Brasil
Há muito tempo ocorreu, mas todos hão de se lembrar, seja lido através de livros de história ou mesmo transmitido de boca em boca. A conquista portuguesa no Brasil foi implacável, deixando consigo marcas incuráveis no solo da pátria amada, regado de sangue e lágrimas. Todavia, a história por detrás do véu não foi muito diferente... Para surpresa dos inquisidores da Rainha, as tribos indígenas que revogavam seu lar ou mesmo que barganhavam com os estrangeiros em troca de trivialidades nas quais para eles, soavam tão atrativas, também detinham Despertos entre eles.
A magia destes, era sem dúvida fascinante, trazendo deslumbre e até mesmo medo aos membros do Arce Códex que foram incumbidos de iniciar o processo da tomada territorial. Na época, a rainha das fadas de Portugal, uma Shyde da Cabala dos Ephorate chamada Amélia de Bragança, temeu a violação das leis impostas pelo Códex e ordenou que todos os nativos fossem mantidos sobre seu controle... No entanto, houve revolta, os povos ali já instituídos possuíam suas próprias leis, ritos e cultura e jamais se submeteriam aos cortejos ou mesmo coerção de uma fada estrangeira, seja ela quem fosse.
Foi então que a Rainha de Bragança decretou que todos os despertos indígenas eram infernalistas e que deveriam ser eliminados para que as Treze Cabalas pudessem se estruturar naquelas terras.
E mesmo embora poderosos e repletos de mistérios, os encarregados da Rainha chegavam cada vez mais em seus sinuosos navios, deixando de tornar aquilo uma guerra de ideias para fazer com que fosse uma mera caçada. Tratados como bestas, algumas Cabalas tentaram se opor ao massacre, mas já era tarde demais, não havia como voltar atrás, pois havia ódio em ambos os lados. Anos se passaram e já era difícil encontrar nativos despertos na região tomada pelo Arce Códex, entretanto, no dia onde abdicou de seu título de Rainha de Bragança, cedendo-o para sua irmã mais nova, Leonor, para que pudesse ser decretado a posse total da regência do Brasil para Amélia, um grupo de nativos haviam armado uma espécie de cerco, gerando um tumulto no qual ceifou mais vidas dos dois lados... Mortos pela supremacia das milícias de Bragança, alguns dos nativos que restavam fugiram para a fazenda agropecuária Belo Monte. Lá, foram encurralados e finalmente descobriram que era ali que eles formavam sua colônia, pelo subterrâneo. A própria rainha foi para o local com um grupo de Alastores e após algumas horas, foi encontrada gravemente ferida pelos Arcontes. Era de se espantar que todo o grupo de Alastores havia perecido, mas ainda assim sobraram alguns dos membros mais valiosos dos nativos, cujo cabecearam todo plano de assassinato da rainha. Entre eles, estava uma poderosa bruxa que eles chamavam de Belliora, ela parecia ser uma espécie de divindade para os nativos. Mas para Amélia de Bragança isso não importava, ela não hesitou em condena-los a morte em praça pública, para que todos pudessem ver, servindo de lição para próximas revoltas.
Após alguns meses, a mando do Arce Códex, foi realizado uma extensa e ampla investigação, na qual apontou que os nativos não eram infernalistas como Amélia havia acusado e sua caça, que causou um genocídio, não foi procedente. Mas seu antigo título de rainha havia lhe concedido grandes aliados, que interviram para que o Arce Códex aplicasse uma medida mais branda... Amélia de Bragança perdeu o direito da regência do Brasil, limitando-se apenas para uma cidade que estava sendo construída, na qual foi nomeada de São Paulo. Também foi determinado que nenhum Desperto iria de fato ter a regência do país, fazendo com que cada cidade tivesse o seu regente. Entretanto, devido a forte pressão que sofria até mesmo da oligarquia instituída na época, Amélia optou por renunciar, se exilando desde então em algum lugar que até hoje é um mistério. Novos regentes administraram o que se tornou o Império Brasileiro, mantendo a organização, poder e influência do Arce Códex sob a civilização que nascia, crescia e morria sem sequer imaginar que por trás de suas vidas medíocres, se passava a história de Despertos tão poderosos que eternizaram seus nomes perante seus feitos fabulosos, mas isso, é outra história...
