St. James in the City – 3909 Wilshire Blvd, Los Angeles, CA (3.30 am)
A “Ordem da mão esquerda de Deus”, era uma organização milenar, fundada, segundo seus próprios registros históricos, por um ser celestial com o intuito de controlar o equilíbrio no mundo dos mortais. Sua sede principal ficava na capital da Inglaterra, Londres, mas possuía várias filiais por todo o mundo, uma delas em Los Angeles, mais precisamente abaixo da Igreja St. James in the City.
- Venha, sente-se por favor. - Dizia o velho careca e de barba rasa e grisalha. - Receio que precisamos de seus serviços novamente.
Irwin Venkman, ou como era identificado entre seus irmãos de ordem, Cruzion, era um experiente caçador de seres malignos que atrapalhavam o equilíbrio da humanidade. Havia sido recrutado pela “Ordem da mão esquerda de Deus" ainda muito jovem, após um estranho e fatal acidente, que acabou lhe deixando órfão. Já fazia uma semana que não era convocado por sua vossa santidade, título dado ao líder da ordem, para que recebesse uma missão de caça e execução. Uma semana poderia não ser muito tempo para alguém normal, mas para Venkman, este período de tempo era uma tortura, pois eliminar seres maléficos era o que o fazia viver, o que lhe dava algum sentido de sua existência.
- Ainda bem! - Ao reparar no olhar estranho que o velho o havia jogado, decidiu disfarçar sua empolgação com mais uma caçada a ser realizada. - Hã...quero dizer, sim claro, estou sempre as ordens, meu senhor.
- Muito bem, recebemos uma de nosso antigo informante, codinome "Gola Acuta". - Alcançou uma pasta de arquivo para Cruzion, que a folheou imediatamente, demonstrando empolgação. Na primeira página estava o nome real do demônio e o que utilizava como disfarce entre parênteses.
"Mittere (Stravos Dmitriev)"
“Um demônio comunista? Isso vai ser demais”
– Os detalhes estão todos aí, como de costume, deverá estuda-los e se preparar adequadamente, daqui no máximo duas semanas esperamos seu relatório. - Gola Acuta, o tal informante, já era antigo na ordem, apesar de ninguém saber ao certo de quem se tratava, só sabiam de que suas informações eram valiosas e que sempre estavam certas, sem contar é claro, por suas generosas doações para com a causa.
- Sim, meu senhor, dentro de duas semanas, ou até menos, acabarei com essa escoria que vem assombrando nossa humanidade. - Acenou com a cabeça e levantou com o intuito de se retirar do local, antes de ser interrompido com um aviso de seu líder:
- Um momento Cruzion... Eu preciso alerta-lo que este demônio não é como os outros, peço que tome extremo cuidado em aborda-lo. - Seu tom de voz demonstrava certa hesitação, como se realmente estivesse preocupado com o teor da missão que havia passado a seu subordinado.
- Sempre tomo cuidado, vossa santidade sabe bem disso, se não há mais nada a tratar... com sua licença.
Ao deixar o cômodo principal, passou por um longo corredor, este que possuía inúmeras pinturas de vários anjos e arcanjos fixadas por sua parede. Uma em especifica havia lhe chamado atenção antes, e agora resolveu parar para observa-la. Sabia "de cor e salteado" o nome de todos os anjos ali, mas aquela parecia ser uma novidade no meio de um mar de tantas outras.
- Olha só o que temos aqui, hum... - o quadro detinha de uma moldura espessa, feita inteiramente de ouro, com vários detalhes retangulares, e sua pintura era a representação de um ser celestial, de asas brancas reluzentes, segurando em ambas as mãos, um grande e dourado livro.
- "Sarafiel, o orador dourado"... - Lia Venkman a descrição moldada logo na parte de baixo da moldura. - Ta aí, gostei desse, queria saber quem foi o doador...
- Não deveria estar se preparando para sua caçada, Cruzion? - Sua observação artística era interrompida pelo senhor Amadeo, um dos vários ministros da ordem, que em seu caso, era responsável pelas finanças da organização.
