____________________
Era pra ser um dia como outro qualquer, mas Levy sentiu-se angustiado como nunca antes. Sabia que não teria visitantes em sua morada, mas projetou-se no teto e olhou para o céu confirmando que os astros não se alinhariam neste século, e para sua surpresa, descobriu também que o solstício de verão ainda estava longe - aqui entre nós, ele sempre esquece datas - mas e então... o que é que estava acontecendo? O ser onipotente mais desinformado do continente pensou um pouco e não teve nenhuma intuição. Resolveu checar mais de perto retornando para seu corpo, e com um movimento fluído atravessou a catedral para retirar o manto negro de cima da orbe celeste que flutuava sob um rio congelado. Tocando aquele artefato Levy canalizou seu poder e o orbe respondeu a seu toque focalizando a Cidade de Ouro, ignorou o palácio e percorreu então os nove andares daquele emaranhado de construções realizadas em eras, uma rústica porém sólida civilização se estabeleceu ali em camadas semi circulares, e tudo isso foi ficando para trás quando chegou enfim aos portões principais. Olhou para o lado ainda na ponte levadiça e foi tentado a seguir uma estranha luz que vinha das enormes claraboias laterais do fosso, que levavam ar para o subterrâneo, a visão concedida pelo artefato o levou para um lugar conhecido como Andar Zero, a expressão serena abandonou sua face.
O Andar Quatro é o centro da Cidade de Ouro, constituído por praças, comércios, tavernas, e templos também é onde se encontra o parlatorium, que nada mais é do que um teatro a céu aberto, com espaço de arquibancada para o público ficar em volta de um palco elevado, capaz de ser visto de qualquer direção. Durante a noite esse espaço vem sendo usado para apresentações, mas durante o dia se torna um ponto de encontro para integrantes de todas as guildas, já que lá também se afixam os decretos da família real, garantindo que todos os cidadãos comuns quem passam por ali todos os dias, saibam dos desígnios reais, é um lugar estratégico.
Dyanna foi a primeira a acordar em seu alojamento, estaria um pouco nervosa por ser o seu primeiro dia na Guilda dos Sábios, seu mentor que a apresentou já havia lhe advertido que precisaria ganhar mais experiência para poder se envolver com assuntos internos e ter acesso a conhecimentos de alto nível, portanto era hora daquela ambiciosa maga procurar um trabalho, algo que certamente encontraria no velho ponto de encontro, talvez depois do café da manhã. Lá chegando através de uma das inúmeras escadarias que levam até o local, avistaria alguns aventureiros vasculhando o enorme edital dos novatos, mas alguns se destacavam para ela, Kinkle o kobold ladino estava sentado num dos bancos da arquibancada esperando pacientemente, mas não saberia ela, que o mesmo possuía informações privilegiadas da Guilda dos Mercenários sobre um ótimo trabalho de captura que pagaria muito bem. Envolto em seus pensamentos naquele momento, o perspicaz ladino chegou a conclusão óbvia de que Balrog, o saqueador, seria uma presa difícil demais para capturar sozinho.
Do outro lado da arquibancada um guerreiro com ares de negociante da Guilda dos Mercadores tinha um plano em mente, lucrar através do escambo de mercadorias, mas pra isso Aphega precisaria montar uma caravana, ou ao menos, associar-se para seguir viagem até Corredor e lá trocar tudo que precisava. Um plano ambicioso e difícil, pois esta seria uma viagem longa e complicada até mesmo para um aventureiro como ele, e sair sem equipamento algum era simplesmente tolice, o jovem sabia disso. Ao final, quando a maioria dos novatos começou a dispersar-se surgiu Grom o bárbaro, junto a seu lobo. No momento ainda estava treinando a fera, mas ela já podia segui-lo sem ameaçar ninguém. Não havia trabalho na guilda das feras, mas os tempos são difíceis, e ainda que não fosse admitir, precisaria de ajuda mesmo se quisesse partir e capturar alguma criatura para vender em sua guilda. No fim haviam muitas razões, ou talvez nenhuma para que esses quatro conversassem entre si, ao entreolhar-se as reações e as expressões talvez não ficassem claras uns aos outros, mas por alguma razão estavam todos ali se encarando, quem seria o primeiro a romper o silêncio?
- Considerações:
- Turno livre...