Eliora Faeth (Rosenrot)

Amsterdam, 1940.

Deixar nossa própria casa não foi algo fácil a se fazer, para falar a verdade talvez tenha sido uma das mais difíceis até então. O local para o qual viemos não é ruim, não entenda dessa forma... Mas não é a mesma coisa que chegar à tarde e abrir a porta de frente, reconhecer sua sala e a decoração, sentir o cheiro da comida sendo preparada.

Somos, mesmo que de forma amena, prisioneiras. Às vezes podemos espiar pelas janelas, quando está escuro. Às vezes minha irmã e eu sentamos em silêncio e imaginando nossa família. Não temos noticias a tanto tempo... A cidade ainda parece calma, pelo menos dos poucos minutos que conseguimos espiar pelas janelas e o amigo do nosso pai que nos abriga parece ser um bom - e preocupado - homem. Uma das poucas coisas que me consola é ter acesso a infinidade de livros que ele mantem por aqui, não somos proibidas de andar pela casa, mas evitamos fazer isso para não chamarmos atenção desnecessária.

Tudo é perigoso, agora. Todos são suspeitos... Até mesmo o amigo do nosso pai.

Minha irmã parece mais disposta a confiar nele de maneira mais ampla, mas eu ainda tenho minhas ressalvas, não que acredite que meu pai se filiaria a alguém de má índole... Mas e quando o perigo realmente bater à porta? No momento, porém, prefiro não pensar tanto a respeito dessas coisas. Não temos ido mais a escola ou a qualquer lugar, isso provavelmente levantou uma série de suspeitas, o que me faz acreditar que logo meus pais terão - se já não tiveram - problemas... Não entendo porque não se juntaram a nós aqui.

De qualquer forma, minha irmã e eu tentamos deixar nossa memoria viva e tentamos reproduzir todos os costumes que aprendemos em casa, alguns não são tão fáceis sem alguém como nosso pai ou nossa mãe para conduzir, mas nos esforçamos. Talvez apenas pelo simples fato de que isso nos trás para mais perto daqueles que tanto amamos e que não sabemos se poderemos ver de novo, um dia.


Eliora Faeth.