PRELÚDIO
No ano dos Dragões Ladinos, na região da Grande Fenda e mais precisamente na cidade de Casa Inferior, 4 aventureiros especiais foram chamados as pressas, sem explicação alguma. Os anões são avessos a não-humanos na sua cidade subterrânea, o que serviu para aumentar a curiosidade e preocupação dos quatro. Diante de uma pálida rainha anã e de outros quatro anões, cada um trajando roupas, joias e acessórios diferentes, os aventureiros nem imaginam o que pode estar acontecendo. A história então é contada, descoberta após meses de pesquisa na biblioteca da cidade dos anões:
“Em 616, no ano dos Reis Enfeitiçados, um gigante do gelo devoto de Thrym foi enviado para as montanhas do Shaar para guiar seus semelhantes na fé do deus supremo desta raça. Dentre estes gigantes, haviam ciclopes, ogros, gigantes das colinas e gigantes da pedra, da névoas que vagavam esparsos nas planícies do sul de Faerun.
O servo de Thrym, chamado Valar, levou anos percorrendo aquela região e propagando a fé no seu deus. Ele tinha um dom para propagar a palavra sagrada e conseguiu criar, na região, uma liga das tribos dos gigantes: onde pequenas tribos de gigantes se reuniram em locais próximos um dos outros, para fins de comércio, proteção e é claro, saques a caravanas. Em 626 a Liga estava pronta e funcionando a pleno vapor. Ninguém entrava na área entre as Montanhas Passo de Fogo e a Floresta Shaar, que não fosse gigante ou possuísse o sangue da raça. A atual tribo nômade Ankheg tivera que se mudar da região, pois estavam sendo dizimados pela incursões gigantes em seu território.
Valar possuía um carisma natural, uma habilidade única para tratar qualquer raça, fazendo amigos e produzindo alianças com muita facilidade. Foi assim que ele conseguiu unir as diversas sub-raças de gigantes sob o seu comando. Não era um “comando”, e sim um acordo de parceria mútua. Todos eram devotos dele, não de Thrym. E isso enfureceu a divindade. Pois os que deviam lhe adorar estavam adorando Valar, e a divindade advertiu o gigante, que não lhe deu ouvidos. Ele estava tomado pela ambição e pelo fascínio do que ele havia criado, algo inédito para sua raça.
Thrym retirou os poderes de Valar e como vingança, ele incitou a inveja e a cobiça no reino de um poderoso gigante das nuvens que vivia nos céus do Shaar. A Liga dos gigantes estava crescendo, já se estava formando um reino peculiar nas montanhas, o que ampliou o sentimento de ambição, inveja e cobiça em Heeldeneth, Vento Cortante, o gigante das nuvens mencionado.
Habilmente, Heeld começou a reunir-se com outras raças para uma aliança contra a Liga dos Gigantes. Ele buscou aliança com os gigantes da tempestade, os numerosos gnolls das planícies, os amargurados nômades da tribo Ankheg, a tribo Cheetah que estava se assentando na região entre as Montanhas Uthangol e a Grande Fenda, a tribo do Leão que dominava o campo entre Lago Lhespen e Terra Alta e a tribo Rinoceronte, que ficava entre a Terra Alta e a Grande Fenda. O gigante usou mentiras, manipulações e ameaças para convencer as tribos a apoia-lo. Sempre argumentou a expansão dos territórios atuais das tribos. Os anões não quiseram apoiá-lo, na época a rainha era a guerreira anã Gunnloda Braço Pesado.
Valar não esperava o ataque, que foi súbito e violento. No final, a Liga foi parcialmente destruída e seus membros foram espalhados pelo Shaar, alguns sendo caçados ate a morte pelos habilidosos gnolls. Porem, Valar descobriu o articulador de tudo aquilo: o gigante das nuvens Heeld. Eles batalharam, sendo este foi o ápice da batalha. Mas o machado de Valar venceu a espada de Heeld. O gigante do gelo não o matou, pois precisava ajudar seu povo na fuga. Isso enfureceu Heeld, pois no fundo ele queria tomar a liderança da Liga para si e isso só poderia ser feito com a morte do líder atual. Essa batalha, que ocorreu entre a floresta Shaar e as Montanhas Passo de Fogo, ficou conhecido como a Batalha da Neve.
