Dark Side Of The City Lights

Os raios do sol entravam delicadamente pelas frestas das paredes de madeira apodrecida, jogando alguma iluminação incômoda dentro do velho casarão em ruínas. O lugar fedia a coisa velha e podre e, de alguma forma, a luz do sol fazia o cheiro ficar mais forte, como se o lugar a rejeitasse.

O espaço era insalubre, isso era fato. Apesar de razoavelmente grande para os padrões da localidade, a poeira, sujeira e mofo estavam por toda a parte impregnando se espalhando pelos móveis velhos, quebrados e podres.

Ninguém sabia quem era o dono do lugar e o que diabos havia acontecido com ele. E isso não importava. Aquela casa era uma das várias outras casas velhas que se amontoavam na pequenina favela das áreas pobres de Samúria.  Algumas eram habitadas, outras não.

Pois era verdade que até mesmo a capital do maior dos reinos humanos (que levava o mesmo nome da cidade) não estava livre das mazelas da pobreza e da miséria. Viajantes de fora que contemplassem a grandiosa cidade poderiam pensar que era uma terra de oportunidades e riquezas, e de fato não estavam totalmente errados. Mas toda a luz gera sua sombra.

Naquela casa velha caindo aos pedaços, nas sombras da cidade. Morava um grupo de pequeninos indivíduos. Um grupo muito inusitado que, adormecidos, dividiam o espaço de uma cama improvisada no chão com palha velha e tecidos puídos. Formado por duas crianças pequenas, esfarrapadas e um goblin, que roncavam ruidosamente.

Um raio de sol entra pela janela com vidros quebrados e atinge o pequeno Crazzy Trazencrenca. Ele sente a luz e o calor em seu rosto, fica perturbado mas decide não levantar de primeira.  Entretanto, percebe que não tem escolha ao notar o barulho de passos se aproximando. Logo abre os olhos, já sabendo tratar-se de Timmy, um dos órfãos mais novos que, aparentemente havia acordado mais cedo.

- Crazzy, Crazzy. Acorda! Anda! - ele o cutuca com o dedo gorducho. Havia um tom de preocupação em sua voz fina.

Crazzy vai abrindo os olhos lentamente, abre um bocejo dos grandes mostrando sua boca azulada e língua roxa e ele estica seu pequenos braços e pernas virando-se repentinamente ao notar que o passos que ouvia não era um sonho.

- O que foi Timmy?! PUTA QUE PARIUUUU!!! CORREEEEEEE CAMBADAAAAAAAAAAA!!!

Então Crazzy da um salto começa a pegar as suas coisas que não são muitas de forma desajeitada e desengonçada e ajuda os outros a acordarem e pegarem suas coisas, ele acaba batendo o dedinho do pé no cantinho da parede procurando pelo seu ratinho de estimação e em um silencio momentâneo ele segura seu grito desesperado de dor .

- Alguém viu a Matilda?! - ...!!! KARALHOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!! No dedinho não sua parede estupida!!! - Corre corre corre... Se não vai da merda!

E eles tentam sair da casa sem que ninguém os note.

Assustadas com os gritos do goblin e sua pressa em disparar do lugar, as duas crianças adormecidas logo acordam. Bocejam, seus rostinhos sujos carregando expressões de sonolência que chegavam a dar pena. Mas já estavam acostumadas com os diversos pulos e gritos de Crazzy nas horas mais inusitadas possíveis. Se levantam devagar, ainda um pouco letárgicas.

Os olhos arregalados de Timmy diante da cena da parede são um show a parte. Mas, enquanto todos se preparavam para sair da casa, o menino puxa as vestes de Crazzy em busca de sua atenção.

- o Jonny, Crazzy! Ele saiu cedo pra comprar comida e não voltou até agora!

Jonny era o menino mais velho, deveria ter por volta de 10 anos e era o irmão de Timmy. Junto com Crazzy, fazia o possível para tomar conta dos outros, encontrar bons lugares para se abrigar, procurar comida.  Roubar algum ouro também, pois o menino tinha um certo talento na coisa.  

Fazia uma semana desde que Jonny saia, todos os dias, antes de todos acordarem para conseguir comida. As vezes comprava, as vezes ele afanava de quem quer que estivesse distraído. Em todos os casos não costumava demorar muito.

Até agora.

A velha Matilda sai de um amontoado de escombros e sobe pelas vestes do goblin, até se aninhar em sua cabeça. Timmy e as outras crianças olham para Crazzy muito preocupadas. Ele também estava no comando ali, deveria tomar alguma atitude.

Crazzy respira fundo olha para seus amigos e diz:

- Calma galera... vou dar uma olhadinha pra ver se da pra meter o pé daqui! Fiquem aqui dentro.

Lentamente de forma cautelosa Crazzy abre um pouco a porta sem fazer barulho e tenta ver se há como tirar todos dali em segurança.

