos... Fortaleça-se e busque Rhodart quando estiver pronto. --

O paladino se emocionava com a dificuldade apresentada pelo clérigo para dizer aquelas palavras e se despedia do mesmo, agradecendo por tudo. Corria dali, lembrando de tudo que passara desde sua infância conturbada. Uma jornada era o que ele precisava para se fortalecer e mais importante que tudo, amadurecer.

Partia agora para a Taverna do Caneco Furado, onde além de alguns beberrões, alguns jovens se reuniam para conversar e comer uma boa comida e, como também servia como estalagem, alguns viajantes também descansavam de suas viagens por lá. Talvez pudesse encontrar companheiros corajosos para conhecer o mundo com ele.

Corria como o vento por entre as ruas calmas da cidade, chamando atenção com o som de sua armadura e o flamular de sua capa. Ouvi alguns comentários como "O que será que está acontecendo?", "Seria algo sério?", "Ele não parece tenso, eu o vi sorrindo."... Sim, isso era verdade, apesar dos pesares Leonard se sentia feliz como se pela primeira vez fosse dado a ele de escolher seu próprio futuro e ser livre para viver as consequências de suas escolhas. Aquela sensação era libertadora.

Finalmente chegara em frente ao Caneco Furado, taverna e estalagem local de Lumia. O estabelecimento tinha dois andares e era feito em um alicerce de pedra com paredes de puro carvalho, um local rústico mas adorável. A placa pendurada do lado de fora continha uma canenca cheia de cerveja onde de um lado um buraco fazia toda a bebida vazar, além do nome do local escrito em letras douradas.