If you're getting tricky Lying to yourself You're gonna cacth Hell
And if You're testing god And lying to his face You're gonna Catch Hell I know it...
Uma semana antes
A mulher estava sentada no centro de um pentagrama desenhado no chão. O lugar? Bem, poderia ser qualquer um, mas era um dos quartos de seu apartamento, adjacente a biblioteca. Usava aquele local para guardar artefatos e objetos "místicos" que poderiam ser utilizados em rituais. De ervas e essências, a objetos compostos por ouro maciço como castiçais, cálices, punhais... Todo tipo de coisa que você possa imaginar. Alguns papéis estavam espalhados pelo chão e o cheiro da fumaça das ervas e essências queimadas inundavam suas narinas. Eles gostavam de sentir aquilo. Vestia um roupão de seda vermelho, apropriado para rituais. Em sua mão direita repousava um punhal de ouro, enquanto a esquerda escorria um líquido vermelho: sangue. Era o preço. O ritual era simples, porém o canal estava aberto. Após um longo processo de argumentação, parecia chegar a um acordo com a entidade que fora invocada no ritual.
- Bem, seu ritual de proteção vai funcionar... Mas não contra ele. Seu contratante não é um qualquer, não existe proteção contra ele. Bem, talvez... O próprio Lúcifer, quem sabe. - A projeção do infernal sorriu para Megan, com um ar de desdém. Megan permaneceu séria observando a figura espectral. Ele tornou a falar. - Okay, livre de possessão corporal e mental. Você não poderá ser atacada fisicamente e mentalmente por seres sobrenaturais... Duas vezes. Já disse ataques físicos e possessão... O que mais? Sugestão e influência... Não era isso que você queria? Não ser obrigada a fazer algo contra sua vontade. Você não vai ver e nem sentir, mas tem um escudo lhe envolvendo... Por um determinado tempo. Mas... Exijo o pagamento adiantado, senhorita Megan Lewis.
- Já discutimos isso, você se fez bem claro. Irá durar até um dia após o evento?
- Sim, mas não contra Samael ou outros tão poderosos quanto ele. Agora vamos ao pagamento.
Naquela noite e nos dias seguintes Megan bebeu e fumou quantidades absurdas para um ser humano normal sem sentir os reais efeitos. Esteve com diferentes homens e mulheres a fim de sentir os prazeres da carne. A entidade não parecia saciada, mas Megan havia feito a sua parte. Agora restava saber se precisaria de fato daquela proteção. Seguro morreu de velho.
O dia do evento - Mais cedo
Havia tirado aquele dia inteiro para se resguardar e se preparar para o tal evento. Um longo banho de sais na banheira não a fizera relaxar - acreditava que nada a faria relaxar àquela altura da vida, não depois da manifestação de Samael durante o encontro com Dante na semana anterior. Depois daquilo, Megan havia se dedicado a estudar e descobrir no que havia sido envolvida. A única menção a Samael em toda a literatura oculta era "a serpente do paraíso que tentara Adão e Eva" e não tinha certeza se aquilo procedia. Traçou a linhagem de descendência de Caleb Lockwood até certo ponto - era impossível traçar uma linhagem até a primeira família uma vez que registros da civilização humana haviam sido destruídos inúmeras vezes durante a história do mundo. Os sinais do Apocalipse ficaram evidentes a medida que estudara os livros. Muitos dos selos já haviam sido rompidos e restavam poucos, naquele momento - ou por puro azar mesmo - ela estava envolvida naquilo graças a um pacto feito com um demônio chamado Samael. Por mais que ela odiasse que lhe dissessem o que fazer, sentia-se obrigada a fazer o que ele queria, era uma espécie sórdida de troca de favores. Afinal de contas, sua alma pertencia a ele.
Em seu íntimo sabia que nada de bom iria acontecer no evento e de certa forma ela era uma peça fundamental naquilo. A morte (provavelmente de Caleb Lockwood) iria quebrar um dos selos, conseguira deduzir isso. O que precisava, além de proteção, era uma forma legal de se livrar de qualquer acusação que por ventura caísse em cima de si. Isso se, a morte a ser providenciada não fosse a dela, uma pessoa suja e com a alma comprometida - bem que poderia ser uma pessoa boa e com a alma pura, por que não?
Arrumou-se com todo o cuidado e dedicação para parecer impecável: o vestido era um Chanel vermelho longo, com um corte ligeiramente clássico e um decote ousado valorizando seus seios. O colar de pérolas dava duas voltas e uma delas caia graciosamente entre os seios, chamando a atenção. A maquiagem era perfeita para um evento noturno, com um batom vermelho destacando sua pele muito branca. Usava um perfume levemente adocicado, seus cabelos longos estavam presos num coque elegante. Finalizava seu look digno de tapete vermelho do Oscar com um par de sapatos de salto alto e uma bolsa de mão Prada.
