ATENÇÃO: Esta é uma obra meramente ficcional. Não existe nesta crônica qualquer intenção em ferir o decoro de qualquer pessoa ou ser um relato fiel de qualquer momento histórico. QUALQUER SEMELHANÇA COM A REALIDADE É MERA COINCIDÊNCIA.
Capítulo I
Campo Grande, MS, 23 de maio de 2018.
Mesmo em pleno outono, fazia 28 graus na capital matogrossense. Ventava forte naquele início de manhã, aliado à altíssima umidade relativa do ar, que conferia uma sensação abafada mesmo com o vento no rosto. Era o que se podia definir como vento quente opressor.
Apesar do clima, a cidade estava entrando na sua melhor época de turismo e dezenas de pessoas se apinhavam para pegar o Trem do Pantanal que sairia em alguns minutos do Centro Industrial. O céu estava ausente de nuvens e o sol resplandecia no azul celeste.
Olhos-de-Trovão galgou os degraus do elegante trem e seguiu para sua cabine reservada. Seria uma longa viagem só de ida até Miranda, MS. Acomodou-se na poltrona acolchoada e pôs-se a olhar a paisagem verde pela janela à medida que o trem se distanciava da estação. Aos poucos, se descortinavam belas paisagens, pontes sobre rios, lindas cachoeiras, serras a perder de vista, aves nativas embelezando tudo com suas cores sobre o verde incessante de todo o caminho. “Que belas criações de Gaia”, pensou.
Pelo caminho, o trem parou apenas para comer. Ali, naquela região, comia-se a melhor galinhada, preparada com pequi, fruta característico do local. Olhos-de-Trovão salivou, mas não degustou muito seu prato, dada a apreensão pela chegada na cidade de Miranda. Tinha que chegar logo, mas sua viagem ainda tardaria até o dia seguinte. Outra parada do trem para os turistas comprarem artesanato. O Garou olhou pela janela. Todos tão alegres, satisfeitos, conduzindo suas vidas pacatas, se divertindo. Enquanto isso, a Wyrm destruía e corrompia. Era uma fina ironia.
O país estava um caos. O governo acabava de passar por uma intervenção militar e, apesar de uma aparente normalidade na vida das pessoas, à noite, nas janelas, era possível ver seus olhares lúgubres lamentando a perda de entes queridos para ninguém sabe o que, ninguém sabe porquê. Centenas de pessoas já tinham desaparecido, muitas das quais com opiniões contrárias ao chamado “Movimento Intervencionista”.
Enquanto isso, os jornais e TVs tratavam de manter o status quo. Notícias de celebridades emergentes, reportagens sobre adestramento de cães, só material de utilidade pública. Desde a intervenção, quase nada se falava no noticiário sobre política que não fosse meramente relato factual.
Em diversos locais do país, enquanto muitos acumulavam riqueza, outros seguiam rumo à miséria extrema. A região Nordeste vivia uma terrível seca, enquanto a maior metrópole do país, São Paulo, vivia sua maior crise hídrica. A Wyld estava em desequilíbrio e aquela região onde Olhos-de-Trovão se encontrava era ainda a mais intocada pelas mãos do ser humano. Por enquanto.
Após o Movimento Intervencionista tomar o poder, seus primeiros anúncios foram civilizar os indígenas, promover o avanço da pecuária, estabelecer novas cidades no Norte do país. Era a Weaver se expandindo através do Ordem e Progresso.
Enquanto isso, um contramovimento tomava terras improdutivas, manifestava-se nas ruas, denunciava aos organismos internacionais as violações de direitos humanos. Era uma dura luta na qual muitos Garou dedicados também se incorriam. Outros lobisomens iam e vinham nas articulações políticas da sociedade humana. E outros viviam nas terras selvagens protegendo Gaia e seus parentes.
Enquanto devaneava sobre a situação do país, tomado por uma realidade cruel e insensível, Olhos-de-Trovão mal percebeu que já era fim de tarde e que finalmente chegara à cidade de Miranda. Na estação, avistou Ama-de-Jaci, que acenava para sua janela com um largo sorriso no rosto.
