Icarus - Introdução

15 de Uktar de 1372 CV, o Ano da Magia Selvagem

Castelo Elevado



Castelo Elevado é o nome da pequena aldeia que serve como capital do Vale Alto. Um castelo, que originou o nome da aldeia, encontra-se parcialmente arruinado pelas rochas que caem das montanhas acima dele.

O Vale Alto é um lugar calmo, com ar puro e paisagens fabulosas dos Picos do Trovão, entre Cormyr e Sembia. Mas há alguns anos atrás, como Icarus veio a descobrir, o Castelo Elevado sofreu com uma ocupação Zentharim¹, embora este problema já tenha sido contornado.

OFF:

Na verdade Icarus nasceu no Vale da Cicatriz, mas devido a péssima situação que encontra-se no vale, o algoz resolveu permanecer um tempo em Castelo Elevado e se situar melhor de tudo sobre o que está acontecendo na região. Ele obviamente ouviu falar do Torneio dos Campeões, que irá se iniciar no primeiro dia do novo ano. Icarus ainda descobriu que haverão quatro vales sedes para o torneio: o Vale do Arco, o Vale da Adaga, o Vale Profundo e o o Vale do Rastelo.

Nos últimos dias Icarus tem se estabelecido na estalagem Ninho das Águias, em Castelo Elevado, um lugar ideal para descobrir tudo que ele precisa. É uma estalagem humilde, com fendas nas paredes permitindo a entrada de pássaros e ratos. O prato típico da estalagem é pães quentes cobertos com um queijo derretido que possui a cor e o sabor de cera de vela antiga, além de água para beber.

A tarde Icarus também costuma ir para a taverna "O Escudo e o Sustento", onde há mais movimento de pessoas, inclusive com mercadores das cidades de Sembia e Cormyr. Por volta desse horário sempre há um bardo ou algo do tipo cantando ou fazendo truques à troco de algumas moedas. A cozinha serve sopa, carneiros cozidos especialmente no inverno, salsichas, e pudim vermelho.

Icarus sentava numa cadeira em um canto d'O Escudo e o Sustento, encurvado sobre sua sopa de carneiro, meia caneca de cerveja descansando ao lado. Aquele não era bem o melhor carneiro que já comera, mas não tinha do que reclamar. Vinha desenvolvendo um estranho gosto por esse animal, talvez fosse efeito do Vínculo Empático. Ele trajava suas roupas de viagem: as mesmas calça e camisa de algodão surrado e botas e luvas de couro escurecido que usava em combate, cobertos por uma capa com capuz bastante gastos, mantendo a cabeça baixa e coberta. Tudo para não chamar atenção. Seu objetivo agora era apenas manter-se desapercebido e entreouvir conversas, na esperança de descobrir o que pudesse sobre o torneio. Claro que não seria tolo de andar por aí sem uma adaga na capa e seu símbolo de prata bem escondido sob a camisa.
Ele tinha bem claro seu objetivo na Terra dos Vales, vira como tudo estava ao voltar, e não podia deixar que continuasse assim. Mas esse torneio era certamente um acontecimento importante, e talvez, apenas talvez, pudesse ajudá-lo a cumprir seu objetivo, ou, na pior das hipóteses, lhe dar uma idéia de onde começar a procurar. Se em algumas horas não ouvisse nada, podia começar a puxar assunto com os viajantes na taverna e descobrir algo do modo difícil.

Com os ouvidos postos entre uma conversa e outra, Icarus ouve que um grupo de mercadores estão dirigindo-se para o Vale do Arco, esperando conseguir muito lucro com o torneio e tudo que envolve ele. Ainda irá demorar mais de um mês para o torneio começar, mas os mercadores querem chegar antes para se alocar bem na cidade antes dela ficar superlotada de pessoas.

Fora isto, o algoz não ouve nenhuma informação muito relevante.

Icarus decide buscar mais ativamente por informações. O torneio soava importante. QUanta influência o vencedor ganharia? Qual seria o prêmio? E mais importante, que autoridades ou líderes provavelmente iriam assistir ao torneio?
O Algoz começa a procurar pessoas, fazer perguntas sutiz pela taverna, como quem está vagamente interessado, e anotar mentalmente tudo o que ouve. Ele tenta se manter educado e cuidadosamente normal. Era de seu interessa que o mínimo possível de pessoas se lembrassem dele.

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As pessoas não se mostram muito tentadas a manter uma conversa com Icarus, e respondem rapidamente às perguntas para se ver livre da presença dele o quanto antes.

Mesmo assim o algoz consegue coletar algumas informações que podem ser úteis. O prêmio para o campeão é de 25.000 peças de ouro. Além disso, o vencedor terá direito a posse de terras em algum lugar do vale à sua escolha e ainda ostentará o título de Campeão dos Vales. Ele não descobre que autoridades estarão presentes, mas imagina-se que pelo menos os líderes dos Vales irão querer assistir às lutas.

Vendo que não conseguiria mais nada, o cavaleiro caído retorna a seus humildes aposentos. Na passagem, compra e leva consigo uma jarra de vinho.