Na hora combinada, o interfone tocou, o porteiro avisando que Dante a esperava na entrada do prédio. Desceu deslumbrante, afinal, aquela seria a sua noite: para o bem ou para o mal - mais precisamente, para o mal. Por mais que sentisse que estava indo para a forca, se obrigava a vestir uma de suas "máscaras sociais" e ostentava um ar imponente e confiante. Observou o carro e revirou os olhos: outro modelo antigo - ele tinha uma coleção? Dante levava a sério o estilo "clássico" e aquilo lhe irritava. Respirou fundo, não iria demonstrar seu ódio em ser obrigada a participar daquele esquema diabólico. Eis então que Megan notou que Dante estava acompanhado pelo que só poderia ser a tal esposa. Sem conseguir controlar-se, sorriu com ar de escárnio enquanto olhava a mulher da cabeça aos pés. Era uma bela morena, sem dúvidas: mas não fazia seu tipo. A cena do beijo só fazia a mulher parecer deprimente aos olhos de Megan, uma clara demonstração de ciúmes, a mulher se sentia ameaçada com sua presença e queria se mostrar superior. Diante daquilo, Lewis apenas sorria irritantemente, sem se deixar provocar. Mil formas de rebater aquilo lhe passou pela cabeça, entretanto, seu sorriso irritante e seu olhar penetrante direcionados para o espelho retrovisor eram suficientes para a tal Gabrielle interpretar como se Megan soubesse algo que ela não sabia.
Four Seasons – 300 S Doheny Dr, Los Angeles, CA (10.20 pm)
Finalmente chegaram no Four Seasons, o local onde aconteceria o tal evento. Dante a ajudava a sair do carro, para em seguida serem recepcionados pela imprensa que cobria o evento. O demônio então soltou uma frase que ela entendera como uma graça ou provocação: afinal de contas, Megan Lewis não era uma pessoa qualquer, estava mais do que acostumada a figurar na alta sociedade em diversos eventos. Respondia a cada pergunta com uma provocação direcionada ao casal com um sorriso sonso no rosto, quando sentiu o braço ser puxado com certa agressividade por Gabrielle. Desvencilhou-se com certa elegância e ali mesmo, diante da imprensa, aproximou-se mais da mulher, ficando em frente a ela com um olhar penetrante, como um predador hipnotizando a sua presa. Delicadamente, repousou a mão direita na face dela, deslizando seu dedo polegar pelo canto da enorme boca da mulher.
- Oh querida, seu batom ficou um pouco borrado, deixe-me ajudá-la. - Megan exibia um sorriso provocativo, que podia ser considerado diabólico. Se pudesse manifestar uma aura de maldade tal qual Samael, o teria feito. Gargalhou demonstrando uma falsa inocência, ligeiramente extrovertida, enquanto adentrava ouvindo Gabrielle tagarelar tal qual o marido. Os dois lhe dava náuseas. Se tivesse o poder de obliterar aqueles dois, o faria sem nem pensar duas vezes.
Então o avistou, elegante como sempre. Caleb Lockwood era um homem de estilo, não podia negar. Infelizmente ele não fazia o seu tipo, por isso nunca se interessou em trocar palavras com o mesmo. Para o seu azar (ou o azar dele, depende do ponto de vista), aquilo era um trabalho e precisava fazer bem feito. Deixou-se levar por Gabrielle, que parecia apresentá-lo de má vontade.
- É um prazer conhecê-lo, senhor Lockwood. - Megan sorriu para Caleb demonstrando certa gentileza, parecendo encantada por conhecê-lo. Como gesto de boa fé e educação, estendeu para ele a sua mão. Ao mesmo tempo, demonstrava estar sendo sufocada pela presença de Gabrielle. Precisava se livrar daquela mulher antes que suas mãos fossem para no pescoço dela. Avistou um dos garçons que andava na direção do anfitrião com uma bandeja de vinho.
"É uma boa hora para uma taça de vinho ser derramada sobre ela, não acha? Não preciso pedir 'por favor', preciso?" - Direcionava o pensamento cheio de ódio para sabe-se lá qual demônio inferior lhe prestava pequenos favores. Achou que estivesse louca, pois ouvira uma gargalhada que poderia jurar que era de Samael. O garçom então aproximou-se do trio, fazendo menção de servir primeiro a Caleb, mas este, cavalheiro como era, ordenou que as damas fossem servidas primeiro. A primeira taça então fora servida a Megan e ela sorriu em agradecimento. Em seguida, era a vez do garçom servir Gabrielle. E aí o inesperado - mas para Megan era esperado - aconteceu: enquanto servia Gabrielle, a taça de vinho virou, derramando todo o vinho tinto em seu belo vestido de cetim branco. A mulher gritou assustada e surpresa, Megan prontificou-se a ajudá-la.
- Oh meu Deus, Gabrielle, deixe-me ajudá-la! Posso acompanhá-la à toalete?! - Falsa igual uma nota de 3 dólares, encostou a boca no ouvido da mulher e sussurrou - Get behind me, Satan.
Como se possuída por algum demônio, Gabrielle saiu enfurecida em direção ao banheiro mais próximo, deixando Caleb e Megan a sós. O garçom também se retirava e uma equipe de limpeza logo chegava para arrumar a bagunça.
- Desculpe-me por isso, senhor Lockwood, ela é muito nervosa. - Olhava para ele como se quisesse segurar o riso por pura educação. - Talvez você possa salvar minha noite, afinal...
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