Os gnolls apoiaram a liderança de Heeld na região, já os gigantes sobreviventes não o fizeram. O gigante das nuvens não tinha o carisma de Valar, então eles se dispersaram pelo Shaar. Ao seu lado permaneceram apenas os gigantes das tempestades. As tribos humanas sofreram grandes baixas na batalha e Heeld não cumpriu sua parte nos acordos. O gigante os dispensou, e todas elas cultivaram o ódio pelos gigantes nos anos que passaram.
Já Valar, este se escondeu com o restante de seu povo no subterrâneo, em cavernas lares dos ogros nas Montanhas dos Sapos. Seu povo não havia sido completamente dizimado e ele queria uma revanche. No subterrâneo ele tramou a retomada da Liga. Buscou aliança com outros povos, conseguiu o apoio de uma milícia Volodni que vivia na Floresta Shaar, wemics e centauros das planícies do Shaar, Goliaths e Raptorans das Montanhas dos Sapos, que somados aos gigantes que tinham sob o seu comando, compunham um exercito formidável. Os anões negaram o apoio a Valar e quase o mataram. Alguns meses após a derrota na Batalha da Neve, Valar já havia conseguido reunir um grande exército e tramava a estratégia da invasão. A revanche ocorreu em 635 do calendário de Harptos.
O embate ocorreu na montanha sede da Liga, bem como na floresta que a separa em duas partes. Foi terrivelmente equilibrada. A luta final foi entre os dois gigantes: o gelo contra o poder dos céus. Valar venceu e liquidou seu oponente. A guerra terminou e o gigante pode seguir com seu sonho: restaurar a liga e unir a ela os mais fortes. Agora ele era aliado dos wemics, dos centauros e dos Volodni, os retribuindo plenamente durante seu domínio. Desenvolveu um ódio pelos anões da Grande Fenda e sempre que podia saqueava suas caravanas, os escravizando os sobreviventes sempre que possível. Foi assim que ele construiu uma fortaleza gigante das montanhas, e já estava estendendo seu domínio para alem da Floresta Shaar, em direção as Colinas de Rathgaunt.
Os anões enviaram um contingente de mercenários, depois aventureiros, depois exércitos, depois um exercito com aliados das tribos nômades, mas sofreram derrotas em todos os embates. E o pior, o Valar estava tramando acordos secretos com os drows e duergares que viviam no subterrâneo em volta da Grande Fenda. Um ataque articulado entre essas duas raças pelo subterrâneo e dos membros da Liga por terra gerou um caos na Grande Fenda em 642, causando a ruína de parte da fortaleza anã de Coração de Terra. A área da Liga começava a atravessar Terra Alta, o que preocupava excessivamente os anões.
E então, em uma mistura de ambição com medo, Braço Pesado, apoiada pelos Lordes Profundos, cometeu um terrível engano.
Vendo que a Liga crescia cada vez mais, cultuando o ódio pelas espécies que não o apoiaram na guerra, através de rituais profanos, ressuscitaram Heeld e o transformaram em um lich. O gigante acordou furioso e sedento pelo poder. Ele fizera um pacto com os anões dourados e, durante anos, acumulou aliados e poder para destruir Valar. As antigas alianças foram buscadas principalmente com gnolls, os esquecidos gigantes Phaerlin e novas foram feitas. Foi forjada uma aliança com os drows e duergares, as escuras, sem que Braço Pesado ou os lordes profundos tomassem conhecimento.