Apesar de úteis em combate, seus poderes certamente tornavam difícil utilizar a sutileza. Mas por hora, aquilo já bastava. Pensando bem, talvez fosse bom que se lembrassem dele. Um pouco de medo nunca é ruim.

Caminhando de um lado para o outro em seu quarto, ele refletia:
"Seria uma aposta, no máximo, mas eu não tenho uma opção melhor. Eu mal tenho um plano para começar, mas preciso começar de algum lugar. É inconsebível que os líderes do vales não iriam a um evento desse porte, isso deve abrir alguma brecha. Eu posso pensar em algo no caminho, e, bom...na pior das hipoteses, o dinheiro seria útil."

-Está decidido...

Icarus reúne seus pertences e põe a mochila nas costas. Ele se dirige à recepção e deixa uma moeda deixa na mesa o valor que havia gasto na hospedaria, nem um cobre a mais. E se dirige para fora da cidade, buscando uma área mais reservada do vale.

O Algoz chega a uma área vazia e isolada, e olha para o céu estrelado por um momento, senta-se então no chão e espera. Mal cinco minutos haviam se passado, uma grande sombra cruza o céu, bloqueando o brilho das estrelas, antes de pousar sonoramente a poucos metros. A criatura vira a enorme cabeça escamosa para Icarus.

-Senti que queria me ver. Agente combinou aqui, não é?

A voz alta e potente combinava com os longos sibilos e grunhidos da língua dracônica.

-Estamos partindo, meu caro. Vamos a Nordeste, e você com certeza pode me levar mais depressa que a estrada.

Icarus prende suas coisas aos alforges e se dirige à frente da criatura, que abaixa a cabeça. Ele deita a mão sobre sua grande testa e murmura, entre dentes.

-As asas da Rainha o guiem, ventos das cinco cores o carreguem. Longa é a estrega, pouco é o risco.

Um pulso de sombras corre pelo corpo do Algoz e entram no monstro. Seus olhos tomam um tom mais claro, e seus músculos parecem relaxar. Icarus se iça à sela.

-Essa benção é estranha. É bom eu não me preocupar, mas é ruim não sentir raiva.

-Devia aproveitar esses momentos de paz, amigo. Sinta o vento no rosto e a carícia da escuridão noturna. Logo terá todo o ódio e sangue que deseja. Por hora, voemos.

Os poderosos músculos das coxas se contraem, enormes asas se extendem, acumulando o vento, e com um poderoso impulso, a vegetação rasteira é rasgada, a terra se ergue em uma nuvem, e o cavaleiro e sua terrível montaria tomam os céus.

Icarus e sua montariam alçam voo rumo ao Vale do Arco. Por segurança própria, eles viajam apenas de noite e seguindo a estrada à distância.

Na madrugada do segundo dia de viagem, eles avistam o rio Arkhen e a cidade da Ponte do Arco, a maior das cidades dos Vales e sede do torneio, e que mesmo assim não passa de uma cidade pequena, com casas esparsas nos dois lados do rio. Eles pousam também à distância, evitando serem percebidos por olhos indevidos.

Icarus desce de seu companheiro, e começa a retirar seu equipamento dos alforges e ajeitá-los na mochila que carregaria.

-Não se afaste muito da cidade, Daedalus, eu posso precisar de você a qualquer momento. Eu vou passar alguns minutos em contemplação antes de entrar, mas se quiser ir cuidar dos seus afazeres, sinta-se à vontade.

O algoz pousa a mão no ombro do companheiro.

-E tome cuidado. Guerreiros fortes e aventureiros aspirantes devem começar a se reunir nesses vales com a chegada do torneio, e uma criatura majestosa como você certamente lhes pareceria uma fonte de alguma glória pessoal. Tente se manter não-detectado, e devore qualquer um que o vir sem muito alarde ou vestígios. Se em qualquer momento achar que terá problemas, ou alguém lhe fugir, me mande um sinal de alarme imediatamente, e eu virei ajudá-lo.

Daedalus emite um grunhido estranho e irregular, sua versão de uma risada.

-Eu sei me cuidar, pequeno. Não se preocupe.

Com um forte bater de asas, ele estava longe. Sozinho sob o vento, Icarus se senta apoiado numa árvore, sente a grama sob o corpo e dirige sua mente à Rainha dos Dragões. Muitos minutos se passaram antes de ele se erguer novamente, jogar a mochila no ombro e olhar em direção à cidade. COmeçou então a longa caminhada para a Ponte do Arco.

Ponte do Arco foi construída às margens do rio Arkhen, de um lado encontra-se fazendas e do outro a própria cidade com uma muralha semi-destruída. Uma ponte conecta os dois lados do rio.

Icarus se surpreende com o barulho e tumulto no interior da cidade, com pessoas indo de um lado a outro, patrulhas de soldados armadurados gritando ordens, mercadores vendendo seus produtos, e tendo como resultado disto tudo um caos instalado.

No centro de Ponte do Arco há grandes palácios que chamam a atenção, com janelas gradeadas e fortalezas internas, equipadas com seteiras. É disparada a maior cidade que Icarus já viu na Terra dos Vales e também a mais bem preparada militarmente para uma guerra.

