Os raios do sol entravam delicadamente pelas frestas das paredes de madeira apodrecida, jogando alguma iluminação incômoda dentro do velho casarão em ruínas. O lugar fedia a coisa velha e podre e, de alguma forma, a luz do sol fazia o cheiro ficar mais forte, como se o lugar a rejeitasse.
O espaço era insalubre, isso era fato. Apesar de razoavelmente grande para os padrões da localidade, a poeira, sujeira e mofo estavam por toda a parte impregnando se espalhando pelos móveis velhos, quebrados e podres.
Ninguém sabia quem era o dono do lugar e o que diabos havia acontecido com ele. E isso não importava. Aquela casa era uma das várias outras casas velhas que se amontoavam na pequenina favela das áreas pobres de Samúria. Algumas eram habitadas, outras não.
Pois era verdade que até mesmo a capital do maior dos reinos humanos (que levava o mesmo nome da cidade) não estava livre das mazelas da pobreza e da miséria. Viajantes de fora que contemplassem a grandiosa cidade poderiam pensar que era uma terra de oportunidades e riquezas, e de fato não estavam totalmente errados. Mas toda a luz gera sua sombra.
Naquela casa velha caindo aos pedaços, nas sombras da cidade. Morava um grupo de pequeninos indivíduos. Um grupo muito inusitado que, adormecidos, dividiam o espaço de uma cama improvisada no chão com palha velha e tecidos puídos. Formado por duas crianças pequenas, esfarrapadas e um goblin, que roncavam ruidosamente.
Um raio de sol entra pela janela com vidros quebrados e atinge o pequeno Crazzy Trazencrenca. Ele sente a luz e o calor em seu rosto, fica perturbado mas decide não levantar de primeira. Entretanto, percebe que não tem escolha ao notar o barulho de passos se aproximando. Logo abre os olhos, já sabendo tratar-se de Timmy, um dos órfãos mais novos que, aparentemente havia acordado mais cedo.
- Crazzy, Crazzy. Acorda! Anda! - ele o cutuca com o dedo gorducho. Havia um tom de preocupação em sua voz fina.