OFF:

As crianças tentam permanecer quietas enquanto o goblin usa seu tamanho diminuto e peso leve, fazendo praticamente nenhum barulho. Abre a porta com calma. Tudo o que Crazzy consegue ver é o chão de terra batida e outras casas, casonas e casinhas abandonadas naquela área da cidade, que conhecia bem. Está silencioso mas não anormalmente silencioso. Tudo indica que eles poderiam sair.

Spoiler:

Crazzy olha para as crianças e faz um sinal e fala baixinho.

- Vamos procurar o Jonny galera! Me segue!

Então Crazzy sai a procura do seu amigo que ainda não retornou. Ele tem medo de que Jonny tenha tido um pouco de falta de sorte ao tentar arrumar comida. Crazzy procura nos locais mais comuns aonde eles costumam ir para arrumar comida.

OFF:

A cidade é imensa. Mas você sabe por onde seguir, pois a conhece como a palma de sua mão. Você tenta se lembrar, enquanto segue com as demais crianças, qual caminho normalmente Jonny seguia todos os dias.

Jonny costumava ir para o centro ou a área comercial, onde várias caravanas de mercadores chegavam com frequencia na Cidade. Era um local ao mesmo tempo arriscado (devido a forte segurança que alguns mercadores traziam consigo) e lucrativo caso tivesse sucesso na ladinagem.

Crazzy observa todo o lugar e como ele acha que Jonny poça ter sido pego ele presta mais atenção próximo aos guardas.
Ele procura um lugar seguro pra deixar as crianças e vai procurar por Jonny mas sem sair do alcance de visão das crianças sempre prestando atenção nelas.

- Galera fiquem aqui que eu vou dar uma volta pra ver se encontro o Jonny. não se preocupem eu não vou muito longe e vou está sempre de olho em vocês aqui.

Então Crazzy sai com um capuz escondendo suas orelhas e com suas mão por dentro dos trapos que veste.

Timmy olha preocupado para o Goblin, aquela situação deveria ser muito tensa, principalmente para ele. Você sabe que os dois irmãos são muito apegados.

- Crazzy, pur favor, acha meu irmão... disse o pequeno, com os olhos cheios de lágrimas.

Você procura durante alguns bons minutos, mas sem pistas. Era como se jonny tivesse desaparecido complemtamente do mapa.

- Ei turan olha, é o fedor e os pivetes!

Através de uma ruela, você observa um grupo se aproximar. Era composto por três garotos mais velhos, por volta de 13 anos cada um deles. Você conhece aquelas expressões mal-encaradas, era a gangue do Turan. Eram os "donos" daquela área, ou pelo menos assim diziam.

Turan, o garoto mais alto (e também o mais velho, quase chegando aos 15 anos) olha para você de cima e com cara de poucos amigos.

- Ta fazendo o que aqui com teus pivetes, Fedor? Já falei pra não dar mole na minha área! como um verdadeiro "bully" ele te encara com os braços cruzados (destacando os músculos já em formação para parecer intimidador) e cara de poucos amigos, assim como os seus dois "guarda-costas".

Você se lembra do último encontro que teve com Turan e sua gangue. Foi uma disputa por um roubo quase bem-sucedido na área dos mercadores, mas Jonny foi pego e acabou com um olho roxo. Você normalmente não se importaria em lidar com um grupo de garoto (mesmo sendo mais velhos), mas sabe que a gangue do Turan tem alguma conexão com bandidos realmente perigosos que atuavam na cidade e a coisa poderia ficar feia... ou ele poderia saber alguma coisa sobre o Jonny.

Crazzy olha doido pra dar uma surra nos pivetes mas tenta se controlar por causa dos outros.

- Então Turan... não estamos dando bobeira. Só viemos aqui pra procurar o Jonny que está desaparecido. - Sei que o território é seu e blá blá blá... mas só estamos passando e procurando pelo Jonny não estamos fazendo mais nada. Por algum acaso tá sabendo de alguma coisa?!

O garoto, ainda de cara de fechada, o encara por alguns segundos. Desvia o olhar para as outras crianças que o acompanham e de volta para você.

- Ele passou por aqui bem cedo. Dei de cara com ele e mandei circular. E não me olhe desse jeito, dessa vez a cara dele saiu ilesa. humf

Ele descruza os braços e olha para as crianças novamente.

- Não sei muito bem o que aconteceu depois disso. Ele não me deu mais atenção nenhuma, parecia que não estava mais aqui. E tinha uns olhos vidrados, esquisitos. Ele saiu caminhando na direção da bairro velho. Eu não entro naquele lugar nem os parças aqui. Depois que as pessoas começaram a começaram a desaparecer por lá.

- Valeu! Já vamos saindo do seu território.

