[Farewell, old friend] - Susannah Lewis

Os olhos claros - herdados pelo pai - estavam fixos no próprio reflexo no espelho. Ainda sequer tinha penteado os cabelos, as madeixas ruivo alaranjado caiam pelos ombros na direção da cintura e ela parecia completamente fora de si enquanto o espartilho era puxado e ajeitado em seu corpo: Sussie - como chamavam os mais próximos - era suficientemente magra para conseguir encaixar-se em qualquer tipo de peça que desejasse. Tinha o rosto fino e essencialmente feminino, sabia-se bonita e sabia-se que na sociedade da qual estava inserida essa beleza exótica e surpreendente lhe rendia portas abertas e convites incessantes, mas não apenas a beleza, claro, o dinheiro que possuía também ajudava.

Ela era também suficientemente inteligente para saber que a aparência importava sim - independente do que gostavam de dizer - não existia essa coisa de beleza interior. Você era o que você parecia ser e Susannah Lewis era bela. Isso lhe levava à noite anterior, onde em mais um dos muitos bailes e eventos que frequentava, ela viu-se disputando olhares de outras não tão belas quanto ela daquele homem.

Não, não era isso. Não podia ser.

Suspirou, retornando a sua inútil realidade quando Amelie lhe puxou os laços do espartilho, roubando-lhe o ar por meros segundos, seu olhar desviou-se levemente do próprio reflexo para encarar a jovem e depois a porta atrás de si e lá estava Sir Joseph encarando-a, seus olhos escuros e profundos julgando-a pelo simples fato de não ter lhe escrito mais nada nas últimas semanas. Sussie abriu a boca para dizer algo, mas lembrou-se da presença de Amelie e preferiu calar-se. Ignorou Sir Joseph - tinha aprendido como tempo que apenas ela podia vê-lo - retornou aos seus pensamentos e a frase daquele homem retornou junto.

- Nossos movimentos foram extremamente ritmados, como se nossos corpos soubessem exatamente o que desejavam.

Tinha dito-lhe ele e assim como sempre, Susannah prontamente o respondeu: - Meu corpo sempre sabe o que deseja.

E essa era uma verdade que Susannah nunca negaria a ninguém, sua mente - apesar de sua criatividade - podia não ser tão boa, mas seu corpo estava tão são quanto qualquer outro - ou melhor até - e ela era totalmente ciente dos desejos que ele exalava e das necessidades que ele lhe sentenciava. Terminou de vestir-se então concentrou seus esforços na maquiagem. Estava pronta cerca de uma hora após começar. Agora parada à janela e sozinha - Sir Joseph tinha partido também - ponderava não apenas sobre os próximos passos de sua carreira, seu olhar vagou brevemente sobre os papéis à mesa, rascunhos de uma nova história de Sir Joseph e Beatrice, mas sobre o misterioso sujeito da noite anterior. Chamou por Amelie e disse-lhe para arrumar-se, sairiam para caminhar. Instantes depois ambas estavam na porta da casa, Susannah observou a rua, a chuva agora não incomodava mais, tinha tornado-se uma garoa suportável, Amelie abriu uma sombrinha e ambas começaram a mover-se.

Como em muitas de suas histórias, sequer tinha um rumo.

Susannah movia a cabeça em resposta aos cumprimentos quase de forma automática, mas sua cabeça estava em outro lugar. Não parecia mesmo prestar atenção na cacofonia inicial de uma manhã Londrina. Parara um momento para comprar um dos jornais, mas não se deu ao trabalho inicial de começar a lê-lo. Gostava dos jornais pelo simples fato de conseguir pescar algumas ideias boas nas noticias, muitas coisas sobre Sir Joseph e Beatrice haviam surgido dessa forma, até mesmo coisas das quais ela não estava esperando.

Estava divagando entre essas ideias quando sentiu o baque nas pernas, Susannah deu um quase pulo para trás e baixou a cabeça, os olhos fixando-se no jovem que se desculpava com uma curiosidade - e um quase nervosismo - tudo tinha acontecido exageradamente rápido demais para Susannah conseguir acompanhar com detalhes, quando sentiu-se daquele jeito estranha e precisou apoiar-se em Amelie, ela olhou para a jovem ao seu lado e depois para a cena num geral, enquanto o sujeito perseguia o garoto.

Suspirou, tentando voltar a si de forma mais acertada, agora olhando levemente em volta antes de ter a atenção chamada para algo brilhante no chão. Ela ficou ali, parada observando o relógio, enquanto outras memórias lhe invadiam lentamente a mente, pode ouvir os questionamentos de Amelie a respeito de seu estado atual, mas os ignorou por então, abaixou-se devagar e recolheu o relógio, aproveitou então para olhá-lo melhor, como quem tenta decifrar algo relacionado a ele. Era por aquilo que o homem estranho perseguia o garoto? Não tinha certeza.

Porém, subitamente ela sabia exatamente onde ir naquele dia, a relojoaria. Virou-se, assustando Amelie e começando a caminhar naquela direção.