Valar começou a ter pesadelos da destruição de seu lar nas montanhas, de seu povo sendo dizimado e das planícies do Shaar ficando vermelhas de sangue. E então, em 655, houve um ataque maciço na capital da Liga. Os duergares e drows traíram o acordo feito com Valar, os anões, conhecedores da fortaleza gigante devido a espiões infiltrados entre seus conterrâneos escravizados, surgiram por entre as montanhas e atacaram de surpresa. Antes que Valar pudesse reunir toda a liga, seu centro de poder havia sido destruído. Essa batalha ficou conhecida como O Triunfo do Céu de Sombras.
Então Heeld surgiu a sua frente. A batalha foi violenta: explosões de fogo, trovões, estrondos de baques de machado foram ouvidos. Mas desta vez, dotado de artefatos feitos pelos anões, o lich dizimou Valar e exibiu sua cabeça diante de todos. Ele finalmente havia vencido. E agora, tendo adquirido o poder que tanto necessitava para vencer Valar e a Liga, ele estava invencível. E cobrou o “favor” feito ao povo do Shaar. Durante os meses em que ele acumulara o poder necessário para vencer seu adversário, ele havia descoberto antigos pergaminhos necromanticos. Ele ergueu um exército de mortos vivos do campo de batalha para mostrar o seu poder, e exigiu obediência de todos os ali presentes. Houve mais um combate, mas o poder de Heeld estava muito elevado. Anões, wemics e centauros sofreram grandes baixas neste momento, antes de fugir de seus próprios companheiros de luta que levantavam para matá-los.
O lich permaneceu nas montanhas Passo de Fogo, a sede da agora sua liga. Os componentes da liga, gigantes de todos os tipos, dispersaram-se frente ao poder de Heeld e nunca mais se reuniram nas gerações que se seguiram. O sonho de Valar morreu.
Heeld não queria agora apenas um território, queria toda a Faerun para si. Continuou buscando mais e mais poder, descobriu o segredo da cidade de Shaundalar e teve acesso a magias mais poderosas. Invocou monstros cruéis e jogou-os no Shaar. E agora reinvidicava o território. A área entre o Shaar médio e a Terra Alta estava muito perigosa. Criaturas sedentas de sangue vagavam na região, tribos gnolls nômades, cruéis e pervertidas conforme a vontade negra do lich agora patrulhavam a região. Foi nessa época que o lich fez um acordo com o dragão vermelho Shasafar, que voava pela região destruindo tudo o que via. Não era incomum os corajosos viajantes que rumavam por este caminho virem Beholders, Flagelos das Profundezas e Tanaruks pela região.
Os anões perceberam o seu erro e trataram de não reunir um exército, mas um grupo de pessoas poderosas o suficiente para destruir o inimigo. Neste grupo foi Dagenor, bigorna pesada, um anão clérigo de Moradin que havia confeccionado um artefato para prender o lich caso tudo desse errado. O artefato era o Cajado de Osso.
Os outros componentes do grupo eram um meio-gigante bárbaro; um raptoran feiticeiro; um volodni caçador e um humano ladrão. Liderados pelo anão, o grupo entrou por caminhos secretos dentro do castelo no meio das montanhas, enquanto uma invasão ocorria na frente das montanhas: uma ultima aliança entre centauros, Wemics, anões e humanos das tribos nômades. O lich voltou sua atenção para a batalha enquanto o grupo o surpreendeu dentro de sua própria fortaleza. O combate foi árduo, mas no final, bigorna conseguiu prender o lich dentro do cajado. Todos os membros do grupo foram mortos e, para que o lich fosse preso, Bigorna teve que corromper a sua alma e sacrificar-se para que o feito pudesse ser realizado. Assim, o exército morto-vivo caiu e pereceu em batalha. A vitória era da Aliança do Sul.
E assim, várias gerações anãs se passaram. A história foi esquecida, as alianças foram desfeitas, o mal foi subjugado. Foi quando a rainha anã da fenda Karriva do clã Forja Incandescente começou a ter pesadelos horríveis, envolvendo mortos vivos, feiticeiros e o domínio do shaar...”