Crônicas de Tupã
Capítulo I
Campo Grande, MS, 23 de maio de 2018.
Mesmo em pleno outono, fazia 28 graus na capital matogrossense. Ventava forte naquele início de manhã, aliado à altíssima umidade relativa do ar, que conferia uma sensação abafada mesmo com o vento no rosto. Era o que se podia definir como vento quente opressor.
Apesar do clima, a cidade estava entrando na sua melhor época de turismo e dezenas de pessoas se apinhavam para pegar o Trem do Pantanal que sairia em alguns minutos do Centro Industrial. O céu estava ausente de nuvens e o sol resplandecia no azul celeste.
Olhos-de-Trovão galgou os degraus do elegante trem e seguiu para sua cabine reservada. Seria uma longa viagem só de ida até Miranda, MS. Acomodou-se na poltrona acolchoada e pôs-se a olhar a paisagem verde pela janela à medida que o trem se distanciava da estação. Aos poucos, se descortinavam belas paisagens, pontes sobre rios, lindas cachoeiras, serras a perder de vista, aves nativas embelezando tudo com suas cores sobre o verde incessante de todo o caminho. “Que belas criações de Gaia”, pensou.
Pelo caminho, o trem parou apenas para comer. Ali, naquela região, comia-se a melhor galinhada, preparada com pequi, fruta característico do local. Olhos-de-Trovão salivou, mas não degustou muito seu prato, dada a apreensão pela chegada na cidade de Miranda. Tinha que chegar logo, mas sua viagem ainda tardaria até o dia seguinte. Outra parada do trem para os turistas comprarem artesanato. O Garou olhou pela janela. Todos tão alegres, satisfeitos, conduzindo suas vidas pacatas, se divertindo. Enquanto isso, a Wyrm destruía e corrompia. Era uma fina ironia.
O país estava um caos. O governo acabava de passar por uma intervenção militar e, apesar de uma aparente normalidade na vida das pessoas, à noite, nas janelas, era possível ver seus olhares lúgubres lamentando a perda de entes queridos para ninguém sabe o que, ninguém sabe porquê. Centenas de pessoas já tinham desaparecido, muitas das quais com opiniões contrárias ao chamado “Movimento Intervencionista”.
Enquanto isso, os jornais e TVs tratavam de manter o status quo. Notícias de celebridades emergentes, reportagens sobre adestramento de cães, só material de utilidade pública. Desde a intervenção, quase nada se falava no noticiário sobre política que não fosse meramente relato factual.
Em diversos locais do país, enquanto muitos acumulavam riqueza, outros seguiam rumo à miséria extrema. A região Nordeste vivia uma terrível seca, enquanto a maior metrópole do país, São Paulo, vivia sua maior crise hídrica. A Wyld estava em desequilíbrio e aquela região onde Olhos-de-Trovão se encontrava era ainda a mais intocada pelas mãos do ser humano. Por enquanto.
Após o Movimento Intervencionista tomar o poder, seus primeiros anúncios foram civilizar os indígenas, promover o avanço da pecuária, estabelecer novas cidades no Norte do país. Era a Weaver se expandindo através do Ordem e Progresso.
Enquanto isso, um contramovimento tomava terras improdutivas, manifestava-se nas ruas, denunciava aos organismos internacionais as violações de direitos humanos. Era uma dura luta na qual muitos Garou dedicados também se incorriam. Outros lobisomens iam e vinham nas articulações políticas da sociedade humana. E outros viviam nas terras selvagens protegendo Gaia e seus parentes.
Enquanto devaneava sobre a situação do país, tomado por uma realidade cruel e insensível, Olhos-de-Trovão mal percebeu que já era fim de tarde e que finalmente chegara à cidade de Miranda. Na estação, avistou Ama-de-Jaci, que acenava para sua janela com um largo sorriso no rosto.