A abolição da escravatura colaborou para o fim do Império Brasileiro, no qual perdeu importante apoio das elites agrárias, prejudicadas com a decisão do governo de não indenizá-las de acordo com o número de escravos alforriados. Desde então a estrutura política entre os adormecidos passou por uma fase conturbada, repleta de mudanças e novos ideias, no entanto, não estamos aqui para falar dos peões e sim dos reis e rainhas.
Mais de 470 anos se passou desde o massacre dos despertos nativos brasileiros, onde na época um senhor de idade avançada, chamado Demétrio de Albuquerque, era o regente de São Paulo, um fato inesperado aconteceu. A cidade estava passando por uma situação complicada, espíritos malignos estavam possuindo adormecidos em uma escala nunca antes vista em São Paulo, fato que só foi descoberto devido diversas denuncias de Malkavianos que se reportaram no Elísio, nos quais pareciam ser mais sensível á sentir este tipo de presença.
O regente já havia promovido alguns grupos liderados pelos Portadores da Luz para sanar o problema mas de nada adiantava. Foi então que decidiu conceder um evento dedicado á estação do ano, para acalmar os ânimos e ter um debate com os membros renomados de cada Cabala e tentar buscar novas alternativas para assegurar a permanência do véu. Neste dia, todos dançavam ao som do violino da Francesa ''Isabelle D'Bouar'' da Rosa Amarga, na qual estava de passagem na cidade. Quando de repente, Amélia de Bragança surgiu no baile de primavera no qual estava sendo sediado em um dos mais sinuosos salões de festas do elísio. Vestida de forma deslumbrante, como uma verdadeira deusa encarnada, seu sangue puro trazia entusiasmo aos Despertos mais conservadores e devido possuir um nome tão antigo, também causava temor aqueles que nem sequer podiam imaginar as reais intenções daquela Shyde. Em um misto de sentimentos dos membros presentes, ela se pronunciou enquanto o silêncio pairava no semblante pasmo dos ouvintes, reclamando a reivindicação do cargo de regente da cidade, alegando ser mais adequada para exercer tal função naquele dado momento. Um fervoroso conflito se iniciou após suas palavras, as opiniões se cruzavam de forma desordenada, e quando parecia que a situação fugiria de controle, os Ephorate se posicionaram para impor sua vontade, demonstrando completo apoio á Amélia, fazendo com que todos os presentes se submetessem á decisão tomada. Devido as fileiras dos Ephorate possuírem os membros mais poderosos da cidade, poucos tiveram coragem de desafia-los e logo Demétrio se viu de mãos atadas, dando-se por vencido teve de renunciar de seu cargo, para que a ex-rainha de Bragança pudesse ascender novamente. Este dia ficou conhecido como, A Retomada Real. Com o passar dos primeiros dias, de fato o problema das possessões na cidade foi resolvido, mostrando a eficiência da nova regente. E logo no primeiro mês no Poder, de todos os cargos que já estavam determinados na cidade, Amélia apenas trocou seu Senescal, tirando Osvaldo Freitas de seu posto e colocando um membro recém chegado na cidade, chamado Manoel Duarte, mas até hoje pouco se sabe sobre ele.
Dizem que Amélia mudou muito depois deste os tempos antigos, passou a ter mais pulso firme com tudo e a todos e os rumores de sua bondade e benevolência se tornaram distantes.
Hoje, ela é uma mulher fria e apática, que nem mesmo interage muito com os despertos da cidade. Dizem que até mesmo os anciões que a conheceram antes de seu sumiço se espantaram quando a viram novamente depois de tanto tempo. Muitos duvidavam que ela fosse capaz de permanecer regente depois da trágica história que tivera, mas ela não parecia nem um pouco inclinada a concordar com isso. Sua regência em São Paulo já começou conturbada, em apenas dez anos de poder, ela conseguiu retomar sua influência na área miliciana da cidade e mudar completamente a realidade de vida que se conhecia, dando inicio ao chamado ''Ditadura Militar'', onde muitos Despertos se opuseram inicialmente, mas de nada adiantou. Alguns tentaram até mesmo incitar revoluções contra a nova regente, mas estes, um a um, iam sumindo aos poucos... Hoje a liberdade de expressão tanto dos Adormecidos quanto dos Despertos é cerceada, fazendo com que muitos saibam que questionar ou se opor contra a metodologia que Amélia instituiu, é completamente inviável e sem cabimento, pois ela parece estar determinada a alcançar um objetivo em particular, no qual todos são compelidos a crerem que se trata do bem comum acima de suas compreensões mortais.