Prologo: As brisas amaldiçoadas do sul
Ele precisava de foco pra fazer o que precisava. Não era uma tarefa simples, talvez fosse um pouco complexo, talvez simplesmente não fosse a dele. Enquanto segurava a espada e balançava a cabeça. Seus cabelos longos e grossos voavam com o vento o gelado. Eram aqueles que vinham do sul, trazendo o medo e as más noticias.
O portal que atravessava a grande muralha estava parado imponente e frio na sua frente. Olhava pra ele e ele olhava de volta. Era quase como se dialogassem. Havia um quê de sarcasmo. As bandas de ferro do portão estavam escancaradas e diziam “ venha atravesse-me se você é corajoso”. O maldito vento continuava a soprar, só aumentando o seu desconforto.
Ao redor estava tudo silencioso como um cemitério. As pradarias amareladas do outono quase não se moviam com a brisa sinistra e ele também continuava parado ali encarando o portão da velha muralha.
Além dali estavam o seu destino, aonde ninguém ousava a pisar. Atravessando aquele portal estava as terras do terror e do medo. As lendas contavam e não mentiam. As coisas que rastejavam e perseguiam aqueles que fossem tolos de ali pisar, quase conseguia imaginar.
Suas mãos seguravam firme o cabo da espada, suando mesmo com o frio. A arma naquele momento era quase como um amuleto que lhe passava a ilusão de segurança. Era o medo já afetando a sua mente. O desejo de não ter que fazer aquilo que estava prestes a fazer.
Uma vez mais encarou o portão aberto a sua frente. Além dele os campos amarelados continuavam calmos como se nada de perigoso rastejasse nele. Sentiu-se seguro eram quase como se tivesse o poder de realizar o necessário. Deu um passo pra frente e a brisa do sul voltou a soprar. Um frio percorreu a sua espinha. “Ele sabe” dizia a sua mente. O inimigo conhecia os seus passos, tinha quase certeza. Sentiu o terror subir por suas canelas até o seu estomago quando pensou nisso. Teve vontade de vomitar, mas nada subiu pela sua garganta.
Nos livros que tinha lido na biblioteca proibida. Diziam que um dia “aquele ninguém esperava” iria e voltaria do fim do mundo pra mudar o destino de tudo. Será que ele era mesmo essa pessoa? Invadir a biblioteca proibida parecia brincadeira perto do seu desafio.
Talvez a sua espada não fosse o seu amuleto de segurança e sim a única saída que tinha quando precisasse. Pensar nesse novo aspecto lhe trouxe algum conforto e lhe fez finalmente tomar a coragem que precisava. Deu mais um passo e sentiu a brisa sinistra do sul soprar novamente, mas já não tinha medo pois possuía a firmeza que precisava e nunca tivera em toda a sua vida. Andou o que restava atravessando o portal. Finalmente ia fazer o que todos na sua terra natal precisavam e foi assim que as aventuras “daquele que atravessou” começaram.