por Soviet Seg Abr 20, 2015 5:20 pm
O cheiro de ensopado quente se misturava com o frio do outono, e Nuada não teve certeza sobre qual dos dois o acordou. Do que o elfo teve certeza foi que ele não acordou aonde provavelmente tinha dormido. A última coisa de que Nuada se lembra foi de virar um copo de alguma bebida forte com alguém que conhecera na noite anterior, e agora o elfo acordava sobre uma cama de palha em alguma cozinha. Uma dor leve agredia as têmporas do guerreiro, um gosto amargo e uma língua seca dominavam a boca de Nuada e, já que a cabeça do guerreiro ainda girava um pouco quando o elfo abria os olhos, Nuada evitou fazê-lo imediatamente. Ao redor o barulho das panelas raspando sobre pedra, o metal dos utensílios batendo contra a madeira e a conversa das mulheres não ajudavam nem um pouco.
– Olha só quem acordou! – A voz estridente se sobressaia sobre o barulho – Levanta, Nuada! Nós precisamos de espaço aqui!
Nuada olhou para a mulher e a reconheceu, apesar de não lembrar seu nome. Ela era corpulenta, tinha longos cabelos pretos preso em um rabo de cavalo e vista um avental de couro por cima de roupas comuns e desgastatadas. A mulher segurava uma batata enorme em uma das mãos e uma faca na outra.
- Era pra você ter acordado com a cara sobre uma das mesas, mas eu te trouxe pra cá. Agora levanta e sai da minha cozinha!
Nuada se arrastou para fora da cama com fios de palha preso em suas roupas e no cabelo, e seguiu para fora da cozinha. Nuada não sabia aonde estava, mas quando saiu da cozinha soube que ainda estava no Carvalho Dourado. O elfo também notou que o cheiro no porão chegava a ser opressor, uma mistura de essências que não eram nada agradáveis ao olfato. O guerreiro ficou apoiado por um tempo na porta da cozinha, esperando que a tontura passasse, ouvindo as risadas que vinham de uma mesa próxima. Nuada viu uma cadeira vazia ali perto e a puxou para si, enconstando-a na parede e fazendo o mesmo com sua cabeça e, mal tinha se sentado, o elfo viu uma figura desconhecida descer a escada com uma companhia não muito convencional.
Todos explodiram em risos quando Fred terminou sua história. O halflin era praticamente o único a falar enquanto todos à sua volta apenas riam e secavam as lágrimas. Pinga Cana sabia como manter um pequeno público entretido, e ali haviam apenas um punhado de pessoas. Três homens e duas mulheres, todos humanos já de meia idade, aquele período da vida aonde os bons modos já não são mais algo importante. Um dos homens ria alto e dava tapas na própria barriga avantajada, as mulheres puxavam as saias enquanto se contorciam e outro homem sempre engasgava com a própria cerveja. O halfling não entendia o motivo do homem sempre dar um gole em sua caneca quando era claro que Fred estava terminando uma história.
- Você conta uma história melhor que a outra, meu amigo! - Disse o homem que segurava a própria barriga, dando um tapa no ombro de Fred que o fez ir para a frente. Ian viu o final de sua frase ser engolida por sonoras risadas que vinham da mesa aonde um halfling contava histórias, mas Synne o ouviu. O N'Tel'Quessir balançou a cabeça negativamente para a cria de dragão e apontou com uma mão para a escada, aonde um homem descia acompanhado por um lobo. As vestes simples de Kórdan estavam cobertas de neve, assim como o pelo de Caninos. O silêncio foi tomando o lugar das risadas e da conversa conforme as pessoas viam o lobo e o mostravam para aqueles mais distraídos. Antes de alcançar o chão do porão, Kórdan sentiu todos os olhos da taverna sobre si e seu amigo.
- Olá! - Lavya pulou de onde estava escondida, alçou vôo diante de todos e começou a falar com seu jeito característico – É muito bom nós termos chegado neste lugar! Está tão quentinho... Lá fora está muito frio!
Cille havia chegado à Lua Argêntea, a Gema do Norte, no final da primavera. A cavaleira não tinha ouro o suficiente para conseguir um quarto em alguma estalagem, mas logo Cille conseguiu alguns trabalhos pequeno que pagavam o suficiente para conseguiu um quarto no Carvalho Dourado. O lugar era agradável, as pessoas não a incomodavam e Aleric, o dono do lugar, era uma pessoa gentil e atenciosa. Cille fazia serviços de segurança para um comerciante da cidade, mas ela raramente precisava pegar em armas neste trabalho. Claro que existia crime em Lua Argêntea, mas o lugar aonde a cavaleira trabalhava talvez fosse abençoado pelos deuses. Com a chegada do inverno o movimento tinha diminuido drasticamente, mas ainda havia trabalho para alguém disposto a usar os músculos.
Mas, neste momento, Cille não tinha nada para fazer e a tempestade de neve fez a cavaleira escolher por ficar na estalagem desfrutando de um excelente vinho quente com especiarias. O lugar estava cheio mas isso não era incômodo. O que realmente tornava o lugar insuportável era o ar estagnado que cheirava de cerveja, suor, ensopado, carne assada e vinho. Cille estava sentada no balcão com seu vinho e uma travessa de batatas cortadas em fatias e cobertas com um excelente molho de hortelã. Cille era gentil e todos retribuiam a atitude, mas a cavaleira ainda não tinha feito amizades reais na cidade.
Distraída com os próprios pensamento, Cille não notou quando um homem surgiu na escada descendo até o porão, só o notando quando o silêncio dominou o Carvalho Dourado. A cavaleira olhou para trás, depois para os lados e então viu a causa daquilo. Um homem, bem jovem, estava no pé da escada e um lobo o acompanhava. Mal Cille teve tempo de realmente olhar para o homem e seu animal e um ser pequeno, talvez do tamanho de seu punho fechado, surgiu de dentro das roupas do homem, permanecendo suspensa no ar com asas semelhantes àquelas dos insetos e cumprimentando todos com uma voz que parecia de uma criança de 4 ou 5 anos. Aleric notou que ninguém ali não sabia exatamente como agir, e tomou a frente de trás de seu balcão.
- Sejam bem-vindos ao Carvalho Dourado! É um prazer tê-los aqui – O estalajadeiro saiu de onde estava e foi até os recém-chegados limpando as mãos com um pano e em seguida jogando-o sobre o ombro – Meu nome é Aleric e eu sou o proprietário desta estalagem, que também é um santuário de Shiallia – Aleric estendeu a mão para Kórdan, cumprimentando-o, mas não soube muito bem o que fazer quando se virou para a fada, mas Lavya sabia se virar muito bem, e fez uma reverência no ar e pegou o dedo indicador de Aleric com a mão, cumprimentando-o.
- Muito prazer! - A voz da fada era dominada pela excitação. Kórdan não conseguiu conter um sorriso quando a ouviu – Meu nome é Lavya e eu sou uma fada da Floresta Alta! Este é Kórdan, também da Floresta Alta e sacerdote de Shiallia – Lavya apontou para Caninos, que estava sentado e com a língua para fora, parecendo mais um cachorro do que um lobo – E este aqui é Caninos, nosso estimado amigo e também da Floresta Alta! Estamos aqui e queremos uma cerveja!
O silêncio durou mais alguns segundos, quando o lugar estourou em risos diante do pedido de Lavya. A natureza da fada não enchergou maldade em nada daquilo, e ela também começou a rir.