- Ah! Amadeo, já lhe disse que seria um ótimo caçador? Sempre se esgueirando por aí... - Não conseguia ocultar o tom de deboche em sua fala.
- E você um excelente trovador eu suponho...Mas vejo que também tem bom gosto pela arte, este chegou faz pouco tempo, doado pelo nosso ilustre "Gola Acuta".
- Sempre ele, não é? Esse cara deve amar nossa ordem, me pergunto porque nunca apareceu para nos cumprimentar... - O ar de desconfiança que Venkman exalava por entre suas falas deixavam Amadeo extremamente aborrecido.
- Assim como não é da conta dele o que fazemos com suas doações, não é da nossa questionar os motivos de seu anonimato, Cruzion. - Amadeo deixava claro que não iria permitir ultrajes contra um dos mais antigos e ativos financiadores de sua organização.
- Tudo bem esquentadinho, foi só uma brincadeira, eu hein... - Fez um sinal com a cabeça e se despediu de Amadeo. - Com sua licença...
- Já estava na hora. - Respondeu áspero, Amadeo.
“Pau no seu cu, seu babaca”
Blue Sky, – Los Angeles, CA (4.40 am)
Cruzion chegou ao Blue Sky munido de suas armas, uma pistola Magnum .44 modificada especialmente para utilizar uma munição especial para ferir seres sobrenaturais, uma adaga abençoada com escritas religiosas em sua lamina, sem contar o famoso frasco de agua benta. Acabou sendo abordado por um dos seguranças:
- Sua senha. – O segurança em questão o mostrou um desenho estranho em um cartão. Cruzion reparou que era um dos modos de identificar e barrar certos membros indesejados de adentrarem o clube. Claro, como detinha de sua habilidade de enxergar o tecido que separa a realidade do sobrenatural, descobrir a senha não foi difícil:
- Um rato de vestido.
Ao chegar na recepção eletrônica, observou o painel antes de escolher um dos andares.
1 – Bar e salão principal. 2 – Sodoma e Gomorra. 3 – Beijo do Grego. 4 – A perda da inocência. 5 – O último degrau.
“Eita porra, o negócio aqui é hardcore mesmo!” - Selecionou a primeira opção e adentrou o elevador.
O 1º andar era detido de um belo salão de festas, e um grande bar, onde várias moças com roupas no mínimo chamativas, entregavam pedidos e divertiam seus clientes. Se aproximou do bar e pediu uma bebida. Foi atendido por uma bela moça, mas que parecia estar chorando. Não perdeu a chance de questiona-la:
- O que houve minha querida? Alguém te fez mal? – Não sentia um mal vindo dela, então acreditava que era apenas uma humana tentando a vida em Los Angeles.
- Não se preocupe senhor, apenas mais um cliente idiota e escroto, como vários outros por aqui... aqui está senhor, bom proveito e bem-vindo ao Blue Sky... – Tentava disfarçar sua angustia com um sorriso amarelo.
- Não posso aceitar que tratem as pessoas deste jeito aqui, peço que me diga quem foi e- A garçonete o interrompeu se aproximando e cochichando perto de seu rosto:
- O senhor parece ser diferente do demais, por isso vou lhe alertar, as coisas aqui são diferentes, tome cuidado, especialmente com aquele russo sentado ali.
- Ah sim claro, realmente os russos são os piores e- Parou por um segundo e refletiu sobre o conselho da mulher.
“Russo? Pera aí... Haha te peguei seu filho da puta!”
- Muito obrigado pelo conselho sua linda, toma aqui uma gorjeta! – Não conseguia conter seu sorriso, afinal, seu alvo estava bem em sua frente, tudo o que precisava fazer era executa-lo, o problema seria seus amigos demônios juntos ali, Cruzion era bom no que fazia, mas enfrentar quase uma centena de inimigos de uma só vez seria suicídio, então decidiu se aproximar, sentando em uma das mesas ao redor e observar o alvo, até que o mesmo se retirasse do local, quando assim, seria mais fácil de abater.
"Tic-Tac Senhor Smirnoff Ice-Popokelvs e sei lá mais o que, Tic-tac..."
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