O algoz caminha pelo centro da cidade, observando tudo interessado. Ele começa a procurar por uma pousada para ficar. Algo que não fosse desnecessariamente caro, mas ainda bema cima da média. Se ia ter que ficar ali até o torneio, queria conforto. Além do mais, estava cansado de se misturar com camponeses, e queria um motivo para vestir algo mais próprio que as roupas de viagem.

Icarus encontra uma estalagem chamada de "Velho Arco de Pedra", um local imponente com paredes escuras de pedra, com painéis de madeira bem polidos por toda parte, e como Icarus veio a descobrir mais tarde, com os quartos contendo uma lareira, armários para roupas, cadeiras e cama confortáveis. Por sorte Icarus encontrou um quarto livre no térreo, onde passará os seus próximos dias esperando pelo torneio.

O algoz leva os próximos dias aproveitando o conforto do Velho Arco de Pedra e a bebida da taverna A Ponte e O Arco, que lhe chamou atenção pela qualidade.
Algumas vezes por semana, Icarus saía da cidade à noite e ia ao ponto marcado com Daealus, por praticar com Atma para espantar o tédio e a vontade de lutar, e passar algum tempo com seu amigo.
Conforme os dias passavam ele ficava mais e mais entendiado, e se pegava desejando que o torneio começasse logo ou a cidade fosse atacada, só para lhe trazer alguma ação.

Icarus passa a maior parte dos dias que se seguem na taverna O Arco. No começo ela estava vazia, mas com a proximidade do torneio, não tarda a começar a encher, embora o sossego permaneça comparativamente a uma taverna tradicional. Neste meio-tempo, um bardo começou a tocar no local todos os dias com a sua flauta de pã. Ele não cobra nada pela sua música, pois pelas suas vestes elegantes de nobre é claro que ele não precisa de dinheiro. Na cabeça ele usa um chapéu com uma pena roxa.

Num determinado dia, quando Icarus está tediosamente bebendo esperando o inicio do torneio, este bardo se encaminha até a mesa dele.
- Com licença, posso me sentar? - ele pergunta educadamente.

O algoz levanta o olhar para o bardo, quem ele pensava que era, para se aproximar dele assim? Ele a bre a boca para dispensar o músico, mas se toca que em condições normais, ninguém se aproximaria dele, o poder de Tiamat era tangível em torno de sí, uma presença apavorante que espantava os comuns e minava a resistênia de seus oponentes. Se esse homem estava se aproximando dele de bom grado, devia ter um bom motivo ou não ser um homem comum. Ou ser admiravelmente tolo. Pelo tédio, decidiu ceder à curiosidade, se fosse um tolo, pelo menos teria alguma diversão ensinando-o uma lição.
Icarus acena a cabeça afirmativamente sem muita emoção.
-Se assim deseja.

- Ah, agradecido - diz o bardo puxando a cadeira pra se sentar. - Até mesmo um menestrel precisa um pouco de descanso. - Ele pousa o seu chapéu na mesa e faz um aceno para o atendente. - Vi ontem você entrando na tenda para as inscrições do torneio, vai participar então. Estou ansioso para que as lutas comecem, acho que darão boas histórias para narrar. Ah, desculpe-me por não me apresentar antes, meu nome é Arthminos.

Ele parecia bem à vontade sobre a presença do algoz.

Icarus continuava intrigado com o homem. Ele vira a caneca de cerveja, tomando cuidado para que ela não derrame em sue túnica de seda azul.
-Minha ansiedade se dá mais pelo tédio que por qualquer outra coisa. Sinto que ficarei gordo e bêbado aqui antes que as lutas comecem.
Ele pede uma garrafa de vinho ao atendente.
-Se quer uma história, veio cobrir o torneio certo. Creio que será no mínimo interessante.
O algoz passa osd edos pelos longos cabelos negros algumas vezes, desembaraçando-os. Cabelos longos exigiam tanto cuidado que as vezes era irritante. Ele pega o copo de vinho e o observa por um momento.
-Dizem que não se deve misturar bebidas. Mas não é como se eu tivesse algo melhor para fazer com meu tempo.

Arthminos ri da brincadeira do algoz, embora nem o próprio Icarus deva ter achado tanta graça. Quando o atendente chega o menestrel pede "o mesmo de sempre" e o atendente responde "sim senhor", dando um grau de reverência maior a ele do que se daria a um bardo.
- Por favor, queira dizer-me o seu nome, pois assim já poderei dar início às minhas anotações sobre o torneio.

-Parece interessado no meu nome. Porque não me diz antes o que faz todos te tratarem com tanta importância? Aí talvez eu confie em você o bastante para dizer meu nome.

O algoz toma um gole do vinho. Não se chega aonde ele chegou sem saber uma coisa ou outra sobre o mundo. E duas coisas que ele sabia era que você nunca sabe se alguém é quem diz ser, e que seu nome dá um poder estranho sobre você a quem o conhece. Ele possuía muitos nomes desde que sua espada tornara-se negra, e poucos eram o que seus pais haviam lhe dado.