Crazzy se aproxima das crianças e começa a guiar elas de volta pra casa aonde estavam, para deixa-las em segurança, chegando na casa abandonada ele olha pra todos e diz:

- Galera! vou ter que ir procurar o Jonny lá no Bairro Velho, ele foi visto indo nessa direção. Preciso que vocês fiquem aqui aonde é mais seguro e eu vou conseguir procurar melhor sozinho. - Vou tentar não demorar.

Crazzy deixa as crianças em segurança e sai pra procurar seu amigo na direção do Bairro Velho, sem ter que se preocupar com os outros.

Você e as crianças são seguidos pelo olhar carrancudo de Turan e dos outros. De volta para a velha casa abandonada, vocês seguem pelos becos escuros, cortando os caminhos pelas vielas da forma que Crazzy bem conhecia. Havia algo esquisito no ar, você podia sentir, assim como as pobres crianças que você protegia. Eram normalmente alegres e tagarelas, Timmy era um palhaço em miniatura e vocês riam demais mesmo com todas as dificuldades que enfrentavam diariamente. Mas o pobrezinho estava calado agora, para baixo.

Você podia advinhar o que se passava na cabeça dele. O medo de perder o irmão, a única coisa que havia restado de sua família. Eles tinham uma história de vida parecida com a sua, perderam os páis cedo demais. Foram parar nas ruas e morreriam de fome se não fosse pelos dons ladinos de Jonny que usava para sustentar os dois. O começo foi difícil para vocês, não se davam bem, você como goblin era visto com desconfiança pelos pequenos. Mas seu carisma natural e as semelhanças entres as trajetórias, os uniram, como uma família nova.


E agora vocês poderiam perder essa família. O que teria acontecido com Jonny? O que causou tudo isso?

Calados e perdidos nesses pensamentos, vocês retornam até a casa abandonada.

Spoiler:

Algo para seu movimento no momento em que toca a maçaneta da porta para abrí-la. Você o som de algo se movimentando lá dentro e uma respiração pesada e ritimada, como se alguém se estivesse andando de um lado para outroo, não sendo lá muito discreto. Havia algo ou alguém dentro daquela casa...e não era a Matilda.

As crianças olham para você com pontos de interrogação em suas carinhas.

- Que foi, Crazzy? Não vamos entrar? - Timmy pergunta com uma finura de voz.

Crazzy fica desconfiado mas prefere acreditar que seu amigo desaparecido esteja vivo e tenha retornado.

- Fiquem escondidos aqui fora... Parece que tem alguém ali dentro! - Shiiiiiiiuuuu!!!

Então Crazzy tentar a abrir a porta lentamente para ver o que está acontecendo dentro da casa sem ser percebido.

As crianças se afastam enquanto você abre a porta com cuidado. O lugar ainda estava escuro apesar de alguns rarios de sol que entram pelas frestas. Não que isso incomode seus olhos.

Você vê um vulto andando de um lado para o outro dentro da casa em ruínas. Mais precisamente, perto do colchão improvisado que você e as crianças usavam para dormir. Era pequeno, deveria ter o seu tamanho. Carrega algo em suas mãos. Na direita o que parece ser uma espada curta. Na esquerda, um bolinho felpudo que gincha enquanto ele fala, com voz esganiçada:

- Crianzazzzz, crianzazzz, crianzass...sinto cheiro de crianzass, mas onde estão as crianzass? Ele disse que tinha mais crianzass mas eu não vejo crianzasss...você sabe onde foram as crianzasss, ratinho?

Crazzy faz um sinal de silencio e em seguida estica seu braço e balança sua mão fazendo um sinal para se afastarem. Então ele abre a porta como se nada tivesse acontecido e fazendo uma cara de surpreso.

- Mas que MERDA é essa?! - Quem é você e o que está fazendo na minha casa o RAPÁ!!! TÁ MALUCO?!!!

Percebendo o rato na mão da criatura ele tira o chapéu pra ver se a Matilda ainda está com ele.

Apesar de sua pouca idade, a vida nas ruas da capital do maior reino humano já lhe concedeu a visão de um número respeitável de coisas bizarras. Mas você nunca viu nada parecido aquele ser que o olhou supreso, assim que você abriu aquela porta.

Era baixo, de fato. Deveria ter a sua altura, mais ou menos. O nariz era grande e muito pontudo. Dentes finos e afiados em uma bocarra escancarada. Saindo das costas, você pode ver pequeninas asas coriáceas. Os olhos vermelhos, ao contrário dos seus, expressavam uma maldade e mesquinharia intensas.

- Se você é uma crianzasss, você é uma crianzass muito feiah! ele diz com a voz esganiçada, apontando para você com a mão que segura, você logo percebe...a Matilda!

- Sinto cheiro de crianzasss, cadê as outrassss crianzass, sua crianzasss feiah?!